As pulgas são insetos pertencentes à ordem taxonômica Siphonaptera. São classificados como parasitas externos (ou ectoparasitas), os quais, na fase adulta, se alimentam principalmente do sangue de mamíferos. Este padrão as torna capazes de infestar tanto animais domésticos quanto residências, razão pela qual podem ser chamadas de praga urbana.
As pulgas teriam sido responsáveis por grandes pandemias na história da humanidade, tais como a peste bulbônica no século XVI, a qual vitimou cerca de 75 milhões de europeus.
Estes insetos existem no planeta a pelo menos 60 milhões de anos. Acredita-se que o fóssil mais antigo (encontrado na costa do mar Báltico) seja oriundo do período terciário, mais precisamente do Eoceno.
No mundo inteiro, existem aproximadamente 3.000 espécies de pulgas. No Brasil, as literaturas apontam para valores entre 20 até 60 espécies.
O número geral de gêneros é surpreendente, são aproximadamente 310 gêneros e sub-gêneros conhecidos. Os quais estão agrupados em 15 famílias taxonômicas.
Neste artigo, você conhecerá características referentes a algumas dessas espécies.
Então venha conosco e boa leitura.
Classe Insecta Características Anatômicas Gerais
As pulgas são pertencentes à classe taxonômica Insecta, a qual representa, em termos quantitativos, mais de 70% de todas as espécies de seres vivos já descritas. Acredita-se que existam, na atualidade, cerca de 5 a 30 milhões de espécies de insetos (a grande variabilidade no numero é decorrente da falta de consenso entre os entomologistas). Dentro deste quantitativo, 1 milhão já foi devidamente catalogada.
Esses animais abrigam 30 ordens taxonômicas e podem ser encontrados em todos os ecossistemas do planeta.
Alguns outros artrópodes podem apresentar características muito semelhantes às dos insetos, no entanto, o diferencial destes consiste na presença de peças bucais externas, presença do órgão de Johnston e presença de 11 segmentos abdominais.
Em razão da ampla variabilidade de espécies, os menores insetos adultos chegam a medir 0,14 milímetros; ao passo que, os maiores medem 62 centímetros.
O corpo, no geral, é dividido em 3 tagmas (ou regiões principais), são elas a cabeça, o tórax e o abdômen. Cada uma dessas partes é revestida por um exesqueleto.
Este exoesqueleto é semelhante ao encontrado nos demais artrópodes com função de sustentação e proteção química e mecânica. É composto por muitas camadas resultantes da secreção de uma cutícula através de células epiteliais. De dentro para fora, as principais camadas dessa estrutura são a membrana basal, a epiderme e a cutícula. Esta última ainda se divide em subcamadas.
A cabeça possui forma de cápsula e abriga os olhos, as antenas e as peças bucais; a nível evolutivo, teria sido resultante da fusão de 6 segmentos. A variação das estruturas da cabeça em relação aos diferentes tipos de inseto é decorrente das diferenças nas capacidades evolutivas e no modo de vida.
A maioria dos insetos possui uma par de olhos compostos, os quais são relativamente grandes e posicionados na porção dorso-lateral da cabeça. O olho em si é chamado de “olho composto”, uma vez que possui subunidades funcionais (ou seja, minúsculas áreas em formato circular ou hexagonal, que também podem ser chamadas de omatídeos. Insetos como a libélula podem apresentar até mesmo milhares de omatídeos (em média, mais de 30 mil).
Os insetos também possuem ocelos ou olhos simples, os quais, na maioria das vezes, são em número de três, e estão posicionados na região superior da cabeça (chamada de vértex), mais precisamente entre os olhos compostos.
No caso das antenas, estas são apêndices móveis e multiarticulados, que são mais nítidas nos insetos adultos. Possui 3 partes: o escalpo, o pedicelo e o flagelo. As duas primeiras partes são uniarticuladas e únicas; ao passo que a terceira possui vários antenômeros (geralmente, um número variável de acordo com a espécie). Na base do pedicelo está localizado o órgão de Johnston, responsável por captar movimentos e vibrações. A importância sensorial das antenas é desempenhada, dentre outras estruturas, pelos pêlos sensoriais (ou sensilas), os quais que, com auxílio de receptores, também possuem função olfativa e de verificação da umidade e da temperatura. Para alguns insetos, essas antenas podem inclusive desempenhar um papel na audição, e auxiliar o cortejo sexual e fixação durante a cópula.
No caso das peças bucais, estas se articulam em cada um dos segmentos fusionados que compõem a cabeça. São derivadas dos apêndices móveis e possuem a função de manipular e inspecionar sensoriamente objetos e alimentos.
O tórax (também chamado de tagma) é encarregado das funções motoras; abrigando as patas e asas. É formado por 3 segmentos, sendo eles: o protórax, o mesotórax e o metatórax.
O abdômen possui 12 segmentos, sendo o último bastante reduzido. Em relação aos segmentos genitais, na fêmea, estes podem conter outras estruturas relacionadas às aberturas externas dos condutos genitais, com função de auxiliar a cópula e a transferência de esperma.
Pulgas Características Gerais
As pulgas seguem a divisão anatômica básica dos insetos, ou seja, cabeça, tórax e abdômen. Em relação ao tamanho, há variação entre 2 a 4 milímetros. O corpo costuma ser comprimido lateralmente e revestido por um tegumento liso, fatores que auxiliam muito na locomoção entre pêlos e penas do hospedeiro.
A fixação na pele ocorre através de fortes garras. A grande capacidade para o salto é favorecida pelas longas pernas posteriores.
Ao longo do corpo, possuem muitas cerdas grossas e curtas, assim como espinhos direcionados para trás, os quais mimetizam o formato de um pente.
Na cabeça, há duas antenas curtas alojadas no sulco, tal como aparelhos bucais sugadores (no caso, 3 estruturas chamadas de estiletes perfurantes). Algumas espécies apresentam olhos, enquanto que outras não.
As fêmeas costumam ser maiores do que os machos, estas também possuem a extremidade final do abdômen mais arredondada, uma vez que nesta região ficam alojadas as espermatecas.
Em relação a outras características comuns a todos os insetos, o tórax é dividido em 3 segmentos; e o abdômen possui 10 segmentos (os outros possuem entre 9 e 11 segmentos).
De cada segmento torácico parte um par de apêndices (mais precisamente 6 pernas, no caso das pulgas). A porção anterior deste tórax recebe o nome de protórax; no caso da medial, esta é chamada de mesotórax; e metatórax é a porção com ligação direta ao abdômen. Agora, considerando o dorso do tórax, os nomes são pronoto, mesonoto e metanoto- segmentos reduzidos no caso da pulga ser semi-penetrante, ou ainda, penetrante.
No caso o abdômen, há nomes específicos para as placas presentes no exoesqueleto formado por quitina. As placas dorsais são os tergitos, e as placas ventrais são os esternitos.
As pulgas realizam metamorfose completa (recebendo a denominação de holometabólicas). Logo, passam pelos 4 estágios de vida (no caso, ovo, larva, pupa e imago). O estágio imago equivale à fase adulta.
Para a maioria das espécies, tanto machos quanto fêmeas não estão completamente maduros ao emergirem da pupa, precisando de uma alimentação à base de sangue para que se tornem fertéis. Isso é bastante curioso, principalmente considerando que o primeiro sangue recebido ativa o ovário das fêmeas, assim como facilita a dissolução do plug testicular nos machos.
Para algumas espécies de pulgas, as fêmeas são capazes de por até 5.000 ovos ao longo da vida.
Quando uma pulga adulta não encontra um hospedeiro que possa fornecer sangue, esta acaba morrendo dentro de poucos dias. Em condições favoráveis, a pulga sobrevive por 2 a 3 meses. Caso as circunstâncias sejam mais favoráveis ainda, ou seja, com bons índices de temperatura, umidade e alimento, a expectativa de vida pode se estender para até 1 ano e meio.
Algumas espécies, contudo, manifestam um comportamento diferente de certos ‘padrões’ descritos em algumas literaturas, e, em condições de jejum absoluto, podem sobreviver por até 6 meses.
Pulgas Famílias Taxonômicas
As quase 3.000 espécies de pulgas estão distribuídas em aproximadamente 310 gêneros, os quais possuem também alguns subgêneros.
Em uma escala maior, no caso das famílias taxonômicas, estas são em número de 15. Uma das famílias mais famosas e com maior acervo bibliográfico a respeito é a Pulicidae.
Citando as demais famílias, estão são a Ancistropsylllidae, a Xiphiopsyllidae, a Ceratophyllidae, a Vermipsyllidae, a Chaimaeropsyllidae, a Tungidae, a Coptopsyllidae, a Stephanocircidae, a Ctenophthalmidae, a Rhopalopsyllidae, a Pygiopsillidae, a Hypsophthalmidae, a Ischnopsyllidae e a Malacopsyllidae.
Entre essas 15 famílias, 8 possui pelo menos um representante (no caso, gênero ou espécie) que já foi descrito/catalogado no Brasil.
Representantes das Famílias Taxonômicas no Brasil
Aqui no Brasil, dentro da família taxonômica Ceratophyllidae, é possível encontrar o gênero Nosopsyllus, o qual contém pulgas que parasitam ratos e camundongos. Na família Ctenophalmidae, o representante é o gênero Adoratopsylla, parasita de marsupiais e roedores silvestres. A família Ischnopyllidae possui vários gêneros encontrados no Brasil, tais como Hormopsylla, Sternopsylla, Ptilopsyla, Myodopsila e Rothschildopsylla.
Para a família Puliciae, os gêneros taxonômicos encontrados no Brasil são o Pulex, Xenopsylla e Ctenophalides. No caso da família taxonômica Leptopsyllidae, o gênero encontrado no Brasil é o Leptopsylla. Na família Tungidae, existem 3 gêneros encontrados no Brasil; são eles o gênero Tunga, Hectopsylla e Rhynchopsyllus.
A família taxonômica Rhopalopsyllidae é considerada a mais significativa entre as 8 presentes no Brasil, uma vez que nesta família estão agrupados nada menos do que 50% das espécies de pulga encontradas por aqui.
Existem ainda duas famílias adicionais sem confirmação, apenas suspeitas de espécies existentes por aqui, são elas a Pygiopsyllidae e a Malacopsyllidae.
Relação Pulga e Hospedeiro
A associação entre a pulga e o hospedeiro, assim como a distribuição e quantitativo de ovos depende de uma diversidade de fatores como a temperatura, umidade relativa do ar, altitude e longitude, assim como o clima no ninho do hospedeiro. Alguns estudos apontam preferência de certas espécies por um determinado intervalo de altitude específico. Para outras espécies, a temperatura local também é bastante relevante.
É comum que cães e gatos desenvolvam dermatite alérgica em decorrência de infestação crônica por pulgas. Nesta dermatite, há coceira intensa, a qual pode resultar inclusive em ferimentos decorrentes dos arranhões e lambidas intensas. A inoculação do material antigênico, oriundo das glândulas salivares das pulgas seria o causador destes sintomas.
Pulex irritans
Esta espécie é conhecida por ser a que mais ataca o homem. No entanto, também parasita vários mamíferos e aves. Os animais domésticos estão inclusos neste contexto.
A espécie provavelmente é originária daqui da América do Sul. Seus primeiros hospedeiros teriam sido o porquinho-da-índia (nome científico Cavia porcellus) ou os pecari (família taxonômica Tayassuidae, a qual inclui porco selvagens como a queixada e caititu).
A mordedura desta pulga em humanos resulta em sintomas como vermelhidão, comichão e inflamação cutânea. Estes animais são capazes de moverem-se com facilidade em áreas com certa concentração de pêlos, a exemplo das sobrancelhas, pestanas, couro cabeludo e área púbica. Em relação ao tratamento, para o corpo, recomenda-se depilação; para os cabelos, é necessário utilização de xampus indicados pelo médico, bem como pentes específicos.
Esta espécie é considerada um hospedeiro intermediário para o céstode Dipylidium caninum, o qual parasita cães e gatos domésticos. Este parasita causa inflamação da mucosa intestinal, resultando em sintomas como cólica, diarreia, redução do apetite e emagrecimento. Casos mais graves envolvem obstrução intestinal e até mesmo manifestações neurológicas.
No gênero Pulex também estão inclusas mais 5 espécies, as quais são são encontradas na região Neártica (área que compreende a América do Norte), e na região Neotropical (a qual compreende as ilhas caribenhas, o Sul da Flórida, a península de Baja Califórnia, a América Central e América do Sul).
Xenopsylla cheopis
A Xenopsylla cheopis é uma pulga conhecida por infectar ratos, sendo considerada a principal responsável pela transmissão da peste bubônica, velha conhecida de nossos livros de história. Esta doença possui como agente etiológico o bacilo gram-negativo Yersinia pestis, o qual é transmitido para o homem através da picada da pulga do rato que esteja infectada.
Além da velha conhecida peste bulbônica, esta pulga também pode transmitir tipo murinho. No caso desta infecção, o agente etiológico é a Rickettsia tiphi. A infecção também pode atingir os homens que trabalham em locais infestados por ratos. O controle químico das pulgas é considerado uma medida emergencial. Agora, para longo prazo, deve-se manter boa higienização de modo a evitar proliferação de roedores principalmente m habitações e locais de depósitos de alimentos.
Morfologicamente, apresenta cerda pré-ocular, assim como cerdas em formato de V na porção superior da cabeça. Quando alimentada, pode atingor uma longevidade estimada em 100 dias.
No mesmo gênero há outra espécie também amplamente disseminada na América Latina: a Xenopsylla brasiliensis. Esta, apesar do nome, é de origem africana.
Ctenocephalides canis
Essa espécie é considerada ectoparasita do cão doméstico. Possui peças bucais adaptadas para a tarefa de perfurar a pele e sugar o sangue. O primeiro sintoma é de coceira intensa no local da picada.
Essa pulga é bastante semelhante à pulga de gato (nome científico Ctenocephalides felis), a qual será citada abaixo. As diferenciações incluem cabeça arrendondada, em contraposição à cabeça alongada da pulga de gato; e 8 entalhes com cerdas (e não 6).
A pulga de cachorro pode auxiliar a espalhar o Dipylidium caninum, também chamada de tênia pulga, tênia pepino ou ainda tênia de poros duplos; cujo o verme adulto possui cerca de 46 centímetros de comprimento.
Tais pulgas podem despejar até mesmo 4.000 ovos na pele de seu hospedeiro. Em situações mais graves, a anemia está inclusa dentro do acervo de sintomas. Em humanos, pode ocorrer erupções cutâneas, geralmente em dobras de articulações, com pequenos inchaços que sangram com facilidade.
Nos cachorros, estas pulgas têm preferência por áreas como a cabeça, pescoço e cauda. Como reação ao incômodo das picadas, os cães tendem a morder ou arranhar bastante essas áreas, de modo que fiquem vermelhas ou até mesmo inflamadas. Quando o cão é alérgico à saliva da pulga, os sintomas são ainda mais pronunciados.
A prevenção consiste na remoção mecânica das pulgas, assim como higienização frequente dos locais. Já em relação às alternativas de tratamento, pode-se citar os sprays, ampus, produtos orais e injetáveis, assim como outros artifícios.
Ctenocephalides felis
Para esta espécie, tantos machos quanto fêmeas medem entre 1 a 2 milímetros de comprimento. Possuem uma coloração normalmente marrom avermelhada.
A pulga do gato infecta igualmente cães e gatos, além da possibilidade de infecção para outros carnívoros e onívoros. Uma vez adulta, a pulga dificilmente deixará o seu hospedeiro ou será transmitida a outro.
Os sintomas não são tão pronunciados, exceto quando há alergia a alguma substância presente na saliva da pulga. A desidratação também é um sintoma comum, principalmente entre os animais de pequeno porte. Quando a infestação já está mais grave, ocorre anemia em razão da perda de sangue.
As pulgas de gato podem transmitir outros parasitas, assim como infecções para gatos, cães e até mesmo seres humanos. Dentro deste contexto, os mais conhecidos são a Bartonella (gênero de bactérias gram negativas, as quais também podem ser transmitidas por carrapatos, flebotomíneos e mosquitos), algumas dermatites e o tifo murinho.
Os sintomas do tifo murinho podem se assemelhar aos do sarampo, rubéola e até mesmo febre maculosa das montanhas; sendo eles a dor de cabeça, dor muscular e articular, vômito, náusea, febre, erupções cutâneas e até mesmo convulsões, em alguns casos.
Ainda existem outros parasitas e infecções potencialmente transmissíveis através desta pulga, tais como a tênia Dipylidium caninum ( a qual já foi citada para o caso da pulga de cão), a qual é transmitida especificamente pela ingestão de uma pulga de gato adulto por um animal ou por um ser humano; e a Borrelia burgdorferi, bactéria considerada o agente etiológico da Doença de Lyme. Contudo, as chances de transmissão da Doença de Lyme são consideradas mínimas.
Tunga penetrans
A Tunga penetrans é conhecida popularmente como bicho-de-pé. Possui origem sul-americana, sendo mais comum em áreas rurais. O nome bicho-de-pé foi atribuído devido a certa preferência pela pele em torno dos dedos dos pés, a qual é mais fina. Outras áreas de preferência são as mãos, o calcanhar e sola dos pés. Pessoas com o hábito de andarem descalças por terrenos arenosos ou alagados com infestão dessa espécie são com certeza as maiores vítimas.
Outros nomes para a espécie são bicho-de-cachorro, bicho-de-porco, bitacaia, bichô, batata baroa, dengoso, taçuru, tartané, sico, vitacaia, tunga, zunga, moranga, esporão, jatecuba, pulga-de-areia; entre outros nomes.
Em relação à origem, acredita-se que esta pulga teria surgido nas porções tropicais e subtropicais das Antilhas e do continente americano. A chegada de Colombo á América, possibilitou que a espécie fosse conhecida na Europa. Na África, este ectoparasita teria sido introduzido por europeus, em meados do século XVIII, chegando na Ásia posteriormente. No ano de 1993, sua presença foi relatada na Nova Zelândia.
A coloração é vermelho-amarronzada. Possui fronte angulosa, olhos pequenos e corpo naturalmente segmentado (contudo, nas fêmeas fecundadas, esses traços de segmentação podem desaparecer).
Não possui mais do que 1 milímetro de comprimento. As coxas posteriores são desprovidas de espinhos na porção interna. Não há protuberância na base dos fêmures do 3° e 4° par de patas. No 2º segmento não há presença de estigmas.
No caso do macho, este apresenta todos os espiráculos abdominais do mesmo tamanho, característica que não é observada nas fêmeas, as quais possuem espiráculos anteriores diminutos e espiráculos posteriores muito desenvolvidos. Uma das prováveis justificativas para o desenvolvimento dos espiráculos posteriores é o fato destes estarem em contato com o ar, no momento em que a fêmea penetra a pele o hospedeiro (a qual ocorre apenas após a sua fecundação).
O bicho-de-pé causa a tungíase, a qual pode resultar em infecções secundárias e até mesmo formação de úlceras. A coceira característica é resultante de uma substância liberada por esta pulga para perfurar a pele.
No caso da fêmea fecundada em particular, esta utiliza o sangue e o líquido tissular do hospedeiro para nutrir seus ovos. Durante este processo (dentro do período estimado entre 8 a 10 dias), ela pode inchar em até 80 vezes. Esse inchaço resulta em uma estrutura bem particular no hospedeiro, a qual recebe o nome de neosoma.
Mesmo com a invasão tissular, a fêmea mantém certa abertura para o exterior, por meio da qual expele os ovos e respira. Por dia, são expelidos cerca de 100 a 200 ovos, até completar o quantitativo de 3 mil. O mais curioso é que, após finalizado o processo, a fêmea sai e morre, ou pode ser destruída pelo próprio hospedeiro.
Cada eclosão dos ovos dá origem a uma larva, a qual se desenvolve em local úmido e sombreado. A maioria das pulgas possui 3 estágios larvais, contudo o bicho-de-pé possui apenas 2. O segundo estágio larval migra para o solo seco antes de se transformar em pulga, desta forma, protegendo o casulo contra detritos. Entre o ovo e a fase adulta (estando o período larval no meio do processo), a duração estimada é entre 4 a 6 semanas.
Além das áreas mais afetadas por essa pulga nos seres humanos ( tais como regiões específicas dos pés e das mãos), outros locais também são passíveis de infestação. Neste caso, até mesmo zonas relativamente improváveis como o ânus, pálpebras e escroto. Ainda há casos nos quais o hospedeiro desenvolve infestação em praticamente todo o corpo.
Complicações de uma tungíase não controlada envolvem dificuldades na postura e na locomoção, assim como necrose óssea ou necrose tendinosa. Casos mais graves podem envolver até mesmo a perda dos dedos.
Algumas infecções secundárias também podem se manifestar em paralelo à tungíase, gerando certa vulnerabilidade a bactérias como o Clostridium perfrigens (causador da gangrena gasosa), o Clostridium tetani (causador do tétano) e vulnerabilidade à infecção fúngica como as blastomicoses (causadas pela inalação do fungo Blastomyces dermatidis).
Nosopsyllus fasciatus
Esta pulga também é chamada de pulga de rato do Norte e, como o próprio nome indica, é encontrada em camundongos e ratos domésticos. São ectoparasitas originários da Europa que foram transportados até as regiões temperadas do planeta.
Possui corpo alongado, com comprimento estimado entre 3 a 4 milímetros. Possui um ctenídio (ou seja, cerda rígida) o protórax (segmento mais anterior do tórax), contendo um total de 18 a 20 espinhos. Possui uma fileira de 3 cerdas abaixo dos olhos.
Tanto macho quanto fêmea possuem um tubérculo proeminente à frente da cabeça. No fêmur traseiro, há um total de 3 a 4 cerdas em sua face interna.
Esta pulga parasita principalmente o rato da Noruega, contudo, já foi observada alimentando-se de outros roedores (no caso, selvagens), e até mesmo de seres humanos.
Na Europa, Austrália e América do Sul, esta pulga é hospedeira da tênia Hymenolepis diminuta, helminto que mede entre 10 a 60 centímetros. Os ovos dessa tênia desenvolvem-se no intestino de artrópodes (principalmente pulgas); tais artrópodes são ingeridos por ratos, e estes podem contaminar humanos através de suas fezes. A infecção humana costuma ser assintomática na maioria das vezes, contudo crianças podem manifestar diarreia.
Dicas para Prevenir a Infestação por Pulgas
No site do Instituto Oswaldo Cruz estão presentes algumas recomendações para prevenção da infestação por pulgas. O instituto conta com um acervo de mais de 18 mil espécies , entre as quais todas as regiões do país estão representadas, assim como pulgas não comumente encontradas por aqui.
Uma informação importante dentro do tema diz respeito às condições favoráveis na qual as pulgas se reproduzem. A temperatura favorável encontra-se entre 25 a 35 °C, e a condições de umidade entre 70 a 90%. As pulgas não suportam temperaturas nem muito altas nem muito baixas.
Uma boa dica para evitar a colonização de pulgas em um ambiente específico é mantê-lo sempre limpo, varrendo e aspirando com regularidade, assim como permitindo a entrada de sol e de vento. No caso dos animais de estimação, os banhos regulares são sempre uma boa pedida.
Depois que a infestação já está instalada, também há dicas que podem auxiliar a reverter a situação. Nestes casos, é importante descobrir onde as pulgas estão fazendo a postura dos ovos. Os locais mais frequentes para postura são frestas, rodapés, ou atrás de móveis. Recomenda-se o uso de inseticidas nestes locais. Outra dica é colocar no ambiente uma bacia com água e detergente, agitar até formar espuma e colocar uma luz forte acima desta bacia. A idéia é que as pulgas sejam atraídas pela luz refletida na água e pulem para dentro da bacia.
No caso das pulgas que infestam ratos, apenas a utilização de raticidas não é suficiente, uma vez que a substância vai matar apenas o rato e não a pulga, a qual estará no ninho esperando que o roedor volte. Caso não volte, as pulgas saem do ninho para buscar alimento no homem (o qual é considerado seu segundo hospedeiro). Logo, eliminar o rato é importante, mas deve ser acompanho de medidas como a procura do ninho e limpeza/dedetização do mesmo.
Pulgas em Animais de Estimação: Dicas Valiosas
Quem é dono de um cão ou gato deve estar atento e observar se o pet está se coçando com muita frequência. A maior atenção deve ser dada durante as estações de primavera e verão, nos quais há maior proliferação destes parasitas.
Nos animais de estimação, pulgas em grande quantidade podem até mesmo causar a morte do animal, sendo consideradas tão perigosas quanto a cinomose (virose fatal para os cães).
Além da coceira, cães e gatos podem começar a se arrastar por paredes e móveis, assim como manifestar um comportamento mais irritadiço.
Uma boa dica é observar a raiz dos pelos do animal. A confirmação de infestação se dá na presença de pontinhos pretos com tom avermelhado em volta. Nestes casos, é imprescindível levar a um médico veterinário.
Mesmo com a grande variedade de produtos no mercado que prometem a eliminação destes insetos, muitos não funcionam. Fatores como o local e a fase de infestação também estão diretamente relacionados à eficácia desses produtos.
O antipulgas deve ser sempre o recomendado pelo veterinário. Comprar o produto por conta própria pode colocar em risco a saúde e até mesmo a vida do pet. Da mesma forma, é desaconselhável utilizar o mesmo xampu do cachorro no gato e vice-versa.
Antes de aplicar o antipulgas, deve-se lavar o animalzinho com um xampu neutro ( o cuidador também pode seguir apenas esta etapa antes da consulta com o veterinário).
Existem algumas opções de soluções caseiras que podem aliviar o problema sem gerar agressão química ou alergias (no entanto, é importante sempre estar atento ao aparecimento de reações).
A primeira dica caseira é misturar dois copos de alecrim com duas canecas de água e deixar ferver durante 30 minutos, coando e descartando as folhas em seguida. O material fervido deve ser misturado em um galão com água quente. A mistura deve ser aplicada no animal, deixando secar naturalmente. Após secar, basta passar um pente para remover as pulgas.
A outra dica é basicamente preventiva. Pingar óleo de eucalipto na coleira do animal poderá protegê-lo, uma vez que a solução é conhecida por manter as pulgas bem longe.
Ter cuidado com a higiene da casa, assim como de itens com os quais o cão tiver contato (por exemplo, as roupas) são procedimentos que também não devem ser negligenciados.
Além de remover as pulgas dos pêlos do animal, é importante ter a consciência que o parasita pode se espalhar por toda a casa, principalmente através de ovos e larvas. Neste caso, o mais indicado é utilizar um aspirador de pó, uma vez que o equipamento consegue alcançar até mesmo espaços como o interior de carpetes, quinas da parede e arredores do sofá.
As roupas as quais o animal teve contato devem ser lavadas com água quente. Outra dica é utilizar um desumidificador, uma vez que as pulgas têm a necessidade de umidade em torno de 50% para sobreviver. Logo, a função do desumidificador neste contexto é manter a umidade abaixo dos 50% durante 2 dias, dessa forma, será capaz de matar pulgas, larvas e ovos presentes no ambiente.
Casos mais extremos de infestação no ambiente podem implicar na eliminação dessas pulgas apenas após alguns meses. Nestes casos, é importante ser bastante paciente e repetir estes procedimentos com frequência.
Outros Insetos de Importância Médica
Dentro da classe Insecta, existem muitos mosquitos hematófagos considerados agentes infecciosos a partir da inoculação do agente etiológico diretamente na corrente sanguínea. Estes insetos são famosos por doenças como a malária, febre amarela, dengue, filariose, febre do Nilo Ocidental e encefalite japonesa. Muitas destas doenças confuguram problemas de saúde pública significativos, com dados em torno de até 17 mortes no mundo ao ano.
No caso da subfamília dos flebotomíneos, esta abriga vários gêneros de moscas hematófagas, conhecidas inclusive pela transmissão da leishmaniose visceral e tegumentar. A mosca Tsé-tsé é conhecida pela transmissão da Doença do Sono.
Dentro da subfamília dos triatomíneos, estão presentes várias espécies que atuam como vetores para a transmissão da Doença de Chagas, ao defecar próximo a zonas de lesão.
Em relação, mais precisamente, aos insetos hematófagos, a transmissão de doenças está mais relacionada a características biológicas e ecológicas, tais como a longevidade, a capacidade reprodutiva, o local e horário de maior atividade; assim como temperatura, umidade, altitude, e até mesmo frequência de chuvas.
Algumas medidas de prevenção para doenças causadas por insetos incluem utilizar na pele repelentes à base de dietiltoluamida (DEET) ou picaridina, enquanto permanecer ao ar livre. É importante se certificar da presença destas substâncias no produto, tomando cuidado para não aplica-lo nos olhos, boca e ferimentos, assim como nas mãos de crianças pequenas (em razão do risco de levarem as mãos aos olhos e à boca).
No caso do DEET e da picaridina, os produtos devem conter essas substâncias, contudo não devem exceder a concentração máxima definida pela Anvisa. Para o DEET, a cencnetração média é de 30 a 35% (máximo de 50%); e, para a picaridina é de 20%.
Em áreas endêmicas, é recomendável utilizar camisas de manga comprida, assim como calças; de modo a reduzir a área exposta à picada de insetos.
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Agora que você já conhece algumas das mais famosas, entre as 3.000 espécies de pulgas existentes, nossa equipe o convida para continuar aqui conosco e visitar também outros artigos do site.
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REFERÊNCIAS
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