Se deparar com um sapo não é uma experiência que agrada a todos, mas provavelmente a maioria desses menos satisfeitos em encontrar um ficariam no mínimo curiosos de ver bem de perto se o sapo que surgisse na frente fosse rosa.
Cores são sempre atraentes aos olhos humanos, não importa aonde elas estão, ainda mais se forem vibrantes e cheias de vida como as encontradas em muitas diversidades de sapos pelo mundo. Mais cuidado, cores vívidas nessas espécies podem invariavelmente significar que são venenosos.
Sobre a cor rosa especificamente, não há (ainda) uma espécie exclusiva classificada na taxonomia científica cuja coloração rosa predominante a classifique como espécie única. O que dizer então das muitas imagens capturadas de sapos rosas por aí?
Sapos Rosas?
Se podemos mencionar uma espécie de sapo rosa como a mais famosa atualmente, esta deve ser a Gabi. Já ouviu falar? Não conhece? Bom, talvez só os cinéfilos que gostaram de ver o filme Rio 2, da 20th Century Fox, provavelmente saberão de que estou falando.O filme, que retrata uma família de ararinhas azuis, reencontrando um bando inteiro de araras azuis na mata atlântica, apresenta uma pequena rã no elenco, que se apaixona pelo vilã Nigel, uma cacatua psicótica que persegue o protagonista da animação, Blu. A rã é rosa, com manchas negras.
Outra lembrança que me vem a mente quando falamos de sapo rosa refere-se ao conto popular oriental do ‘sapo e a rosa’… Aqui não se trata de um sapo cor de rosa, mas a parábola tem tudo haver com a questão da aparência, exortando sobre o quão prejudicial pode ser julgar pela aparência.
Como pode se notar, a associação de sapo e a cor rosa já inspirou muito imaginações. Universitários de publicidade devem se lembrar de algo envolvendo sapo rosa como inspirador pra sua vocação também. Mas afinal de contas, existe sapo rosa ou não existe? E se existe, é venenoso ou não é?
Genus Dendrobathes
Voltando a mencionar a perereca do filme Rio 2, Gabi, se você buscar informações sobre qual espécie inspirou a personagem, quase a totalidade das informações confirmarão referências a espécie dendrobathes tinctorius. A referência é boa pois nos ajudará a explicar o que ocorre, ou melhor, a explicar a ocorrência de sapos rosas.
Se procurar imagens dessa espécie, dificilmente encontrará uma imagem original desse sapo cor de rosa. Isso não significa no entanto que não exista, mas que é raro. No geral, a coloração dessa espécie é mais predominantemente azul, preto e amarelo. Então como surgem as variações do sapo rosa?
Algumas espécies de sapos venenosos incluem uma série de coespecíficas formas de cores diferentes que surgiram tão recentemente quanto 6000 anos atrás. A coloração diferente historicamente identificou erroneamente espécies isoladas como separadas, e ainda há controvérsias entre os taxonomistas sobre a classificação.
Portanto, espécies como Dendrobates tinctorius, Oophaga pumilio e Oophaga granulifera podem incluir morfos de padrão de cor que podem ser cruzados (as cores estão sob controle poligênico, enquanto os padrões reais são provavelmente controlados por um único locus). Trazendo pra uma linguagem mais simples, várias circunstâncias podem provocar a evolução do polimorfismo.
Cruzamento entre espécies, diferentes regimes de predação, alterações significativas nas características do habitat natural da espécie… Enfim, diversas circunstâncias podem influenciar nessas alterações morfológicas de uma espécie, incluindo sua coloração original.
A evolução do polimorfismo não é exclusividade do gênero dendrobathes, mas pode ocorrer em diversas família dos anuros, senão todas. Por isso, não seria anormal encontrar sapos, rãs e pererecas que parecem espécies novas e nunca ou raramente vistas, mas que na verdade são de fato alterações de alguma espécie.
Dendrobathes Tinctorius
Agora vamos falar do tema de nosso artigo. Queremos saber é se o sapo rosa é venenoso. Bom, já dissemos no início que não há uma espécie rosa única, específica (ainda, pois os taxonomistas divergem muito sobre as classificações concretas das espécies). Então citaremos alguns sapos que podem ser encontrados com essa cor rosa na natureza.
Começando por esse de quem já falamos um pouco, o dendrobathes tinctorius, é uma espécie que na natureza é perigosamente venenoso. Todos desse gênero dendrobathes são. Sua coloração brilhante está associada à sua toxicidade e níveis de alcalóides. Porém, quando sua dieta alimentar é alterada no cativeiro, por exemplo, sua toxicidade é reduzida a zero.
No caso de dendrobathes tinctorius, as toxinas causam dor, cãibras e rigidez. Devido às toxinas dos sapos, animais que se alimentam de anuros aprendem a associar as cores brilhantes de tais rãs com o sabor e a dor vil que ocorre depois que uma rã é ingerida. Como é uma espécie tão variável, morfos de cores diferentes da espécie têm diferentes graus de toxicidade.
Dendrobates tinctorius é um dos mais variáveis de todos os sapos venenosos. Normalmente, o corpo é principalmente preto, com um padrão irregular de faixas amarelas ou brancas ao longo das costas, flancos, peito, cabeça e barriga. Em alguns morfos, no entanto, o corpo pode ser principalmente azul (como no ” azureus “metamorfose, anteriormente tratada como uma espécie separada), primariamente amarela ou primariamente branca.
As pernas variam de azul pálido, azul celeste ou cinza azulado a azul royal, azul cobalto, azul marinho ou roxo real e são salpicadas com pequenos pontos pretos. A metamorfose “matecho” é quase inteiramente amarela e com algum preto, com apenas alguns pontos brancos nos dedos dos pés. Outra metamorfose única, a metamorfose da citronela, é principalmente amarela dourada com pequenas manchas pretas na barriga e pernas azul-royal que não têm pontos pretos.
Outros Gêneros e Descobertas
Ainda há outras espécies que podem ser fotografadas na cor rosa (embora existam muitas fotos por aí que são alterações digitais, como efeitos de filtros). Além dos gêneros oophaga ou dendrobathes, outros gêneros e outras famílias de anuros também apresentam sapos com essa coloração característica.
Uma que merece destacar é o gênero atelopus, comumente conhecido como rãs arlequim, é um grande gênero de verdadeiros sapos. Eles vivem na América Central e do Sul. Eles vão até o norte da Costa Rica e até o sul da Bolívia. Atelopus são pequenos, geralmente coloridos e diurnos. A maioria das espécies vive perto de córregos de média a alta altitude. Muitas espécies são consideradas ameaçadas, enquanto outras já estão extintas.
Dentro desse gênero há espécies fotografadas com cores rosas vívidas. A espécie atelopus barbotini, endêmica das terras altas da Guiana Francesa é um descrito com as cores rosa e preta. Mas como também já dissemos, não há informações precisas, nem mesmo na comunidade científica.
Essa espécie, por exemplo, já foi chamada de atelopus flavescens, ou considerada uma subespécie de atelopus spumarius. Enfim, a falta de precisão nas descobertas científicas nos impedem de também sermos mais precisos. Mas estaremos atentos a todas as novidades e descobertas desse mundo fascinante dos sapos.