A correta percepção do que é a sinecologia depende da identificação do modo como funciona um determinado ecossistema.
Já conhecemos por demais a definição clássica de ecologia: “O estudo da relação entre os seres vivos e entre estes e o meio onde vivem.”
No entanto, é preciso que se tenha em mente que tais relações podem se dar entre indivíduos da mesma espécie e entre indivíduos de espécies diferentes.
À primeira forma de abordagem dá-se o nome de Autoecologia, enquanto a segunda recebe o nome de Sinecologia.
Podemos então definir Sinecologia como sendo “a área da Ecologia que incumbe-se de analisar as relações entre indivíduos de espécies diferentes, bem como a forma como tais indivíduos se relacionam como o ecossistema do qual fazem parte.”
Essa foi uma abordagem analisada durante o 1º Congresso Internacional de Ecologia, na cidade de Haia, em 1974.
Já nessa época existia uma preocupação em observar as relações ecológicas por um outro aspecto, que não somente aquele que trata das relações entre indivíduos da mesma espécie.
Agora não bastava apenas conhecer as relações que se estreitavam, por exemplo, entre uma comunidade de anuros ou de lumbricinas, e entre estas e os seus habitats favoritos. Seria importante, também, saber como ocorre as relações entre elas e indivíduos de outras espécies.
Seria interessante investigar qual a possível relação que poderia haver entre um vigoroso exemplar de um Bufo Marinus (o sapo-cururu) ou de um Bufo bufo (o sapo-europeu) e um Siluriforme (o bagre-comum), por exemplo.
Ou entre este e uma Attacus atlas (espécie de borboleta) ou uma Lumbricina (a minhoca-comum) – por mais surreal e improvável que esse tipo de relação pudesse parecer.
As Características da Sinecologia
Porém não é suficiente apenas saber o que é a ciência da sinecologia. É importante, também, compreender o alcance da sua intervenção científica, além das características que a diferenciam de outros ramos da Ecologia.
Em primeiro lugar, é preciso entender que a sinecologia trata da dinâmica que envolve a troca de matéria e de energia dentro de um ecossistema, bem como as suas consequências para cada meio.
Logo, ela deverá analisar as relações ecológicas (mutualismo, predatismo, parasitismo, comensalismo, protocooperação, entre outras), as sucessões ecológicas, as migrações populacionais, as Cadeias Alimentares, entre outros eventos que sejam considerados decisivos para a ocorrência de alterações significativas dentro de um ecossistema.
Agora os fatores bióticos (seres vivos) e abióticos (água, ar, solo, vento, chuvas, etc) deverão também ser analisados, tanto do ponto de vista da sua importância para os seres terrestres como para os seres aquáticos – mas também a sua relação com as espécies constituintes de ambos os ecossistemas, que poderão falar muito sobre a constituição de um país ou de um continente inteiro.
A sinecologia irá separar uma comunidade onde porventura coexistam espécies de répteis, anfíbios, mamíferos, entre outras classes, e analisar a abundância ou escassez de cada uma, a prevalência de umas em relação a outras, a frequência com que podemos encontrá-las, entre outras variáveis.
Mas ela também poderá deter-se apenas em questões estruturais, como a formação das Cadeias Alimentares, a influência dos fatores abióticos sobre cada espécie, as transferências de matéria e energia, as sucessões desses grupos em determinados trechos do ecossistema, além de várias outras abordagens que geralmente definem bem o que é a sinecologia.
As Origens da Sinecologia
Diferentemente do que se imagina, a ideia de sinecologia não é nova. Ela já completa mais de 100 anos, desde que o botânico alemão, Carl Schroter, por volta do ano de 1902, passou a discursar sobre a necessidade de se tratar da relação entre os seres vivos por um outro aspecto, à época não tão valorizado.
Não demorou para que, em 1910, durante o 3º Congresso Internacional de Botânica, em Bruxelas, o termo passasse a ser adotado com mais ênfase, começando, nesse momento, uma longa história de investigações acerca das relações entre espécies totalmente diferentes dentro de um mesmo ecossistema.
Agora sabemos bem o que é e o que representa a sinecologia nos tempos modernos, graças aos avanços da ciência, que permitiu a utilização de instrumentos eletrônicos e de conceitos atômicos para que se pudesse pôr em prática determinadas pesquisas sobre mecanismos complexos que desenvolvem-se, diariamente, na natureza.
Na verdade, a sinecologia acabou ganhando, para muitos, o status de “A grande área da ecologia”, justamente por tratar das relações entre comunidades inteiras, e entre estas e o meio, conferindo a tais estudos uma maior abrangência.
O que é Sinecologia Estática e a Dinâmica?
Para melhor investigar essas relações que ocorrem entre populações de espécies diferentes, e entre estas e o meio onde vivem, a sinecologia desdobra-se em duas frentes ou campos de ação: a Sinecologia Estática ou Descritiva e a Sinecologia Dinâmica ou Funcional.
No primeiro caso, como o próprio nome indica, a ciência trata de descrever essas relações, a frequência com que essas interações ocorrem, assim como a sua constituição, distribuição dos grupos, interrupções, qualidade das relaçoes, entre outras características, que, ao final, caracterizarão o ecossistema do ponto de vista dos seus aspectos físicos, químicos e biológicos.
Já no segundo caso, a sinecologia avalia essas inter-relações como um “todo”. Os aspectos demográficos, estruturais, históricos, geológicos, entre outras variantes, são estudadas estruturalmente, a fim de que se possa entender um pouco mais sobre como duas ou mais comunidades de espécies diferentes evoluiram juntas ao longo do tempo, e como criaram quase que uma relação de dependência umas das outras.
Aqui as relações ecológicas e a formação das Cadeias Alimentares são estudadas em seus pormenores, com o objetivo de tentar entender, por exemplo, como a abundância de uma determinada espécie foi decisiva para a escassez de outra; ou como, no caso contrário, a sua escassez provocou eventos de superpopulações muitas vezes de caráter inexplicável.
Há correntes que afirmam, no entanto, que, nesse caso, o mais correto seria referí-la como Sinecologia Quantitativa, já que, como o próprio nome diz, o campo de estudo será as trocas de energia e de matéria que são muito bem configuradas nas Cadeias Alimentares e nas sucessões ecológicas.
Por sabermos que elas ajudam a determinar as relações de dominação, dependência, sobrevivência, coexistência harmônica e desarmônica, entre outras relações, que dizem respeito, especificamente, a populações compostas por espécies diferentes dentro do espaço limitado de um ecossistema.
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