Os Seres Humanos e Seus Rituais
Desde que passamos a nos organizar como sociedades nós, os seres humanos, abandonamos os comportamentos ainda presentes em outros representantes dos primatas (que basicamente se relacionam em bandos de animais sem arcabouço racional), passando a assumir novos comportamentos, até como uma substituição aos antigos, conforme mudanças intrínsecas que aconteceram na história natural da nossa espécie.
A substituição do comportamento de caçador e coletor pelo sedentarismo é um belo exemplo deste fenômeno: deixamos de nos comportar como um pequeno grupo de chipanzés ou bonobos que viviam continuamente em busca da próxima fonte alimentar, e passamos a ficar fixos geograficamente, controlando a natureza como mais um ferramenta, e assim produzindo a nossa própria fonte alimentar, esta em abundância nunca imaginada pelos homens primitivos (na mesma proporção também se degradou o ambiente natural e o respectivo equilíbrio ecológico, algo também não imaginado por estes homens primitivos).
A revolução agrícola proporcionou aos nossos ancestrais, quando tendo o controle da produção de alimentos, que se podia assim permanecer fixo em um mesmo local, permitindo assim desenvolver edificações e estabelecimentos para abrigo, dando origem aos primeiros aglomerados humanos (aldeias e vilas).
Com a nossa espécie se organizando em tribos, muitos outros rituais começaram a florescer: os relacionamentos passaram a ter mais importância, já que os indivíduos agora tinhas um lar fixo, e podiam compartilhar os seus pertences; funções mais específicas começaram a surgir, como aquele que é especialista em construir infraestrutura, outro que apresenta a melhor técnica em criação de gado e domesticação de animais, etc; uma organização hierárquica entre os humanos também emergiu, indicando assim os primeiros poderes (seja governamental, religioso, econômico) tendo eles a responsabilidade de gerenciar estes aglomerados humanos (quando muitas vezes também tiravam proveitos para ganhos próprios).
E assim seguiu-se com o surgimento das cidades, das cidades-estados, dos estados, dos países, das nações, ao atual estágio de organização em que vivemos hoje.
Entretanto, ainda mantemos muitos de nossos comportamentos do passado, inclusive quando se trata de explicações que não encontramos respostas satisfatórias.
A Relação dos Seres Humanos com a Morte
Ninguém está preparado para enfrentar algo que é inevitavelmente o destino de todos: o fim da vida, a morte.
Devida a própria complexidade que ancora o tema, a definição de morte não é associada a um desfecho fixo, tanto que o diagnóstico do rigor mortis mudou através do tempo e das respectivas tecnologias conforme cada época, como por exemplo quando uma parada cardíaca e ausência de respiração já era considerado o fim da vida para o indivíduo (devido a não existência de técnicas de reanimação ou conceitos de que o processo poderia ser reversível).
Atualmente para se constatar a morte, passa-se por vários critérios de indicadores fisiológicos e respostas a estímulos, tendo a morte cerebral (encerramento da atividade e função neurológica) o indicador primordial para caracterização do rigor mortis.
Apesar da explicação biológica ser até plausível do papel da morte para os seres vivos, já que seria impossível suportar toda uma população de quaisquer organismos que vivesse para sempre, ainda assim ela fere emocionalmente muitos de nós, já que é bem difícil entendermos que nunca mais veremos aquela determinada pessoa, podendo resultar em uma dor bastante intensa.
O comportamento humano relacionado a morte (não apenas de outros humanos, mas também a morte de cachorros, gatos, cavalos e outros animais domesticáveis) foi algo que acompanhou desde o florescer da nossa espécie, já que há registros de rituais fúnebres existem há pelo menos 80.000 anos.
Se os homens pré-históricos já enterravam os seus mortos, junto a oferendas, realização de cultos, presentes e demais rituais, podemos considerar que a nossa relação com a morte pode ser muito mais antiga que a revolução agrícola e a organização das primeiras cidades.
Por assim, o ritual de prestar respeito as pessoas que perdemos durante nossas vidas é um patrimônio global, presente em todas as culturas do mundo, o qual demanda e produz toda uma cultura, filosofia e explicações metafísicas, para assim nos trazer conforto e mais conformidade com as perdas que irão se seguir.
O Ritual Fúnebre e as Flores
Assim como a música e a culinária, o processo de enterrar algum ente querido apresenta características próprias conforme cada local do mundo: no México, é famoso a época do Dia dos Mortos, onde a população local realiza uma grande festa para lembrar os entes queridos, cozinhando pães doces e bolos, confeccionando bonecos e figuras do folclore mexicano, assim como outras formas de festejos; no Japão, é comum velarem os corpos dos entes que se foram na própria residência, preparando oferendas como arroz cozido e saquê; o próprio Brasil tem o Dia de Finados, quando as pessoas vão até os cemitérios levando presentes e demais lembranças para homenagear aqueles que já se foram.
Uma das homenagens mais comuns que se presta para alguém que se foi, isso presente no México, no Japão e no Brasil, é a presença de flores.
Apesar de ser belíssimo esse tipo de prestação para alguém que já morreu, há algumas teorias que isso se dá porque as flores, principalmente as de fragrância mais forte, disfarçavam o forte odor que um corpo sem vida pode exalar, desde que não preparado por um serviço fúnebre.
Porém há outros que defendem que uso das flores são um símbolo de continuidade, já que elas vêm da terra, do substrato de onde ficará o ser que partiu, podendo assim assumir uma perspectiva de que a pessoa enterrada ainda está presente após sua partida.
Há toda uma relação com o tipo de flor utilizada, já que conforme cor e a espécie presenteada resulta em um simbolismo diferente, conforme o aspecto emocional associado.
Flores de Cravo nos Rituais Fúnebres
Cravos são sempre utilizados para presentear as pessoas e embelezar o ambiente, devido a bela aparência da sua flor.
Sendo assim, é comum utilizar flores de cravo para rituais fúnebres, para isso tendo a sua cor específica para cada sentimento sentido por aqueles que querem prestar a homenagem aos mortos.
As flores de cravos vermelhas são geralmente utilizadas para indicar uma forte ligação emocional, podendo ser desde paixão e romance, até a amizade e o quão forte eram as companhias.
Já as flores de cravos brancos podem representar tanto a solidão e o estado de tristeza que a partida da pessoa vai preencher, como também a pureza da relação terminada.
Flores rosas normalmente também podem representar uma afetividade, porém entre pais e filhos, assim como outros entes familiares mais próximos.