Você morre de raiva quando encontra aquela “mancha escura” na parede de casa após um período de chuva? Fica feliz quando descobre que tem champignon no cardápio de um restaurante? Ou adora quando consegue coletar aqueles cogumelos vermelhos que te deixam mais forte no jogo Super Mário? Pois bem! É difícil de imaginar, mas todas essas coisas e situações têm algo em comum: os Fungos Filamentosos.
Esses micro-organismos, junto a outras espécies de fungos, eram considerados parte do reino vegetal até meados dos anos 70. Através de inúmeras pesquisas do biólogo Robert Whittaker, constatou-se que estes seres reuniam uma série de características que os diferenciavam dos vegetais, sendo realocados para outro reino animal, o reino Fungi.
Os integrantes deste reino se dividem em colônias de dois tipos, Fungos Filamentosos e Fungos Leveduriosos, sendo as leveduras seres unicelulares e os filamentosos, pluricelulares. Além disso, todos eles são seres eucariontes, ou seja, o núcleo da célula é separado do citoplasma por uma membrana chamada carioteca. Diferentemente das plantas, os fungos não realizam clorofila, não armazenam amido como reserva de energia e não têm celulose em sua parede celular, com a exceção de alguns fungos aquáticos.
O que são os Fungos Filamentosos?
Características
As colônias dos Fungos Filamentosos constituem a maior parte do reino fungi. Eles são formados por hifas, estruturas multicelulares em formato de tubos ou filamentos. Um conjunto de hifas são denominadas micélios, sendo estes cenocíticos ou septados. Possuem micélios septados os fungos das divisões Ascomycota, Basidiomycota e Deuteromycota, já os que apresentam micélio cenocíticos, são os fungos das divisões Mastigomycotas e Zygomycotas.
Estes micro-organismos se caracterizam pela aparência algodonosa, aveludada ou pulverulenta. Alguns exemplos de fungos filamentosos são os mofos, cogumelos e o Armillaria bulbosa, um fungo que chega a medir 3,8 mil quilômetros de comprimento e é considerado hoje o maior ser vivo do mundo.
Reprodução
A reprodução das colônias filamentosas acontecem de maneiras sexuada e assexuada, por meio da produção de esporos. Na reprodução assexuada geram gomos, brotos ou ramificações. No caso de produção de hifas aéreas podem surgir corpos reprodutivos de diversos tipos, como os conídios. Após o processo de meiose se formam esporos haploides.
Já a reprodução sexuada, podemos observar a existência de três fenômenos em cadeia: plasmogamia, cariogamia e meiose. Na plasmogamia ocorre a junção das células de dois micélios; no fenômeno da cariogamia há a produção de zigotos, sendo que esta etapa do processo pode demorar meses ou anos. Por fim ocorre a Meiose, que resulta também na formação de esporos haploides.
“Habitat”
Como “habitat”, costumam viver em locais escuros e úmidos para realizar sua reprodução. São encontrados em diversos ambientes, incluindo locais extremos como o deserto, em sedimentos de mar e em áreas com elevadas concentrações de sais ou radiações ionizantes (fungo radiotrófico). E, pasmem, fungos filamentosos podem sobreviver no espaço! Alguns deles são resistentes às intensas radiações ultravioleta e cósmicas encontradas durante as viagens espaciais.
Para Que Servem?
Ciclo Biológico
Existem muitas espécies de fungos que são úteis aos seres humanos e ao ecossistema de modo geral, servindo também para fomentar a indústria de alimentos e bebidas. Uma das atividades mais importantes dos fungos é o processo de decomposição da matéria orgânica. Junto às bactérias, estes seres realizam a degradação da matéria orgânica para adquirir energia.
É na decomposição que a matéria orgânica é transformada em partículas menores e nutrientes, que são devolvidos ao meio-ambiente para que sejam reaproveitados por outros organismos. Este processo é fundamental para que ocorra o Ciclo Biológico, processo de constantes interações entre as várias espécies do planeta e elementos químicos, o que garante a continuidade da vida na Terra.
Preservação do Meio-Ambiente
Além disso, os fungos fazem parte do tratamento de águas que, por ventura, estejam contaminadas. Uma pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) descobriu recentemente que alguns fungos filamentosos ajudam na biodegradação de derivados do petróleo.
A bióloga Flávia Arruda, responsável pela pesquisa, garante que a técnica denominada Biorremediação se orienta pela ação desses micro-organismos na decomposição de determinados poluentes.
Remédios
Fungos Filamentosos podem também ser uma importante ferramenta para o setor da Biotecnologia e cuidados com a saúde. Exemplo disso é o uso do fungo Penicillium roqueforti na produção do antibiótico Penicilina, que costuma ser utilizado para combater várias categorias de doenças.
Além deste medicamento, existem outros como o Imunossupressor Ciclosporina (utilizado em transplantes para evitar a rejeição ao órgão) sintetizado pelo Acremonium chrysogenum e a Lovastatina, utilizada para a diminuição do colesterol e gerado pelos fungos Monascus ruber e Aspergillus terreus.
Gastronomia
Em relação à gastronomia, os fungos desempenham um papel muito importante na produção de queijos artesanais, fermentando o leite de queijos como o Roquefort (feito a partir do leite de ovelha) e o Gorgonzola (leite de vaca).
Vale lembrar que na culinária de vários países, tem-se o costume de comer alguns cogumelos como o Champignon, Portobello e Shiitake, fungos filamentosos dos filos Ascomycota e Basidiomycota.
Danos Causados por Fungos Filamentosos
Degradação de Objetos e Ambientes
Apesar de representarem parte valiosa para a manutenção do meio ambiente e fomentação da indústria gastronômica e bioquímica, há ocorrências e tipos de fungos que requerem de nós certos cuidados.
Um dos grandes problemas causados pelos fungos filamentosos é o mofo. Este micro-organismo costuma infectar madeiras, gessos, materiais biodegradáveis, dentre outros locais que apresentem texturas capazes de reter depósito de sujeiras, ótimo meio nutricional para esses micro-organismos. Sua proliferação resulta desde colônias com uma tonalidade acinzentada (que pode ser facilmente removida com pano úmido), até aquelas que produzem alguns pontos pretos mais difíceis de serem retirados, provocando a corrosão.
Doenças Respiratórias e Alergias
Dentre as consequências da propagação destes, estão problemas alérgicos e respiratórios naqueles que vivem ou frequentam o lugar infectado. Algumas espécies de fungos, como o Stachybotrys, libera toxinas que podem causar inflamação pulmonar. O mofo também pode provocar doenças de pele, causando eczema e dermatite atópica. Para evitar que isso aconteça, mantenha o ambiente sempre limpo, deixe janelas e portas abertas e utilize produtos específicos para mofo.
Intoxicações Alimentares
Além de ambientes e objetos, estes fungos costumam se proliferar em perecíveis como pães e frutas, iniciando um processo de decomposição destes alimentos. Evitar que ela aconteça é um procedimento importante nesses casos e o ato de armazenarmos alimentos na geladeira é o meio mais viável para evitar a decomposição precoce. É de extrema importância que ao comer um alimento, verifiquemos se o mesmo não se encontra embolorado. Em caso afirmativo, o certo é jogar o alimento no lixo.
Outros exemplos de intoxicação alimentar fúngica são os efeitos de se ingerir cogumelos tóxicos como a Amanita muscaria, que contém compostos químicos com propriedades psicoativas, causando vertigem, náusea, sono e alucinações.