A madeira do araçá tem sido aproveitada para diversos itens de carpintaria e marcenaria devido sua resistência , dureza e caule compacto. Muito útil como cabos de ferramentas, por exemplo. Outra utilização muito comum do araçá é contra erosão do solo em áreas de margens. Toda essa descrição refere-se a qual tipo de araçá? Praticamente a qualquer uma espécie do gênero Psidium.
Características do Gênero
O gênero psidium engloba cerca de 60 espécies de plantas mas há indícios que podem aumentar esse número para mais de 100, com variedades desde o México até o Caribe, incluindo também Argentina e Uruguai. No território brasileiro, a maior fartura de espécies psidium encontra-se no estada da Bahia, com número suficientes para corresponder a metade do total existente em toda a América do Sul.
Acredita-se que muitas das espécies encontradas nos trópicos e sub-trópicos do Velho Mundo e nas Ilhas do Pacífico foram ali introduzidas, e algumas tornaram-se invasivas. O gênero psidium está incluído na tribo myrteae, que inclui todos os gêneros nativos das Américas, com raras exceções.
As espécies de psidium se caracterizam por flores ocasionais , com sempre cerca de 4 a 6 pétalas, lóculos multivariados; placenta cujo pecíolo fica no meio do limbo foliar, lembrando um guarda chuva; coberto por sementes ásperas, revestido de uma camada carnuda sem brilho e úmida invariavelmente; revestidas também com muitas células de paredes espessas, alongadas e sobrepostas; e um embrião em forma de “C” com cotilédones muito mais curtos que o hipocótilo.
Regiões do Gênero Psidium
Como já dito anteriormente, o gênero psidium é nativo das Américas com raríssimas exceções sendo encontradas em áreas tropicais e subtropicais de muitas outras partes do mundo, como psidium guajava, psidium guineense e psidium cattleyanum (suspeita-se que sejam espécies introduzidas). A maior quantidade de plantas do gênero é encontrado na América do Sul, e algumas outras na América Central incluindo o México, sendo essas um subconjunto desse grupo.
Presume-se que as espécies da América Central são geologicamente recentes chegadas da América do Sul por não existirem dados fósseis dessas espécies. Nas ilhas caribenhas é dito existir dezenas de espécies do gênero, a maioria desconhecidas, apenas endêmicas para o Caribe, e podem, devido à sua diversidade e distinção das espécies continentais, representar múltiplas colonizações geologicamente antigas.
Das espécies nativas da América do Sul, mais da metade são nativas somente em território brasileiro, mais especificamente no estado da Bahia, mas há várias outras espalhadas em vários estados. O cerrado e a caatinga podem ser considerados um centro variado de cultivo natural para o psidium. Pode-se supor que essa diversidade e endemismo do psidium tem uma longa história na nos diferentes biomas brasileiros.
Não se sabe porque o psidium não seja encontrado no sudoeste temperado da América do Sul. Ainda sobre os outros estados brasileiros, fora a Bahia, o psidium está presente mas menos localmente diversificada. O mesmo ocorre com outras espécies do gênero nos países andinos (menos o chileno) e nas Guianas.
Especula-se que a migração direta sem dispersão sobre barreiras de água pode ter tornado impossível que espécies do gênero se espalhassem abundantemente para a América Central e além, o que só seria possível a partir da existência do Istmo do Panamá, datado em cerca de 2,8 milhões de anos. Sabe-se que psidium oligospermum é uma das poucas espécies capaz de atravessar barreiras de água significativas.
Araçá Paulista: Características e Nome Científico
Também como já foi dito muitas espécies tem sido há poucos anos descritas e catalogadas pela taxonomia. Muitas delas consideradas resultados de pesquisas e esclarecimentos descritivos recentes. Ainda não há nenhuma informação conclusiva e abrangente sobre uma espécie ‘araçá paulista’ disponível, mas recentes pesquisas tem sido feitas em torno de pelo menos duas espécies que parecem endêmicas apenas em território paulista. Veja a seguir algumas descrições resumidas das espécies:
Psidium giganteum: muito do que se sabe sobre a espécie é resultado de pesquisas em herbário cultivado e não in natura, em seu ambiente natural. São plantas arbustivas com dimensão média de 0,50 cm a 1,50 cm e folha de tamanho entre 7.5 e 12 cm. Flor de botão com poros apicais redondos ou estrelados, abertos com 5 lóbulos e pedicelos de comprimentos curtos. Fruto de cor carmim rosado quando maduro e com numerosas sementes por frutos. O psidium giganteum é endêmico do Brasil, tendo sua distribuição, à princípio, restrito a mata atlântica de São Paulo.
Psidium itanareense: nativa do cerrado de São Paulo, planta arbustiva entre 1 e 3 metros de comprimento com tricoma persistente totalmente ausente e planta glabra; folhas entre 7.5 e 12 cm, pecíolos curtos e inflorescência tipo dicásio triflora com botão-floral totalmente fechado; brácteas lineares persistentes; hipanto não prolongado, cinco lóculos no ovário, numerosos óvulos por lóculo, cinco pétalas e sépalas persistentes no fruto. Fruto amarelo quando maduro e numerosas sementes.
Deficiência da Taxonomia
Existem aproximadamente 430 homotípicos descritos para espécies do gênero psidium e cerca de 370 atribuídos ao gênero psidium, mas não necessariamente como nomes aceitos. Há também 60 sinonímias em outros gêneros (por exemplo, myrtus) que acredita-se pertencer ao psidium. Isso somatiza a conta para quase 500 homotípicos que precisam ser explicados eventualmente.
Há também cerca de 180 novas combinações feitas em psidium ou em gêneros aliados que são sinônimos de espécies de psidium; que eleva o número total de nomes a serem considerados para quase 700. Em quase todos os casos encontra-se espécimes de tipo ou apenas imagens de espécimes de tipo, o que torna a informação de dados bastante deficiente.
The Global Plants Initiative, financiado pelo Mellon Fundação e administrada pela JSTOR, é um recurso que vem facilitando muito a descoberta de espécimes-tipo e tem sido extremamente útil nos esforços de pesquisadores tencionados a corrigir a taxonomia do gênero. Qualquer tipo de amostra que está no banco de dados GPI tem um identificador que é uma combinação de acrônimo de herbário com o número da amostra. Porém, mesmo nesses catálogos acredita-se haver lacunas consistentes e significativas na variação de caracteres.
Casos de hibridação podem ocorrer entre espécies e não necessariamente requerem uma mudança de conceitos de espécies. A morfologia distinta pode ser o resultado de: indivíduos sendo derivados de um ancestral comum ou ancestrais; seleção pelo ambiente que faz com que os indivíduos sejam semelhantes; e talvez fluxo gênico. Mas nada disso não é contestado porque a maioria dos trabalhos de pesquisa foram feitos em herbário e o que é visto como uma morfologia contínua em uma espécie é visto mais tarde como descontínua em outro ano.
Tem sido usados recentemente marcadores SSR (micro-satélites) para explorar relações infra-genéricas entre algumas espécies de psidium. Este método promete ser uma abordagem útil e esses mesmos estudos podem revelar diferenças infra-específicas não percebidas.