Fotos e registros técnicos de filhotes e adultos de raposas-vermelhas (Vulpes vulpes) mostram que, atualmente, elas não enquadram-se entre aquelas espécies consideradas em grave risco de extinção. Ela ainda pode ser encontrada em boa quantidade na América do Norte e Eurásia (seus habitats naturais), e em menor quantidade na Oceania e Norte da África.
Sempre que se pensa em astúcia, trapaça, sagacidade e falta de escrúpulos, logo vem em mente a figura dessa espécie insidiosa, com seu tamanho diminuto, cor entre o pardo e o alaranjado, grandes orelhas, focinho afilado, pupilas curiosamente semelhantes às dos felinos, entre outras características que as tornam alguns dos personagens mais recorrentes nos mais diversos tipos de contos, lendas e “causos” que passeiam pelo imaginário popular.
Os campos abertos, áreas serranas e montanhosas, com bastantes árvores esparsas; ou mesmo trechos urbanos, são apenas alguns dos locais preferidos por elas.
Nesses locais, as raposas costumam alimentar-se de pequenas presas, como: esquilos, texugos, marmotas, pequenas serpentes, pássaros, ovos; e em situações de escassez, as vítimas preferenciais podem ser as criações de galinhas e frangos próximas a setores urbanos – o que faz do embate entre fazendeiros e raposas um evento já alçado à categoria de verdadeira lenda urbana.
Exposição com Fotos de Adultos e Filhotes de Raposas-Vermelhas
Como dissemos, tais são as lendas e “causos” que cercam essa espécie, que inúmeros museus , especialmente da Europa, tratam de, constantemente, exibir detalhes, histórias, além de fotos de raposas-vermelhas sozinhas ou com seus filhotes.
É o caso do Museu da Imagem do Parque Nacional Peneda- Gerês, em Portugal. O parque fica localizado na cidade de Braga, e, através do projeto “Olhares Secretos”, exibe imagens, estudos, curiosidades e fotos de adultos e filhotes de raposas-vermelhas, além das singulares cabras-monteses, do lobo ibérico, do lobo do ártico e das paisagens desoladas de alguns dos seus habitats.
Todos esses são personagens que podem ser encontrados a partir de incursões na original vegetação da cidade, em meio a trilhas quase secretas, trechos quase inacessíveis, fendas, escarpas e veredas, que geralmente desembocam em regiões quase paradisíacas, que ainda tornam-se mais estonteantes quando, vez ou outra, tem-se um contato direto com um exemplar de uma raposa-vermelha.
Lá, elas percorrem, distraídas, trechos onde despontam, imponentes, as espécies de carvalhos, medronheiros, pinheiros e azevinhos, que tentam competir em originalidade com as variedades de lírios-do-gerês, oliveiras, amendoeiras, entre outras espécies típicas daquela região.
Além da raposa-vermelha, esses trechos ainda servem de abrigo para variedades de lobos, lontras, esquilos, falcões, a lendária águia-real, a temida víbora-negra, o ágil e quase incalculável javali, além de salamandras, cobras-d’água, martas, lagartos, entre outras inúmeras espécies.
As exposições desses animais silvestres no Parque Nacional Peneda-Gerês podem ser admiradas de forma totalmente gratuita, sempre das terças às sextas-feiras, das 11h:00 às 18h:00. E das 14h:30 às 18h:00 (sábados e domingos).
São mais de 700 km, nos arredores da cidade de Braga. É a única reserva desse tipo na região, repleta do que há de mais original na cidade, inclusive as famosas raposas-vermelhas e os seus filhotes, que podem ser admirados, não só ao vivo, como por meio de fotos e descrições da suas principais características.
A Foto de Uma Raposa-Vermelha e do Ártico Que Correu o Mundo
Em abril de 2012, uma foto de um filhote de raposa-vermelha olhando fixamente para uma câmera fotográfica ganhou o mundo. 5 anos depois, foi a vez de um registro feito pelo fotógrafo Don Gutoski, receber o título de “Um conto de duas raposas” ou “A tale of two foxes”, e ainda conquistar o prêmio de melhor trabalho fotográfico da natureza selvagem – criado pelo Museu de História Natural de Londres, Inglaterra.
Foi um registro que sobressaiu-se entre mais de 40.000 fotos, pelo simples fato de mostrar como as alterações do clima podem modificar, de forma dramática e radical, os hábitos alimentares dos animais silvestres.
O que se viu ali foi uma ato de predação de uma raposa-do-ártico por uma raposa-vermelha, que deixou o júri sem a menor condição de manter-se indiferente diante de tamanho fenômeno da natureza.
De acordo com Gutoski, o que ocorre é que a deterioração das calotas polares tem feito com que algumas espécies – que em condições normais não teriam a menor relação predatória – acabem interagindo, muitas vezes de forma dramática, como o que aconteceu no Parque Nacional Wapusk, Manitoba (Canadá), onde ambas lutavam, desesperadamente, por alimentos.
E nesse caso específico, o que aconteceu foi que a raposa-do-ártico, que em meio à neve torna-se quase como uma extensão da paisagem – perfeitamente camuflada na hora do ataque –, de repente viu-se a descoberto, e tendo, por isso, que realizar incursões em áreas lamacentas, que as tornam alvos fáceis das raposas-vermelhas, quando estas se encontram em situações de penúria e escassez.
Se outrora as raposas-vermelhas tinham limitados os seus espaços – que jamais atingiam as áreas congeladas – , com o derretimento do gelo, elas acabaram ampliando o seu raio de ação, podendo avançar bem mais do que poderia antes e, consequentemente, atingir regiões outrora pertencentes a espécies como as raposas-do-ártico (como as tundras da América do Norte, por exemplo).
Nesse encontro, as raposas-do-ártico (bem menores e agressivas) acabam tornando-se, de forma quase improvável, uma presa das raposas-vermelhas – como se fora um aviso de que o famigerado “aquecimento global” pode resultar em consequências quase surreais.
Uma Realidade Transformada
Antes rivais por espécies locais, como os pinguins-imperadores, lêmingues, filhotes de focas, peixes, crustáceos, entre outros animais, agora, por mais surreal que isso possa parecer, as raposas-do-ártico apresentam-se como uma possibilidade de presa para as raposas-vermelhas – inclusive os seus filhotes, tal como ficou nítido nas fotos tiradas de ambas as espécies em plena ação.
Apesar das polêmicas quanto à realidade da foto – sobre se ela realmente quer dizer o que diz –, nada se sabe. O que se sabe mesmo é que o registro das cenas tornou-se uma das mais premiadas e melancólicas já registradas na natureza.
Ver como duas espécies do mesmo gênero, e, obviamente, da mesma família – que em condições normais jamais seriam, de maneira alguma, fontes de alimentos umas para as outras –, podem, de repente, tornarem-se opções, é algo que, não apenas toca fundo no sentimento mas também faz pensar sobre tais possibilidades – a possibilidade de que, num futuro não tão distante, o homem corra o risco de ter que enfrentar, movido pelas atuais alterações climáticas, situações semelhantes.
Mas, ao final, o que nos resta mesmo é esperar que os efeitos de inúmeras campanhas de conscientização possam surtir os efeitos esperados. E que o homem finalmente entenda que as suas ações têm um poder muito mais devastador frente à natureza do que as de qualquer outra espécie existente.
E que possamos caminhar, mesmo que lenta e gradualmente, para uma diminuição das nossas necessidades de conforto e de alimentação em prol da manutenção dos recursos do planeta para as gerações futuras, que dependem única e exclusivamente das nossas ações ou das nossas omissões para um desastre total.
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