Ele pode ser o papagaio-de-cabeça-vermelha, o acamatanga, acumatanga, camutanga, chauã, jauá, camatanga ou simplesmente o papagaio-chauá. E essa é justamente uma das suas principais curiosidades, o fato de ser conhecido por quase 20 denominações diferentes.
O exuberante Amazona rhodocorytha é um papagaio tipicamente brasileiro, que geralmente mede entre 36 e 40cm, possui um testa e base do bico nas cores vermelhas, uma espécie de coroa avermelhada na parte posterior da cabeça e asas com plumagem verde.
Ele também possui bicos e patas cinza-claros, “bochechas azuis”, além de ser uma das espécies mais “falantes” da família Psittacidae.
Sua dieta consiste basicamente de frutos, sementes, botões de flores, bagas, entre outras espécies frutíferas que eles encontram em grandes alturas, em meio às matas fechadas do lado oriental do Brasil
O papagaio-chauá é uma espécie típica das regiões Nordeste e Sudeste do país. Eles são encontrados com maior facilidade em trechos de Mata Atlântica e Florestas de Araucárias dos estados do Espírito Santo, Bahia, Alagoas, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
Uma outra curiosidade sobre o papagaio-chauá é a sua bravura e resistência diante da atual degradação dos recursos naturais que o país vem enfrentando há décadas.
Pois a espécie ainda pode ser considerada uma das mais presentes no que ainda sobrou de Mata Atlântica no país (cerca de 2.000 exemplares), apesar de ser considerada uma variedade ameaçada de extinção pela UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e “em perigo” pelo Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio).
Porém outras curiosidades sobre o papagaio-chauá também são dignas de nota. E entre as quais, estão:
1.Ele é Tema de Livro
A constante ameaça de extinção que vem sofrendo os papagaios-chauás – muito por conta do tráfico ilegal de animais silvestres e da vertiginosa degradação da Mata Atlântica – acabou rendendo alguns frutos literários.
E o mais conhecido é o livro “Chauá, o Papagaio-de-Cara-Roxa”, da escritora, roteirista ilustradora e arte-educadora paulista Rosana Rios.
O livro é uma espécie de denúncia (voltada essencialmente para as crianças) do lento progresso de extinção dessa espécie, que já chegou a espalhar-se de Nordeste a Sul do país, e que hoje apenas ocupa trechos de não mais do que 5 ou 6 estados das regiões Nordeste e Sudeste.
2.Brasil: A Terra dos Papagaios
Uma outra curiosidade sobre o papagaio-chauá é que, assim como os seus demais parentes dessa imensa família Psittasidae, ele é praticamente um dos símbolos do Brasil.
Levados por Pedro Álvares Cabral até as terras europeias, os chauás (e outros representantes dos Psittacidae) de imediato caíram nas graças dos nobres senhores do Velho Mundo, chegando ao ponto de serem apelidados por Pero Vaz de Caminha de “papagaios vermelhos muito grandes e formosos”, tal foi a comoção despertada pelas suas cores vibrantes.
Não demorou para que o secretário do embaixador de Veneza em Portugal, Giovanni Matteo Camerini, apelidasse o Brasil de “A Terra dos Papagaios” – uma expressão que logo seria imortalizada nos prestigiado “Paesi Novamente Retrovati”, um dos mais importantes livros de viagens da época.
3.Uma Verdadeira Praga
Bom, se por um lado os papagaios chauás e os demais representantes dessa família eram erguidos, por alguns, a um patamar de “celebridades” da fauna brasileira, por outro lado eles também tinham lá seus detratores.
À época do Descobrimento, para muitos, os papagaios eram verdadeiras pragas a enfestar os céus e transformar o dia em noite com as suas presenças.
Eram bandos de inimigos das plantações de milho e demais grãos, como verdadeiras “gralhas, zorzais, infinitos bandos de estorninhos, que em muito superam as pragas da Espanha”, segundo o jesuíta Fernão Cardim.
Essa é uma das inúmeras curiosidades sobre os papagaios-chauás que, de acordo com a história, teve esses inconvenientes citados até mesmo pelo padre José de Anchieta em uma das suas famosas epístolas.
4.Eles Estão Entre os Mais Falantes
Mas, apesar de tanta controvérsia, uma curiosidade marcante sobre os papagaios-chauás é o fato de eles serem um dos mais falantes entre as espécies da família Psittacidae.
Na verdade, não só eles como os demais representantes do gênero Amazona desenvolveram uma capacidade inigualável para reproduzir a voz humana.
O que se diz é que a quantidade de palavras que essa espécie pode memorizar – além da total similaridade com a fala humana – faz deles verdadeiros fenômenos entre as espécies emplumadas. Deixando para trás celebridades como o “periquito-australiano”, o “periquito-do-congo”, o “periquito-de-coleira”, entre outros “faladores” famosos.
5.Eles Teriam o “diabo no corpo”
Uma outra curiosidade nesse rol de superstições e crendices que cercam os papagaios-chauás, é a de que, indiscutivelmente, eles seriam a morada para entidades demoníacas; e que essa afirmação poderia ser comprovada, facilmente, por essa capacidade sobrenatural de falar.
E para tornar ainda mais robusta essa tese, de acordo com a tradição do cristianismo da Idade Média, somente os homens, os demônios e os anjos possuem essa nobre capacidade de se comunicarem por meio da fala.
Obviamente, uma espécie animal que apresente essa característica com tamanha desenvoltura e capacidade, não pode ser outra coisa senão a própria encarnação do Mal, ou mesmo de espíritos de falecidos e de curandeiros que, de acordo com a tradição de algumas tribos indígenas, podem encarnar no corpo de alguns animais, entre eles, os papagaios-chauás.
6.Um Representante dos Céus!
Por fim, a exuberância dos papagaios-chuás também fez com que eles, em algum momento das suas histórias, fossem confundidos com seres que habitavam a terra antes da “queda do homem.”
Na Idade Média, por exemplo, era comum associar os papagaios a pureza e santidade. Tanto é assim, que logo foram comparados às figuras de Nossa Senhora e de Jesus Cristo.
A sua preferência ou facilidade para pronunciar a palavra “ave”, os fez, inclusive, serem associados a mensageiros do arcanjo Gabriel. Pois, como se sabe, foi com essa palavra que ele teria supostamente cumprimentado Maria quando do anúncio de que seria a mãe de Jesus.
Definitivamente, a criatividade humana parece não ter mesmo limites, já que essa mesma palavra “ave” chegou a ser confundida com o nome de Eva – para muitos, mais um sinal, indiscutível, da sua característica de ser um mensageiro dos céus.
Com o tempo, tais atributos dos papagaios foram desaparecendo naturalmente. Acredita-se que eles desapareceram juntamente com o período medieval, quando começaram a ruir as inúmeras crenças e superstições que esse período da história despertava; inclusive as desse caráter mágico, celestial e santo que, supostamente, teriam os papagaios.
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