A Picada da Cobra Jararaca pode Matar um Indivíduo?
A picada da cobra jararaca pode matar um indivíduo em questão de horas, caso este não receba o tratamento adequado a tempo. Isso porque ela pertence à temida família Viperidae — uma comunidade formada por cinco gêneros distintos, entre os quais o gênero Bothrops, ao qual faz parte esse verdadeiro “flagelo da natureza” conhecido popularmente como “jararaca”.
À primeira vista não há nada de excepcional nelas (do ponto de vista da sua conformação física): o seu comprimento dificilmente ultrapassa 1,3m, sua estrutura é proporcional ao seu comprimento, mas o problema é o que se esconde por trás das suas presas.
São duas armas de guerra prontas para expelirem uma devastadora neurotoxina, capaz de gerar sequelas graves, como: hemorragias internas, necrose do lugar afetado, e ate mesmo a amputação em pelo menos 10% dos casos.
As florestas úmidas e margens de rios são os seus habitats preferidos. É lá que elas costumam caçar as suas presas favoritas: sapos, aves, pequenos roedores, etc. — geralmente à noite, quando ela desperta do seu sono diurno.
É uma fera extremamente agressiva! Na presença de intrusos costuma reagir com um violento bote, seguido pela projeção das suas assustadores presas, contra as quais a vítima pouca resistência pode opor.
Para se ter uma ideia da ameaça que essa espécie representa, estima-se que entre 80 e 90% de todo os acidentes com serpentes venenosas, no Brasil, envolvam as jararacas.
O resultado desses ataques são sintomas como: inchaço, vermelhidão, isquemia, dor intensa; que podem evoluir para hemorragias internas, insuficiência renal, necrose e/ou amputação do local atingido, entre outras consequências do não atendimento com urgência.
Mas as jararacas também têm os seus predadores! Eles geralmente são gaviões, águias, falcões, javalis, raposas, entre outros caçadores natos. O problema é que, em muitas regiões, eles estão em menor número, o que faz com que a população desse tipo de serpente não pare de crescer.
E esse aumento populacional associado à pouca informação sobre métodos de prevenção aos ataques de serpentes peçonhentas, faz com que, em alguns casos, a picada da cobra jararaca possa matar um indivíduo adultos em até 6 horas.
Por Que a Picada da Jararaca Pode Matar?
O “veneno botrópico” é a substância inoculada após o ataque de uma jararaca. Cientificamente ele é conhecido como “jararagina” — uma devastadora neurotoxina que teve o seu método de ação desvendado em 1992.
Na época, um grupo de cientistas descobriu que a jararagina liga-se às metaloproteinases, e que essa ligação é capaz de produzir terríveis ações hemorrágicas, proteolíticas (ou inflamatórias) e incoagulantes.
Mais tarde, chefiada pela bióloga e estudiosa dos efeitos das neurotoxinas dos animais peçonhentos, Cristiani Baldo, uma equipe de cientistas do laboratório de Imunopatologia do Instituto Butantan (São Paulo) descobriu por que uma picada da cobra jararaca pode matar, facilmente, um indivíduo.
O que ocorre, segundo os especialistas, é que a jararagina, uma vez tendo penetrado na corrente sanguínea, procura ligar-se aos vasos. E a consequência imediata disso são graves hemorragias internas e deficiência na coagulação do sangue.
Foi só então que os cientistas descobriram o porquê dessa dificuldade de evitar as terríveis sequelas deixadas pela picada. É que o soro antibotrópico só conseguia mesmo evitar os transtornos ocasionados aos órgãos internos, como: paralisia dos rins, problemas cardiovasculares e transtornos no pâncreas, por exemplo.
No entanto, uma vez ligado aos vasos sanguíneos, nem mesmo esse antídoto conseguia impedir as consequências dos vasos danificados pela jararagina, que podem apresentar-se na forma de inchaços, parestesias (queimação, dormência, etc), isquemia, ou mesmo a necrose do local afetado, muitas vezes com a necessidade da amputação do membro.
Assim, descobriu-se que a picada da cobra jararaca pode matar, não apenas pelo comprometimento dos órgãos internos do indivíduo (geralmente preservados pelo soro antibotrópico), mas também pelas sequelas resultantes dos vasos sanguíneos danificados pela presença da substância.
Por Que o Veneno Botrópico é tão Agressivo?
Outra descoberta interessante é que as consequências — inclusive a morte — da picada de uma jararaca não são oriundas da Bothrops jararaca. Na verdade o que causa os transtornos é uma proteína isolada dessa substância. E essa proteína nada mais é do que a agora famigerada “jararagina”.
Já se sabia do potencial de agressividade da sua presença junto aos tecidos epiteliais. No entanto, faltava saber por que tal agressividade não podia ser debelada pelos antídotos conhecidos.
E foi no Butantan de São Paulo que o mistério, finalmente, foi desvendado. Por meio de aparelhos especialmente projetados para isso, foi possível acompanhar, em tempo real, o trajeto feito pela proteína (a jararagina) na corrente sanguínea de um indivíduo.
E o que se viu foi a substância, de forma quase que instintiva, procurando ligar-se aos vasos capilares, e danificando-os suficientemente para comprometer, drasticamente, a coagulação sanguínea, iniciar uma hemorragia interna e levar à inflamação do local.
E as consequências disso são inevitáveis: Além de levar ao quadro exposto acima, os danos causados aos vasos sanguíneos impede, por exemplo, a correta oxigenação do cérebro, ou mesmo o transporte adequado de vitaminas e sais minerais.
Obviamente, diante de tal situação, uma picada de jararaca pode resultar na morte de um indivíduo por danos cerebrais, septicemia, falecimento dos órgãos internos, entre outras consequências da incapacidade dos vasos de fazerem circular, adequadamente, os nutrientes pelo organismo.
Como Evitar a Morte por Picada da Cobra Jararaca?
- Evite aplicar qualquer outra substância que não sejam água e sabão no local da agressão, pois eles são suficientes para a desinfecção do local;
- Deite o indivíduo em um local confortável, e onde ele possa permanecer ereto. Isso dificulta a circulação do veneno no sangue;
- Não hesite em oferecer-lhe água pelo menos a cada 20min. É necessário que a produção de urina seja estimulada enquanto não chegue o socorro;
- O ideal também é que a serpente responsável pelo ataque seja levada, juntamente com a vítima, até o posto médico. Essa iniciativa facilita o tratamento, na medida em que o profissional saberá, de imediato, qual antídoto utilizar, além de outras intervenções próprias de cada caso.
O Que Não se Deve Fazer
- Não pressione a região atingida. É muito comum pensar que, dessa forma, estará evitando uma eventual hemorragia. Mas, na verdade, isso não a impede, além de poder resultar numa necrose, devido à interrupção da circulação;
- Também não caia na armadilha de tentar fazer um corte no local, a fim de, supostamente, fazer sair o veneno. Essa é outra lenda que cerca esse tipo de ocorrência, e que pode resultar em uma infecção do local;
- Nunca, jamais, e em hipótese alguma, tente sugar o sangue após inoculado. Ele não poderá fazer o caminho de volta, e você ainda correrá o risco de sofrer uma intoxicação grave;
- Outra lenda que cerca esse tipo de evento, é a de que café, manteiga, determinadas ervas, entre outras especiarias, servem como anti-inflamatórios. Esse também é outro erro!, e que só tende a agravar, ainda mais, o quadro;
- Por fim, a ingestão de bebida alcoólica não resulta em qualquer benefício para o indivíduo. Portanto, não ofereça-o à vítima, pois o resultado poderá ser uma intoxicação com consequente agravamento do transtorno.
Esse artigo foi útil? Tirou as suas dúvidas? Deixe a resposta em forma de um comentário, logo abaixo.