Cientificamente chamada de Ptenoura brasiliensis, a ariranha é um animal mustelídeo sul-americano, habitante do Rio Amazonas e também do Pantanal. Ele também é conhecido onça d’água e lontra-gigante.
Significado do Nome
O termo “ariranha” está ligado ao tupi-guarani e seu significado é “onça d’água”. Na língua espanhola, os termos usados para esse animal são perro de agua (cachorro d’água) e lobo de río, nomes muito utilizados nos relatos do século XIX e do começo do século XX feitos por exploradores vindos da Espanha.
Os três termos utilizados possuem pequenas variações dependendo da região e juntam-se a eles os termos lontra-gigante (língua portuguesa) e nutria-gigante (idioma espanhol). A comunidade Achuar chama as ariranhas de wankamin enquanto os ianomâmis (Sanumás) preferem o termo hadami. A nomenclatura científica “Pternoura” vem do grego pteron (asa ou pena) e ura (cauda), que faz alusão à sua cauda que possui características parecidas com as de uma asa.
Características Gerais
Esse animal possui o maior porte da subfamília das lontras (Lutrinae). Sua cauda pode atingir até 65 cm de comprimento enquanto a largura total dessa espécie é de quase 2 metros. O peso dos machos pode chegar até 34 kg, vale lembrar que eles são mais pesados que as fêmeas.
A ariranha possui olhos grandes, pequenas orelhas com formato arredondado e patas curtas. Além disso, possuem uma cauda extensa e achatada. As membranas interdigitais de seus dedos tornam a natação mais fácil para esses animais. Eles têm pelos espessos, com uma textura que lembra veludo e uma tonalidade escura, com exceção da área próxima à garganta, lugar em que fica uma marca branca.
Esse animal é bem diferente das outras lontras, pois ele é o maior no grupo dos Mustelidae no que diz respeito a comprimento, por sua vez, a líder no quesito peso é a lontra-marinha. Os machos têm entre 1,5 e 2 m de comprimento enquanto as fêmeas medem entre 1,5 e 1,7 m. O peso varia entre 22 e 26 quilos para as fêmeas e entre 32 e 45 quilos para os machos.
Conservação da Espécie
É uma espécie que corre grande risco de extinção e seus principais inimigos são o desmatamento e a aniquilação de seu habitat. Como esses animais gostam de comer peixes, os rios poluídos por causa de resíduos vindos da indústria, principalmente o mercúrio, tem ajudado a vitimar essas lontras. Os agrotóxicos também têm prejudicado bastante essa espécie.
As ariranhas são uma das líderes da cadeia alimentar, o que significa que elas não têm predador; entretanto, esses animais foram tão prejudicados pela poluição que é possível concluir que o maior predador e inimigo das lontras-gigantes é o ser humano.
Um fato que comprova essa situação é a caça furtiva. Os caçadores vitimavam as ariranhas para transformar suas peles em casacos e chapéus vendidos por um preço muito alto. Até mesmo os indígenas colaboravam com essa caça, pois queriam trocar a pele dessas lontras por chapéus e outros objetos.
Em 1975, nosso país se aliou a uma convenção internacional que não permitia a caça de nenhuma espécie ameaçada, incluindo as lontras. Depois disso, houve uma redução da busca pela pele de animais e isso ajudou as ariranhas a se recuperarem.
Trabalho Científico
A bióloga Natália Pimenta fez uma pesquisa onde analisou a presença das ariranhas na bacia do Rio Içana, no noroeste amazonense, local em que essa lontra era considerada extinta. O estudo nesse rio se iniciou após os índios Baniwa falarem sobre a volta desses animais para a Terra Indígena do Alto Rio Negro, um de seus locais de origem. Não se via a ariranha nessa região desde a década de 1940, quando a pele dessa lontra era mais valiosa que a de uma onça. Entre 1904 e 1969, aproximadamente 23 milhões de lontras-gigantes foram caçadas na Amazônia, sempre com o objetivo de extrair a pele delas.
Antigamente, as ariranhas eram vistas com frequência entre a Venezuela e o sul argentino. A caça furtiva forçou esses animais a ficarem em um espaço restrito ao Pantanal e a alguns rios da Amazônia. Entretanto, outros trabalhos científicos já haviam mostrado certo “renascimento” da espécie em vários locais amazônicos, como a bacia do rio Solimões e os lugares próximos da Usina Hidrelétrica de Balbina. Nossos vizinhos do continente (Bolívia, Colômbia Guianas) também notaram que as ariranhas “voltaram das cinzas” em suas terras.
A Dra. Natália Pimenta afirma que a volta das ariranhas ainda é “um processo de recuperação” e que a “densidade dessa população ainda é muito baixa na região do Içana”. Para que a “ressureição” das lontras seja confirmada, é preciso que haja uma diversidade genética nos grupos de lontras que ainda restam.
Alimentação
Esses animais gostam de comer peixes, especialmente a traíra e a piranha, que fazem parte dos caracídeos. As ariranhas gostam de caçar em grupos de até dez indivíduos. Costumam botar a cabeça para fora da água ao ingerir seus alimentos, sempre nadando de costas.
Quando estão num momento de escassez, esses grupos vão atrás de jacarés de menor porte e de algumas espécies de cobras para saciarem a sua fome. Dentro de sua habitação, as lontras-gigantes adultas são predadoras que lideram a cadeia alimentar, o que significa que elas não têm predadores.
Locais de Habitação
Era comum ver essa espécie em praticamente todos os rios tropicais e subtropicais sul-americanos. Atualmente, essas lontras estão extintas em praticamente 80% de seus antigos locais de habitação. É possível encontrar alguns remanescentes desses animais em locais específicos, como o Brasil, as Guianas e a nação peruana. Em nosso país, existem santuários de lontras-gigantes no rio Aquidauana, no rio Negro, no Pantanal e, por fim, no Rio Araguaia. Também é possível encontrar esse mustelídeo no Parque Estadual do Cantão, que possui mais de 840 lagos.
Trajetória de Vida
O período de gestação de uma lontra-gigante varia entre 65 e 72 dias e somente a fêmea líder do grupo é que pode se reproduzir. No começo das estações mais secas, a fêmea gera um grupo que tem entre uma e cinco crias. Normalmente, esses filhotes não abandonam suas tocas durante os primeiros 90 dias de vida.
No Parque Estadual do Cantão, eles saem da toca entre outubro e novembro, época que representa o auge do período de seca. Isso significa que os lagos ficam bem menos profundos e que os peixes estão em maior quantidade. Todo grupo de ariranhas auxilia no cuidado com os filhotes e na captura de peixes para a alimentação deles. Eles fazem isso até os filhotes conseguirem se alimentar sozinhos.
Esses animais ficam próximos à família em que nasceram até chegarem a sua maturidade sexual, o que acontece entre o segundo e o terceiro ano de vida deles. Em cativeiro, uma lontra-gigante pode viver até 17 anos.