O modo de vida do piolho-de-cobra é o típico de uma espécie de Diplópodes, que caracterizam-se pela afeição a ambientes úmidos, pouco iluminados e ricos em matéria orgânica. Por isso mesmo eles costumam habitar troncos apodrecidos, lixos acumulados, embaixo de pedras e demais ambientes que possuam tais características.
São cerca de 12.000 espécies em uma comunidade que, em diversos países, possuem os mais singulares apelidos, como: gongolo, embuá, maria-cafés (em Portugal), bicho-de-vaca (na Ilha da Madeira), entre outras denominações que geralmente têm a ver com as suas principais características.
Os piolhos-de-cobras são animais dentritívoros, isso quer dizer que, como dieta, eles dão preferência a restos de matéria em decomposição, como pequenos animais e vegetais, que eles ingerem e devolvem à natureza como um excelente fertilizante natural.
Quando em perigo, costumam enrolar-se, de forma bastante curiosa, como se isso verdadeiramente fosse capaz de impedir a visão da sua presença.No entanto, quando tal subterfúgio por algum motivo falha, é hora de lançar mão da estratégia de expelir uma substância relativamente tóxica capaz de afastar, por um curto espaço de tempo, o invasor, até que ele possa escapar do risco de ser a sua refeição do dia.
A constituição física desses Diplópodes é bastante simples. Ela limita-se a apenas um corpo cilíndrico, formado por cabeça e ânus, e entre eles um corpo segmentado ou em forma de anéis (entre 14 e 44), contendo um par de pernas cada um.
Tais características fazem dos piolhos-de-cobras um dos serezinhos mais repugnantes da natureza, ao passo que, quase que na mesma proporção, podem ser considerados um dos menos perigosos para a integridade física dos seres humanos.
O Modo de Vida do Piolho-de-Cobra
Como dissemos, o modo de vida dos piolhos-de-cobras é o típico de uma espécie de Diplópodes. Eles são mais afeitos às épocas mais quentes, chuvosas e úmidas; períodos em que podem ser facilmente encontrados até mesmo em residências, sob vasos de plantas, ralos, frestas, entre outros locais com características semelhantes.
Na natureza, eles dão preferência a troncos apodrecidos, buracos escavados em árvores, grutas, cavernas, em meio a vegetais e folhas em decomposição; ou em qualquer outro local com essas características, e onde possam aproveitar-se de restos de vegetais e de animais, que eles, em questão de semanas ou meses, transformam em matéria orgânica na forma de fezes.
Os piolhos-de-cobras são seres sexuados. Isso quer dizer que necessitam de um outro indivíduo do sexo oposto para que possam acasalar.
Durante o processo, o espermatóforo é introduzido na fêmea, que o acolherá em uma espécie de reservatório conhecido como gonóporo.
Após a fecundação, ela deverá colocar até centenas de ovos, que serão abrigados em regiões úmidas, escuras e pouco ventiladas, muitas vezes protegidas com as suas próprias fezes (na forma de húmus), até que estejam prontos para eclodir em algumas semanas.
Uma outra característica bastante peculiar dos piolhos-de-cobras é que, diferentemente do que se imagina, eles não representam qualquer perigo para os seres humanos.
Eles possuem um par de glândulas com uma substância tóxica que apenas serve como um mecanismo de defesa contra potenciais predadores, já que é capaz de expelir um líquido extremamente desagradável, e que lhes permite fugir de um provável ataque.
Piolho-de-Cobra: o Modo de Vida de um Fertilizador Natural
Ao que tudo indica esses animais – famosos por despertarem uma repugnância e aversão incomparáveis dentro da natureza – terão que ser olhados com um certo carinho daqui por diante, especialmente por quem quer que dependa da terra para produzir o seu sustento ou para algum tipo de atividade comercial.
Isso porque, para surpresa de muitos, o modo de vida dos piolhos-de-cobras é responsável por produzir grandes e excelentes quantidades de fertilizantes naturais, capazes de serem aproveitados para as mais diversas culturas.
Até mesmo durante alguns tipos de processos industriais para a produção de adubos e compostagem de restos de materiais orgânicos, é possível observar, já no momento de maturação da compostagem, uma grande comunidade de piolhos-de-cobras ali se formando, como se naturalmente fossem atraídos por esse tipo de material.
Na opinião dos técnicos da Embrapa Agrobiologia (Rio de janeiro), os piolhos-de-cobras são incomparáveis quando o assunto é a transformação de resíduos em matéria orgânica, pois eles são capazes de retirar das minhocas o prestígio de serem as grandes produtoras de fertilizantes naturais.
Eles executam uma verdadeira farra com todo tipo de resíduo, inclusive os que não podem ser adequadamente processados pelas minhocas-comuns, como: cascas de ovos, papelões, celulose, cascas apodrecidas, entre outros materiais que são reduzidos em pelo menos 2/3 do seu volume, graças à presença desses animais.
Um Verdadeiro Produtor de Fertilizantes
E tal é a qualidade dos adubos naturais produzidos a partir das fezes dos piolhos-de-cobras, que os profissionais envolvidos com esse tipo de técnica até já utilizam-se de um termo específico para denominar esse material.
Eles são chamados de “gongocompostos” – em uma alusão a um dos inúmeros apelidos que eles recebem (“gongos”), e que tão bem os caracteriza em várias regiões do país e do mundo.
Os gongocompostos não exigem, por exemplo, a adição de fertilizantes industriais, torta de mamona, pó de carvão, entre outros aditivos utilizados para potencializar os teores de nitrogênio dos fertilizantes.
De acordo com os técnicos do órgão, o adubo produzido por meio desse modo de vida dos piolhos-de-cobra já possui essas características; e ainda resultam em uma economia bem maior de dinheiro, tempo, além de outros inúmeros benefícios associados a eles.
São várias as possibilidades que essa técnica oferece! Cascas de banana, bagaço de cana, restos de vegetais, entre outros resíduos, facilmente disponibilizados em plantações, com a ajuda do apetite quase insaciável dos piolhos-de-cobras, são logo transformados em um dos compostos mais ricos em nitrogênio já produzidos.
Uma outra curiosidade acerca desse composto orgânico produzido a partir do trabalho paciente dos Diplópodes, é que o material a ser digerido por eles não precisa, necessariamente, ser previamente umedecido.
Resíduos secos, recolhidos em um ambiente do qual eles não possam escapar, e umedecidos no máximo 1 vez por semana, serão suficientes para a produção do composto.
O próximo passo será a paciência de esperar não mais do que 90 dias para o fim do processo. Durante os quais, esses resíduos reservados serão lentamente digeridos pelos gongolos.
E, ao final, o resultado será um acúmulo de fezes acompanhadas por restos de materiais não digeridos (porém triturados), que poderão ser utilizados em praticamente todo o tipo de cultura.
De acordo com os técnicos da EMBRAPA envolvidos nesse projeto de desenvolvimento de uma compostagem à base de matéria orgânica produzida pela ação dos piolhos-de-cobras, existe uma espécie mais qualificada para esse tipo de trabalho: e é a Trigoniulus corallinus.
Essa espécie, originária do Sudeste Asiático, segundo eles, pode ser encontrada em todas as regiões brasileiras. E em todas elas possui a característica de um apetite voraz e a capacidade de triturar, avidamente, até mesmo alguns materiais impensáveis para as minhocas-comuns, como o papelão, por exemplo.
Tudo isso torna essa experiência de utilizar o modo de vida dos piolhos-de-cobras para a produção de adubos orgânicos ainda mais recompensadora. E a sua disponibilização em larga escala, uma realidade! Capaz de potencializar a produção de pequenos, médios e grandes produtores em todo o país.
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excelente matéria,uma das mais completas que achei.