Eis aqui uma dessas inúmeras singularidades que só mesmo a fauna do planeta é capaz de produzir.
É o “Tuco-tuco”, “rato-de-pente”, “curu-curu”, “marmota-dos-pampas”, entre outros diversos apelidos que recebe esse roedor originário dos campos, áreas abertas, lavouras, pastos, dunas, entre outras vegetações semelhantes da América do Sul.
Ele é uma espécie de “marmota brasileira”, habitante de túneis e galerias subterrâneas que escava como um bom escavador – e, por isso mesmo, uma espécie nem um pouco apreciada pelos agricultores e pecuaristas devido ao seu peculiar hábito de fazer essas escavações sem nenhum critério em meio a pastagens, lavouras e demais áreas agriculturáveis.
O Tuco-tuco chama a atenção pela sua estrutura roliça, garras vigorosas, cauda diminuta, corpo peludo, dentes curiosamente saltados para fora, olhar esperto e aguçado, um faro poderosíssimo, rapidez na hora de fugir do assédio de invasores, entre outras características que não são menos singulares e originais.
Além do seu nome científico, características físicas, entre outras particularidades que podemos apreciar por meio dessas fotos, cabe aqui chamar a atenção também para o fato de que estamos falando de um membro da família Ctenomydae, cujo único gênero, Ctenomys, possui entre 50 e 60 espécies.
E quase todas essas espécies possuem a mesma coloração entre o castanho e o avermelhado, um peso que varia entre 80 e 110 gramas, entre 15 e 25 cm de comprimento; como típicas espécies subterrâneas e capazes de construir uma verdadeira obra de engenharia no subsolo dos seus habitats naturais.
Uma Marmota Brasileira
A taxonomia dos Tucos-tucos é, até hoje, um desafio para biólogos, zoólogos e pesquisadores de todo o mundo. Só o que se sabe é que eles guardam um parentesco relativamente próximo com a comunidade dos “Octodontídeos”, que abriga gêneros como o Octodon, Spalacopus, Aconaemys, Pipanacoctomys, entre outros representantes da comunidade dos roedores Sul-americanos habitantes de ecossistemas do Peru até a Argentina.
E entre esses está o gênero Ctenomys (dos Tuco-tucos), que é mais facilmente encontrado em áreas abertas da Argentina e do Brasil (a partir do Centro-Oeste até o Sul), e com uma função ecológica que pode ser comparada à das marmotas e esquilos da América do Norte – para nós, uns tipos de ratos mais “sofisticados”.
O seu apelido, Tuco-tuco, como não poderia ser diferente, é cercado por controvérsias. Há quem diga que ele é o resultado do som produzido pelo animal durante as escavações das suas galerias.
Há também quem seja capaz de jurar que esse é o som produzido pelos Tucos-tucos quando acuados por algum intruso. Ou mesmo um “canto de acasalamento”, uma alusão às suas características físicas, entre outras razões sem qualquer tipo de confirmação.
Os hábitos alimentares desse animal limitam-se ao consumo de ervas, brotos, gramíneas, ou até mesmo os restos que eles avidamente caçam em regiões próximas a lavouras, pastos e pastagens – e de uma forma não menos curiosa, já que para isso eles precisam apenas colocar a cabeça para fora da toca e saborear toda a gramínea que conseguem descobrir em seu entorno.
Mas essa alimentação deverá ser feita meio às pressas e com os olhos e ouvidos bem atentos! Pois, certamente, em algum lugar por ali, estão à espreita alguns dos seus mais terríveis predadores, entre os quais, as águias, gaviões, cães selvagens, gatos-do-mato, cobras, serpentes, e até mesmo cães domésticos – estes últimos, geralmente treinados justamente para saírem à caça desses Curus-curus.
Outro terrível problema com o qual os Tucos-tucos precisam conviver é o avanço do progresso sobre os seus habitats naturais, em especial o do setor imobiliário, que avança implacavelmente sobre os ecossistemas onde eles vivem, tornando-os uma dessas milhares de espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção.
Tudo Sobre as Características do Tuco-Tuco
No Brasil, como dissemos, os Tucos-tucos são também conhecidos como as “marmotas-dos-pampas”. Isso por que é nesse ecossistema que vivem, de forma exclusiva, quatro das cinco espécies atualmente conhecidas no Brasil: o C. flamarioni, C. Ibicuiensis, C.Iami e C. torquatus.
Enquanto isso, o C. minutus, além dos pampas gaúchos, também pode ser encontrado no estado de Santa Catarina, em especial na belíssima região litorânea do estado – o que mostra que, além de exótico, o animal também possui um excelente bom gosto quando o assunto é a sua habitação.
Em todas essas regiões os Tucos-tucos sofrem com o risco de extinção. Nas regiões litorâneas o problema é a invasão imobiliária, que faz um verdadeiro extermínio dessas espécies; enquanto aquelas que vivem em campos abertos precisam ceder os seus lugares para as culturas de arroz, eucalipto, soja, milho, acácias, pinheiros, entre outras plantações.
Mas, apesar disso, esses Ratos-de-pente constituem-se como parte integrante da paisagem dos pampas gaúchos e das regiões litorâneas do sul do país; aqui e ali aparecendo, vez ou outra, apenas com a cabeça do lado de fora das tocas farejando comida e à espreita dos seus principais predadores.
O curioso é que, de tão ariscos, eles são praticamente ignorados em seus habitats naturais. Chega a ser um verdadeiro evento avistar algum exemplar, geralmente em uma corrida desabalada para escapar do raio de visão dos intrusos, como um dos mais curiosos representantes dessa não menos característica comunidade dos roedores brasileiros.
Uma curiosidade sobre a morada desses animais diz respeito à suas exuberantes estruturas; um conjunto de galerias minuciosamente arquitetadas, que podem atingir comprimentos de 12, 13, 14 ou até 15 metros!
Tais galerias são construídas de forma a garantir, não só o estoque de alimentos como também a fuga em caso de necessidade. E o que se sabe é que os seus predadores, quando decidem-se pela aventura de enveredar por essas galerias construídas pelos Tucos-tucos, não raro voltam de mãos vazias, e ainda confusos diante da habilidade daqueles que deveriam ser as suas refeições do dia.
Fotos
Os Tucos-tucos podem ser encontrados desde o Peru até à Argentina (onde distribuem-se em grande quantidade). E apesar de terem recebido esse apelido de “marmotas dos pampas”, taxonomicamente podemos enquadrar esse animais junto às comunidades das capivaras, das préas, do Myocastor coypus (o ratão-do-banhado), entre outras espécies de roedores da fauna do Brasil.
O que mostra que, quando o assunto é categorizá-los, temos um problema dos grandes no trato com esses membros ilustres da natureza selvagem brasileira.
Um Roedor e as Suas Singularidades
Os Tucos-tucos possuem um corpo curiosamente cilíndrico, orelhas diminutas e uma estrutura corporal que os permite deslizar habilmente pela infinidade de túneis e galerias que constroem com uma rapidez e desenvoltura de fazer inveja aos mais habilidosos roedores do planeta.
Além das características físicas e biológicas, nome científico, habitat, entre outras peculiaridades observadas nessas fotos, chama a atenção também nesses animais as diferenças de comportamento entre eles.
Sabe-se, por exemplo, que esses roedores caracterizam-se por serem animais solitários, que escavam solitariamente os seus túneis e galerias.
Mas nessa mesma comunidade é possível encontrar outros gêneros cujos membros apresentam as características de animais bastante sociáveis.
É o caso, por exemplo, do Ctenomys sociabilis, cujo nome científico não deixa dúvidas tratar-se de uma espécie bastante afeita a um convívio em pequenos grupos; inclusive nas próprias tocas, onde é possível observar um vai e vem frenético de machos adultos, fêmeas e filhotes.
É curioso notar, também, como as fêmeas do C. Sociabilis (o Tuco-tuco social) passa bem mais tempo com os seus filhotes em relação às espécies de outros gêneros; e ainda mantêm o local de nascimento dos seus filhotes como um habitat permanente e uma espécie de porto seguro.
Essa variedade é originária das lavouras, campos abertos e pastagens da Argentina, geralmente em uma faixa de terra que não chega a 800 km2, e em altitudes não superiores a 1000 m entre os rios Traful, Limay e o lago Nahuel Huapi.
A Diversidade Genética dos Tucos-Tucos
Uma das principais consequências desse comportamento social de algumas espécies do gênero Ctenomys é a menor diversidade genética que elas costumam apresentar; mas isso é algo que não ocorre com a maioria, pois esse é um gênero conhecido por ser dos que apresentam a maior diversidade genética entre os roedores.
Uma série de reorganizações cromossômicas, mutações e variações genéticas, ocorridas desde o Pleistoceno, garantem que variedades como o C.flamarioni e o C.brasiliensis, por exemplo, apresentem uma diversificação genética dificilmente comparada à de outros mamíferos do planeta – o que configura-se como uma das principais características dessa família Ctenomydae.
Os Tucos-tucos também chamam a atenção pelo apreço ao ambiente escuro e confortável das tocas que constroem. É nelas que eles permanecem por quase todas as 24 horas do dia; onde alimentam-se, executam os seus processos reprodutivos, dão à luz e criam os seus filhotes.
Por isso mesmo, para muitos, é uma grata novidade saber da existência desse representante típico da fauna do Rio Grande do Sul durante uma viagem turística ao estado.
Pois eles só costumam exibirem-se no período que antecede a chegada da noite (no crepúsculo); que é quando então é possível observá-los, de forma bastante sui generis, em uma aplicada faxina nas suas tocas e galerias subterrâneas para a retirada de terra e outros materiais.
Os membros dessa comunidade não são agressivos. Mas nem pensar em tentar contê-los durante as suas poucas investidas à superfície! Pois então o que você terá é uma verdadeira fera! Uma fera selvagem! Pronta para usar os seus dentes, as poderosas garras e tudo o mais que for possível para livrarem-se de uma companhia nem um pouco desejada.
Tudo Sobre o Habitat do Tuco Tuco
Como dissemos, esses Ratos-de-pente são mamíferos roedores habitantes de pastos, pastagens, áreas abertas, lavouras, cerrados, pampas, entre outros ecossistemas semelhantes desde o Peru até a Argentina.
E eles podem muito bem ser definidos como “marmotas-dos-pampas” ou “esquilos-da-argentina”, pois esses são os países que abrigam cerca de 90% das espécies, com uma incrível variação genética, a ponto de estarem entre os gêneros que mais apresentam a formação de espécies novas em um curto espaço de tempo.
Uma curiosidade acerca dos habitats desses Tucos-tucos diz respeito ao seu apreço por habitar regiões de dunas, litorais e escavações nas praias. E tudo indica que essa preferência talvez esteja ligada à facilidade de escavar imensos túneis e galerias com até 15 metros nesse tipo de terreno.
Apesar de compartilharem com as capivaras, ratões do banhado, preás, esquilos e marmotas – entre outras espécies de roedores brasileiros – diversas características comuns, dificilmente vocês os encontrarão em matas ciliares, florestas arbustivas, bosques, matas de galeria, restingas, brejos, pântanos, ou em qualquer outro habitat alagado, tão apreciado por essas espécies.
Agora, sobre as características reprodutivas dos Tucos-tucos, o que podemos dizer é que eles costumam reproduzir-se apenas uma vez ao ano; mas a diversidade genética desse animal dificulta qualquer tentativa de descrição padronizada dos seus processos reprodutivos.
Porém, de um modo geral, podemos dizer que, após a cópula, a fêmea deverá atravessar um período de gestação entre 3 e 4 meses; e, dessa gestação, surgirão entre 2 e 6 filhotes, que nascem com as mesmas características que costumam ser observadas nos demais roedores: totalmente cegos, sem pelos, indefesos e extremamente dependentes das suas mães.
Como dissemos, a América do Sul é o lar dos Tucos-tucos. É somente aqui que eles podem ser encontrados, em uma área que estende-se do Peru até a Terra do Fogo, e em altitudes que não costumam ultrapassar os 1000 m, mas com algumas espécies sendo capazes de enfrentar até 4000 metros de altitude.
Eles preferem habitar terrenos planos, em meio ao ambiente inigualável dos pampas gaúchos, em um vai e vem frenético em túneis e galerias escavados no litoral catarinense, ou mesmo em áreas de pastagens, plantações, terrenos baldios, entre outras regiões antrópicas (modificadas pelo homem); o que até leva a crer, graças à sua incomum diversidade genética, na possível transformação desses Tucos-tucos em roedores típicos das zonas urbanas num futuro distante.
Distribuição
Uma curiosidade a respeito de tudo o que se sabe sobre a distribuição dos Tucos-tucos é que a sua diversidade genética faz com que seja possível encontrar, mesmo numa única área geográfica, populações com características biológicas totalmente diferentes.
Na verdade é possível até mesmo encontrar variações de espécies na mesma faixa de habitat; como ocorre, por exemplo, com as espécies C.talarum e C.australis, que são totalmente diferentes e compartilham a mesma área na costa da Argentina.
Também é possível observar como outras espécies acabaram adaptando-se a encostas montanhosas e áreas rochosas (a quase 4000m de altitude), como é o caso do Ctenomys mendocinus, que é capaz de habitar tranquilamente desertos gelados e altitudes impensadas para as demais espécies desse gênero.
O sul da cidade de Puna, na Argentina, é um desses lugares capazes de, surpreendentemente, abrigar variedades da comunidade Ctenomys. E o C.mendocinus é uma das estrelas desse ambiente; uma variedade subterrânea e incomum para os padrões dessa comunidade.
E nesses locais as estratégias utilizadas para a construção das suas galerias são basicamente as mesmas: A escolha de terrenos poucos rígidos que possam ser destrinchados por meio das suas afiadas garras anteriores – instrumentos que funcionam como verdadeiras lâminas a romper os obstáculos que não deixam de atravessar o seu caminho.
Além disso, 2 pares de dentes superiores e inferiores ajudam nessa audaciosa empreitada de escavar túneis e galerias com comprimentos superiores a 15 metros! E esses dentes são acionados assim que eles topam com raízes, ossos, detritos e demais estruturas que demonstrem resistência às sua garras e à sua disposição.
Ao final, nenhum empecilho consegue resistir a esse conjunto composto por garras afiadas e dentes extremamentes cortantes; uma tecnologia a serviço da sobrevivências desses e de outros animais silvestres; e que, ao que tudo indica, cumprem a contento a missão de auxiliá-los nessa dura empreitada da construção dos seus refúgios naturais.
Já com relação aos seus hábitos alimentares, insistimos no fato de que eles são animais herbívoros; algo que até contribui para que sejam considerados, na visão de alguns proprietários, verdadeiras pragas naturais.
Isso porque eles não fazem qualquer cerimônia em refestelarem-se com os produtos da agricultura e das pastagens, principalmente quando se veem diante da escassez das suas principais iguarias.
E uma outra curiosidade acerca das características dos Tucos-tucos, à parte os seus nomes científicos e outras singularidades como estas que podemos observar nessas fotos, nos diz que eles, fisicamente, costumam apresentar uma coloração semelhante ao areal que os circunda.
E isso é algo que funciona bem como uma excelente camuflagem diante de intrusos e de predadores que, em sua maioria, não têm na visão uma ferramenta suficientemente útil diante da luta pela sobrevivência.
A Marmota-dos-Pampas
No Brasil, os Tucos-tucos têm no estado do Rio Grande do Sul o seu principal refúgio. Lá eles habitam as dunas litorâneas quase como extensões desse tipo de ecossistema; e ainda (como dissemos) com uma coloração em um tom de areia que os torna praticamente invisíveis em meio ao areal de que constitui-se todo o litoral do sul do país.
As espécies encontradas no estado são a C. flamarioni, C. ibiquensis, C. minutus, C. lami e C. Torquatus – sendo que a flamarioni é exclusiva do litoral gaúcho; e talvez por isso mesmo considerada “Em perigo” pela União Internacional Para a Conservação da Natureza e “Vulnerável” pela ICMBio.
E as razões principais para isso são o avanço da especulação imobiliária sobre os seus habitats naturais, que é implacável na expulsão de toda e qualquer espécie que ouse atravessar o seu caminho – em especial as mais discretas e menos espalhafatosas, que pouco ou nenhum interesse podem causar.
E tudo o mais que se sabe sobre esses Tucos-tucos é que o C. flamarioni, por exemplo, foi descrito aqui mesmo no Brasil pelo biólogo Vitor Hugo Travi. E o seu nome, flamarioni, teria sido uma homenagem a outro biólogo, Luis Flamarion B. De Oliveira; um professor com importante papel no reconhecimento e preservação da fauna do país.
O C. flamarioni é um exemplar inconfundível dentro dessa comunidade; e a sua tonalidade da mesma cor da areia do litoral gaúcho é um verdadeira singularidade; assim como o aspecto do seu corpo todo atarracado, na forma de um pequeno torpedo peludo e com pernas curtas.
Eles ainda apresentam patas anteriores bem maiores do que as posteriores, com garras afiadíssimas e resistentes; e enquanto dedicam-se ao laborioso ofício de escavar longos túneis, deixam para as suas patas traseiras a função de assentar o solo.
Os olhos e as orelhas do C. flamarioni logo chamam a atenção por serem bastante diminutos quando comparados com o tamanho do seu crânio.
Assim como também chama a atenção a consistência da sua pele, que “desliza” sobre a sua estrutura óssea, fazendo com que eles quase também deslizem em meio às galerias e túneis construídos no subsolo.
As Singularidades do C.flamarioni
Um C. flamarioni adulto mede entre 14 e 24 centímetros, pesa entre 170 e 200 gramas, além de apresentar um dimorfismo sexual em que o macho é inconfundivelmente maior e mais robusto que a fêmea – que só leva vantagem mesmo é no fato de ser encontrada em maior número no habitat natural dessa espécie.
Esse é um típico animal solitário, com hábitos diurnos, mas que prefere mesmo é ocupar esse seu dia com uma rotina subterrânea; escavando aqui um trecho incompleto, fazendo ali a limpeza do excesso de areia acumulada em outras investidas…
E é também nesse subsolo que machos e fêmeas procuram-se para a realização dos seus respectivos processos reprodutivos. E tudo o que se sabe sobre essa reprodução dos Tucos-tucos é que ela ocorre entre os meses de julho a novembro, quando então essas galerias subterrâneas que eles constroem viram uma verdadeira festa!
Sim, uma verdadeira festa! Pois é lá que machos e fêmeas executam os seus rituais de acasalamento, dos quais resulta um período de 60 dias de gestação, para dar à luz a 1 ou 2 filhotes, que nascem com as mesmas características que podem ser observadas nos demais roedores.
A partir daí, os Tucos-tucos apresentam uma expectativa de vida de não mais do que 5 anos em ambiente selvagem; mas que pode chegar a 8 ou 10 anos quando em cativeiro – lembrando que a posse desse tipo de animal sem autorização do IBAMA é crime de acordo com a Lei de Crimes Ambientais nº 9.605/98.
Ainda sobre o comportamento do C.flamarioni, cabe aqui complementar essa investigação com o registro de que esse animal é uma espécie tipicamente herbívora, que convive bem com uma dieta à base da vegetação litorânea do estado, além de raízes, brotos e gramíneas.
Mas para que possa seguir nas suas rotinas de escavações de túneis, alimentação e reprodução, eles precisam, como já dissemos, manterem-se sempre atentos às investidas insidiosas de alguns dos seus principais inimigos.
Entre eles, os gaviões, águias, cobras, serpentes, cães selvagens, gatos do mato, entre outras espécies não menos assustadoras; e que só precisam mesmo é de um pequeno descuido do C.flamarioni para que então possam fazer deles um belíssimo banquete; que é o que lhes garante a sobrevivência nesse extraordinário e controverso esquema da natureza selvagem.
O Projeto Tuco-tuco
Na luta para tentar garantir a sobrevivência de gêneros como esse para as gerações futuras, algumas iniciativas têm sido levadas a cabo com até bastante êxito; e entre elas está a do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Esse projeto conta com a participação dos “tucólogos” – como são conhecidos os especialistas nesse gênero –, e o que mais preocupa esses profissionais é o avanço da especulação imobiliária sobre o litoral gaúcho, além de alguns problemas nos habitats naturais dos Tucos-tucos em regiões próximas às minas de carvão.
Apesar de ainda distribuírem-se por uma faixa de terra que abrange cerca de 600km, já é possível perceber um sensível decréscimo dessas populações na costa do estado, além de alterações genéticas nas espécies que podem contribuir para acelerar, ainda mais, esse processo.
Um dos fatores que também preocupam os pesquisadores é a diminuição da migração entre populações de Tucos-tucos entre ecossistemas; algo que contribui, sobremaneira, para o famigerado processo de reprodução entre parentes, que configura-se como um dos principais fatores para o enfraquecimento de todo e qualquer gênero de animais.
Amostras de DNA foram colhidas de indivíduos desde o sul até o norte do litoral do estado; amostras colhidas de todas as cinco espécies que podem ser encontradas na região, especialmente o C. flamarioni, que possui o estado do Rio Grande do Sul como único habitat natural.
Os estudiosos já estão convencidos de que a remoção das dunas pela especulação imobiliária é uma das principais razões para esse recuo da migração dos Tucos-tucos, já que, assim, eles não possuem mais um local de passagem natural entre dois ou mais ecossistemas dentro do mesmo bioma.
Isso faz com que muitas comunidades mantenham-se completamente isoladas, em um contínuo processo de reprodução por endogamia.
Um processo em que indivíduos do mesmo sangue acabam copulando e produzido novas espécies com uma série de falhas e prejuízos de ordem genética – o que pode ser capaz, inclusive, de promover a extinção de um gênero ao longo de alguns séculos ou milênios.
A Importância do Projeto
De acordo com José Francisco Stolz, um dos pesquisadores do Projeto Tuco-tuco, nenhum trecho do litoral gaúcho, até a divisa com Santa Catarina, pode ser considerado um lugar onde esses animais estejam totalmente protegidos.
E com uma atenção especial para a região entre Torres e Xangri-la; enquanto as de Quintão e Palmares, no sul da costa do estado, podem ser consideradas menos críticas.
E como se isso não bastasse, esses Curus-curus ainda precisam competir com turistas, plantações de espécies arbóreas nas dunas, a movimentação do gado sobre os seus habitats, a caça ilegal de animais silvestres e o desaparecimento de algumas das suas iguarias preferidas.
Além de outros transtornos que competem para saber quais são os mais eficientes nessa luta para determinar a extinção dos animais silvestres do planeta.
E não é só isso: o turismo em massa já tratou de eliminar e espantar toda uma comunidade de Tucos-tucos em algumas praias da região de Torres.
Eles simplesmente não suportaram a competição com uma infraestrutura composta por bares, restaurantes, quiosques, entre outras construções que, obviamente, precisam produzir algum tipo de impacto sobre a vida selvagem de qualquer região.
Mas em Xangri-la, no sul do estado, a coisa não é tão diferente. As belíssimas praias que compõem a região tornaram-se rivais quase insuperáveis desses Tucos-tucos, que acabaram convertendo-se em espécies de “pragas naturais” a invadir as casas e os terrenos em busca de mais espaço.
Aliás, sobre essa relação entre o homem e os Tucos-tucos, o que sabemos é que ela já começa a tornar-se problemática, já que a principal característica desse gênero é escavar; escavar imensos túneis e galerias; só que, nesse caso, na forma de longos túneis subterrâneos exatamente nos quintais, jardins e gramados dos moradores.
Mas seguem os estudos acerca do comportamento, dos aspectos genéticos e biológicos desses Tucos-tucos com vistas a tentar harmonizar o que parece ser o começo de uma conturbada relação.
E agora com o apoio do governo e de grandes empresas, com boa parte do plano de manejo desses animais já repassados para prefeituras e organizações não ambientais; e tudo isso com a única e exclusiva missão de garantir a manutenção da harmonia entre o homem e as espécies da fauna silvestre que o rodeia.
E Quando os Tucos-Tucos Viram Praga?
Tudo o que falamos até aqui sobre os Tucos-tucos serviu apenas para caracterizá-los como seres indefesos e vítimas da sede inesgotável do homem pelo progresso, mesmo que essa sede represente o extermínio das espécies da fauna e da flora do planeta.
Mas e quando eles transformam-se em verdadeiras pragas urbanas? Pois isso acontece! Apesar de sabermos que é justamente o avanço do progresso sobre os seus habitats que podem fazer com que esse evento ocorra.
E ainda com alguns agravantes, como o fato de eles serem capazes de dar fim a um gramado, derrubar árvores medianas com a força dos seus dentes sobre as raízes e até mesmo fazer das lavouras e plantações verdadeiros banquetes com bem mais opções.
No Mato Grosso, por exemplo, os produtores de cacau, mandioca, seringais, café, entre outras cultivares da região, agora estão se vendo às voltas com uma verdadeira invasão dessas “marmotas-brasileiras” às suas roças.
E isso ocorre muito por conta do avanço da especulação imobiliária sobre os seus habitats naturais – nesse caso, sobre os campos, cerrados, florestas arbustivas e demais áreas abertas.
E o curioso é justamente o fato de muitas dessas invasões, como também ocorre na Amazônia, estarem se dando a partir das florestas em direção às roças e lavouras – algo até então impensável, já que florestas e matas não deveriam abrigar esse tipo de animal.
Mas, ao que parece, elas abrigam! E as razões para isso talvez sejam até bastante naturais! A suspeita é a de que esse talvez seja um processo que vem ocorrendo há pelo menos 10.000 anos, desde a época em que as áreas abertas eram bastante comuns na região amazônica.
Certamente, os Tucos-tucos também eram! Mas o problema foi quando essas áreas abertas se transformaram em florestas; um processo que ainda contou com o fato desses animais estarem entres as espécies que apresentam a maior diversidade genética.
O resultado? Populações inteiras tornando-se habitantes de florestas fechadas, enquanto as áreas abertas foram diminuindo, e sem nenhum atrativo para uma comunidade que agora configurava-se como uma das mais originais dentro dessa família Ctenomydae.
As espécies encontradas no Mato Grosso são: Ctenomys rondoni, Ctenomys bicolor e a Ctenomys nattereri. Essas são as variedades descritas desde meados de 1914, quando as expedições do já quase lendário Marechal Rondon até os habitats desses animais descobriram um pouco mais sobre as suas características, origens dos seus nomes científicos, entre outras peculiaridades que infelizmente essas fotos e imagens não nos podem mostrar.
O resultado dessas expedições, auxiliadas por elaboradas análises do DNA das células dos animais encontrados, foi a descoberta de que essa população, curiosamente encontrada em florestas fechadas do Mato Grosso e da Amazônia, tornou-se uma comunidade originalíssima.
E ainda com um ancestral comum (possivelmente Tucus-tucos da Bolívia) e com características genéticas bastante diferentes.
E Segue o Mistério Sobre esse Fenômeno
No entanto, nada de conclusivo ainda pode ser dito acerca das origens do animal, e muito menos sobre o porquê dessa sua inusitada preferência por habitar regiões fechadas, principalmente quando se sabe (ou se sabia até aqui) que essa é uma espécie típica de áreas abertas.
Até então o que se sabia é que eles gostavam mesmo era das dunas, regiões litorâneas, pampas, cerrados, savanas, campos abertos, entre outras vegetações semelhantes; onde fazem verdadeiras festas em uma rotina quase que exclusiva de escavações, e mais escavações, para a construção de verdadeiras obras de engenharia com até 15 m de comprimento.
E, para piorar ainda mais essa missão de tentar investigar as características biológicas desses Tucos-tucos, descobriu-se que eles são ainda mais espertos e arredios do que os seus parentes lá da região sul do país.
Capturar um exemplar desses é uma verdadeira missão; uma missão para poucos; e comemorada com entusiasmo quando há êxito, tal é a dificuldade de conter, mesmo com a ajuda das mais engenhosas e elaboradas armadilhas, esses Ratos-de-pente quando sentem-se de alguma forma ameaçados.
A Comunidade dos Roedores
Os Tucos-tucos, como dissemos, pertencem à comunidade dos roedores. Essa é uma imensa família que abriga cerca de 2.000 espécies, com as mais variadas e inusitadas características.
Nela podemos encontrar, desde a imponência e exuberância dos mais de 80 kg das capivaras, até a singeleza do inofensivo Calomys tener (o Camundogo-pigmeu), com os seus não mais do que 6,9 cm de comprimento e 7 gramas de peso.
Mas também passando pela singularidade das preás (a Cavia aperea), das marmotas, dos esquilos, ratões-do-banhado, entre outras inúmeras espécies que exigiriam a produção, aqui, de uma verdadeira obra científica capaz de cobrir boa parte da comunidade dos mamíferos do planeta.
Amados por um, odiados por outros (a maioria), esses animais configuram-se como verdadeiras forças da natureza, presentes em todos os continente (com exceção da Antártida), independentemente de se estamos falando de uma quase paradisíaca ilha caribenha ou do território exótico e quase fantástico da Ásia Central.
Ou até mesmo das savanas africanas, dos bosques e florestas arbustivas da Europa, da região densamente urbanizada da cidade de Nova York, ou dos confins de uma cidadezinha no interior da América do Sul.
Não importa de qual estivermos nos referindo! Eles estarão lá!
Fuçando, escavando, roendo e, muitas vezes, atormentando a vida de homens e mulheres que têm nesses animais algumas das principais pragas naturais de toda a natureza.
E essa comunidade dos roedores, da qual os Tucos-tucos fazem parte, ainda abriga singularidades como os castores, geomiideos (ratos-de-bolso), hamsters, ratos, ratazanas, camundongos, a original lebre-saltadora, os porcos-espinhos, os singelos porquinhos-da-índia…
Poderíamos ficar aqui o dia todo enumerando uma diversidade de espécies que, como podemos observar nessas fotos, possuem as características mais diferentes e mais discrepantes entre si – como uma das principais peculiaridades de uma das mais exuberantes comunidades de mamíferos.
Acredita-se que eles constituem cerca de 43% de todos os mamíferos do planeta; a maior comunidade de mamíferos da natureza; e que, supostamente, há quase 65 milhões de anos estão entre nós – desde que a extinção dos famigerados dinossauros ajudou a tornar possível a sobrevivência de um sem número de espécies na biosfera terrestre.
O antigo “supercontinente do norte Laurásia” foi o primeiro lar desses animais; e foi a partir dali que eles seguiram, primeiramente em direção à África, logo após para a Europa, para só depois atingirem a América do Sul – e, curiosamente, constituírem nesse continente a sua maior população; com direito, inclusive, a algumas espécies que só existem nos territórios Sul-americanos.
Uma Comunidade Exuberante
Sim, os Tucos-tucos fazem parte de uma comunidade exuberante. Ecologicamente, é praticamente impossível descrevê-los, já que são capazes de habitar os mais diversos, inusitados e improváveis ambientes e ecossistemas do planeta.
O ambiente árido e desolado dos desertos, por exemplo, podem ser regiões agradabilíssimas para algumas dessas espécies, como o jerboa, o rato-do-deserto, o viscacha, entre outras variedades para as quais a aridez dos desertos é um ambiente formidável.
Mas para se ter uma ideia da versatilidade dessa comunidade de roedores, até mesmo o ambiente aquático pode servir como excelente moradia; basta observar como vivem, felizes e satisfeitos, os ratões-do-banhado e as capivaras, que preferem mesmo é o ambiente rico e agradável das áreas alagadas.
Só que muitos roedores são conhecidos mesmo é como pragas urbanas; verdadeiros inimigos de homens e mulheres de todos os continentes.
Estes se veem às voltas com uma comunidade de ratos, ratazanas e de camundongos que têm nas regiões urbanas os seus habitats preferidos, e onde vivem numa rotina de caça a restos de comida que fazem parte das suas principais refeições.
Há espécies de roedores para todos os ambientes: florestas, matas fechadas, dunas e regiões litorâneas, cerrados e savanas, pastos e lavouras…Enfim, onde houver algumas fonte de alimento eles estarão lá! Rápidos, ariscos e espertos!
Como escavadores e roedores incomparáveis na natureza! Alguns com hábitos, características e nomes científicos ainda envoltos em uma série de polêmicas e controvérsias!
Mas, como podemos observar nessas fotos, entre as comunidades mais versáteis de toda a biosfera terrestre; com papéis ecológicos importantíssimos no seio da natureza.
Seja por serem excelentes dispersores de sementes, fontes de alimentação para um sem números de predadores, ou mesmo pela razão (para muitos não tão nobre) de serem as principais cobaias quando o assunto é testar as mais importantes descobertas científicas.
Descobertas que, por questões óbvias, não podem ser testadas em humanos antes que todo o seu potencial seja conhecido.
E ainda sobre os hábitos alimentares dos roedores, mais uma vez temos aqui o exemplo claro da sua versatilidade. Poderemos encontrar espécies com características de animais onívoros; outros que preferem mesmo é uma dieta à base de brotos, ervas, gramíneas e sementes; enquanto outros acabaram adquirindo a características de animais especializados (ou especialistas), que são aqueles mais exigentes quando o assunto é a sua alimentação.
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ctenomys
http://www.ufrgs.br/projetotucotuco/ctenomys.htm
https://www.oeco.org.br/blogs/especies-em-risco/28449-tuco-tuco-das-dunas-cuidado-onde-pisa/
https://www.oeco.org.br/reportagens/951-oeco11228/
https://www.infoescola.com/animais/roedores/