Para entendermos como o Rio Grande do Sul (RS) se tornou o segundo maior estado brasileiro na criação de equinos – são quase 528 mil animais, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2018 – precisamos voltar alguns séculos para trás.
Antes da chegada dos conquistadores aos territórios da América não existiam cavalos por aqui. A primeira introdução do animal foi feita em 1493, por ninguém menos que Cristóvão Colombo.
História do Cavalo na América e no Rio Grande do Sul
O conquistador espanhol trouxe os animais da Europa para serem utilizados na exploração do Novo Mundo. Eles foram desembarcados na região que atualmente conhecemos como República Dominicana.
Já mas para o sul do continente, no século XVI, tanto os colonizadores como os padres jesuítas que se estabeleceram nos territórios hoje compreendidos por Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai, Peru e sul do Brasil introduziram cavalos nessas regiões. As raças trazidas foram o andaluz e o jaca espanhol.
Em ambas as introduções, o mesmo sucedeu: muitos animais foram abandonados e/ou passaram a viver livre e selvagemente. Assim, os que viviam nas regiões de pampa, sem predador natural, reproduziram-se, dando origem a uma nova raça equina: os cavalos crioulos.
Cavalo Crioulo
Nos pampas do sul do Brasil, Argentina e Uruguai o cavalo selvagem era conhecido como bagual – expressão até hoje muito usada no Rio Grande do Sul, que significa tanto o cavalo não-castrado, como o homem valente ou namorador e que também é utilizada como uma interjeição semelhante à “legal”.
Os povos originários, vendo que os conquistadores faziam uso do cavalo para transportar pessoas e cargas, aprenderam a domar esses animais selvagens de forma exímia, tornando-se assim povos cavaleiros.
Por volta do ano de 1600, já não era possível determinar a quantidade de cavalos crioulos selvagens existente nos pampas, de tantos que eram.
Por viverem soltos na natureza por cerca de 400 anos, sujeitos a todo tipo de intempérie: do frio congelante no inverno à seca e à falta de alimentação adequada, esses animais adquiriram grande resistência.
A seleção natural criou animais rústicos e fortes, que até hoje são características marcantes da raça.
Os cavalos crioulos foram os animais usados na mais famosa guerra do Rio Grande do Sul, a Revolução Farroupilha (1835-1845). Foi também no século XIX que os estancieiros gaúchos perceberam a qualidade dos cavalos crioulos.
Eles ganharam prestígio mundial no século XX, com a melhoria genética da raça, das técnicas de criação e de manejo dos animais. Geralmente são criados livres e soltos em grandes áreas de pastagem e, ao atingirem a idade adulta, é feito todo o processo de laçar e domar os animais.
Depois de domados e treinados, os cavalos crioulos se tornam dóceis e aptos para serem usados em diferentes tipos de tarefa nos pampas: para a lida diária no campo, montaria de trabalho dos tropeiros, montaria de passeio, animais de tração, meio de transporte, nos rodeios, no hipismo.
O cavalo crioulo, tão intrinsecamente conectado ao gaúcho e de tão importante para o Rio Grande do Sul, foi designado como um dos símbolos oficiais do estado.
Outras Raças de Cavalos Criadas no RS
Além do cavalo crioulo, principal raça criada no Rio Grande do Sul, o estado ainda possui criações expressivas de equinos de outras raças. As mais significativas são: quarto de milha, mangalarga, mangalarga marchador, árabe, inglês, morgan e percheron.
Quarto de milha: é a raça mais criada no Brasil e no mundo. Estima-se que mais de 50% da população equina mundial seja de quartos de milha. São muito utilizados para trabalhos no campo. Suas principais características são versatilidade, docilidade, robustez, agilidade e velocidade – sendo muito difíceis de serem derrotados em competições equestres.
Mangalarga: é uma das principais raças para prática de esportes e para trabalhos no campo relacionados à lida com o gado. São considerados um dos melhores cavalos de sela. Suas principais características são: bom andamento, resistência, membros fortes com tendões destacados e docilidade.
Mangalarga marchador: é um cavalo capaz de viajar longas distâncias sem se cansar. De porte médio, é muito resistente a doenças e se adapta com facilidade a qualquer terreno ou clima. Suas principais características são: força, agilidade, docilidade, temperamento ativo e energia.
Árabe: é uma das raças mais antigas do planeta – achados arqueológicos encontraram sua existência há 2500 a.C. Ideal para o trabalho no campo, resiste a longas jornadas sem se cansar e demandando poucos cuidado e alimentação. Suas principais características são: resistência física, temperamento ativo, trote e galope rasteiros.
Inglês: é um bom cavalo de sela para passeio, mas seu destaque principal são os esportes. É um excelente cavalo de corrida e também para provas com obstáculos. Suas principais características são: velocidade, coragem, valentia e temperamento ativo.
Morgan: originária dos Estados Unidos, dizem que os cavalos dessa raça é que escolhem o dono e não o contrário. São de fácil adaptação a qualquer ambiente. Suas principais características são: lealdade, versatilidade, docilidade, peito largo, orelhas pequenas e testas longas e inclinadas.
Pecheron: originário da França, foi um cavalo muito usado durante batalhas e como cavalo de carga. Atualmente é muito utilizado como cavalo de tração e também para competições. Suas principais características são: docilidade, força, resistência, rapidez de movimentos e patas traseiras ligeiramente mais curtas que as dianteiras.
Criação de Cavalos no Brasil e no Rio Grande do Sul
O Brasil é um dos principais líderes mundiais na criação de cavalos. De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), o país é o quarto maior criador de cavalos do mundo, atrás de Estados Unidos, China e México.
Segundo dados de 2018 do IBGE o país possui a cifra de mais de 5.571.000 equinos. Desses mais de cinco milhões, o Rio Grande do Sul detém cerca de 528 mil animais, atrás apenas do estado de Minas Gerais, que possui mais de 875 mil.
Essa expressiva cifra contribui enormemente para a agropecuária brasileira, visto que a criação de cavalos movimentou, em 2018, nada menos que R$ 16,5 bilhões, gerando em torno de 3,2 milhões de empregos.
As cinco raças mais criadas no país são quarto de milha, mangalarga, mangalarga marchador, árabe e crioulo.