A Mitologia e a Origem da Alface
Tratar das origens de um vegetal, como a alface, por exemplo, não é tarefa fácil. Suas trajetórias, via de regra, perdem-se no vão dos tempos, e só o que sobra mesmo são alguns poucos documentos, algumas lendas conservadas na memória, a tradição popular, etc.
Na mitologia grega, por exemplo, ela aparece como coadjuvante de um curioso caso de amor.
Diz a história que houve um certo “jovem de rara beleza”, chamado Adonis, fruto de uma relação incestuosa entre o seu pai e a sua filha, que, por um desses acasos do destino, conquistou o coração de Perséfone e Afrodite – esta última a deusa do amor para os gregos.
No entanto (se é que podemos confiar cegamente na história) o fim do jovem Adonis foi trágico. Foi justamente em uma horta de alface (onde supostamente se escondia da fúria do temível Ares, o deus da guerra) que ele teve o seu destino selado e a sua vida ceifada por um porco selvagem enfurecido enviado pelo deus.
Mais tarde, a história nos contaria outros fatos bastante singulares acerca das origens da alface. Ela teria sido, por exemplo, uma espécie de coadjuvante também em grandes períodos da história antiga.
Conta-se que era comum, na antiga Pérsia, que os reis, rainhas, príncipes e princesas, há cerca de 3.000 anos, guardassem o hábito de cultivar folhas de alface juntamente com outras espécies nos seus luxuosos e suntuosos jardins – que davam as boas vindas aos visitantes dos seus imponentes palácios.
Os Egípcios, há 3.000 anos, foram outros que, de acordo com a história, apreciavam, por demais, as suas maravilhosas propriedades diuréticas, laxativas, analgésicas, anti-inflamatórias, entre outras funções, que a tornavam um dos ingredientes principais das “milagrosas” infusões caseiras.
A China, durante a dinastia Chou (V a.C.), antes da terrível era dos Reinos Combatentes (IV a.C), também cultivava o ótimo hábito de consumir a alface como um excelente diurético, anti-hemorroidico, mineralizante, digestivo, entre outras apresentações.
Tais funções eram muito bem vindas em um período em que a sobrevivência e a manutenção da saúde eram quase que um verdadeiro milagre.
Alface: Uma origem Repleta de Lendas e Histórias
Até mesmo durante o Império Romano a alface estava lá, discreta e timidamente, a ocupar um espaço relevante entre diversas outras folhosas e leguminosas que ajudavam a compor a dieta da população da época.
Lucius iunius Columelle, em alguns de seus trabalhos de agronomia publicados por volta do ano I d.C., descreveu a alface como uma variedade riquíssima.
Segundo ele, o vegetal era apreciado, tanto por nobres como por plebeus, em especial uma variedade frisada e com pomos, bastante popular à época devido aos seus poderosos efeitos contra anemia, vermes, ou mesmo como um tonificante natural.
E não é que as origens da alface têm mesmo lá a sua riqueza histórica! Ainda para os romanos (especialmente para a classe mais abastada), o bom mesmo era o consumo de alfaces tenras, in natura e cuidadosamente dispostas em camadas.
Para acentuar o seu sabor, elas deveria ser regadas com um molho especial à base de vinagre aquecido, azeite de oliva e especiarias; que levavam ao êxtase, durante as refeições, os nobre senhores representantes do poderio do Império Romano.
A Idade Média se Rende às Suas Virtudes
Eis que chega a Idade Média! A Igreja Católica Apostólica Romana será a responsável por ditar as regras da conduta moral dos homens, um sistema feudal determinará os rumos da economia, mas também lá está ela, a nossa alface, agora como uma alimento, curiosamente, destinado ao povo.
Já não mais adorna a mesa dos nobres senhores. Mudam-se os gostos, adotam-se novos paladares, e uma espécie de “mobilidade social” dos diversos tipos de alimentos também pode ser observada.
Já na Modernidade, ela é trazida de infinitas distâncias, assim como outros costumes e hábitos alimentares até hoje cultivados carinhosamente em todo o mundo.
Para tal revolução, as grande navegações cumpririam um papel importantíssimo! Verdadeiras epopeias foram algumas das grandes viagens às “índias”, ao norte da África e ao Oriente Médio, de onde vieram frutas, legumes, bebidas, perfumes, especiarias, hábitos, vícios, lendas, costumes…e, obviamente, o gosto por determinados tipos de vegetais.
Cristovão Colombo incumbe-se de apresentar ao continente americano, em especial às ilhas caribenhas e às Bahamas, os inúmeros benefícios e propriedades da alface, cujas origens provavelmente podem ser assinaladas na Ásia Ocidental.
Reza a lenda que o lendário autor de Gargântua e Pantagruel, Rabelais, também contribuiu para propagar o gosto pela folhosa, ao divulgar as suas inúmeras propriedades, em forma de propaganda, na França do séc XVI, após as suas longas incursões pela Itália.
Consta que, a partir de então, acessos de tosses, congestão nasal, catarro, insônia, reumatismo, entre outros transtornos – a maioria deles, das vias respiratórias -, agora podiam ser combatidos pela população, graças aos efeitos milagrosos dos seus óleos essenciais, lactucina, albumina, asparagina, além de alguns minerais.
Enfim, o gosto pelas folhosas vai, aos poucos, sendo introduzido nos diversos rincões por esse mundo afora, e a importância desse vegetal, associada à sua facilidade de ser consumido, garantia-lhe um status de ingrediente obrigatório das saladas durante as refeições.
E agora caberia à Idade Contemporânea estimular o uso da alface em suas diversas apresentações. E consagrá-la, definitivamente, como uma das folhosas mais consumidas e apreciadas no mundo.
A Alface e a Idade Contemporânea
As origens da alface, como conhecemos hoje aqui com Brasil, remonta à Europa Mediterrânea, especialmente de países como Itália, Portugal, Espanha, Grécia e Turquia, basicamente.
Mas também há estudos que apontam as suas origens na distante Ásia Ocidental ou Oriente Médio, de onde teria vindo a partir das Grandes Navegações no final do séc. XV.
Com a descoberta das Américas por Cristóvão Colombo, foi a vez do Novo Mundo ser presenteado com essa exuberante folhosa, rica em vitamina A, B, C, E, cálcio, ferro, potássio, magnésio, entre outros inúmeros nutrientes.
O Brasil, de acordo com estudiosos, teria conhecido a Lactuca sativa somente na metade do séc. XVII, quando os portugueses passaram a compartilhar com a então colônia portuguesa alguns dos seus hábitos alimentares.
A partir de então, o destino da alface, com uma origem tão distante, seria o de tornar-se o vegetal folhoso mais consumido no Brasil e, sem dúvida, o mais consumido na região sudeste do país.
Com relação a isso, abramos um parêntese para lembrar que, só no estado de São Paulo, cerca de 130 mil toneladas da folhosa sejam consumidas, anualmente, pela população. O que a torna um dos produtos mais importantes na dieta do paulistano e uma das mais importantes do sudeste brasileiro.
Completam as suas inúmeras qualidades, benefícios incontestáveis como coadjuvante no tratamento contra insônia, ansiedade e depressão; mas também uma inserção importante no segmento da estética, graças ao poder rejuvenescedor do colágeno produzido pelo ácido ascórbico presente em suas folhas.
Enfim, de um ingrediente de misturas e infusões no Egito Antigo; e de uma das variedades que compunham os jardins de reis e rainhas da antiga Pérsia; a alface tornou-se uma das celebridades à mesa dos brasileiros e de boa parte do mundo. E com inúmeras qualidades medicinais e nutritivas, que são descobertas a cada dia pela ciência.
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