O Juriques é um vulcão com cerca de 5.700m de altura, formado a partir de sucessivas efusões de lava, que lhe moldaram a sua estrutura. Ele está localizado na cidade de San Pedro do Atacama, uma cidadezinha simples, rústica, sem infraestrutura, mas cercada por bastante mistério e exotismo.
Ao seu lado (cerca de 12km ao norte) está o seu vizinho, o vulcão Licancabur – juntos, ajudam a compor uma das mais curiosas lendas do território americano.
Próximo aos dois está o vulcão mais famoso desse trecho do Chile, o Laskar. Do alto dos seus quase 5.600m, ele surge, a cerca de 48km ao sul do vulcão Juriques, já anunciando a sua presença por meio de uma extensa fumarola.
É um vulcão ativo, em constante atividade, com uma cratera com cerca de 760m, e reconhecido como uma das referências turísticas do temido Deserto do Atacama.
Na verdade, o Deserto do Atacama já é, por si só, um evento à parte. Ele é simplesmente o mais escaldante do mundo, com temperaturas que atingem facilmente os 40°C durante o dia e 0°C à noite, tornando-o quase um cenário cinematográfico ou um planeta distante destruído por sucessivos ataques das forças naturais.
Apesar disso, o deserto é um dos pontos turísticos mais famosos e visitados do mundo, mesmo sem contar com praticamente nenhum aglomerado urbano.
A não ser a modesta e acolhedora San Pedro do Atacama, com os seus não mais do que 5.000 habitantes e ruas de terra batida, que se confundem com as próprias casas, construídas com tijolos crus, como no tempo dos seus ancestrais.
Belas Paisagens Cercam o Vulcão Juriques
O trecho entre São Pedro do Atacama e o vulcão Juriques é um dos mais exóticos do mundo.
No caminho, é possível observar como contrastam, de forma vigorosa, as imensas planícies de sal seguidas por trechos de exuberantes arbustos verdejantes – estes últimos, disputados, com avidez, pelos inúmeros exemplares de lhamas e muares, que ajudam a compor um cenário quase saariano.
A subida até o Juriques não é tão desafiadora. No entanto, se já não fosse o suficiente estar a cerca de 2,2m de altura (a altitude de San Pedro), ainda terá que subir mais, muito mais!, até atingir os mais de 5.700 m do vulcão – estrutura com uma aparência bastante sui generis, como uma imensa cabeça rubra, cortada ao meio e de uma largura que chama bastante a atenção.
É uma região desolada, de certa forma hostil, cercada por uma gramínea rala e meio amarelada, em um solo avermelhado, seco e que levanta uma densa poeira pelo caminho. Uma região que continua desafiadora no inverno, quando, curiosamente, costuma nevar na região, fazendo do percurso um mar de lama – quando não um tapete branco.
De retorno do vulcão Juriques, é possível, ainda, fazer um tour pela Laguna Diamante, passando por Quepiaco, até desembocar no Salar de Pujsa – uma imensa lagoa salgada que faz jus ao seu nome.
No caminho também irá encontrar o famoso Salar de Tara, um lago da mesma forma salgado, porém negro, que serve de abrigo para algumas espécies de peixes e crustáceos.
Mas também de onde podem ser admirados alguns belíssimos exemplares de gaviões, gaivotas, flamingos, entre outras espécies da região, que permanecem à espreita, silenciosamente, apenas esperando o momento certo de atacar as suas presas.
A Lenda do Vulcão Juriques
Mas em uma visita ao vulcão Juriques, o turista não irá deparar-se apenas com uma paisagem exótica, com o clima de um planeta distante e com a impressão de que transita em meio a um cenário de cinema.
Nem tampouco apenas com os misteriosos paredões íngremes, que até parecem estátuas de pedra, em uma combinação perfeita com a imensidão branca dos desertos de sal.
E muito menos apenas com o irmão do Juriques, o Licancabur, que, mesmo a alguns quilômetros de distância deste, causa-nos a impressão de que estão praticamente de braços dados.
Na verdade, à parte tantas belezas naturais, é a lenda que cerca ambos os vulcões o que mais chama a atenção de quem quer que visite o lugar.
E tal lenda trata, curiosamente, de um triângulo amoroso entre Juriques, Licancabur e Quimal – protagonistas de uma surreal história de amor.
A lenda, de acordo com a população local, teria sido criada há milhares de anos pelos ancestrais dos Licananthays – uma tribo indígena, nativa da região, cujo temor pelos vulcões tornou-se lendária.
A lenda diz que os vulcões Juriques e Licancabur, em um passado distante, teriam feito parte de um curioso triângulo amoroso, que tinha Quimal (um vulcão que vivia entre eles) como, digamos, a amada que seria disputada a qualquer custo por ambos.
O que aconteceu foi que Licancabur apaixonou-se por Quimal, mas o problema é que esta tinha o seu amor dividido entre os dois, o que, como não poderia deixar de ser, causou a ira incontrolável de Licancabur contra o seu irmão Juriques.
Estava declarada a guerra! Laskar, outro inponente vulcão da região (pai de Quimal), tentou, como pode, mediar esse intrincado conflito, porém não sabia que teria que lidar com um empecilho bem maior e quase intransponível: a fúria de Licancabur (um vulcão extremamente vaidoso e ciumento) contra o seu irmão Juriques, de temperamento reconhecidamente dócil e cordato.
Mas, quem sairia o vencedor? Quem, afinal, receberia como prêmio o amor da doce Quimal? O que Laskar, o ansião, poderia fazer para destrinchar tal embrolho?
Um Desfecho Inesperado
E na continuação da lenda, o que se conta é que Licancabur, ao saber que Juriques estava entre ele e a sua amada Quimal, não pensou duas vezes em lançar-se contra o irmão, com toda a fúria típica de um vulcão feroz e ativo, a lançar enormes quantidades de fragmentos, gases, lava e enxofre, em explosões sucessivas por vários dias.
De sua parte, Juriques resistia como lhe era possível – um bravo e digno combatente, pela mão da jovem Quimal -, porém sem poder, na verdade, fazer frente ao vigor e agressividade do seu irmão – um reconhecido combatente feroz.
A lenda diz que a luta entre os dois vulcões pelo amor de Quimal resultou em um conjunto de erupções vulcânicas que simplesmente dizimou plantações e reduziu a cinzas casas, animais e objetos pessoais.
As plantações de milho, outrora vistosas e douradas, agora estavam reduzidas a cinzas. Os belos exemplares de abóboras e batatas, mas pareciam pedaços de pedras lançadas ao chão. Enquanto a tradicional quinoa simplesmente reduzia-se a nada em meio à densa nuvem de cinzas vulcânicas que se espalhavam em um raio de alguns quilômetros.
A lenda conclui-se por meio de duas versões. A primeira diz que coube a Laskar (pai de Quimal) invocar o Harmatan (o “vento do deserto”), para que esse punisse o vulcão Juriques (que nesse meio tempo teria, supostamente, tentado tomar Quimal à força), cortando a sua cabeça.
Enquanto uma outra diz que o próprio Licancabur teria tido o prazer de realizar tal feito, decepando a cabeça do irmão, ao passo que Quimal era condenada ao desterro em uma região para além do deserto de sal.
A lenda ainda diz que a tragédia não foi o suficiente para afastar Licancabur e Quimal para sempre, pois, pelo menos uma vez ao ano, a sua sombra vem, delicadamente, beijar a face de Licancabur.
Enquanto Juriques, o vulcão derrotado, permanece praticamente ao seu lado, tolhido pela vergonha da derrota, e com a sua parte superior decepada, como uma eterna lembrança de uma disputa em nome do amor.
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