Os répteis, especialmente serpentes e crocodilianos, despertam a administração humana, por seu tamanho, ferocidade e beleza, dando origem a muitas criaturas mitológicas, como o Leviatã e os dragões da cultura oriental.
O Paleosuchus trigonatus, chamado jacaré-coroa, jacaré-pedra ou caimão-de-cara-lisa, é um pequeno crocodiliano da fauna sul-americana, o qual apresenta características interessantes.
Crocodilianos, Predadores Pré-Históricos
A ordem Crocodilia faz parte da classe Reptilia e abrange três famílias: Crocodylidae (crocodilos), Alligatoridae (jacarés e aligátores) e Gavialidae (gaviais), além dos Deinosuchus, Sarcosuchus e inúmeras outras espécies pré-historicas.
Estima-se que os primeiros crocodilianos tenham surgido no período Cretáceo, há aproximadamente 83,5 milhões de anos, a partir da evolução dos crocodilotársios, que habitavam a Terra desde o Triássico, por volta de 250 milhões de anos e se diferenciavam de outros répteis por possuírem articulações nas patas traseiras.
Junto com as aves, faziam parte dos primitivos arcossauros, sendo os únicos representantes atuais desse grupo, que incluía os extintos pterossauros e outros dinossauros não avianos, como a ordem Aetosauria.
São animais carnívoros, habituados a caçar próximo da água, ambiente em que podem submergir, deixando somente olhos, ouvidos e narinas acima da superfície, à espreita de suas presas, que são arrastadas para o fundo de rios e lagos.
Há casos em que chegam a predar seres humanos, atacando na maioria das vezes pessoas que estejam nadando ou caminhando próximo ao habitat, devido ao comportamento territorialista dos crocodilanos.
Em regiões populosas da África Subsaariana e partes do Egito, frequentemente pessoas e animais domésticos são vítimas de acidentes com crocodilos-do-nilo (Crocodylus niloticus), espécie que apresenta certo perigo ao ser humano, assim como o crocodilo-marinho (Crocodylus porosus), que tem histórico de ataques a povoados da Ásia.
De reprodução ovípara e poligâmica, em que há um macho dominante, se diferencia de outros répteis pelo fato de que a fêmea cuida dos filhotes durante a incubação até certo período após a eclosão.
Como é frequente na ordem Reptilia, são pecilotérmicos, ou seja, não possuem sistema de regulação de temperatura corporal, precisando se expor à luz solar, permanecer em contato com a água e alterar o ritmo dos batimentos cardíacos, principalmente no inverno, mantendo a circulação sanguínea apenas para regiões cerebrais e para o coração.
Animais longevos, costumam ultrapassar os setenta anos, havendo o relato de que um jacaré-americano (Alligator mississippensis), chamado Big Jane, tenha vivido em cativeiro até os oitenta anos e um crocodilo-americano (Crocodylus acutus) que alcançou 84 anos no Zoológico de Belgrado, onde chegou no final da década de 1930.
O crocodilano mais velho atualmente é um macho da espécie Crocodylus niloticus, com mais de 110 anos, que vive no Centro de Conservação Crocworld de Scottsburgh , na África do Sul.
Paleosuchus Trigonatus, o Popular Jacaré-Coroa
A definição de seu nome científico está relacionada à origem do animal, visto que Paleosuchus significa “crocodilo antigo”, enquanto trigonatus pode ser traduzido como “que possui três cantos”, em alusão às características físicas de seu crânio triangular.
Habita a Floresta Amazônica, desde as Guianas até parte da Bolívia, passando também por regiões do Equador e estados do norte do Brasil, de Rondônia e Mato Grosso ao oeste do Pará.
Vive próximo a riachos, cachoeiras e igarapés, preferindo águas rasas, onde possa encontrar diversas espécies de peixes, que são a base de sua alimentação, que também inclui outros pequenos répteis, roedores, anfíbios e invertebrados, como o caranguejo-do-igarapé (Goyazana rotundicauda) e o camarão-da-amazônia (Macrobrachium amazonicum).
Possui ninhadas de 10 a 20 filhotes, cujos ovos levam de 70 a 100 dias para eclodir, período que ficam em incubação no ninho, feito a partir de restos vegetais e sedimentos.
As principais ameaças à espécie tem sido o desmatamento, o garimpo e a poluição decorrente da ocupação urbana, que acarretam perda de habitat.
Animais da espécie também são mortos ao se enroscar em redes, anzóis e equipamentos de pesca ou mesmo caçados, em certas comunidades, para fins de subsistência.
Em que pese a degradação do seu habitat natural, a IUNC, organização internacional de conservação do meio ambiente, classifica o jacaré-coroa como uma espécie pouco preocupante em relação ao risco de extinção.
Pequeno Réptil Amazônico
Com machos medindo cerca de 1,7 metros, e fêmeas de 1,4 metros, junto com o jacaré-anão (Paleosuchus palpebrosus) de 1,2 metros, está entre os menores crocodilianos, considerado pequeno se comparado com a maioria das espécies dessa ordem.
Isso porque, as espécies de Crocodilia possuem em média de 3 a 5 metros, sendo que o Crocodylus porosus, encontrado nos Oceanos Índico e Pacífico, em países do Sudeste Asiático, leste da Índia e costa norte da Austrália, pode chegar aos 5,2 metros de comprimento e ultrapassar uma tonelada de massa.
Além do mais, espécies como o Purussaurus brasiliensis, extinto há cerca de 8 milhões de anos, alcançavam 12,5 metros e pesavam até 8 toneladas.
Não obstante seu tamanho, o Paleosuchus trigonatus ocupa o topo da cadeia alimentar, não possuindo predadores naturais, exceto quando filhotes, período em que os ovos estão sujeitos ao ataque de animais, tais como tatu-canastra (Priodontes maximus), quati (Nasua nasua) e teiú (Tupinambis teguxim).
O pequeno porte do jacaré-coroa, bem como o aspecto mais rústico de sua pele, faz com que não exista interesse na sua captura para fins comerciais, motivo pelo qual a espécie tem sobrevivido sem grandes impactos.
Curiosidades Sobre o Animal
Os crocodilianos em geral se locomovem próximos ao chão e também podem andar com o corpo levantado do solo, no chamado passo alto, sendo que já foi constatado que espécies menores tem a capacidade de galopar durante o passo alto, a fim de alcançar maior velocidade, que chega aos 14 km/h.
Durante o galope, o animal concentra o peso nas patas dianteiras, enquanto as traseiras movem o corpo para frente, para flexionaflexionando suas vértebras.
Habilidoso tanto na água quanto no solo, o Paleosuchus trigonatus captura suas presas próximo a cursos d’água, como as demais espécies, mas constatou-se que também tem a capacidade de buscar alimento em terra firme.
Outro comportamento curioso ocorre na reprodução, por volta dos meses de agosto e setembro, quando a fêmea põe os ovos perto de cupinzeiros e, diferentemente de outras espécies, precisa esvavar o local quando os filhotes nascem.
Para tanto, a fêmea, guiada por sons emitidos pelos filhotes, vai até o ninho, retira os ovos e cuidadosamente quebra a casca, para ajudar na eclosão, levando-os para a água em seguida.