Em setembro de 2018, o governo japonês realizou debates sobre como abordar os prováveis efeitos na cidade de Tóquio no caso do Monte Fuji entrar em erupção, com cinzas vulcânicas caindo provavelmente para empurrar a capital para o caos. Porque será que estão preocupados com isso agora? Será que o monte Fuji está com alguma atividade vulcânica preocupante?
O que Dizer Sobre o Fuji?
O monte Fuji atual é o vulcão mais alto do Japão e também o pico mais alto, com mais de 3.700 metros de altitude. A montanha como aparece agora começou a entrar em erupção há cerca de 10.000 anos atrás. Sob a elevação atual, encontra-se o “Velho Fuji”, vulcão que foi ativo por mais de 90.000 anos antes do atual. E há também o vulcão Komitake, que se tornou ativo 700.000 anos atrás. É considerado uma das três montanhas sagradas japonesas. As outras duas são o monte Tate e o monte Haku.
Fuji é um estratovulcão perfeito e bonito a cerca de 100 km a sudoeste de Tóquio, com uma forma excepcionalmente simétrica, tornando-se um famoso símbolo do Japão e um elemento importante na arte japonesa. É um destino popular para excursões. Mais de 200.000 pessoas sobem ao topo do Monte Fuji todos os anos.
A Geologia Complexa do Fuji
O monte Fuji tem uma origem geológica complexa. O grande estratovulcão tem um diâmetro de base de quase 50 km e culmina em uma cratera de cume de 500 m de largura e 250 m de profundidade. O vulcão cobre vários vulcões mais antigos, cujos remanescentes formam irregularidades no perfil simétrico de Fuji, incluindo Komitake e Ko-Fuji (o “Velho Fuji”), que estava ativo entre 100.000 e 10.000 anos atrás.
O edifício atual, principalmente basáltico, começou a crescer entre 11.000 e 8.000 anos atrás, quando grandes fluxos de lava surgiram e ainda hoje formam 25% do volume do edifício. De 8000 a 4500 anos atrás, a atividade do monte Fuji era principalmente explosiva antes que outro ciclo efusivo ocorresse entre 4500 a 3000 anos atrás. Nos últimos 3000 anos, grandes erupções explosivas ocorreram entre fases de atividade efusiva mais branda. De 3000 a 2000 anos atrás, a maioria das erupções ocorreu no topo, enquanto um grande número de erupções de flanco ocorreu durante os últimos 2000 anos, formando mais de 100 cones de flanco.
Dezesseis erupções desede a formação atual do monte Fuji foram registradas, desde 781 pra ser mais exato. Muitas das erupções ocorreram na era Heian, com doze erupções entre 800 e 1083. Às vezes períodos inativos entre erupções duraram centenas de anos, como no período entre 1083 e 1511, quando nenhuma erupção foi registrada por mais de 400 anos. Atualmente, não houve erupções desde a erupção de Hoei em 1707-1708, cerca de 300 anos atrás.
A Erupção de 1707
Em outubro de 1707, uma nova erupção anunciou-se com um grande terremoto de magnitude 8,4 devastando a ilha de Honshu, seguido por vários terremotos menores sentidas perto do Monte Fuji. A erupção começou em dezembro de 1707 a partir de um novo respiradouro no flanco sudeste do vulcão em erupção de uma coluna sub-pliniana de cinzas e pedra-pomes, transformando-se em lava basáltica após 6 horas da erupção. No primeiro dia da erupção, 72 casas e 3 templos budistas foram destruídos na cidade de Subassiri, a 10 km do vulcão.
Cinzas vulcânicas caíram por toda a planície sul de Kanto, em Tóquio, e em áreas do Oceano Pacífico noroeste a 280 km do vulcão. O volume total que entrou em erupção ao longo de mais de duas semanas foi estimado em 680 metros cúbicos de magma. Explosões violentas foram registradas até o final de dezembro, antes que a erupção se acalmasse e terminasse em bem no início de janeiro de 1708.
Risco Atual de Erupção
O vulcão permanece calmo. No entanto, um aumento no número de pequenos terremotos próximos e abaixo do monte Fuji foi visível nos últimos levantamento de dados de terremotos próximos (dentro de 30 km de raio). Enquanto todos estes dados são considerados muito pequenos e o número não é certamente alarmante, o vulcão continua a ser motivo óbvio de grande ansiedade.
Uma nova erupção do monte Fuji poderia forçar cerca de 600 mil pessoas a evacuar suas casas, no pior dos casos. O governo do distrito de Shizuoka tem trabalhado em planos de evacuação, pressupondo que mais de 60.000 famílias teriam que se mudar, caso a lava chegasse a distritos residenciais na cidade de Fuji localizada ao sul da montanha.
Os cientistas estudam a atividade do magma aumentando medindo as emissões de CO² nas partes mais profundas do vulcão. Estudos anteriores ao terremoto de Tohoku mostram as emissões de CO² abaixo de 5 gCO²/ m²/dia, que é o limite de detecção. Se as emissões ultrapassarem esse limite considerado aceitável, então a atividade sísmica está ocorrendo e uma erupção pode ocorrer. De acordo com um modelo evolucionário de cinco estágios para a liberação de gás vulcânico, Fuji seria considerado o estágio I. O magma está a uma profundidade considerável de 10 km abaixo e nenhuma emissão de gases pode ser observada regularmente.
Após o terremoto e o tsunami de 2011 em Tōhoku, muita atenção foi dada à reação vulcânica do monte Fuji. Especialistas descobriram que a pressão interna do monte, a câmara de magma, aumentou para uma estimativa de 1,6 megapascais (medida de pressão na panela), levantando especulações sobre a possibilidade de uma erupção. O dano estimado ao Japão por uma possível erupção do monte Fuji pode superar facilmente uns 30 bilhões de dólares americanos.
Os Planos de Contingência Japonês
Diante de um histórico que envolve uma série de grandes erupções, o pico mais alto do Japão preocupa muito o país até pela sua proximidade de Tóquio. A distância é em torno de 100 km mas vale lembrar que, na erupção ocorrida em 1707, o monte Fuji expeliu cinzas vulcânicas que empilharam quatro centímetros de altura no que hoje é a parte central de Tóquio.
Por isso, nessa reunião realizada em setembro último, ficou determinado que o Conselho Central de Gerenciamento de Desastres avaliará a velocidade e o escopo em que as cinzas vulcânicas cairão, e sua influência na infraestrutura de transporte e fornecimento de eletricidade e água, no caso de uma erupção. Um associação de 14 personalidades foi designada nesta reunião, liderado por Toshitsugu Fujii, um prestigiado mestre acadêmico da Universidade de Tóquio. O objetivo desse grupo será elaborar uma adequação a proposta de contingência feita em 2012, onde vislumbram medidas preventivas para o período de um ano, um modelo que provavelmente se refletirá nos planos de gestão de desastres dos municípios locais.
Essa associação avaliará diversos cenários possíveis, simulando o volume de cinzas vulcânicas, a dinâmica do vento e o potencial de erupção, traçando referências com a erupção vulcânica em 1707. Os designados compararão os dados precisos que conseguirem com os da estimativa anterior, feita em 2012, que deduziu até 10 centímetros de cinza vulcânica em Tóquio no caso de uma erupção. A designação envolve também estratégias para o descarte, limpeza e armazenamento das cinzas caídas da erupção.