Das Florestas aos Desertos
O interessante quando estudamos os biomas, ou seja, uma determinada cobertura vegetal (ou a ausência de) e toda a respectiva biodiversidade associada, é observar o quão podem variar os aspectos ecológicos e ambientais entre estes ecossistemas.
Aliás, o próprio termo ecossistema já explica muito o que são os biomas, e porque eles variam entre si, se lembrarmos a composição hierárquica que se assume em suas formações (aquilo que aprendemos no ensino fundamental): célula -> tecido -> organismo -> população -> comunidade -> ecossistema.
Com isso podemos raciocinar que um bioma, que é a composição de diferentes espécies de vegetais, animais, fungos, e demais seres microbiológicos distribuídos em uma determinada área geográfica, terão populações devidamente selecionadas pelas pressões ambientais, como a presença de águas superficiais (rios, lagos, e toda a composição da respectiva bacia demográfica), o regime de chuvas, a pressão atmosfera, altura, todos esses parâmetros inclinados de acordo com a região do globo que se pretende observar.
Por exemplo, peguemos dois biomas estritamente diversos entre si: uma floresta tropical úmida e um deserto.
O primeiro bioma é bem caracterizado por apresentar uma rica e elevada biodiversidade, como por exemplo a Amazônia que possuí aproximadamente um quinto da diversidade biológica do planeta, além de apresentar grandes composições hidrográficas, e um bem determinado regime de chuvas, os que permitem a floresta albergar uma elevada quantidade de espécies.
Já o segundo é reconhecido por ser o inverso da floresta tropical: devido à ausência de cobertura de vegetação, isto devido ao regime de chuvas ser absurdamente limitado, consequentemente faz com que os desertos tenham uma baixa biodiversidade quando comparada com uma floresta tropical (ou mesmo outros biomas, como savanas, cerrados, tundras, taigas e campos gerais).
Se pegarmos um mapa mundi e vermos onde estão localizados estes biomas – as florestas tropicais e os desertos – pode-se reconhecer um padrão compartilhado na localização entre representantes dos primeiros (dentro dos trópicos), e entre os representantes dos segundos (fora das linhas tropicais), indicando que os trópicos compõem um regime pluvial que, associados as condições geográficas locais, possibilita maior recursos para suportar uma elevada biodiversidade.
Claro que a modificação ambiental ocasionada pela ação humana é atualmente a principal força que vem selecionando as espécies biológicas (seleção artificial).
Biodiversidade dos Artrópodes
Se existe um grupo que funciona como um excelente indicador para os diferentes aspectos ecológicos que cada bioma assume, podemos citar tranquilamente os artrópodes.
Este grupo é tão numeroso que se considerarmos todas as espécies já identificadas no mundo, metade desta é composta pelos representantes dos artrópodes, com maior contribuição da classe Insecta, entretanto as outras classes apresentarem elevada quantidade quando comparado com os outros grupos de invertebrados.
Tal feito que fez dos artrópodes os grandes dominadores do mundo é solidamente baseado na seleção natural e estratégias de adaptação: eles foram os primeiros animais a possuir uma engenhosa estrutura corporal (artro = articulação; podes = patas), o que permitiram uma extrema agilidade se compararmos com os outros filos dos invertebrados (como os anelídeos, e os platelmintos, grupos esses ancestrais, quando observados na escala evolutiva).
Além da locomoção (pense: a primeira vez que surgiu animais com asas no planeta foram com os insetos), outra conquista também foi importante, como o exoesqueleto de quitina que permitiu que os artrópodes dependessem menos de ambientes úmidos, quando comparado com os seres mais antigos, evitando assim perda hídrica mesmo em biomas mais secos.
Também pode-se citar que até a “Era dos Artrópodes”, não se havia órgãos sensoriais tão elaborados, como as antenas e outras estruturas receptoras de estímulos (fotorreceptora, quimiorreceptora, etc).
O Artrópodes Peçonhentos
Uma das grandes características pelos quais os artrópodes são lembrados é pela sua peçonha: a produção e inoculação de toxinas (a partir de ferrão ou outras estruturas, como cerdas), seja para fins de defesa (contra possíveis predadores) ou ainda para fins de ataque (caça e obtenção de alimento).
Sabendo que o filo dos artrópodes é dividido (desconsiderando alguns grupos inferiores) em cinco classes: crustáceos, aracnídeos, quilópodes, diplópodes e insetos, podemos verificar representantes peçonhentos em quase todos destes grupos.
Nos insetos, é sabido que das capacidades de estrago que um enxame de abelhas pode causar, assim como suas espécies mais próximas: marimbondos, vespas, todavia que as propriedades de suas toxinas são utilizadas para fins médicos e terapêuticos.
Outra peçonhenta famosa nos insetos é a própria taturana, esta que corresponde à um estágio da vida dos representantes da ordem Lepidoptera (grupo das mariposas e borboletas), pois quando larva apresenta grande quantidade de cerdas que causam queimaduras, protegendo-se assim de possíveis predadores e parasitas.
Observando os crustáceos, grupo dos artrópodes cujo os representantes estão presentes em sua maioria nos ambientes aquáticos, se, todavia, eles não possuem representantes famosos que façam uso de peçonhas e venenos, há identificado já uma espécie que faz uso deste tipo de mecanismo de defesa/ataque, como a Speleonectes tulumensis.
Já os quilópodes e os diplópodes, comumente chamados de centopeia, entretanto esse termo não ser sensível para separar estas duas classes, são diferenciados principalmente pela presença de peçonha: enquanto os diplópodes (lacraias) apresentam peçonha com toxinas, os quilópodes (piolho-de-cobras) não possuem tal estruturas, sendo inócuos quando se fala de inoculação de veneno.
Agora, se pensarmos nos aracnídeos, e principalmente nos seus dois mais lembrados representantes – as aranhas e os escorpiões – estes sim são os artrópodes com peçonhas bem desenvolvidas, e com aspectos mais ameaçadores, porém eles não serem tão nocivos como nós humanos.
O Escorpião-Preto: Algumas Curiosidades
Se compararmos qual dos dois animais é mais peçonhento, com certeza os escorpiões ganharão das aranhas, não tanto pela periculosidade da toxina, mas principalmente por todos os representantes do primeiro grupo apresentarem-se necessariamente peçonhentos, enquanto muitas espécies de aranhas não apresentam peçonha.
O escorpião (ordem: Scorpiones) podem ser mais assustadores do que as aranhas (ordem: Araneae), já que a anatomia do corpo do primeiro fez que seu abdominal se desenvolvesse à um ferrão mais extenso e dinâmico do que a da segunda, tendo ainda seus pares de patas dianteiros em forma de pinça, aumentando o aspecto ameaçador do bicho.
Com aproximadamente 2.000 espécies identificadas, esta ordem de invertebrado é encontrada em todos os continentes, com exceção da Antártida, com espécies autóctones conforme a região e bioma observado.
Uma das espécies mais famosas no Brasil é o escorpião-preto, cujo o nome cientifico é Tityus bahiensis (o famoso gênero Tityus), como se percebe é encontrado no Brasil, principalmente na região central, onde é localizado o cerrado brasileiro, além de também circular em áreas de transição com a caatinga, a Amazônia e o Pantanal.
O nome popular, logicamente, vem de sua coloração, que nem sempre é caracterizado por ser um preta denso, mas também podendo ser marrom, tendo ainda a ausência de estrutura serrilhada em sua cauda, este sendo um caractere morfológico bastante utilizado para a sua identificação.
Sua carga venenosa não é letal para um adulto, entretanto crianças pequenas e pets, principalmente se alérgicos aos princípios ativos presentes na toxina deste invertebrado, podem sofrer sérios danos, sendo isso o porquê destes animais merecerem atenção dos controles de zoonoses dos municípios onde a espécie está presente.