Em meados dos anos 80, quando eu cursava a UFRJ, meus amigos e eu nos divertíamos lendo os pomposos títulos das teses acadêmicas que encontrávamos pela biblioteca do Centro de Ciências Exatas. E por pura diversão inventávamos também alguns títulos do mesmo gênero. Certo dia um amigo, hoje falecido, saiu-se com um título que me pareceu surreal e que jamais esqueci por achar muito engraçado: “A Importância da Geleia de Morango na Dieta do Hipopótamo Pigmeu da Libéria”.
A coisa toda, é claro, não fazia sentido algum. Eu nem mesmo sabia se havia morangos na Libéria, país africano de clima muito quente, e não me passava pela cabeça que existisse mesmo um hipopótamo pigmeu por lá.
Nos anos 80 ainda não havia internet. E foi só depois do advento da internet que eu, por puro acaso, acabei descobrindo o Choeropsis liberiensis que é, literalmente, o hipopótamo pigmeu da Libéria.
Para saber mais sobre essa e outras espécies de hipopótamos, continue lendo.
A Origem Do Termo
O termo “hipopótamo” significa, literalmente, “cavalo do rio”. Não que alguém, em algum momento, tenha tido coragem de montar em um hipopótamo, mas podemos supor que as imagens das espáduas destes animais sobressaindo de dentro da água tenham lembrado cavalos para algumas pessoas.
Parentes Próximos
Agora eu tenho certeza que vou causar uma surpresa.
Os parentes mais próximos ainda vivos dos hipopótamos não são os porcos, rinocerontes ou elefantes, como alguém poderia pensar.
São as baleias e os golfinhos, ou seja, os cetáceos, cujas espécies diferenciaram-se há cerca de cinquenta e cinco milhões de anos. Quem diria que esses animais gordinhos e aparentemente desengonçados, de patas desproporcionalmente pequenas para o tamanho do corpo, seriam parentes próximos dos elegantes e esguios golfinhos!
Tipos de Hipopótamo, Raças, Espécies com Nomes, Fotos e Descrição
Só há atualmente duas espécies da família Hippopotamidae.
O hipopótamo-comum (Hippopotamus amphibius), também conhecido como hipopótamo-do-nilo, é o terceiro animal terrestre mais pesado, perdendo apenas para os rinocerontes (brancos e indianos) e os elefantes. Tem cerca de três metros e meio de comprimento e um metro e meio de altura, pesando entre uma tonelada e meia e três toneladas. Vivem nas margens dos rios e dentro das águas. Cada hipopótamo domina um trecho definido de rio, onde agrupa de cinco a trinta fêmeas jovens e suas crias.
A outra espécie é o hipopótamo-pigmeu (Choeropsis liberiensis), já mencionado. Tem entre setenta e cinco e oitenta e cinco centímetros de altura, cerca de metade do seu primo hipopótamo-do-nilo, pesando entre cento e oitenta e duzentos e oitenta quilos. Difere também no fato de preferir andar sobre a terra. Este fato explica muitas das diferenças entre ele e o hipopótamo-do-nilo, como as patas mais longas e a cabeça erguida, não paralela ao solo.
Nada Parecidos Com O Peter Potamus
Quem se lembra do desenho animado do simpático hipopótamo Peter Potamus com sua arca voadora e seu mico assistente, pode achar estranho saber que o hipopótamo-comum está relacionado entre as espécies mais perigosas da África.
Quando em seu habitat aquático estes animais são altamente territoriais e violentos. Em 2015 o mundo ficou chocado com as imagens da morte de um bebê hipopótamo de apenas cinco dias de vida, que foi pego no meio de um conflito territorial entre dois machos da espécie. O bebê foi arremessado para o alto diversas vezes, além de ter recebido algumas mordidas das possantes mandíbulas dos machos em conflito.
Paul Temper, que trabalhava como guia no Rio Zambezi, perto da fronteira entre a Zâmbia e o Zimbabue, foi parcialmente engolido por um hipopótamo e levou quarenta mordidas, sobrevivendo por milagre.
Mesmo em terra não é muito interessante facilitar com os hipopótamos. Isso porque eles, apesar do peso e da aparência pachorrenta, eles podem ser muito rápidos. Há registros de hipopótamos atingindo uma velocidade de cerca de trinta quilômetros horários.
Confundidos Com Porcos
Durante muito tempo os cientistas classificaram os hipopótamos como estando na mesma família dos porcos. Isso acontecia porque há algumas características parecidas, como os cascos e a dentição. As dúvidas foram esclarecidas através do exame do DNA, que mostrou que os hipopótamos são parentes relativamente próximos dos cetáceos, baleias e golfinhos.
Subespécies
Há uma disputa entre os cientistas sobre a existência ou não de cinco subespécies de hipopótamos-do-nilo. Entretanto, muitos alegam que as pequenas diferenças morfológicas observadas em espécimes isolados não são suficientes para caracterizar essas subespécies. Pesquisas com DNA estão sendo feitas no sentido de dirimir estas dúvidas, mas trata-se de um processo lento devido à dificuldade em estudar os hipopótamos em ambiente natural, somada com a dificuldade em desloca-los.
Em luto por Gustavito e Manchinha
Em 2017 o hipopótamo Gustavito, que vivia no Zoológico Nacional de El Salvador, sofreu um violento ataque e veio a falecer. O animal foi agredido por pessoa ou pessoas desconhecidas durante a madrugada, com golpes de faca e pancadas. O animal estava provavelmente dormindo quando foi atacado. E pode ter demorado a defender-se porque estava muito habituado com a presença de pessoas, sendo uma das principais atrações do zoológico. O ataque gerou grande comoção nas redes sociais.
No Zoológico Municipal de Rio Preto, interior de São Paulo, o hipopótamo Manchinha também morreu em condições misteriosas em janeiro deste ano (2019). Examinado pelos veterinários depois que o tratador notou que ele não havia comido sua refeição e mostrava um comportamento errático, permanecendo sempre dentro da água. O exame post-mortem detectou lesões no estômago do animal. Manchinha havia nascido em cativeiro, filho do casal de hipopótamos que vive no zoológico.
Estes incidentes mostram que os hipopótamos, mesmo com todo aquele tamanho e força, são animais sensíveis quando fora de seu habitat natural.
Em Risco
Os hipopótamos-do-nilo já foram muito mais comuns do que hoje. Há relatos da antiguidade que mostram a presença deles em toda a extensão do Nilo, bem como em muitos outros lugares da África.
A caça ilegal, motivada principalmente pelo valor do marfim de seus dentes, mas também pela carne, tem reduzido muito o número destes animais. Ainda assim estão classificados como “em observação”, o nível mais baixo de risco.
Já os hipopótamos-pigmeus estão em sério risco de extinção. As regiões em que habitam estão sendo reduzidas gradualmente e a caça ilegal completa o cenário de risco.