A história do Monte Santa Helena pode ser dividida em antes e depois dos eventos do dia 19 de maio de 1980. Porém, dois meses antes, essa vigorosa estrutura vulcânica já dava sinais das sua presença, por meio de abalos sísmicos com 5,1 pontos na Escala Richter, que já deixavam claro que algo não estava indo tão bem.
E realmente não estava!, porque não demorou para que uma devastadora avalanche criasse uma espécie de modificação na estrutura do vulcão, capaz de aumentar a sua pressão interna e a temperatura do magma nele contido.
O resultado foi uma incrível sequência de erupções, com jatos de fluxos piroclásticos, cinzas vulcânicas e demais fragmentos a uma altura de quase 26 km.
Agora o Monte Santa Helena tinha um antes e um depois. Antes, uma vegetação característica, com os seus belos exemplares de pinheiros, castanheiros e plátanos. Agora, “uma paisagem lunar”, segundo o então presidente dos EUA, Jimmy Carter. E uma “área praticamente estéril”, para os pesquisadores que analisavam o local.
Mas a história ainda guardava para o Santa Helena novos e surpreendentes episódios – Novos capítulos que, até mesmo para os mais experientes e sobreviventes de terríveis desastres naturais, podiam ser comparados a verdadeiros milagres da natureza.
O Monte Santa Helena: Antes e Depois
Mas ao que tudo indica, as previsões feitas pelos especialistas não se confirmaram (pelo menos não na extensão anunciada), já que cerca de 2 anos e meio depois, já era possível perceber sensíveis alterações na paisagem local.
Era como se todo aquele mar de detritos de alguma forma guardasse, ali, o germe da vida, na forma de material orgânico necessário para a reconstrução do lugar.
Aquela região do Santa Helena era caracterizada por possuir uma rica vegetação arbustiva, variedades de líquens, algumas espécies de samambaias, trepadeiras, musgos, entre outras formas de vida, que estendiam-se por um raio de até 500km2.
A fauna era composta por centenas de milhares de pássaros, dezenas de milhares de coelhos, lebres, ursos, alces, veados, coiotes, lobos, entre outras espécies que, segundo o Washington State Department of Game, Departamento de Caça do Estado de Washington, eram espécies típicas da América do Norte.
Mamíferos e roedores de pequeno e médio porte eram como cartões de visitas da região – entre os quais, diversas espécies de texugos, marmotas, marsupiais; mas também variedades de lagartos, salamandras, serpentes – uma verdadeira exuberância selvagem, que encontrava, ali, clima e vegetação ideais para a sua sobrevivência e proliferação.
Como o estado líder na extração de madeira nos EUA, os prejuízos do estado de Washington nesse setor não poderiam ter sido menores. A quantidade de madeira destruída pelas erupções seria suficiente para construir algumas centenas de milhares de casas com pelo menos quatro compartimentos.
Apesar da sua aparente insignificância, uma vertiginosa comunidade de insetos também foi dizimada pelos eventos de 19 de maio.
Espécies de besouros, louva-a-deus, aranhas, escorpiões, moscas, borboletas, entre outras variedades, foram quase totalmente devastadas – restando apenas algumas bravas resistentes, que agora uniam-se a novos exemplares que vinham de outras regiões do condado de Skamania – e até de paragens mais distantes.
O Que Parecia Impossível Aconteceu!
Com as erupções, o topo do Santa Helena também tornou-se uma coisa antes e outra depois. Isso porque calcula-se que pelo menos 15% dos seus mais de 2.500 m de altura simplesmente desapareceram, e junto com eles toda a fauna e flora do seu entorno; além de quase 60 vidas humanas, centenas de casas – sem contar os transtornos ambientais resultantes da tragédia.
Muitos especialistas, precipitadamente, correram a afirmar que, a partir de agora, tudo o que teríamos ali é uma paisagem semelhante à que vemos na lua: um solo árido, infértil, poroso, coberto de poeira e repleto de material tóxico por todos os lados.
No entanto, o que outros especialistas concluíram foi que a visão aérea que se tinha do monte causava uma impressão que não se confirmou ao visitar o local de perto.
Pois o que se podia observar, claramente, era a natureza se renovando e lutando pela vida. Sobre a densa camada de detritos, via-se, aqui e ali, pequenos exemplares da vegetação nativa num esforço comovente em sair para a vida.
Curiosamente, ao que tudo indica, espécies vegetais que encontravam dificuldades para sobreviver sob a escuridão lhes imposta pelas sombras das grandes árvores, agora que elas não mais existiam, podiam sair para a vida, como novas espécies ainda não conhecidas naquela região.
Enquanto outras, que não resistiam ao assédio dos animais – que as tinham como fonte primária de alimentação –, agora também podiam “dar o ar da sua graça” (ainda timidamente, é claro), como a promessa de um novo reflorestamento a partir de espécies surpreendentemente novas.
Nada Mais Será Como Antes: Talvez Melhor!
Agora o Monte Santa Helena tinha um antes e um depois. Ante era o habitat apenas de inúmeras espécies de animais e vegetais, mas agora teria que dividir o seu espaço com uma legião de cientistas, professores, pesquisadores, estudantes, biólogos e vulcanólogos, que passaram a montar ali as suas estruturas de observação e monitoramento.
Eles descobriam, surpresos, como novas espécies de besouros e aranhas, oriundas de outras partes do condado de Skamania, vinham como em socorro à região, com o objetivo de contribuírem – também elas – para o repovoamento da fauna local.
Corujas, falcões e gaviões, além da típica cotovia do oeste, juntavam-se, lentamente, às espécies de herbívoros e mamíferos que, por tabela, ainda ajudavam a nutrir o solo com um esterco rico em matéria orgânica.
Espécies de texugos, castores, marmotas, vinham como que hipnotizados pelas novas variedades da vegetação que surgia.
Salmões, trutas e algumas variedades de ciclídeos, movidos pelos seus instintos de sobrevivência e de reprodução, deslocavam-se do Oceano Pacífico, em meio aos cursos d’água que surgiam com o oxigênio suficiente para a sua sobrevivência.
Mas algumas espécies, por mais incrível que possa parecer, conseguiram sobreviver ao desastre, ali mesmo, escondidas e silenciosas, esperando apenas a oportunidade de exibirem-se novamente.
Foram os casos de vários tipos de insetos que, durante a erupção, encontravam-se, comodamente, protegidos no subsolo. Enquanto espécies marinhas sobreviveram escondidas sob grossas camadas de gelo ou neve. Ou como algumas variedades de lagartos que, na luta pela sobrevivência, encontraram nas escavações de grandes árvores o refúgio ideal.
Enfim, apesar da opinião da maioria dos especialistas de que serão necessários ainda 1 ou 2 séculos (sem outras tragédias) para que se possa ver no local a mesma exuberância natural pré-erupção, a verdade é que muitos não conseguem disfarçar a emoção com o que conseguiram presenciar 2 ou 3 anos após esse terrível evento.
Pois o que ficou claro é que o que a natureza quis mesmo foi pregar uma grande peça nos especialistas! – até então céticos quanto à recuperação daquele trecho do Santa Helena. – E mostrar a força descomunal que se esconde, muitas vezes, sob o frágil manto de uma constituição simples e pouco elaborada, como é a de algumas espécies desse incrível reino da natureza.
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