Quem gosta de pescaria sabe que, entre os adversários da natureza que competem pelo seu peixe, estão as aves. E são muitas! Dependendo de onde você vive e por onde você pesca pode precisar espantar gaivotas, trinta réis, atobás, fragatas, pelicanos e até pinguins. Isso pra citar apenas alguns, pois são mais de 300 espécies da aves marinhas que existem por aí, mundo a fora ou mar adentro. Dentre as espécies, existe também o famoso albatroz.
O Que São os Albatrozes
Apesar de serem muitas vezes confundidos com as gaivotas, não é a mesma ave. Ás vezes são até chamados de gaivotão e isso porque, de fato, é uma clara característica que os diferencia das gaivotas. Os albatrozes são maiores! Enquanto as gaivotas em média possuem entre 60 e 70 centímetros de comprimento com uma envergadura de asa em torno de 1,5 metros, os albatrozes ultrapassam 01 metro de tamanho e sua envergadura pode atingir mais de 3 metros entre uma ponta e outra das asas. Além disso, apesar de algumas até atravessarem oceanos pra fugir do frio, as gaivotas são mais litorâneas. Os albatrozes, por outro lado, são de alto mar, cobrindo grandes distâncias pelos oceanos com pouco esforço e se colonizando sempre em ilhas remotas. Essas e outras características divergentes das espécies podem nos levar a seguinte comparação metafórica: enquanto as gaivotas são tipo os urubus do mar, os albatrozes são os abutres ou condores.
O Albatroz de Sobrancelha
Dentre as mais de 20 espécies no mundo e apesar de não ser a maior delas, nosso artigo grafa o albatroz de sobrancelha que se destaca das outras por algumas características peculiares. Ela se diferencia das outras pela suas asas negras ao contrário da plumagem branca por todo o corpo. Outra diferença é seu bico laranja com a ponta meio avermelhada. Mas a principal diferença é a que justifica seu nome.
O nome científico dessa belezinha é Thalassarche melanophris, traduzido é algo como ‘Governador do Mar de Sobrancelha Preta’. Seu nome é justificado porque esse albatroz tem uma curta faixa cinzenta logo acima de seus olhos bem marcantes.
Como já dito, não é considerada a maior da espécie. Dificilmente ultrapassa os 90 centímetros de comprimento e sua maior envergadura tem em média 2,5 metros. Seu peso corporal fica na média dos 03 ou 04 quilos. Mas sua impiedosa velocidade em busca de caça varrendo os oceanos é um destaque, assim como sua capacidade de mergulho. Podem mergulhar por até 5 metros de profundidade em busca de suas presas pra se alimentar. Como toda ave marinha que se preze, adora os frutos do mar. Apesar de suas tendência necrófagas ao comer cadáveres ou restos de comidas despejados nos oceanos, sua dieta alimentar natural compõe-se de lulas, medusas, krills e, claro, peixes. São mesmo muito parecidos com as aves de rapina porque não dispensam descartes de carne morta ao encontrarem pelo seu caminho. Estudiosos ainda debatem sobre a inclusão dessas aves nas classes das rapineiras. São visitantes indesejáveis ao redor de navios pesqueiros, sendo entusiásticos e até agressivos na disputas pelos peixes, pelas sobras e pelas iscas.
Ameaçados de Extinção
É exatamente essa impetuosidade em busca de peixes, essa competitividade agressiva com o homem em alto mar que quase levou essa espécie a ser extinta no início de nosso século 21. Em 2003 chegou a ser incluída na lista negra dos animais em extinção. Não pense que era intencional, por caça predatória ou algo assim. São eles mesmos, os albatrozes famintos e inocentemente inconsequentes que puseram sua espécie em risco.
Ocorre que esses esfomeados albatrozes muitas vezes se acumulam em grandes bandos atrás das grandes embarcações pesqueiras em alto mar. E esses navios geralmente usam um negócio chamado espinhel para capturar peixes. Quando as iscas são lançadas na água, esses danados investem alvoroçados para alcançar essas iscas, muitas vezes mergulhando pra conseguir pegá-las. Com isso, muitas acabam ficando agarradas aos anzóis e acabam morrendo afogadas.
Muito tem sido feito desde então para garantir a preservação dessa espécie. Movimentos diferentes em diversos países buscam iniciativas e cobram de autoridades competentes meios eficazes de proteger essas aves durante as operações de pesca, em especial as pescas industriais de grande porte. Sugerem equipamentos que consigam espantar essas aves de forma eficiente das proximidades dessas embarcações ou então soluções de posicionamento e peso nos anzóis pra impedirem o acesso dos albatrozes. Atualmente os albatrozes de sobrancelha estão classificados na categoria Quase Ameaçados (NT) pela PLANACAP (Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis), no Brasil.
Albatroz de Sobrancelha no Brasil
O albatroz de sobrancelha é natural das Ilhas Falkland, na região das Malvinas e da Geórgia do Sul, próximos a Antártida. São lá que geralmente se colonizam, nascem e reproduzem. E são instintivamente metódicos nisso, ou seja, por mais que saiam em vôos migratórios por aí, sempre voltam pra suas colônias no período de reprodução, fiéis aos seus ciclos naturais. Por isso, dentro desse período, geralmente entre agosto e outubro, o albatroz em idade de reprodução, geralmente entre os 06 e 13 anos de idade, retornam anualmente para suas ilhas isoladas, longe de predadores, cuidando de suas famílias. São fiéis e muito zelosos com seu ninho, seu ovo e seu cônjuge.
Fora desses períodos, porém, o albatroz de sobrancelha transforma todas as costas do hemisfério sul em seu quintal, seja nas ilhas oceânicas do Pacífico Sul como Nova Zelândia por exemplo, seja pelas costas continentais do Atlântico Sul como Cabo da Boa Esperança, Benguela e até Luanda na África.
Sua trajetória de viagem inclui naturalmente o Brasil, onde podem ser visto nos mares de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Também são registrados nas regiões marítimas de São Paulo e Rio de Janeiro. E até já foram flagrados percorrendo os mares ao norte da Bahia, em Alagoas e nas redondezas de Fernando de Noronha, em Pernambuco.
Também, com uma envergadura dessa nas asas mais sua massa corporal torna possível ter a serenidade de apenas flutuar no ar, com as asas quase imóveis, seguindo o movimento natural dos ventos alísios e do oeste. Assim é fácil poder passear tão distante de casa, não é?