“Nenhuma civilização nasceu sem ter acesso a uma forma básica de alimentação e aqui nós temos uma, como também os índios e os indígenas americanos tem a deles. Aqui temos a mandioca e certamente teremos uma série de outros produtos essenciais para o desenvolvimento de toda a civilização humana ao longo dos séculos. Então, aqui, hoje, eu tô saudando a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil!” Quem lembra dessa pérola de erudição da ex presidenta Dilma Rouseff na abertura dos jogos mundiais de povos indígenas em 2015? Com esse discurso, tudo o que ela conseguiu foi arrancar risos da platéia mas uma coisa ao menos teve de bom: esse seu surpreendente cumprimento especial a mandioca…
A Homenageada Mandioca
Nosso personagem honrado, a mandioca, de nome científico manihot esculenta, é parte de um arbusto lenhoso que se originou na América do Sul. Pertencente a família euphorbiaceae, é uma planta anual cuja raiz tuberosa amilácea é comestível para a maioria dos países de regiões tropicais e subtropicais. Nossa mandioca, ás vezes confundida com a yuca (um género botânico pertencente à família agavaceae) pelos norte americanos, é rica em carboidratos e pode ser consumido cozido, em frituras ou de outras formas em receitas culinárias. Processado como pó, transforma-se na tapioca.
A mandioca é considerada em terceiro lugar como a maior fonte de carboidratos, atrás apenas do milho e do arroz. É um tubérculo de grande importãncia na alimentação básica, sustentando mais de meio bilhão de pessoas no mundo em desenvolvimento. Uma planta tolerante a climas áridos e terras sêcas. É um dos principais produtos de cultivo na Nigéria e o principal produto alimentício de exportação da Tailândia.
A mandioca pode ser amarga ou doce, e ambas as variedades oferecem um valor considerável de toxinas e fatores antiesculentos capazes de intoxicar por cianeto, ataxia ou bócio e, em situações extremas, paralisia ou morte. A presença de cianeto na mandioca é motivo de preocupação para o consumo humano e animal. A concentração destes glicosídeos antinutricionais e inseguros varia consideravelmente entre variedades e também com condições climáticas e culturais. A seleção de espécies de mandioca a ser cultivada, portanto, é muito importante. Uma vez colhida, a mandioca amarga deve ser tratada e preparada adequadamente antes do consumo humano ou animal, enquanto a mandioca doce pode ser usada depois de simplesmente ferver. Não se trata de uma particularidade apenas da mandioca, no entanto. Outras raízes ou tubérculo também oferecem esse risco. Daí a necessidade de um cultivo e de um preparo adequado dos mesmo antes do consumo.
Aparentemente a mandioca é nativa do centro oeste brasileiro onde surgem o primeiro registro de sua domesticação a cerca de 10.000 anos atrás. Formas das modernas espécies domesticadas ainda podem ser encontradas crescendo em estado selvagem também no sul do Brasil. As cultivares comerciais podem ter 5 a 10 cm de diâmetro no topo e cerca de 15 a 30 cm de comprimento. Um feixe vascular lenhoso corre ao longo do eixo da raiz . A carne pode ser branca como giz ou amarelada.
Produção Comercial da Mandioca
Até 2017, a produção global de raiz de mandioca chegou a milhões de toneladas, com a Nigéria como o maior produtor mundial com mais de 20% do total mundial. Outros grandes produtores são a Tailândia, o Brasil e a Indonésia. A mandioca é uma das culturas mais tolerantes à seca, pode ser cultivada com sucesso em solos marginais e produz rendimentos razoáveis onde muitas outras culturas não crescem bem. A mandioca é bem adaptada nas latitudes 30 ° norte e sul do equador, em elevações entre o nível do mar e 2.000 m acima do nível do mar, em temperaturas equatoriais, com chuvas de 50 mm a 5 m. anualmente, e para solos pobres com pH variando de ácido a alcalino. Essas condições são comuns em certas partes da África e da América do Sul.
A mandioca é uma cultura altamente produtiva quando se considera as calorias produzidas por unidade de área terrestre por unidade de tempo. Significativamente maior do que outras culturas básicas, a mandioca pode produzir calorias alimentares a taxas superiores a 250 kcal / hectare / dia, em comparação com 176 para arroz, 110 para trigo e 200 para milho. A mandioca desempenha um papel particularmente importante na agricultura nos países em desenvolvimento, especialmente na África subsaariana, porque se dá bem em solos pobres e com pouca chuva, e porque é uma planta perene que pode ser colhida conforme necessário. Sua ampla janela de colheita permite que ele atue como uma reserva de fome e é inestimável na gestão de horários de trabalho. Oferece flexibilidade aos agricultores pobres em recursos porque serve como uma subsistência ou uma cultura de rendimento.
Em todo o mundo, mais de 800 milhões de pessoas dependem da mandioca como principal alimento básico. Nenhum continente depende tanto de raízes e tubérculos para alimentar sua população quanto a África.
A Mandioca no Brasil
Nosso país está entre os maiores produtores da safra de mandioca no mundo, tendo uma produção superior a 25 milhões de toneladas de raízes frescas. O período de safra vai de janeiro a julho.
A maior produção brasileira da mandioca fica por conta das regiões norte e nordeste do país, responsáveis por mais de 60% do cultivo, seguido pela região sul com pouco mais de 20 % e o restante espalhado em pontos do sudeste e centro oeste. Destaque para a atual improdutividade da região centro oeste, qual região outrora de origem da planta, hoje com menos de 6% da produção moderna.
Os cinco maiores produtores atualmente da mandioca no país são os estados do Pará, Paraná, Bahia, Maranhão e São Paulo.
Os Nomes Regionais da Mandioca
Mandioca, aipi, pau de farinha, maniva, aipim, castelinha, uaipi, macaxeira, mandioca-doce, mandioca-mansa, maniveira, pão-de-pobre, macamba, mandioca-brava e mandioca-amarga são termos brasileiros para designar a espécie. Já ouviu algum desses onde mora? Como surgiu, quem inventou e onde mais é usado cada uma dessas expressões é uma incógnita. Diz-se que a expressão ‘macaxeira’ é usada mais nas regiões norte e nordeste, mas tem muita gente do sul usando. A expressão ‘maniva’ é relacionada aos brasileiros do centro oeste e do nordeste, mas tem muita gente usando no norte. Enfim, qual desses é o nome que realmente define a planta, ou o tubérculo comestível dela?
Pesquisadores sugeriram que os guaranis em regiões diferentes do país utilizavam dois principais termos pra se referir a essa planta: “mani oca” (mandioca) ou “aipi” (aipim).