O Cerrado oferece aos seus habitantes produtos que podem ser importantes aliados na promoção da sustentabilidade, onde a geração de emprego, renda e qualidade de vida estejam alinhados com a conservação dos recursos naturais.
O Cerrado corre perigo de virar um deserto em alguns anos, sua sobrevivência tem sido colocadas em risco por grandes empresas de plantação de eucalipto na região, e pela atuação de mineradoras. Estas atividades de empresas que não adotam políticas sustentáveis, além de reduzir as áreas de pastagens e cultivo de frutos nativos, prejudica os aquíferos, afetando a agrobiodiversidade de forma irreparável.
Neste artigo o leitor é convidado a conhecer um dos frutos nativos do Cerrado, uma das riquezas, seriamente ameaçada por tais desmandos.
Cajuzinho do Cerrado: Nome Científico
Anacardium humile, é uma planta de 80 cm. de altura, arbustiva e hermafrodita, da mesma família da aroeira, do cajueiro e da mangueira, a família anacardiáceaes. É uma planta nativa com distribuição, mais acentuada na região do Cerrado.
Cajuzinho do Cerrado: Características
O arbusto apresenta vários ramos eretos com base num caule subterrâneo bem desenvolvido. Suas folhas tem aspecto ovado-lanceoladas. As flores, com estrias roxas nos suportes, podem ser brancas, róseas ou amarelas. Frequenta a mesa da população nativa há muitos anos, nos últimos anos tem chamado a atenção da Alta Gastronomia e passado a frequentar cardápios de grandes cidades, como Brasília.
Seu pequeno pseudo fruto cuja polpa é branca, comestível, claviforme, ácida e suculenta, quando amadurece assume a cor entre amarelo e vermelha. Pode ser consumido in natura quando maduro, tal qual o caju comum (Anacardium occidentale) ou na preparação de licores, sucos e doces. Quando fermentados, fornecem uma espécie de aguardente silvícola, conhecida como cauim.
Distribuição
O cajuzinho do Cerrado tem sido cultivado nos campos sujos dos estados do Tocantins, Piauí, Goiás (onde o fruto é muito abundante e chamado de cajuzinho-azedo ou cajuzinho-do-campo), Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.
Benefícios
O fruto verdadeiro, com forma de rim, é uma noz comestível e ácida de cor cinzenta, ricas em vitaminas B1 e B2, proteínas, lipídeos, niacina, fósforo e ferro. A medicina popular utiliza extensivamente partes da planta, extraindo seus nutrientes, para auxiliar no combate de muitas enfermidades, como úlceras e inflamações.
O chá de suas folhas e das raízes são utilizadas para combater inflamações intestinais e diarreias. O óleo da castanha de caju possui ação antisséptica e cicatrizante, a produção de matérias plásticas, vernizes e isolantes pela indústria vale-se da manipulação da castanha de caju. O chá de flores do caju é utilizado para combater a tosse e baixar o nível de glicose nas pessoas diabéticas.
A parte comestível do cajuzinho-do-cerrado é doce e ácido, rico em ácido fólico, fibras e compostos antioxidantes. Essa composição biológica concorre na prevenção e combate de doenças crônico-degenerativas, como doenças cardiovasculares, câncer e diabetes, carregam uma grande quantidade de líquidos que saciam a sede com eficiência devido a sua característica isotônica e adstringente.
Reprodução
Na Reserva Natural Serra do Tombador a planta alimenta a fauna, pois seus frutos e sementes são muito apreciados pelos animais, tanto as aves, como os mamíferos como a raposa-do-campo (Lycalopex vetulus), que atuam como agente disseminadores de sementes que possuem baixa capacidade de germinação. A imagem de muitos pássaros banqueteando-se das deliciosas frutas, fazendo grande alvoroço é muito comum na Reserva. As folhas ao serem destacadas da planta segregam uma resina transparente que também serve de alimento para os animais.
É uma espécie melifera, de baixa produtividade de frutos e sementes, que floresce na Primavera e frutifica durante o auge da seca, próximo da chegada do verão. Apesar da grande quantidade de cajueiros no campo, sua produção com vistas a abastecer ao mercado é nulo, por causa da limitada capacidade germinativa de suas sementes e a baixa produtividade de frutos e sementes da planta, e se restringe às coletas manuais destinadas a subsistência, degustação e lazer.
Extrativismo
Desde que o fruto ficou conhecido e utilizado na composição de pratos de restaurantes especializados, os extrativistas do Cerrado passaram a registrar uma procura maior pelo fruto, se fazendo necessários a implantação de programas de pesquisa que equacionem esta dificuldade produtiva.
Para que a produção em larga escala do cajuzinho do Cerrado se torne uma atividade economicamente mais rentável para a comunidade local, promovendo emprego e distribuição de riquezas, um dos objetivos a ser perseguido é a promoção de um programa educacional entre a população, levando conhecimento a partir dos resultados que forem obtidos após pesquisas experimentais, com palestras, encontros, concursos e produção de material didático-científico sobre o manejo, cultura, produção de mudas, irrigação e adubação no âmbito acadêmico, escolar e comunitário.
O cajuzinho do Cerrado é desconhecido da maioria do público consumidor nacional, alguns até já ouviram falar, mas não sabem como o consumir ou adquirir, estando mais familiarizado com o caju comum (Anacardium occidentale). São condições encontradas no extrativismo do caju comum: condições degradantes de trabalho, monocultura, exploração do solo, uso de defensivos agrícolas, que são a realidade da produção convencional.
O cajuzinho do Cerrado, enquanto produto, pode ser coletado num ambiente biodiverso e de população fincada e identificada com os planaltos, encostas e vales do planalto, onde já se estabelece lavouras em diversidade e variedade, constituindo um sistema próprio de produção, fornecendo, por meio do extrativismo, forragem para o gado, caça, madeira, frutos, folhas, mel e medicamentos.
Conservação
Enquanto as políticas necessárias não são adotadas o caju do Cerrado agoniza em meio as queimadas criminosas que causam danos irreversíveis a espécies rasteiras. Estas espécies são as que mais são danificadas em razão da ação do homem, com suas ocupações territoriais mal planejadas e o manejo incorreto do solo, provocando a extinção de muitas espécies ou colocando-as em preocupante estado de conservação.
O cajuzinho do Cerrado além de outras espécies nativas da região, encontram-se ameaçada de extinção, são uma riqueza ameaçada, além disso em grandes áreas, o lixo vai se expandindo e sufocando a vegetação nativa, ameaçando ainda mais à fauna e flora. Antes que estudos potencializem os benefícios desta planta e se desenvolvam técnicas que possibilitem seu cultivo em escala comercial,o cajuzinho do Cerrado corre risco de desaparecer.