Embora o Brasil já seja um grande país agrícola, é também (ainda) um país pioneiro, sua agricultura está em constante mutação, conquista novas terras constantemente, move suas fronteiras e suas especializações locais e regionais, em um movimento contínuo de expansão pioneira e constante reorganização de regiões já conquistadas.
A diversidade de climas e ecossistemas oferece uma ampla gama de possibilidades, a capacidade de resposta dos produtores permite a mobilidade em grande escala, ao longo de centenas ou milhares de quilômetros. Mas isso não acontece sem tensões e conflitos, que causam centenas de mortes todos os anos. Este mundo pioneiro do Noroeste, como antes do Oeste dos Estados Unidos, é também um mundo de violência.
Qual a Maior Propriedade Rural Do Brasil?
O Brasil conseguiu manter sua forte posição agrícola desenvolvendo, a jusante, um poderoso complexo agroindustrial, que transforma e valoriza as commodities agrícolas. Assim, os bolos produzidos a partir da soja são usados em rações de aves vendidas nos mercados do Oriente Médio, onde o Brasil está competindo vigorosamente com os agricultores bretões. Além disso, o Brasil pode aumentar a produção desmatando novas terras.
Nos últimos cinquenta anos, as fazendas vem conseguindo conquistar dezenas de milhões de hectares. Hoje, para exemplificar a maior propriedade rural do país, a maior fazendo do Brasil, possui sozinha quase 131.000 hectares de terra, num território goiano divisa entre Tocantins e Mato Grosso. Só pra se ter uma noção de quão grande é isso, essa fazenda é maior que a capital do país chinês. Apenas um terço dessa terra é dedicado a lavoura.
É em parte para abrir novas terras que algumas estradas foram construídas. A colonização da Amazônia não resolveu os problemas de terra do Nordeste e do Sul, mas, pelo menos, as principais estradas permitiram a conquista dos cerrados, essas savanas arborizadas do Centro-Oeste (Mato Grosso, Goiás), onde o cultivo mecanizado de arroz e soja foi desenvolvido, bem como extensiva criação pecuária. A maior parte dessa fazenda em Goiás atende a pecuária.
Potencial Agropecuário Brasileiro
No Brasil, há quase toda a gama de produtos agrícolas no mundo. A cana-de-açúcar, a laranja, o café e a soja são as principais culturas de rendimento do Brasil, das quais ocupa o mais alto escalão do mundo, tanto em termos de valor como de tonelagem. Entre as principais culturas alimentares, a que apresenta maior dispersão e menor tonelagem é a mandioca. Os grãos vêm das duas principais áreas de agricultura familiar do país, no sul e no Nordeste.
A pecuária merece atenção especial pelo peso econômico e, principalmente, pelos seus efeitos estruturantes no espaço. Desde a chegada dos portugueses, tem sido um dos principais impulsionadores da dinâmica das áreas rurais no Brasil, desde as áreas periurbanas até o limite avançado das frentes pioneiras. O Brasil tem sido o maior exportador mundial de carne bovina e ocupa o segundo lugar no ranking mundial de gado de corte.
O mundo rural do Brasil está, ao mesmo tempo, evoluindo e marcado por disparidades muito fortes, em todos os campos: os tamanhos das explorações, o valor de sua produção, suas especializações. A partir desses contrastes e suas combinações, emerge uma oposição marcante entre sistemas econômicos e regionais muito diferentes, cujo desempenho econômico e social não pode ser mais desigual. Essa situação cria tensões sociais que muitas vezes assumem uma forma violenta e podem, a qualquer momento, levar a uma explosão.
Tensões e Conflitos
Essas tensões podem parecer estranhas em um país onde há muito espaço disponível, onde a agricultura e a pecuária ocuparam, em média, pouco menos da metade do território nacional, dos quais menos de 10% são realmente cultivados. Além disso, essa média tem pouco significado, pois abrange situações muito diferentes: fora da costa Nordeste e das regiões de agricultura intensiva do Sul-Sudeste, a taxa de antropização (conversão de espaços abertos, paisagens e ambientes naturais pela ação humana) é pouco maior que 10% do total (dados não atualizados desde 2010).
Embora todo o território não esteja disponível atualmente para a agricultura, ajustes necessários seriam necessários para abri-lo (supondo que seja desejável), mas nenhuma parte do território brasileiro é inutilizável para a agricultura. Mas, apesar dessa disponibilidade, existem conflitos, devido a uma tensa situação agrária, a terra (especialmente a melhor terra), sendo frequentemente monopolizada por proprietários de terras descuidados ou ausentes, nas imediações de camponeses sem terra.
Este é particularmente o caso do Nordeste, onde a terra está ociosa e os camponeses ocupam terras sem título, daí a força dos conflitos na região e a emigração dos nordestinos para a Amazônia oriental. Quando conseguem, muitas vezes voltam a entrar em conflito, que pode ser violento, com os ex-ocupantes ou com outros imigrantes, pequenos agricultores como eles ou criadores, às vezes com métodos expeditos. O “bico do papagaio” na ponta norte do estado do Tocantins é onde ocorreram os conflitos mais mortíferos.
Sob a pressão do movimento ruralistas e graças a um período de estabilização da moeda, uma vasta campanha de colonização foi lançado, e milhares de famílias foram assentadas em acampamentos, colonizando áreas em terras desapropriadas ou terras públicas. Infelizmente, estes últimos estão principalmente na Amazônia, em áreas mal dotadas e carentes, de modo que invasões ilegais de terras continuam em áreas mais atraentes. Mesmo que tenha perdido força, à medida que o êxodo rural é completado, a questão da reforma agrária permanece.
Qual O Vislumbre Político Da Reforma?
As previsões e expectativas parecem tenebrosas segundo ambientalistas, animadoras para o lobby poderoso dos grandes empresários da agropecuária e particularmente perigosas para empreendedores rurais pequenos e trabalhadores rurais que sonham adquirir um pedacinho de terra para si e sua família. O momento político atual é crítico e aparentemente tendencioso para exploração intensificada de terras para beneficiar grandes empresários do setor.
Uma das grandes vítimas de toda essa pilhagem violenta tem sido e continua sendo a Amazônia, que permanece sendo cada vez mais desbastada territorialmente para atender esses interesses, para o desespero de ambientalistas e outros preocupados com a preservação da natureza. Alertam esbravejantes e incansáveis sobre os riscos ambientais desse desmatamento para o Brasil e para o mundo inteiro, mas infelizmente sem muito sucesso.