As enguias pertencem ao Reino Animalia, ao Filo Chordata, à Classe Actinopterygii, à Ordem Anguiliforme, à Família Anguilidae e ao gênero Anguilla.
E a espécie que podemos denominar, de forma mais correta, como “enguia”, é a Anguilla anguilla, uma espécie descrita em meados do séc. XVIII, e também cognominada “enguia-europeia”, muito por conta de ser uma espécie típica dos ecossistemas encontrados no Mar dos Sargaços – um santuário marinho localizado na região central do Atlântico Norte.
Tecnicamente, as enguias são peixes eurialinos, catadrômicos (que nascem no rio e desovam no mar).
E uma característica marcante nesses animais é o fato de as fêmeas, durante esse período de desova, migrarem para o Mar dos Sargaços, onde fatalmente morrem, deixando por conta das larvas regressarem até as regiões costeiras; crescendo, e crescendo; até tornarem-se enguias adultas já nas zonas interiores.
Mas não confundir essas enguias com uma outra espécie tipicamente brasileira também conhecida por essa alcunha. Esses são os “poraquês”, comumente designados como “enguias”, mas que pertencem a um outro gênero, o Electrophorus – um típico habitante da Bacia Amazônica.
Eles habitam os ecossistemas dos rios Amazonas, Madeira, Orinoco, entre outras regiões desse monumental bioma amazônico, onde essas “enguias” ou “poraquês” desenvolvem-se até atingir entre 1,5 e 2 metros de comprimento, entre 15 e 20 kg de peso, e ainda capazes de presentear um intruso com uma descarga de até 600 volts de potência.
A Evolução das Enguias-Europeias
À parte essa descrição do reino, filo, classe, ordem, família e gênero aos quais pertencem as enguias, cabe aqui também atentarmos para as principais características da evolução dessa espécie até chegar aos dias atuais.
Esse é um animal atualmente descrito como “Em Perigo Crítico”, de acordo com os dados mais recentes da IUCN (União Internacional Para a Conservação da Natureza), mas as suas origens encontram-se há pelo menos 100 milhões de anos, com base nos achados fósseis mais antigos desse animal.
Tudo indica que o sul da França e o Líbano foram as regiões que abrigaram os exemplares mais antigos das enguias-europeias, das quais originaram-se as espécies “Anguilla ancestralis” e Aguilla atlantidis”; sendo que a primeira compunha a fauna do Indo-Pacífico, enquanto a segunda a do Oceano Atlântico (chamado “primievo”), em uma das trajetórias mais singulares entre os membros dessa família Anguilidae.
A partir dessas duas espécies, temos o surgimento dos dois tipos considerados clássicos de enguias, a Anguilla rostrata (ou enguia-norte-americana) e a Anguilla anguilla (a enguia-europeia) – as duas representantes desse gênero ainda cercado por diversas singularidades.
Como uma habitante típica do Mar dos Sargaços – só que àquela altura se vendo às voltas com a expansão do Oceano Atlântico -, a enguia-europeia passou a incorporar em seu cabedal biológico a necessidade de viver em um constante trânsito entre a Costa Europeia e o Mar dos Sargaços para fins de procriação.
Algo que que contribui para tornar essa espécie ainda mais exótica e repleta de extravagâncias não encontradas em nenhuma outra espécie dessa família Anguillidae.
A Morfologia da Anguilla Anguilla
Além das singularidades quanto à posição taxonômica da enguias, no que diz respeito ao Reino, Filo, Classe, Ordem, Família e Gênero aos quais elas pertencem, não há dúvidas de que é na sua morfologia que elas guardam algumas das suas principais singularidades.
As enguias caracterizam-se por serem animais serpentiformes, com uma região mais cilíndrica em direção à cauda e mais achatada em direção à cabeça; e ainda com um crânio mais largo, onde encontram-se dois orifícios nasais e um par de olhos pequenos e arredondados.
O animal é verdadeiramente uma extravagância da natureza! Uma combinação de peixe e serpente, com escamas discretas que confundem-se com as demais estruturas do seu tegumento. Mas elas chamam a atenção também pelas suas barbatas que estendem-se pela região ventral, dorsal e anal, o que contribui para tornar o animal ainda mais singular e exótico.
As enguias possuem maxilares superiores menores do que os inferiores. E elas possuem também um dorso castanho-esverdeado e um ventre amarelado; o que também contribui para dar-lhes um tom meio dourado a depender da incidência da luminosidade.
Porém é curioso notar como essa coloração das enguias tende a modificar-se à medida que elas vão envelhecendo, alterando-se para um tom negro no dorso e prateado no ventre, até constituir um animal com características ainda mais assustadoras, com cerca de 1,5 m de comprimento e 9 ou 10 kg de peso; como uma verdadeira entidade quase fantástica a habitar as profundezas do Mar dos Sargaços.
Sabemos, também, que as enguias possuem uma arcada dentária na forma de pequenas fileiras de dentes pontiagudos no palato e nas maxilas; porém uma arcada bastante resistente, capaz de vencer com facilidade as carapaças mais resistentes de crustáceos, além de peixes, moluscos, entre outras espécies capazes de satisfazer esse que é um típico animal marinho e carnívoro dos ecossistemas aquáticos do planeta.
Reprodução e Habitat das Enguias
As enguias são animais crepusculares, que preferem esconder-se em buracos, tocas, escavações, bases de pedras e de raízes de árvores durante o dia, para somente ao entardecer saírem em busca dos mais diversos tipos de iguarias que satisfaçam os seus apetites vorazes.
Já com relação aos seus processos reprodutivos, obviamente, eles não poderiam ser menos exóticos.
Basta saber, por exemplo, que uma única fêmea costuma pôr durante a desova cerca de 1,4 milhão de ovos em pleno Mar dos Sargaços, a uma profundidade de cerca de 400 m, entre os meses de março e maio, para eclodirem após 45 dias de incubação.
Os filhotes dessas enguias, ainda na forma de larvas, nascem como pequenos organismos transparentes e delgados, que aos poucos surgirão em plena superfície lá pelo mês de junho, para serem levados pelas correntes do Atlântico até aportarem na costa europeia já quase adultos.
A partir daí, o destino dessas pequenas enguias serão as regiões de rios e estuários, onde chegarão já com cerca de 9 cm de comprimento e 0,4 g de peso, agora constituídas como pequenas “angulas” com as suas colorações mais escurecidas e como hábeis nadadoras em busca do ambiente calmo e acolhedor dos rios e demais constituições de água doce.
E ali elas permanecerão até a fase adulta; quando então a natureza as convidará para a execução dos seus respectivos processos reprodutivos; mais uma vez de volta ao exótico e original Mar dos Sargaços; em uma espécie de “Odisseia” só observada mesmo nesse fantástico e cada dia mais surpreendente universo da fauna do planeta.
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