O Brasil é um país com grande extensão territorial (aproximadamente 8,5 milhões de quilômetros quadrados), composto por 26 estados e um Distrito Federal. A espécie escorpião no Brasil também é bastante vasta, destacando o gênero tityus.
Gênero Tityus
Mesmo que os não-cientistas possam considerar os animais fascinantes dos escorpiões, seu interesse é em geral limitado à má reputação desses animais como “assassinos de homens”. No entanto, um número limitado de espécies, provavelmente não mais que 50, está realmente implicado em incidentes graves ou letais.
De fato, esse número relativamente pequeno de espécies possui venenos com toxinas potentes, capazes de matar humanos. No entanto, é verdade que essas famosas espécies de escorpiões são responsáveis por um número importante de mortes humanas a cada ano, superadas apenas pelas causadas por cobras e abelhas.
A maioria das espécies mortais pertence à família buthidae koch. No entanto, espécies pertencentes a pelo menos duas outras famílias, scorpionidae latreille e hemiscorpiidae pocock, também incluem alguns outros escorpiões que podem representar uma ameaça para os seres humanos.A família buthidae compreende cerca de 100 gêneros diferentes, alguns atualmente extintos, e mais de 1000 espécies, correspondendo a 50% de todos os escorpiões atualmente conhecidos. Entre esses gêneros, o neotropical tityus é de longe o mais conspícuo, com cerca de 220 espécies descritas. Apenas dois outros gêneros de butídeos mostram números quase igualmente importantes.
O gênero tityus foi criado por CL Koch em 1836 tendo como espécie-tipo, por monotipo, scorpio bahiensis Perty, 1833. Isto significa que quando Perty descreveu a espécie scorpio bahiensis, ele a colocou no antigo gênero scorpio Linnaeus, 1758.
De fato, escorpião é o gênero original dentro da ordem scorpiones, e subseqüentemente ao trabalho de Linnaeus, muitas outras espécies foram acomodadas nele. No entanto, com o avanço da taxonomia do escorpião, apenas scorpio maurus Linnaeus, 1758 (as espécies originais descritas por Linnaeus), foi mantido neste gênero.
Desde a criação do gênero tityus, um grande número de novas espécies descritas foi colocado nele. Consequentemente, as revisões antecipadas sobre o status das diferentes espécies provaram ser uma necessidade. Até o momento, portanto, o número de espécies descritas de tityus atinge atualmente quase 220, o que está longe de ser final.
História Taxonômica de Tityus Bahiensis
Tityus bahiensis foi descrito por Perty em 1833 como scorpio bahiensis. Como já foi mencionado, a localização tipo indicado por Perty para scorpio bahiensis foi “habitat prope Bahiam”, presumivelmente no Brasil uma vez que o material de que ele utilizou foi originalmente recolhidos durante uma expedição realizada no país no início do século 19.
Outro ponto de interesse é o fato de que scorpio bahiensis foi o primeiro escorpião brasileiro a ser descrito. Mais tarde foi transferido para o gênero tityus por Koch. A localidade do tipo indicada por Perty como “bahiam” não significa realmente que o tipo de localidade seja do estado da Bahia, conforme incorretamente sugerido por vários autores.
A localidade original da coleta do espécime permanece, infelizmente, extremamente imprecisa e levou a subsequente má interpretação. De fato, a distribuição original desta espécie não inclui a Bahia. O espécime coletado por Spix e Martius, usado na descrição original de tityus bahiensis, foi depositado na Zoologische Staatssammlung, Munique, Alemanha, mas foi destruído durante a Segunda Guerra Mundial.
Porém, mesmo que o espécime original usado na descrição tenha sido destruído, ele foi muito precisamente ilustrado em cores, tanto por Perty quanto por CL Koch. Essas imagens originais sugerem que o espécime original corresponde, antes, às formas encontradas na distribuição sul de habitat da espécie. A descrição da viagem de von Spix e von Martius no Brasil pode trazer alguns esclarecimentos sobre os locais de onde o espécime original de tityus bahiensis foi possivelmente coletado.
A longa expedição de Spix e Martius chegou aos atuais estados da Bahia, Piauí e Maranhão, depois que eles obtiveram permissão para visitar a Província do Grão-Pará. Sua pesquisa foi realizada em muitas regiões dos atuais estados do Pará e Amazonas e sua jornada no Brasil durou até junho de 1820, quando ambos embarcaram no navio Nova Amazona de volta à Europa.
Suas coleções, enviadas para Munique, via Hamburgo, consistiam de 3381 espécies de animais, das quais 80 pertenciam a Arachnida (incluindo o espécime de tityus bahiensis). Somente a primeira parte dessa expedição, cobrindo os estados de São Paulo e Minas Gerais, pode estar relacionada à coleta do original tityus bahiensis. Pode-se sugerir que o espécime original foi coletado em um dos locais visitados no estado de São Paulo.
Tityus Bahiensis Características
Morfologicamente, Tityus bahiensis é bem conhecido. O seguinte diagnóstico geral pode ser proposto: escorpiões de tamanho médio a grande, variando de 55 a 68 mm de comprimento total, e coloração geral marrom-escura com pernas amarelo-avermelhadas e pedipalpos marrom-avermelhados.
A presença de manchas escuras nos pedipalpos e nas pernas é mais acentuada nos espécimes da faixa sul da população, ou seja, na Argentina, no Paraguai e no Estado de São Paulo no Brasil, enquanto aqueles de certas partes dos estados de Goiás e Minas Gerais têm apenas pequenas manchas.
Os segmentos metassomais I a III são geralmente marrom-avermelhados, enquanto IV e V são mais escuros, marrom-escuro. As margens dentadas dos dedos pedipalp-chela são compostas por 17 fileiras oblíquas de grânulos, o dente subaculoso é forte e espinóide, e suas pectinas têm 18 a 23 dentes.
Sua distribuição geográfica inclui os estados brasileiros de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, partes do Mato Grosso do Sul e Paraná; bem como Argentina e Paraguai.
O Veneno de Tityus Bahiensis
As picadas de escorpião estão entre os principais responsáveis de envenenamentos por animais peçonhentos no Brasil. Um estudo retrospectivo feito das consequências clínicas da picada do gênero tityus em 1327 pacientes atendidos em um hospital universitário no sudeste do Brasil, houve significativos casos cuja picada incluiu manifestações locais, manifestações sistêmicas, manifestações com risco de vida, como choque e/ou insuficiência cardíaca com necessidade de inotrópicos/vasopressores, bem como falha respiratória culminando em fatalidade.
A idade média dos pacientes estava entre 15 e 42 anos. Escorpiões foram trazidos para identificação em 47,2% dos casos, sendo tityus bahiensis 27,7% e tityus serrulatus 19,5%. A severidade do ferrão, no entanto, correspondeu somente a manifestação sistêmica (79,6% dos casos) e dor ou manifestação local (95,5% dos casos).
Manifestações sistêmicas como vômitos, agitação, sudorese, dispneia, bradicardia, taquicardia, taquipneia, sonolência/letargia, palidez cutânea, hipotermia e hipotensão foram detectadas em boa parte dos casos, mas foram significativamente mais freqüentes na minoria dos pacientes (menos de 2%). Os casos mais graves e fatal ocorreram apenas em crianças menores de 15 anos, com escorpiões sendo identificados em 13 dos 25 casos (12 sendo tityus serrulatus e apenas um com tityus bahiensis).
Os resultados aqui descritos indicam que as manifestações locais, principalmente a dor, predominaram após as picadas do escorpião, sendo as picadas por tityus serrulatus principalmente nos pacientes menores de 15 anos os casos com maior gravidade do envenenamento. Estudos anteriores confirmam essa teoria, de que a maior durabilidade das picadas por tityus serrulatus em comparação com tityus bahiensis oferece o maior risco de morte em crianças picadas, ou pessoas idosas e outros com baixa imunidade e passíveis de alergia.