A carne de porco é proteína mais consumida no mundo.
A suinocultura venceu muitos obstáculos e barreiras ao longo dos anos, até granjear este status.
Muitas objeções e preconceitos, que eram quase doutrinas, caíram por terra.
Verdades absolutas quanto aos malefícios associados ao seu consumo, foram revisados.
Tradicionais expressões, como: “…a carne do porco é remosa”. Tiveram de ser revistas.
O sucesso conquistado é tanto, que já cogitou-se, obliterar o texto bíblico que afirma:
“…o porco é uma animal impuro”.
Esse mandamento, proferido há mais de 3.000 anos, revela preocupações sanitaristas.
O motivo apresentado estava relacionado à sua anatomia, “…será considerado impuro qualquer animal que tem casco fendido e dividido em duas unhas”.
As doutrinas do Judaísmo, islamismo e de algumas igrejas cristãs, ainda consideram o porco um animal impuro.
Mas há uma espécie de porco que não apresenta esta característica anatômica, nosso
porco-casco-de-burro tem as duas unhas da pata fundidas (sindactilos), não fendidos, como todos os outros suídeos.
Analisaremos como todo o avanço tecnológico tem influenciado na população do porco-casco-de-burro, bem como, suas características:
A Origem
O porco-casco-de-burro, recebe outras denominações, como: porco-pé-de-burro e porco-casco-de-mula.
É um porco originário da América e encontrado no Brasil, sendo considerado um porco de raça brasileira.
A Raça
As populações do porco-casco-de-burro, não apresentam características, chamadas fenotípicas, que lhes sejam comuns.
Características fenotípicas, incluem o mesmo padrão de aparência, morfologia, desenvolvimento, propriedades bioquímicas ou fisiológicas e comportamental, encontrados em comum em todos os indivíduos da mesma espécie.
As características dos indivíduos da população do porco-casco-de-burro variam muito entre si.
Os dedos dos pés fundidos, são a única semelhança, por isso o porco-casco-de-burro não é reconhecido, cientificamente, como raça pura.
Mesmo esta característica comum, que justifica o seu nome, é encontrada em algumas espécies de porcos e javalis selvagens.
Cruzamentos
Geneticistas experimentaram criar um híbrido, do porco-casco-de-burro e uma matriz de outra raça pura, o resultado gerou alguns indivíduos com cascos fundidos.
A conclusão é de que esta característica, (casco fundido), pertence a um gene dominante (alelos fenotípicos que se manifestam, mesmo na interação com outros alelos), da espécie.
Porcos mutantes dos Estados Unidos e da Colômbia, reforçam a teoria de que esta característica específica, seja uma mutação natural.
A presença de exemplares com esta característica, em outros países, comprova que tiveram um ancestral comum.
Esse ancestral comum vivia no Brasil e sua descendência foi levada para esses países ou o contrário, essa questão torna controversa a origem da espécie.
Genética
Sob o ponto de vista do genoma, é uma espécie incomparável.
O porco-casco-de-burro possui composição genética própria e adaptada aos nichos ecológicos encontrados no Brasil.
Geneticistas brasileiros estão empenhados em mapear os genes do porco-casco-de-burro.
Este entendimento, torna possível manipular as características vantajosas, aprimorando os animais, adaptáveis as diferentes finalidades e biomas.
A diretora do programa Livestock Conservancy, Jeannette Beranger, disse em recente entrevista, que o porco-casco-de-burro possui “…qualidades não encontradas nos porcos comerciais”.
Sua população diminuiu drasticamente nos últimos cinquenta anos, se extintos, será impossível replicar essas características genéticas.
O blog Grit, de ruralistas americanos, propôs um teste cego com mais de 90 profissionais de gastronomia, estes especialistas concluíram que a carne da espécie é a mais gostosa.
Através da manipulação genética seria possível definir e fixar as características fenotípicas, mais desejáveis na espécie, como o sabor da carne, por exemplo.
Uma espécie de carne com marmoreio, como o Alentejano (porco preto ibérico), famoso pelo seu presunto, adaptada ao clima brasileiro.
Essa raça poderia tornar-se economicamente lucrativa e impar no mercado mundial.
Preservação
A conservação do germoplasma nativo, é vital nesta empreitada de impedir a extinção desta espécie.
A principal forma de conservação de raças é sua inserção em um sistema de produção.
Com manejo apropriado, quer em pocilgas ou em piquetes, que possibilitem um rendimento econômico, que justifiquem a utilização da raça.
Mercado
A importância da pureza racial, que possibilitem cruzamentos que gerem suínos mais produtivos.
Baixa produtividade e desempenho econômico inconsistente.
Legislações sanitárias genéricas, aplicáveis a suínos importados, tornadas obrigatórias.
Tornaram inviáveis a criação do porco-casco-de-burro.
Reduziram a população do porco-casco-de-burro, com consequente perda do material genético.
Conscientização
Muitos debates tem sido aberto, em feiras do agro-negócio, que contribuem para a divulgação da raça, e o risco de extinção a que estão ameaçadas.
Os indivíduos dessa espécie apresentam grande beleza externa e se tornaram indispensáveis à agricultura familiar.
Tiveram importante participação no desenvolvimento socioeconômico, biológico, social e cultural das comunidades rurais.
A seleção natural gerou indivíduos, completamente adaptados, as condições de clima e outras aos quais foram submetidos.
Política
São escassos os dados estatísticos detalhados, consistentes e atualizados que remetem as atividades agrícola.
A falta destas informações tem causado preocupação aos pesquisadores, autoridades e empresários.
Esses dados são fundamentais para pavimentar a adoção de políticas estratégicas, que incentivem a preservação e criação do porco-casco-de-burro.
Produção Orgânica
A nova tendência alimentar, voltada para o consumo de produtos orgânicos, promete uma revolução nos hábitos de consumo e redenção para o porco-casco-de-burro.
A criação de porcos brasileiros tende a crescer, enquanto atividade, e se diversificar, proporcionando aumento de renda para o produtor agrícola.
Sob condições severas para a suinocultura, como clima e a altitude, o porco-casco-de-burro possui melhor desempenho do que as raças importadas.
Seu manejo mais simples e alimentação, propiciam à carne e derivados, um sabor delicioso e diferenciado, ideais ao contexto da produção orgânica.
Ciência
Quanto mais produtiva a raça,maior a demanda de cuidados sanitários, alimentação e instalações, portanto custos elevados na produção.
A criação extensiva dos porcos-casco-de-burro, aumentaria a oferta de genes a ser pesquisados, para melhorar a resistência destas raças, diminuindo os custos.
Considerando a necessidade do mercado de se produzir suínos transgênicos de alta rusticidade e imunidade a doenças, aumentaria o valor comercial dos genes dessa espécie.
A seleção artificial e dirigida para a produção de carne suína, adotada atualmente perdeu importantes características zootécnicas, só encontradas nesses genes.
Os genes das raças nativas, como o porco-casco-de-burro, importante e herdáveis, podem servir de reserva biológica estratégica para o futuro.
Tecnologia
Qualquer amostra parcial revela a predominância das SRD, nas suinoculturas regionais, e a precariedade nas condições de manejo.
São necessárias políticas públicas de transferência de tecnologia, que agregue conhecimento, assistência técnica e diagnóstico preciso da atividade suinícola.