Um Breve Texto Sobre a Humanidade
Em seu livro de 2014 “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”, o professor e historiador israelense da Universidade Hebraica de Jerusalém Yuval Noah Harari traça, através de um ensaio meticuloso dos últimos 500 mil anos da nossa espécie Homo sapiens, uma linha de raciocino que permite ao leitor compreender quando e como surgem as crenças nos muitos mitos que nos guiam, não apenas na esfera exotérica e nos cultos à personalidades religiosas, mas também nas tantas outras ciências ditas científicas, como as sociais, as económicas e até nas biológicas e naturais.
Pela dualidade que isso possa parecer, o poder do mito e seu exercício sobre o indivíduo e as comunidades humanas pode ser explicado por uma lógica científica evolucionista: se nós, como humanos, nos desenvolvemos a partir da plena cooperação que resultou nas nossas vidas organizadas em sociedade – comportamento tal que nenhum outro primata do gênero Homo conseguiu atingir -, esta característica biológica foi determinante para nós sermos “escolhidos” pela grande mão invisível da seleção natural, ainda que esta cooperação seja baseada na fé em seres metafísicos, ou ainda em ideologias sem fundamentos, de cunho político, social e econômico.
Independente das forças supra-terrenas que os antigos acreditavam (e que atualmente muitos ainda acreditam), o comportamento cooperativo entre os indivíduos de nossa espécie foi a base, por exemplo, da Revolução Neolítica, ponto crítico da nossa história natural – quando abandonamos a dependência da caça e da pesca de animais e da coleta de frutos e cereais perdidos em florestas e campos, para a domesticação destes mesmos animais e plantas selvagens – gerando então as primeiras grandes ondas de mudanças daquilo que nós conhecemos como tecnologia.E a tecnologia avançou tão progressivamente nos últimos anos que nos possibilitou alcançar o domínio não apenas do ambiente e das outras espécies de seres vivos do planeta, mas também o domínio da nossa própria existência (seja pelos poderes nucleares, pelos poderes genéticos e tantos outros que possam emergir do desenvolvimento tecnológico e científico).
A Coesão Humana e os Seus Alicerces
Mas o que possibilitou (e possibilita) a existência desta cooperação entre humanos? Todas as outras espécies também, de alguma maneira, colaboram entre si como uma necessária estratégia de sobrevivência (com algumas exceções, naturalmente).Por uma série de fatores biológicos (tamanho do cérebro; cordas vocais) e ecológicos (fontes alimentares; organização em bandos), não só os seres humanos, mas outras espécies de primatas do gênero Homo tiveram a capacidade de racionalizar, ou seja: o seu sistema cerebral conseguiu assimilar a informação do meio para interpreta-la e repeti-la de maneira mais proveitosa e eficiente, dando a possibilidade de reproduzir fenômenos que ocorriam naturalmente, e os utilizando para benefício próprio.
O fogo foi uma importante ferramenta presente na nossa pegada evolutiva, uma das primeiras tecnologias utilizadas pelos homens primitivos (e de novo: não apenas pela nossa espécie mas também por outras dentro do gênero Homo), estes que ao testemunhar o resultado de um raio elétrico ou raios solares em folhagem seca (o que gerava-se incêndios), conseguiram reproduzir o fenômeno “artificialmente” por técnicas de gravetos, dominando o elemento e o utilizando para melhorar efetivamente o aproveitamento da carne de animais de caça e de pesca, ao cozinha-los.
Isso indica que antes ainda da Revolução Neolítica (que também é chamada de Agrícola pois marcou o surgimento da agricultura e da pecuária), teria ainda ocorrido outra revolução, que fez com que a nossa espécie passasse a adotar um novo comportamento: conhecida como a Revolução Cognitiva, ela fundamenta a nossa capacidade em pensar, de racionalizar, processar informações e consequentemente estabelecer uma linguagem complexa e versátil (e não apenas oral, mas escrita, e atualmente até gravada com imagem e som), sendo o arcabouço para um dos principais recursos que os humanos utilizam para a cooperação: a comunicação.
A “domesticação” do fogo é um exemplo da capacidade cognitiva, e de novo: não apenas do Homo sapiens (a nossa espécie), mas também outras espécies pertencentes ao nosso gênero Homo, como o clássico exemplo do homem de Neandertal.
Somos Uma Espécie Dependente do Simbolismo
As informações até agora trazidas já indicam alguns pontos para a resposta das perguntas feitas anteriormente.
Mas, baseados apenas nestas informações, porque as outras espécies dentro do gênero Homo não conseguiram alcançar o que a nossa espécie (Homo sapiens) conseguiu?
As tantas Revoluções que ocorram ao longo da nossa evolução – seja a Cognitiva, a Agrícola (Neolítica), assim como as Industriais, as Medicinais, as Moleculares, as Digitais e as que ainda virão – de nada serviriam se não houvesse o que de melhor a espécie humana conseguiu fazer: a coesão social.E é neste ponto que uma das teorias levantadas pelo livro do Yuval Harari estabelece o importante ponto na história evolutiva dos seres humanos: quais foram as motivações que fizeram a espécie se juntar e cooperar, para o bem de um suposto coletivismo (à época ainda tribal)?
O historiador chama a atenção para uma sequência de elementos que se desenvolveram na linguagem e a comunicação humana: outros primatas até conseguiam comunicar se entre si, por assim transmitindo informação de onde se localizava uma fonte de alimento, ou algum perigo eminente (como um grande predador).
Mas isso foi só uma primeira e breve etapa nas organizações humanas: a segunda foi a capacidade de mentir (ou seja, de não avisar onde se localizava uma fonte de alimento), isso seguido da capacidade de fofocar (falar da vida de terceiros, estes que viviam na mesma tribo ou aldeia primitiva).
Pode parecer até brincadeira, mas pense – evolutivamente – toda a inteligência necessária para que um ser vivo tenha que ter para conseguir mentir, ou para conversar sobre a vida de terceiros, já que para ambos os pensares tem que se estabelecer “parâmetros” e “diagnósticos” de uma suposta realidade.
A próxima etapa da coesão social que se completa é a crença na ficção: seja em alguma árvore sagrada, seja em algum animal sagrado, ou ainda em seres humanos sagrados (“os todos poderosos foram responsáveis pela criação do mundo”).
Se isto funciona como uma tentativa de explicar o que não se conhece a resposta (como diz a terceira Lei de Clarke: “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia”), este comportamento da nossa espécie explica e corrobora para entender a importância do simbolismo para nossa assimilação de contextos, já que o mito tem de ser simbolizado para fixar na cognição humana.
E por mais que os significados e as linguagens mudam constantemente, o símbolo pode se manter por muito tempo.
Um bom exemplo da alternância da linguagem em um mesmo símbolo é a cruz: se atualmente é mais comum ser associada ao cristianismo, ela foi derivada de uma outra leitura dos fenômenos do mundo, pois foi baseada no centro da roda do zodíaco, cujo o seu reduzido – mas complexo – alfabeto de hieróglifos estrelares é estruturada em seres mitológicos (animais gigantes: Touro, Leão, Escorpião, ou mistura de animais com humanos como Sagitário) e, mesmo sendo baseada em mitos, foi uma importante linguagem responsável pelo desenvolvimento das grandes navegações.
Repare que a linguagem e o simbolismo são reflexos direto da revolução cognitiva, tendo o poder da crença na ficção uma importante adaptabilidade para vivermos em uma sociedade coesa, nos possibilitando à avançarmos tecnologicamente, e nos levando a dominar o planeta.
Flores Com Poder Simbólico: Tagetes
Se a nossa espécie adota tantos indivíduos e animais como objetos de adoração e carga simbólica, logicamente as flores tem uma importante base nos contextos do simbolismo.Seja para presentear os vivos ou se despedir dos mortos, flores tem um elevado poder simbólico primeiramente pelas suas próprias características quanto as suas cores e aromas diferentes: a partir da cor das pétalas das flores pode-se indicar o compasso emocional daquele que presenteia (paixão, romance, saudade, etc).
Flores são símbolos tão importantes que inclusive grandes movimentos filosóficos e ordens secretas a utilizam em seus logos, como a Rosa-Cruz.
As flores das espécies de Tagete apresentam um forte simbolismo: originada do México, ela foi sempre utilizada como adorno ao longo de um dos principais festejos nacionais: o Dia dos Mortos.Por ela ter se popularizado tanto neste evento mexicano, as espécies de flor Tagete são conhecidas como a “flor-dos-mortos”: também contribuiu com esta associação estas flores apresentarem um cheiro forte, ficando ainda mais poderosa no contexto fúnebre, já que uma das motivações principais para presentear os mortos com flores é (nos tempos antigos) atenuar o odor que os cadáveres tinham ao longo de seu sepultamento.