Talvez você não conheça a ayahuasca por esse nome, mas, certamente, já deve ter ouvido falar a respeito do chá do Santo Daime, não é mesmo? Mesmo sendo alvo de muitas polêmicas nos últimos anos (fruto também da falta de conhecimento), essa bebida poderia, inclusive, ser muito útil na medicina, e é justamente o que vamos falar a seguir.
O Que É O Chá De Ayahuasca, Afinal?
A ayahuasca nada mais é do que uma bebida de teor alucinógeno, que é feita à base de ervas encontradas na Amazônia, sendo capaz de provocar grandes alterações na consciência. Alterações, essas, que podem durar 10 horas ininterruptas, diga-se. E é esse o efeito mais conhecido da bebida, o que faz com que ela seja usada em rituais religiosos das populações indígenas.
O seu preparo é feito a partir da infusão de plantas, como, por exemplo, o caule da Banisteriopsis caapi (também conhecida como jagube ou mariri) e as folhas da Psychotria viridis (também chamada de chacrona ou rainha). Essas plantas causam efeitos psicoativos nas pessoas justamente por terem substâncias como alcaloides.
No Brasil, grupos religiosos fazem uso dessa bebida, como é o caso do Santo Daime, da Porta do Sol, do Céu de Maria e da União do Vegetal. Todos esses grupos têm permissão para o uso do chá de ayahuasca através do Conselho Nacional de Políticas sobre Droga (Conad), o que, de fato, não torna a bebida ilegal no nosso país.
Cientificamente falando, o chá de ayahuasca contém uma substância de nome DMT, que possui a capacidade de imitar os efeitos de um neurotransmissor do corpo humano, criando, dessa forma, estados de consciência alterados. Misticamente falando, as pessoas que tomam essa bebida em rituais dizem que têm visões de seus medos, entre outros sentimentos guardados no subconsciente.
Esse efeito é perfeito, portanto, para que o chá seja usado em rituais religiosos de “limpeza”, onde a pessoa expande a sua mente, enfrentando os seus próprios problemas internos com mais nitidez. Esse ritual de “limpeza” é intensificado ainda mais devido aos seus efeitos colaterais, que incluem vômito e diarreia.
Mas, Como a Medicina Pode Fazer Uso Desse Chá?
Essa é uma bebida que já está sendo estudada há muitos anos pela chamada “medicina tradicional” aqui no Ocidente, com o intuito de ser usada para o tratamento de diversos tipo de enfermidades.
Um de seus usos pode ser, por exemplo, para combater a depressão, visto que muitas pessoas que usaram essa bebida relataram que foram capazes de ver e resolver aqueles problemas que se encontravam mais profundamente em sua mente. Problemas, esses, que estavam diretamente relacionados com uma grande tristeza, e, por fim, com depressão.
Ouro ponto que a medicina tenta esclarecer com relação ao chá de ayahuasca, é a sua capacidade de trata toda e qualquer síndrome de estresse pós-traumático. Isso é possível, pois o efeito alucinógeno da bebida faz com a pessoa possa reviver suas memórias, especialmente aquelas que geraram a síndrome.
Por fim, essa bebida pode ser benéfica para combater certos tipos de vícios, visto que a pessoa passa a ter uma visão mais ampla de suas crenças e de seu estilo de vida, o que faz com que ela altere hábitos negativos.
É importante salientar que quem ministra esses cultos onde o chá é usado diz que esses efeitos medicinais só são possíveis graças à determinação de quem faz uso dele, não podendo, portanto, ser usada como um remédio puro e simples.
E, Quanto Aos Efeitos Colaterais Do Chá De Ayahuasca?
Além de vômitos e diarreia, existem mais alguns efeitos colaterais ditos secundários, e que podem acometer as pessoas que fazem uso da bebida. Alguns desses efeitos aparecem logo após a ingestão da bebida, como, por exemplo, suores excessivos, tremores, aumento da pressão arterial e aumento dos batimentos cardíacos.
Por ser uma bebida de efeitos alucinógenos, é bom salientar também que esse chá pode causar alterações emocionais de forma permanente, como é o caso de excesso de ansiedade, medos e até paranoia. São efeitos, portanto, que mostram que mesmo que a bebida não seja proibida por lei, ela não pode ser usada de maneira leviana de forma alguma.
Os Perigos Do Chá De Ayahuasca
Apesar de seus efeitos aparentemente benéficos, é preciso ficar atento ao uso indiscriminado dessa bebida, mesmo que seja de maneira “recreativa”. Como cada pessoa possui um organismo distinto (e, por consequência, uma mentalidade diferente), cada um vai reagir aos efeitos da bebida de uma forma diferenciada, e isso pode, em linhas gerais, ser perigoso.
Por mexer muito ativamente em áreas da psique humana, o uso descontrolado desse chá pode causa transtornos irreversíveis em alguém. Tanto é que o próprio Conad impõe algumas regras para o uso da ayahuasca. Uma delas (talvez a mais importante) é que pessoas que tenham histórico de transtornos mentais, ou que estejam sob efeito de bebidas alcoólicas, ou mesmo de outras substâncias psicoativas, não podem fazer uso desse chá de maneira alguma.
Não é à toa também que as seitas que fazem uso dessa bebida sejam obrigadas a fazer um rigoroso controle para o ingresso de novos adeptos. Para muitos especialistas, no entanto, os integrantes desses grupos não têm capacidade de discernir quem pode e quem não pode tomar o chá sem apresentar problemas. Como acontece com o consumo de qualquer outra droga, inclusive, também não dá pra saber quem poderia ficar psicótico ou piorar de um transtorno mental que já possua.
Ao mesmo tempo, vários estudos estão sendo feitos nos últimos anos devido à popularização da bebida, como é o caso de um que foi publicado em 2014 na Revista Brasileira de Psiquiatria. Nesse estudo, relatava-se justamente a possibilidade da bebida servir para combater a depressão. Pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (SP) também relataram que a ingestão de 2,2ml/kg de peso desse chá poderia reduzir em cerca de 66% os sintomas dessa enfermidade.
No entanto, todos esses estudos são ainda bem limitados e preliminares, e o que temos de certo mesmo é que se trata de uma bebida que, de fato, pode alterar estados de consciência, e que se usada de maneira irresponsável e indiscriminada, pode ser bastante perigosa. Uma moderação que, por sinal, acaba valendo pra tudo.