O papagaio-da-serra não é conhecido por falar, como boa parte dos membros desse gênero. Ele é conhecido por ser uma espécie tipicamente selvagem, que espalha-se em bandos pelos céus dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, sobre as florestas de araucária, onde deleitam-se com as variedades de vegetais ali existentes, em especial o pinhão, a sua dieta favorita.
Ele também é conhecido como “papagaio-charão” e por gostar de comunicar-se por meio de barulhos estridentes e espalhafatosos – apesar de ser bastante contido quando criado em cativeiro.
Como todos dessa espécie, o papagaio-da-serra costuma encantar pela exuberância dos seus tons de verde, em contraste com a cor vermelha do seu rosto, que faz dele uma das espécies exóticas mais apreciadas do sul do país.
Mas é justamente aí que surgem os problemas para essa ave! Pois tal apreço vem fazendo com que o papagaio-da-serra se torne um alvo fácil do tráfico ilegal de animais silvestres, que o colocou na lista dos animais em “risco de extinção”, de acordo com a IUCN (União Nacional para a Conservação da Natureza).
Desde o início dos anos 90 o instituto utiliza um sistema de monitoramento dessa espécie, que hoje calcula-se não passar de 20.000 exemplares.
Já com relação aos hábitos do papagaio-da-serra, o que se sabe é que entre os meses de abril e julho as florestas de araucária do sudeste de Santa Catarina e nordeste do Rio Grande do Sul ficam infestadas dessa espécie, que esbaldam-se nos pinheiros-do-paraná – que lhes oferecem deliciosas variedades de pinhões quase que diariamente.
Mas nos períodos de escassez, eles não passam qualquer dificuldade! Eles não pensam duas vezes em percorrer a região em busca dos campos abertos, matas ciliares, florestas abertas, pastos, lavouras, ou qualquer outra região onde possam encontrar variedades de frutas e sementes que substituam, adequadamente, a sua dieta favorita.
Apesar de não possuir como característica a fala, os papagaios-da-serra costumam conviver bem com os seres humanos; e em cativeiro – quando bem cuidados – possuem exigências bastante modestas, que geralmente limitam-se à manutenção de um ambiente limpo, com comida e água suficientes durante o dia.
As Características do Papagaio-da-Serra
Como vimos, falar não é exatamente a especialidade dos papagaios-da-serra. É por meio de um grito estridente, especialmente pela manhã, noite e durante a sua fase reprodutiva, que eles costumam chamar a atenção das pessoas para a sua presença.
Quando comparados com outras espécies – como os papagaios-cinzentos-africanos ou o papagaio verdadeiro -, os papagaios-da-serra podem até parecer simples amadores, sem nenhuma das características tão apreciadas nesse tipo de animal.
No entanto, quando o assunto é voar alto, cortar os céus em bandos quase assustadores, suportar as condições mais adversas, aproveitar-se dos mais diversos tipos de vegetais como fonte de alimentação, entre outras habilidades típicas das espécies selvagens, aí é que os papagaios-da-serra se diferenciam de outros do seu gênero!
Tanto é assim, que eles não são conhecidos por serem os mais apreciados como animais em cativeiro. Longe disso!
É como se o seu destino fosse mesmo os céus do sul do país, em meio às imensas florestas de araucária que ajudam a compor a paisagem dessa região.
Para eles, o cativeiro só é indicado mesmo para fins de conservação da espécie – para que sejam protegidos da ação dos temíveis caçadores de animais silvestres –, mas para logo serem inseridos no ambiente selvagem, que é a sua verdadeira casa, e onde verdadeiramente podem contribuir para o equilíbrio desse ecossistema do qual fazem parte.
É Possível Fazer um Papagaio-da-Serra Falar?
Já está por demais consagrado o método da repetição como estímulo ao aprendizado. E acredita-se que para fazer um papagaio-da-serra falar, esse seja ainda o melhor.
Alguns criadores garantem, também, que mostrar um objeto ao papagaio – enquanto pronuncia o nome desse mesmo objeto – é uma outra forma de estimular neles esse talento, pois, segundo eles, ele estaria apenas escondido, esperando algum estímulo para que possa despertar.
Outro fator decisivo, de acordo com alguns criadores, para desenvolver tal habilidade, é torná-lo um membro efetivo da família, concedendo-lhe o mesmo carinho que se concede a um filho, a fim de que ele ganhe a confiança necessária para que tente se comunicar.
O ambiente familiar também precisa ser bastante movimentado! Os ruídos e comunicações constantes entre os membros da família transformam-se num verdadeiro estímulo para que eles – que já são conhecidos pela curiosidade – procurem a todo o custo fazer parte da conversa, chamando a atenção para a sua existência no seio da família.
Também é curioso saber que os papagaios não possuem laringe. Na verdade, um órgão conhecido como siringe é o responsável por fazer com que os ruídos emitidos por eles soem como a reprodução de uma voz – semelhantemente ao que faz (guardadas as devidas proporções) a laringe dos seres humanos na parte anterior da traqueia.
E se tal fenômeno é possível de ser realizado pelos papagaios-da-serra, isso ainda é um mistério! No entanto, como todo o mistério, a sua solução só dependerá de maiores investigações e estudos – elaborados e aprofundados – com o intuito de se chegar à solução desse enigma sobre essa curiosa habilidade que têm alguns papagaios de falar.
O Que a Ciência Tem a Dizer Sobre Essa Habilidade dos Papagaios?
Um estudo publicado na revista Science – como resultado do trabalho de uma equipe de pesquisadores da Universidade Duke, na Carolina do Norte, EUA – pretende explicar um dos maiores “enigmas” da humanidade: qual é, afinal de contas, o mecanismo capaz de fazer com que os papagaios falem com tal desenvoltura e naturalidade?
As investigações realizadas por esses estudiosos apontam para um grupo de neurônios interligados no cérebro de algumas aves, que supostamente seria capaz de fazer com que elas reproduzam os sons dos seres humanos.
Tais grupos, localizados em determinados “centros nervosos”, a depender da sua complexidade, determinariam a complexidade da reprodução dos sons que eles ouvem à sua volta.
De acordo com o neurobiólogo da instituição, Erich Jarvis, o segredo talvez esteja em um gene chamado PVALB, que só existe no cérebro de pássaros que possuem o hábito de emitir sons semelhantes a cantos.
O que acontece é que, em determinados papagaios, esse gene comporta-se de forma diferente no centro nervoso, o que, para o especialista, foi considerada uma grata surpresa, já que, de certa forma, derruba algumas teses acerca da evolução dos animais na natureza.
Os cientistas responsáveis pelo projeto ainda não possuem dados conclusivos, e muito menos repostas definitivas sobre o que estaria por trás dessa incrível habilidade dos papagaios de falar com uma semelhança impressionante aos seres humanos.
No entanto, ao que parece, agora o caminho será no sentido de atribuir essa capacidade a determinado gene (e não apenas a uma constituição física), que já foi, no passado, responsável, inclusive, por atribuir aos papagaios um caráter quase divino.
Agora fique à vontade para deixar as suas impressões sobre esse artigo. E não deixe de compartilhar os nossos conteúdos.