A picada de cascavel pode matar um indivíduo em questão de horas, caso não sejam tomadas as providências recomendadas pelos manuais de medicina.
Essa é a famigerada Crotalus durissus, uma imponente variedade do gênero Crotalus, facilmente reconhecível pelo seu inconfundível chocalho na cauda, uma peçonha das mais letais da natureza, além de ser típica do continente americano — especificamente do trecho que vai do México à Argentina.
As cascavéis não costumam ultrapassar os 2m de comprimento. Diferentemente do que se imagina, elas também não têm o hábito de espreitar os seres humanos para os atacar. Na verdade, caso não tenha o seu habitat invadido, elas preferem mesmo é evitar, o máximo possível, um contato.
Cerca de 7,6% dos acidentes com animais peçonhentos podem ser atribuídos a essa espécie de hábitos noturnos e vespertinos e com preferência ao ambiente terrestre.
Uma das suas principais características é, ao sentir-se ameaçada, enrolar-se totalmente e erguer a parte da frente do seu corpo em posição de “S”, enquanto agita, vigorosamente, o seu famoso chocalho, capaz de emitir um som que pode ser ouvido a vários metros de distância.
A picada de uma cascavel pode matar uma presa, a depender do seu porte físico, em questão de minutos. Por isso mesmo, pequenos mamíferos, roedores e aves, não costumam oferecer qualquer resistência ao seu poderoso ataque.
Por que a Picada de Cascavel Pode Matar?
A percentagem do número de acidentes com animais peçonhentas atribuídos à Crotalus durissus gira em torno de 7,6%, mas pode chegar até aos 30% em regiões não alcançadas pelos poderes públicos.
A sua taxa de letalidade também é considerada alta — quase 2% dos acidentados não resistem aos ferimentos.
Esse potencial de agressividade pode ser explicado por dois motivos: elas não são habituais de regiões litorâneas (locais que oferecem melhores condições para a prestação de socorro a uma vítima) e, segundo consta, possuem uma das neurotoxinas que mais causam insuficiência renal dentre todas as registradas.
O veneno da Crotalus durissus é, sem dúvida, um dos mais analisados e estudados entre as espécies que vivem no Brasil, e a conclusão é a de que a sua ação neurotóxica se dá muito em função da produção de crotoxina, uma substância capaz de interferir, drasticamente, nas sinapses (troca de informações entre os neurônios) que ocorrem no cérebro.
O resultado é, entre outras coisas, o comprometimento da liberação da acetilcolina e, consequentemente, a interrupção das informações entre o cérebro e os músculos, o que resulta na famosa paralisia muscular, tão característica dos ataques de cascavéis.
Quando não mata, a picada de cascavel também pode resultar numa comprometedora ação miotóxica. Nesse caso, a neurotoxina inoculada resulta em danos nas fibras musculares esqueléticas — lesão conhecida cientificamente como rabdomiólise.
O resultado desses danos podem ser uma ação proteolítica (inflamatória) da região, além do aumento e penetração exagerada da proteína mioglobina no sangue — o que caracteriza um dano acentuado às fibras musculares da região afetada.
Completa os danos causados pela substância, uma rápida ação incoagulante, devido à conversão do fibrinogênio em fibrina, que traduz-se, imediatamente, em hemorragias internas simples, mas que, não tratadas, podem evoluir para um quadro grave de “ação hemorrágica”.
Quais as Principais Manifestações?
Um dos motivos para que a picada de uma cascavel resulte na morte de um indivíduo, é o fato de que, curiosamente, ela é praticamente indolor.
Após o ataque, a sensação que muitos têm é a de que não foram atingidos. Somente após uma observação detida é que eles conseguem perceber as marcas das presas e, logo após, manifestações como: edema, vermelhidão, parestesia local (coceira, queimação, ardência, etc), entre outros sintomas locais ou regionais.
Caso não haja um pronto atendimento, esses sintomas podem evoluir para:
- Manifestações gerais: enxaqueca, suor excessivo, vômitos, náuseas, sensação de boca seca, tontura, fraqueza muscular, desânimo (ou mesmo agitação), sono excessivo, entre outras manifestações gerais. Eles representam os sintomas iniciais — logo após o ataque — e são potencializados pelo trauma psicológico de um evento tão agressivo;
- Manifestações neurológicas: Essas são manifestações resultantes da ação danosa da neurotoxina inoculada após o ataque. Entre elas, estão: pálpebras caídas (fáscies de Rosenfeld ou ptose palpebral), flacidez da musculatura ao redor do ferimento e do rosto, visão embaçada, visão dupla (diplopia), pupilas dilatadas, entre outras manifestações;
- Alteração dos sentidos: Com menor incidência, também podem ocorrer eventos como: perda do paladar, dificuldades na deglutição de alimentos, alterações olfativas, entre outras manifestações, que geralmente desaparecem após o 3º dia;
- Hematúria: A hematúria consiste na detecção de sangue na urina. Isso ocorre devido à produção excessiva de mioglobina (devido à lesão das fibras musculares), que se desprendem do músculo necrosado, circulam pela corrente sanguínea, atravessam os rins e são expelidas pela urina. Caso não resulte em insuficiência renal, a vermelhidão tende a desaparecer em no máximo 48 horas;
- Outras manifestações: Insuficiência respiratória, paralisia muscular, AVC (Acidente Vascular Cerebral), contrações musculares, entre outras manifestações menos comuns, também podem ocorrer, de acordo com as características físicas de cada paciente ou de outras características e predisposições genéticas capazes de interagir com a toxina presente no seu organismo.
Como Evitar a Morte por Picada de uma Cascavel?
Uma picada de cascavel pode ser fatal, caso as providências não sejam tomadas satisfatoriamente. Isso porque os acidentes crotálicos resultam em manifestações, inicialmente leves, mas que podem evoluir para quadros moderados e, finalmente, graves.
Nesse último caso, a principal delas é a insuficiência renal aguda (IRA), que caracteriza-se pela necrose da região, com consequente interrupção das funções normais dos rins após 48 horas.
Para evitar esses transtornos, o recomendado é o encaminhamento o mais rapidamente possível do acidentado até o posto de saúde mais próximo.
Caso ele sobreviva ao péssimo atendimento do serviço público de saúde, deverão ser realizados exames complementares, entre os quais, o ácido úrico e exames de sangue.
Nesse último caso, ele será extremamente eficaz na detecção da presença anormal de mioglobina no sangue (um sinal evidente de necrose da fibra muscular esquelética), altas taxas das enzimas creatinoquinase, desidrogenase lática, aspartases, entre outras.
O próximo passo (apenas com base na suspeita de ataque crotálico) será administração do “Soro Anticrotálico”, que deverá ser administrado com base no diagnóstico do profissional. Mas também será possível recorrer ao Soro Antibotrópico-crotálico, de acordo com os resultados dos exames e das suspeitas levantadas.
Não custa lembrar que, como primeiros socorros, recomenda-se, inicialmente, apenas lavar o local com água e sabão e manter o paciente deitado, pois isso dificulta a proliferação da toxina.
Também mantê-lo constantemente hidratado, como forma de evitar os riscos de insuficiência renal (o ideal é que ele produza entre 30 e 40ml de urina por hora durante o tratamento).
Além de, se possível, levar a serpente responsável pelo ataque até o posto de saúde, a fim de que o tratamento seja realizado com mais eficácia e de acordo com a espécie responsável pela agressão.
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quais as sequelas que ficam na área psiquiatricas pois tem a neurotoxina