Elephas é um dos dois gêneros sobreviventes da família dos elefantes, Proboscidea, com apenas uma espécie sobrevivente, o Elefante-asiático (Elephas maximus). Várias espécies extintas foram identificadas como pertencentes ao gênero, incluindo: Elephas recki, Elephas antiquus, os elefantes pigmeus que são conhecidos cientificamente como Elephas falconeri e o Elephas cypriotes. Com até 4,27 metros de altura nos ombros, foi uma das maiores espécies de elefantes que já viveram. Acredita-se que o E. recki ocupou porções da África entre 3,5 e 1 milhão de anos atrás. Foi um comedor de grama bem sucedido, vivendo entre plioceno e o pleistoceno até ser extinto, talvez por competição com membros do gênero Loxodonta, o elefante africano moderno.
Características do Gênero Elephas
O gênero tem como características principais a fronte (frente da cabeça) côncava, suas orelhas eram pequenas em relação aos outros gêneros de elefante e seus molares tinham lâminas de esmalte em forma de cinta. Eram animais de grande porte, podendo chegar a mais de 4 metros de altura. Se alimentavam da vegetação local e acredita-se que durante os períodos das eras glaciais, onde já estavam presentes, conseguiram atravessar ilhas, continentes, o que ajudou na sua dispersão no mundo, mas também no processo de especiação, devido o isolamento de alguns grupos de indivíduos.
Confusão Taxonômica
Elephas recki é a espécie do gênero Elephas, típico da África Oriental. Foi descrito por W.O. Dietrich (1915) como uma subespécie do antigo elefante da Europa (Elephas antiquus recki). Embora o próprio autor tivesse dúvidas sobre a homogeneidade do material que ele analisou e descreveu, essa subespécie foi rapidamente aceita pela comunidade como um todo. O pesquisador C. Arambourg, em 1934, foi o primeiro a dar o status de espécie, separando Elephas antiquus e Elephas recki.
A identificação dessa espécie sempre foi motivo de dúvida, pois uma peça importante na classificação desses animais era a análise dos dentes molares, que nessa espécie apresentava uma forte variabilidade morfológica, ou seja, não existia um padrão semelhante nos indivíduos e isso confunde a cabeça dos taxonomistas (pessoas responsáveis por identificar as espécies) que se propõem em estudá-la. A lista de sinonímias (mudanças de nomes) de Elephas recki é enorme e isso tudo está relacionado a dificuldade de identificação por conta das variações morfológicas dentro da espécie.
Evolução da Espécie e Suas Subdivisões
Os pesquisadores Y. Coppens (1965 e 1969) e V.J. Maglio (1970 e 1973) mostraram claramente que a espécie E. recki era de grande longevidade, cujos molares evoluíram regularmente ao longo do tempo, variando de uma forma primitiva com lâminas baixas, esmalte grosso e pouco plissado, para uma forma evoluída com lâminas altas, esmalte fino e muito plissado. Vários estágios evolutivos sucessivos foram assim reconhecidos. Não se sabe ao certo o que motivou essa evolução. Talvez até a mudança de vegetação durante as épocas resultantes das diferentes eras, tenha sido um dos motivos. Foi proposta através da análise dos fósseis desses animais uma subdivisão da espécie em cinco subespécies cronológicas para tentar compreender através dessa análise as relações no contexto da evolução do gênero Elephas na África. As subespécies eram: Elephas recki brumpti, E. recki shungurensis, E. recki atavus, E. recki ileretensis e E. recki recki.
Novas pesquisas indicam que o alcance de todas as cinco subespécies se sobrepõem, e que elas não eram separadas pelo tempo como proposto anteriormente. A pesquisa também achou uma grande variação morfológica, tanto entre as supostas subespécies, como também entre os espécimes anteriormente identificados como pertencentes a mesma subespécie. O degrau de sobreposição temporal e geográfico, junto com a variação morfológica, sugere que as relações entre as subespécies eram mais complexas do que indicadas. Talvez apenas com as análises dos fósseis, que geralmente estão incompletos, não seja possível consertar essa confusão taxonômica, pois faltam elementos para fazer uma análise melhor, mais completa e detalhada.
A Importância dos Fósseis Para Identificação de Espécies Extintas
Apesar de muito confusa a taxonomia da espécie E. recki, talvez pela falta de materiais em boas condições, só por conta da análise dos fósseis foi possível chegar ao conhecimento dessa espécie. Isso mostra a importância que esses fósseis têm para a ciência. Eles são o registro natural do passado de nosso planeta. São restos ou vestígios de seres vivos que habitaram a terra em períodos geológicos anteriores, sejam animais ou plantas. No caso dos elefantes os maiores registros fósseis encontrados são da dentição dos animais, dos molares. Por isso eles são tão utilizados para identificação das espécies. No caso da E. recki isso fica mais complicado devido essas variações na dentição.
Diferença entre Espécie e Subespécie.
Essa definição de espécie e subespécie ainda é algo muito polêmico dentro da ciência. Há pesquisadores que não acreditam na existência de subespécies. Mas sem querer entrar nessa confusão e para tentar simplificar a diferença entre esses dois termos, e entender melhor a história da E. recki e todas as sua subdivisões, podemos dizer que espécie é uma população de indivíduos com muitas características anatômicas, fisiológicas, comportamentais em comum e que cruzam entre si dando origem a descendência fértil. Já a subespécie é uma subdivisão da espécie. Isso ocorre quando duas ou mais populações de uma mesma espécie se separam, vivendo em regiões diferentes e por ficarem separados por muitas gerações, sem existir trocas de genes entre essas populações isoladas umas das outras, os grupos sofrem mutações com o tempo, aparecendo diferenciações genéticas e surgimento de novas subespécies ou raças nessa mesma espécie.
Presas de Marfim
Hoje a única espécie sobrevivente do gênero Elephas não apresenta as presas de marfim. Porém, suas espécies ancestrais apresentavam longas presas. Não se sabe ao certo o que motivou a perda desses apêndices. O que se sabe é que os elefantes africanos ainda apresentam as presas até hoje, mas infelizmente por conta da caça pelo marfim, cresce o número de elefantes africanos que está nascendo sem as presas. O que está ocorrendo é uma seleção “natural” motivada pelo homem.
No Parque Nacional de Gorongosa, em Moçambique, por exemplo, 90 por cento dos elefantes foram abatidos entre 1977 e 1992, durante a guerra civil do país. Dos que sobraram, quase metade das fêmeas não tem presas e acabam passando o gene sem presa para os filhos. “Fêmeas sem presas são propensas a produzir descendentes sem presas”, afirmou Joyce Poole, chefe da instituição de caridade Elephant Voices. “As presas são usadas para cavar alimentos e água, para desenterrar árvores e galhos e para defesa pessoal. Um elefante sem presas é um elefante aleijado”, informou Poole. Como os homens caçam com o objetivo de pegar as presas, aqueles que não têm acabam sobrevivendo mais e passando essa alteração genética.