Dizem que quanto maior a minhoca, maior o peixe. Se isso funciona assim mesmo, não é à toa que o minhocuçu andou ameaçado de extinção.
Minhocuçu é uma minhoca gigante e gordinha que pode ultrapassar facilmente um metro de comprimento. Rhinodrilus é um gênero de minhocas sul americanas da família glossoscolecidae. O gênero rhinodrilus de minhocas geralmente atingem um comprimento de até um metro. No Brasil já houve uma surpreendente exceção, uma espécie provavelmente extinta rhinodrilus fafner, que estima-se ter atingido comprimento de 210 centímetros, mais de dois metros! A minhoca rhinodrilus alatus, ou o minhocuçu, é uma minhoca gigante endêmica do cerrado brasileiro, usada como isca viva por cerca de 80 anos.
Rhinodrilus Alatus
A cor do corpo varia de marrom escuro a marrom, cinza claro, verde azulado, cinza amarelado a amarelo claro pálido. As cerdas são dispostas em linhas regulares e estreitamente emparelhadas no corpo dianteiro. O poro macho (espessamento glandular na vizinhança da abertura genital masculina) está localizado na área do cinturão. Os poros samenas estão, se presentes, geralmente em frente ao décimo primeiro segmento corporal. A aparência do cinto é em forma de anel ou em forma de sela.
Aproximadamente mais de 900 espécies de oligochaeta terrestres, das quais 93% são espécies nativas, são conhecidas na América Latina. Ao todo, 305 espécies (85% nativas e 15% exóticas) são encontradas no Brasil. No entanto, dadas as atuais lacunas de pesquisa, a diversidade do ecossistema, as condições climáticas e o tamanho do país, o número total de espécies é estimado em mais de 1.400. Apesar da reconhecida importância das minhocas para a manutenção de processos ecológicos e serviços ecossistêmicos, o pequeno número de especialistas que trabalham com esse grupo, principalmente os taxonomistas, é um fator que contribui para a falta de conhecimento sobre a biologia e ecologia das minhocas.
Minhocas Gigantes no Brasil
Minhocas gigantescas habitam todos os continentes. No Brasil, 51 das 53 espécies gigantes pertencem à família glossoscolecidae, principalmente nos gêneros rhinodrilus e glossoscolex, e apenas cinco das 53 espécies alcançam mais de um metro de comprimento. Embora minhocas gigantescas possam ser encontradas em todos os biomas brasileiros, a maioria das maiores espécies é encontrada apenas em áreas de vegetação nativa no bioma da Mata Atlântica.
O bioma Cerrado abrange 20% do território brasileiro e possui a flora mais rica entre as savanas do mundo e altos níveis de endemismo. A espécie endêmica rhinodrilus alatus é uma das 54 espécies de minhocas conhecidas por habitarem o Cerrado. A espécie tem sido usada como isca pelos pescadores esportivos desde a década de 1930. No entanto, apesar do uso humano quase secular da espécie e seu status taxonômico estabelecido (a espécie foi descrita há 40 anos), há pouca informação sobre sua biologia e ecologia.
Considerando sua longa história de extração do habitat para suprir as demandas dos pescadores, rhinodrilus alatus parece ser resiliente aos atuais altos níveis de exploração e perdas de habitat. Embora milhares de indivíduos de rhinodrilus alatus sejam extraídos a cada ano na região, o suprimento de minhocas gigantes a serem usadas como iscas sempre atendeu à demanda, mas há motivos para preocupações.
Recente Estudo Sobre a Minhocuçu
A história de vida, abundância, distribuição e resiliência da minhocuçu a certas perturbações são elementos chave a serem considerados nas estratégias de conservação e manejo para esta espécie. Por isso os departamentos de biologia das faculdades federais de Minas Gerais e Ceará realizaram juntos um estudo com o objetivo de fornecer informações sobre a história de vida, abundância e distribuição do minhocuçu e também avaliar como esses dados poderiam auxiliar na conservação e manejo das espécies.
Este estudo foi realizado em 17 municípios da região central do Cerrado em Minas Gerais. Diferentes tipos de vegetação ocorrem na área de estudo, incluindo árvores e savanas arbustivas e manchas ocasionais de uma floresta de dossel fechada chamada Cerradão. A vegetação nativa cobre 46% da região estudada. Um número acima de 800 minhocas foram extraídas diretamente do solo com o auxílio de uma enxada de cabo curto. Pouco mais de cinqüenta minhocas foram extraídas durante a estação chuvosa e o restante durante a estação seca.
Embora o Cerrado receba chuvas abundantes, concentra-se em um período de seis a sete meses entre outubro e março, principalmente durante a primavera e o verão. O outono e inverno são caracterizados por uma estação seca pronunciada. Análises do solo foram realizadas com o objetivo de relacionar características texturais e químicas com os locais de ocorrência e a história de vida do minhocuçu. Sítios não foram amostrados uma vez que todas as atividades de colheita seguintes tiveram sucesso na captura pelos extratores.
Resultados da Análise
Rhinodrilus alatus ocorre em todas as diferentes fisionomias vegetacionais do bioma Cerrado e em pastagens e campos de eucalipto em pelo menos 17 municípios da bacia do rio São Francisco, cobrindo uma área superior a vinte mil quilômetros quadrados. A espécie foi registrada em todas as áreas onde seguiram-se as atividades de colheita dos extratores locais. As pesquisas não foram realizadas em áreas convertidas em agricultura pois os minhocuçus reconhecidamente não ocorrem nessas áreas.
A umidade e temperatura do solo parecem ser fatores importantes no processo de aestivação de rhinodrilus alatus, como na maioria das espécies de oligochaeta terrestre, embora diferentes espécies tenham diferentes respostas adaptativas às condições ambientais. Por exemplo, todas as espécies em uma savana colombiana permanecem inativas durante a estação seca, como é o caso da minhocuçu. Os solos próximos às câmaras de minhocuçu são primariamente argilosos argilosos, muito ácidos e distróficos.
As minhocas são muito frágeis durante os períodos reprodutivos e de forrageamento. Eles são propensos a autotomia, morrem facilmente e têm trato intestinal completo, o que os faz perder valor comercial. Estas características, combinadas com a ocorrência simultânea da estação reprodutiva de minhocuçu e o período durante o qual as restrições de pesca são impostas devido à desova (estação reprodutiva dos peixes), criam um declínio na demanda por minhocas e contribuem para minimizar o impacto de extração no recrutamento populacional.
Entre as diretrizes diretamente relacionadas ao manejo de minhocuçu, o plano inclui regras obrigatórias, como usar o método de rotação para áreas de extração e cessar a extração de juvenis, evitando galerias estreitas, e nos meses chuvosos, de novembro a março. Além disso, o plano prevê o monitoramento contínuo da abundância e maturidade das minhocas extraídas e vendidas na região e das ações implementadas. Tal monitoramento abrangente visa incorporar os conceitos e práticas de gestão adaptativa, levando em conta a complexidade e imprevisibilidade desse sistema socioecológico. Os desafios potenciais para a sustentabilidade a longo prazo incluem o interesse do recurso natural governamental em apoiar e manter o manejo da fauna no Brasil.
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