Sabemos que muitos papagaios comprados e caros são vendidos às pressas logo depois por causa das restrições. A desculpa usual: alergia forte contra as penas! (A mentira mais comum nos classificados dos jornais). Desculpa mais honesta: gritos estridentes por horas e a sensação de pena com um animal trancado por horas sofrendo de tédio e falta de parceiro!
Tem Mesmo Condições de ter Um?
Se você tem o dinheiro, o lugar e a hora de ter um papagaio, então adquira um cavalo. Custa aproximadamente o mesmo preço, ocupa o mesmo lugar e requer o mesmo tempo que um papagaio, mas lhe dará mais diversão e menos preocupações.
Se você está procurando por um amigo fiel e submisso, adote um cachorro! Se você quiser um animal decorativo, compre um peixinho de aquário! E se você está procurando especialmente para ser o mascote de seu casamento, o símbolo de sua união, talvez seja melhor pensar em ter um filho, mas não um papagaio.
Mas se você é mesmo um cabeça duro teimoso e não foi capaz de entender as dicas até aqui, continue lendo pra ver se compreende melhor e tenha maior consideração pelo papagaio acima de tudo:
Papagaios em geral ( e isso inclui cacatuas, araras e periquitos) são animais de natureza definitivamente selvagem, instinto que não se perde mesmo para os animais já nascidos e criados em cativeiro. A não submissão ou obediência, o ruído, a destruição, a fragilidade psicológica, a necessidade de espaço, a psicose da presença do curador, a exigência de estrutura (aviário ou gaiola) que não é barata, manutenção e limpeza diária do aviário ou gaiola, etc… são características enervantes dessas criaturas.
Regulamentação e Aquisição
O comércio desenfreado de papagaios causa uma superprodução óbvia de muitas espécies porque, em última análise, há muito poucos compradores qualificados em potencial. Na Brasil, para manter a maioria dos papagaios “atraentes”, teoricamente você deveria possuir um certificado de habilidade para garantir o bem estar da espécie. A venda ilegal é proibida e reprimida. Mas infelizmente para os papagaios as teorias da regulamentação não funcionam no Brasil.
Estas aves “fora da lei” são comuns, infelizmente, e mantidas escondidas por indivíduos privados sem controle sobre suas condições de detenção. Ninguém sabe quantos são e como são tratados. De tempos em tempos, as organizações de bem-estar animal descobrem e salvam as pobres aves.
A Convenção de Washington e o Decreto da Guiana Francesa ajudam a preservar as espécies, mas o sofrimento individual de um papagaio é completamente ignorado. Imagine o enorme sofrimento de um espécime exótico, brutalmente capturado na selva, separado de seu parceiro, transportado em condições terríveis e finalmente forçado a terminar sua longa vida trancada em uma pequena gaiola de um particular ignorante. E o estresse psicológico e emocionaçl pode ocorrer mesmo em aves de segunda geração habituadas a cativeiro.
O ideal mesmo era que a posse de psitacídeos não estivesse somente vinculada a um certificado de capacidade, mas a uma declaração obrigatória de cuidados para todas as espécies, seguida de visitas regulares de inspeção pelos serviços veterinários ou por oficiais de proteção animal competentes. As condições de detenção (tamanho mínimo dos aviários, etc.) deviam ser reguladas e controladas. A posse de um único papagaio geralmente não deveria ser permitido (com raras exceções individuais de espécies).
Reprodução em Cativeiro
Se cuidar de uma ave adulta já é uma exigência que poucos curadores individuais são capazes de administrar sábia e adequadamente, imagine então lidar com reprodução de novas espécies em cativeiro.
Todos os anos, para cada par de papagaios criados em cativeiro nos Estados Unidos que tentam se reproduzir com sucesso, dois ou três outros pares simplesmente não o conseguem ou nascem mortos quando o fazem, ou não sobrevivem muito tempo após o nascimento. E a frustração está principalmente na falta de conhecimento adequado pra gerenciar esse período.
Devido à natureza e à inteligência dessas aves, muitas se adaptaram a seus novos arranjos e arredores e começaram a produzir jovens. Mesmo as aves selvagens capturadas e criadas depois em cativeiro são capazes de se reproduzir, embora a biologia reprodutiva desses dois grupos (as capturadas da vida selvagem e as já nascidas em cativeiro) tenha algumas diferenças distintas.
Aves selvagens mais velhas capturadas podem ou não ter a idade apropriada para se reproduzir quando compradas. A idade exata exigida para que as aves selvagens se reproduzam não é precisamente conhecida, pois houve muito pouca pesquisa de campo em papagaios. Quando se lida com indivíduos criados em cativeiro, a idade média de reprodução da maioria das espécies de tamanho médio é de cerca de quatro anos. Espécies maiores geralmente não produzem até aproximadamente seis anos de idade.
Além da idade, existem outros problemas mais controláveis que podem contribuir para a falta de produtividade. Aves com excesso de peso, excessivamente agressivas, nutricionalmente deficientes, mal alojadas ou mal-educadas podem não se reproduzir. A maioria dessas situações pode ser corrigida ou controlada pelo avicultor e freqüentemente esses pares improdutivos começarão a se reproduzir.
Papagaio e Cativeiro são Incompatíveis
O papagaio, apesar de todos estes séculos de domesticação intensiva, continua a ser um animal selvagem, ele manteve todos os seus comportamentos naturais e não esqueceu o papel que ele tem que desempenhar como um membro de um ecossistema. Isso significa que para um papagaio florescer plenamente, ele deve ser capaz de desempenhar esse papel e, portanto, ter a oportunidade de satisfazer todas as suas necessidades, que são numerosas.
Antes de embarcar em uma adoção, devemos nos perguntar quais são os nossos motivos para adotar tal animal, e até onde iremos. Se você quer um bom companheiro domado, perto de nós, que vai adorar jogos, carícias, realizar truques, conversar e entreter a galeria … cuidado! Você pode se dar mal! O papagaio é muito mais do que isso, antes de mais nada, é um pássaro selvagem, que é mais inteligente e excessivamente sensível.
Nenhum antropomorfismo, o papagaio permanece um animal e funciona como tal. As noções de infelicidade, felicidade, liberdade, sonhos, propósito … não existem, elas só precisam ser capazes de expressar seus comportamentos naturais para florescer plenamente e assim cumprir o papel para o qual elas evoluíram desde milhões anos.
Amá-los não é suficiente, pois os meios que eles pedem são consideráveis. Você tem que ser apaixonado ao ponto de compreendê-los perfeitamente, primeiro como animais selvagens e depois como animais de estimação.
Você lhe dará os meios para desenvolvê-los, oferecer-lhes um grande espaço de vôo, fazê-los buscar sua comida, propor-lhes uma alimentação variada, oferecer-lhes congêneres, a possibilidade de formar casais, de se expressar, destruir … de forma constante e diária, tudo isso levando em conta que a maioria das espécies vive mais de 20 anos?
Agora entendemos por que muitas aves não encontram seu lugar em uma casa, elas acabam desenvolvendo problemas comportamentais e mudam indefinidamente a família durante suas vidas. Percebe-se rapidamente que a maioria dos atuais donos não corresponde ao papagaio, tornando-se involuntariamente um freio à sua floração.
Desenvolver uma relação de confiança e amor com tal animal é uma fonte infinita de alegria. No entanto, esteja ciente de que isso não é o que seu papagaio precisa para ser feliz com você. Não se torne egoísta, pare com essa humanização e ofereça a vida que ele deve ter como ave. Um papagaio feliz, bom em sua cabeça é o melhor companheiro!