O Suriname é um dos últimos lugares onde ainda existe uma oportunidade para conservar trechos maciços de florestas intocadas e rios imaculados onde a biodiversidade está prosperando. Garantir a preservação desses ecossistemas não é apenas vital para o povo do Suriname, mas pode ajudar o mundo a atender sua crescente demanda por alimentos e água, além de reduzir os impactos da mudança climática.
No Suriname do sul, nas florestas isoladas na savana de Sipaliwini, encontramos o dendrobates azureus, o sapo boi azul de nosso artigo.
Dendrobates Azureus
Este impressionante sapo de cor azul reluzente possui apenas uma pequena área de distribuição: só ocorre em florestas dispersas em uma área de savana no sul do Suriname e no extremo norte do Brasil, em condições climáticas semelhantes a do país vizinho.
Como outros sapos venenosos, essa espécie faz um veneno de pele forte. Graças à sua cor de aviso, ele pode se mostrar sem perigo durante o dia. O macho defende um território para o qual ele tenta atrair as fêmeas com um som suave. Uma fêmea coloca apenas 5 a 10 ovos em um lugar úmido no chão da floresta. Os ovos são bem guardados e mantidos úmidos por ambos.O macho transporta os girinos de costas para a piscina, muitas vezes não mais que a água da chuva no cálice de uma bromélia. Os filhotes são alimentados pela fêmea com ovos não fertilizados. O cuidado total às crias leva de 12 a 14 semanas.
As espécies adultas atingem comprimento entre 3 e 6,5 cm e vivem em seu habitat natural por 4 ou 6 anos (em cativeiro podem atingir 12 anos de vida). Pesam em torno de três a oito gramas e sim, são extremamente venenosos. Pode olhar, mas não pode tocar!
Uma Expedição e a Descoberta
Pesquisadores cientistas da Universidade de Utrecht, nos Países Baixos, relataram com detalhes sua viagem entre as fronteiras do Suriname com o Brasil, onde trouxeram informações interessantes sobre esse incrível sapo. Veja uma breve transcrição desse relatório:
Aconteceu no dia 8 de setembro de 1968, bem no começo da noitinha, quando cheguei no acampamento que montamos nas montanhas Gebroeders, no Suriname, próximo a fronteira com o Brasil. No acampamento todo mundo começou a me contar histórias entusiasmadas sobre o sapo azul e finalmente alguém reproduziu a ilustração de um e colocou em minhas mãos. Na verdade, era azul brilhante com manchas pretas, sem outras cores.
Foi sensacional, e ficou claro que eu estava olhando para uma nova espécie de anfíbio que diferia de todas os outros sapos venenosos conhecidos por suas cores vistosas. Percebi que estava claramente relacionado com dendrobates tinctorius, a única outra espécie de dendrobates conhecido do Suriname, mas com uma cor completamente diferente.
Foi uma estranha sensação, sentado em um pequeno acampamento florestal na fronteira do Suriname e do Brasil, sem qualquer literatura para consultar, mas ainda ser capaz de decidir que eu tinha acabado de descobrir um novo espécime no campo. Uma sensação única na vida. Já estava escuro e tarde demais para começar a procurar os sapos azuis, mas haveria o dia seguinte.No dia seguinte levantei cedo e depois de um bom café da manhã começamos a subir o Vier Montanha Gebroeders seguindo o fluxo do riacho. O riacho corria entre grandes pedregulhos e às vezes desaparecia completamente sob eles. A vegetação ao longo do riacho estava densa com muitas lianas balançando entre as árvores.
O Encontro e as Primeiras Impressões
Após cerca de 20 minutos eu vi meus primeiros dendrobates azuis na natureza. Estava repousando no chão da floresta sobre folhas, e quando me aproximei, ele se afastou com movimentos rápidos e curtos. Sua cor azul brilhante contrastava lindamente com as folhas mortas marrons. Foi fácil capturar. Durante a minha viagem pelo vale do riacho, vi muitos mais e colecionei alguns deles.
Me limitei a capturar mais do que alguns porque eu não tinha idéia sobre a extensão da ilha florestal e o tamanho da população dos dendrobates azuis. Além disso, na época, eu não sabia se essa espécie ocorreria em outras ilhas da floresta na região ou não. A maioria dos espécimes estava no chão, mas alguns estavam subindo troncos de árvores grandes para… ..onde?
Durante a minha estadia em Vier Gebroeders Bivouac (até outubro de 1968) descobri que as populações de sapos azuis estavam presentes em várias outras ilhas da floresta em torno da Montanha de Gebroeders. No entanto, devido ao tamanho das ilhas florestais e ao fato que elas não estavam interligados, troca de material genético entre as populações provavelmente era baixa.
Apenas alguns indivíduos foram coletados como evidência de presença em outras ilhas florestais. De volta à Holanda, comecei a trabalhar no material coletado e, finalmente, a descrição do novo dendrobates, que um ano depois foi publicado sob o nome dendobates azureus Hoogmoed, 1969.
Em 1970 voltei para a savana Sipaliwini em outra expedição e na época eu coletei 10 exemplares do sapo, e transportei-os vivos para a Holanda, onde eles formaram a base da primeira colônia legal de reprodução da espécie.
Informações Atuais
Dendrobates azureus, o sapo boi azul (como é vulgarmente conhecido no Brasil) é uma rã de tamanho médio, sendo suas fêmeas maiores e cerca de meio centímetro mais longas que os machos, mas os machos têm dedos maiores. Sua pele azul brilhante, geralmente mais escura em torno de seus membros e estômago, serve como um aviso aos predadores.
As glândulas de alcalóides venenosos possuem um mecanismo de defesa para potenciais predadores. Esses venenos paralisam e às vezes matam o predador. As manchas pretas são exclusivas de cada sapo, permitindo que os indivíduos sejam identificados. Esta espécie de sapo tem uma postura distinta de corcunda.
Dendrobates azureus é um animal da terra firme, mas fica próximo de fontes de água. Esses sapos passam a maior parte do tempo acordado, durante o dia, pulando em saltos curtos. Eles são muito territoriais e agressivos, tanto para a sua própria espécie como para outros. Para afastar os intrusos, eles usam uma série de chamadas, perseguições e lutas.
Como o cientista holandês pôde perceber, de fato essa espécie é mesmo nativa somente da região onde o encontrou, daquela extremidade do Suriname, atravessando a divisa no extremo norte brasileiro.
Apesar da animação da descoberta por Hoogmoed em 1969, cientistas atualmente tendem a tirar dele seu crédito, alegando que essa espécie é na verdade uma subespécie ou uma variação morfológica do dendrobates tinctorius.