Gongolo, bicho-de-vaca, embuá, maria-cafés e piolho-de-cobra – estes são apenas alguns dos apelidos que recebe esse “myriapoda”, que junta-se a quase 12.000 espécies diferentes, em praticamente todos os continentes, para compor uma comunidade entre as mais repugnantes e assustadoras que rastejam na natureza.
Eles pertencem à classe dos Diplópodes, e como principais características os piolhos-de-cobras têm os seus inconfundíveis corpos cilíndricos, todo ele formado por segmentos (diplosegmentos) compostos por uma média de 22 anéis, e com 1 par de patas em cada um deles.
Os piolhos-de-cobras possuem cerca de 700 patas (apesar de terem ficado famosos como sendo uma espécie de milípede ou 1000 pés), são bem mais lentos do que os seus rivais em repugnância (as lacraias) e ainda são bem menos perigosos.
Diretamente do Sudeste Asiático, eles espalharam-se por praticamente todos os continentes (com exceção da Antártida); e neles tornaram-se célebres pela característica de serem facilmente encontrados sempre que o ambiente tornava-se úmido e quente; avidamente à procura de matéria orgânica para a sua alimentação.
Reza a lenda que eles – os piolhos-de-cobra – são verdadeiros rivais das baratas e de outros animais rastejantes quando o assunto é sobrevivência, pois estima-se que há 400 milhões de anos eles já “davam o ar de suas graças” no planeta, a rastejar pelos ambientes úmidos e quentes do continente africano, com espécies que podiam atingir os vertiginosos 1,8 m de comprimento.
Hoje, eles não ultrapassam os 36 cm, são consideradas espécies inofensivas e símbolos imbatíveis de repugnância e aversão.
Porém, com tudo isso, os piolhos-de-cobras possuem qualidades e características bastante peculiares, como algumas que serão descritas, revistas e analisadas, logo abaixo.
1.Eles Gostam de Ambientes Úmidos
Sem dúvida, a principal característica dos piolhos-de-cobras é a sua afeição por ambientes úmidos, quentes e escuros – aliás, como é comum encontrar em seu habitat de origem (o Sudeste Asiático), onde estão países com essas características, tais como: Vietnã, Laos, Camboja, Myanmar, Sri-Lanka, entre outros.
Neles, esses Diplópodes sentem-se verdadeiramente em casa quando estão confortavelmente acomodados em árvores apodrecidas, restos de matéria orgânica, embaixo de troncos e pedras, ou mesmo em residências, desde que encontrem ralos, pias, vasos de plantas, entre outros ambientes com as suas características favoritas.
2.São Animais Detritívoros
Animais detritívoros são aqueles cujas dietas são compostas, basicamente, por restos de animais ou vegetais em decomposição, os quais eles devoram, avidamente, em questão de horas – reduzindo, muitas vezes, um imenso volume de matéria a não mais do que 2/3 da sua quantidade.
Logo, a dieta preferida dos piolhos-de-cobras resume-se a uma boa quantidade de folhas e vegetais apodrecidos, restos de animais, larvas e insetos em decomposição; além de fezes de outros animais, que também, em situações de escassez, podem, muito bem, fazer parte do cardápio dessa que é considerada uma das espécies mais vorazes quando o assunto é uma boa refeição.
3.Não São Perigosos
Uma outra característica dos piolhos-de-cobras – e que costuma surpreender os menos familiarizados com essa comunidade de Diplópodes -, é o fato de que, diferentemente do que se pensa, eles não representam grave perigo à integridade física dos seres humanos.
Na verdade, em situações de ameaça, eles preferem mesmo é utilizar a cômoda estratégia de simplesmente enrolarem-se, na esperança de que tal artifício seja verdadeiramente capaz de afastar o inimigo.
No entanto, caso tal estratégia se mostre ineficaz, eles poderão lançar mão do expediente de expelir uma substância tóxica produzida por um par de glândulas posicionadas na região das suas patas dianteiras, capaz de causar uma certa irritação e afastar, pelo menos provisoriamente, o perigo.
4.Eles São Seres Sexuados
Os Diplópodes são seres sexuados. Durante os períodos mais quentes e úmidos eles saem para o acasalamento. E o processo que garante a perpetuação dessa espécie é bastante característico.
No momento da cópula, o macho faz com que seja introduzida na fêmea uma cápsula com espermatozoides (o espermatóforo), a qual elas armazenarão em um órgão denominado de gonóporo, onde se dará o processo de fecundação dos ovos.
Após serem fecundados, eles deverão ser depositados em bases de pedras, troncos apodrecidos, restos de folhas, ou em qualquer outro local úmido e pouco ventilado, até que, em 4 ou 5 semanas, começem a eclodir para dar origem a novas espécies.
5.São Fertilizadores Naturais
Essa é uma característica das mais interessantes dos piolhos-de-cobras. Eles são considerados produtores de um fertilizante dos mais ricos produzidos pela natureza, capaz, inclusive, de deixar para trás os produzidos pela famosa Lumbricina terrestris (a minhoca-comum) – que sempre foi a “menina dos olhos” quando o assunto era a produção de húmus.
De acordo especialistas da EMBRAPA Agrobiologia (RJ), esses Diplópodes superam, e muito, as minhocas-comuns, quando se trata da produção de adubos naturais, pelo simples fato de conseguirem digerir (e transformar em húmus) alguns materiais impossíveis de serem digeridos pelas minhocas – como por exemplo, cascas de ovos, celulose, papelões, entre outros materiais resistentes.
O resultado é a produção de fezes bem mais ricas em nitrogênio e outros minerais, que, para a agricultura, são consideradas ferramentas incomparáveis.
6.Eles Brilham no Escuro
Sim, essa também é uma das características (ou curiosidades) dos piolhos de cobra – essa espécie considerada sinônimo de repugnância e aversão na natureza.
É possível observar, especialmente durante a noite, como eles tornam-se luminescentes devido a uma espécie de bioluminescência que é típica dessa comunidade de Diplópodes.
Isso ocorre devido a processos bioquímicos (muito comuns em algumas espécies de algas), que fazem com que esses organismos sejam capazes de emitir luz em situações especiais – como as de ameaça, por exemplo.
Acredita-se que reações químicas nesses animais são capazes de produzir luciferina e luciferase (pigmento e enzima, respectivamente), que só podem ser notados em ambientes escuros.
7.Os Seus Principais Predadores Naturais
Como a maioria das espécies que precisam conviver, diariamente, com uma acirrada luta pela sobrevivência, os piolhos-de-cobras também têm lá os seus predadores.
Espécies de sapos, lagartos, aves, pequenos roedores e insetos, estão entre os principais; e muitos destes possuem a curiosa habilidade de primeiro tentar retirar (esmagando as suas glândulas venenosas) a sua toxina, para só depois fazer deles a sua refeição.
Já outros, especialmente algumas variedades de anfíbios, são completemente imunes ao veneno dos piolhos-de-cobras. São os exemplos de Phengodidae (larvas de escaravelhos), Chlamydephorus (espécies de lesmas), ou mesmo alguns nemátodos, acantocéfalos, feomíidas, entre outras espécies.
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