2020 com certeza está sendo um ano atípico. A pandemia do covid-19 vem impactando a realidade e cotidiano de praticamente todo o globo terrestre. A doença é causada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2), um vírus de RNA com cadeia simples positiva.
Embora tenha correlação ao vírus da Síndrome Respiratória Aguda (SARS-CoV), o vírus da Covid-19 é classificado como outra estirpe. Isolado em laboratório, possui 70% de semelhança da sequência genética do SARS-Cov, e, mesmo que não possua a mesma gravidade, o grau de contágio é maior.
É usual utilizar coloquialmente o termo “coronavírus” para se referir tanto à doença, quanto ao vírus responsável pela atual pandemia. Contudo, a nível científico e técnico este termo abrange todo o grupamento responsável por quadros de infecção respiratória, muitas delas comuns ao longo da vida.
A atual pandemia em curso começou com um caso isolado na província de Wuhan, capital da província de Hubei (China), no dia 31 de Dezembro de 2019. Os pesquisadores acreditam que este vírus possua origem zoonótica, uma vez possa ter correlação ao Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan, o qual também é conhecido pela venda da carne de animais selvagens e de outros animais exóticos, os quais possuem grande procura dentro da China. A sopa de morcego, por exemplo, é o prato que muitos apontam ser o responsável pelo início da infecção.
A classificação de pandemia para o Covid-19 foi atribuída pela OMS no dia 11 de Março de 2020.
Neste artigo, você irá conferir outras informações relevantes sobre a doença.
Então continue conosco e boa leitura.
Conhecendo a Cidade de Wuhan e o Mercado de Huanan
A cidade de Wuhan é a capital da província de Hubei, localizada na porção central da China, e contando com uma população de cerca de 11 milhões de habitantes. É considerada a sétima cidade mais populosa do país. Sua localização geográfica é em uma área de planície, na metade do cruzamento do rio Han com o rio Yangtze. Esta cidade possui um chamado estatuto administrativo sub-provincial, e sua origem remonta à fusão de três cidades.
O relevo desta cidade é baixo e plano no centro, sendo montanhoso ao sul. É considerada uma cidade bastante antiga, uma vez que há registros referentes a mesma datando de 3.500 anos. No ano de 1927, a cidade passou a ser, por um breve período, a capital da China (posto que reocupou no ano de 1937, em razão de combates bélicos).
A cidade em si é um centro logístico importante, possuindo dezenas de ferrovias, estradas e vias expressas que as conectam com outras grandes cidades. O clima em Wuhan é subtropical úmido, as chuvas são abundantes e as quatro estações bastante distintas.
O Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan abrange uma área de 50.000 m² e contava com uma equipe de mais de 1.000 vendedores. Sua localização geográfica era na porção mais nova da cidade, próximo a apartamentos e lojas e a algumas quadras da estação ferroviária. O mercado se dedicava à venda de frutos do mar, animais selvagens e outros considerados exóticos. Uma publicação no jornal South China Morning Post informou que no local era possível encontrar um quantitativo de 120 variedades de animais selvagens e 75 espécies.
A inauguração do mercado foi na data 24 de Março de 2005. O Wall Street Journal relata que no final de 2019 (antes do início da pandemia), o mercado teria sido aprovado nas inspeções oficiais da cidade. Contudo, a Revista Time relatou certas condições bastante insalubres, tais como barracas bastante próximas umas das outras, corredores estreitos e proximidade de animais vivos com animais mortos. Tal insalubridade foi reforçada em publicação do New York Times, o qual relata pouca ventilação no local e lixo empilhado em solos úmidos.
No dia 31 de Dezembro de 2019, a OMS foi notificado sobre um surto de pneumonia com origem provável no local.
No dia 01 de Janeiro de 2020, em resposta ao surto do quadro respiratório, autoridades de saúde fecharam o mercado para limpeza, desinfecção e investigações.
Até a data de 02 de Janeiro de 2020, registros confirmaram que das 41 pessoas internadas aparentemente com pneumonia (uma vez que a Covid-19 não estava completamente esclarecida), 2/3 delas havia sido exposto indiretamente ao mercado. Mesmo assim, muitos especialistas preferem não associar diretamente o início da pandemia a este local, uma vez que o relato mais antigo datando de 01 de Dezembro de 2019 foi em uma pessoa que não havia sido exposta a esse mercado.
Infelizmente, a ocorrência dos primeiros casos na China também tem contribuindo para o aumento da xenofobia e racismo com indivíduos do extremo oriente e pessoas de ascendência chinesa.
Coronavírus: Zoonoses, Morcego e Como Surgiu o Covid-19
Existem 7 cepas de coronavírus conhecidas e com potencial infectante para seres humanos. Todas estas cepas teriam evoluído a partir do coronavírus presente em outros animais.
O coronavírus humano 229E (HCoV-229E) responsável pelo resfriado comum foi descoberto no ano de 1960. No ano de 2002, foi descoberto o coronavírus responsável pela Síndrome Respiratória Aguda (no caso, SARS-Cov), o qual já gerou um quadro de surto anterior na Ásia e casos secundários em outras partes do mundo, no caso, aproximadamente 12 países distribuídos entre os continentes Europa, América do Sul e América do Norte.
No ano de 2004, foi descoberto o coronavírus humano OC43 (HCoV-OC43), o qual é responsável por um quadro de resfriado comum e detém potencial infectante tanto para humanos quanto para bovinos. Ainda em 2004, foi descoberto o coronavírus humano NL63 (HCoV-NL63), identificado pela primeira vez em uma criança de sete meses apresentando um quadro de bronquiolite. Este último possui associação sazonal em climas temperados e, através de um estudo conduzido em Amsterdã, chegou-se à conclusão de que o mesmo era responsável por 4,7% das doenças respiratórias comuns. Tal vírus teve a sua origem em morcegos infectados.
No ano de 2005, a descoberta da vez foi o coronavírus humano HKU1 (HCoV-HKU1), originário de ratos infectados e identificado pela primeira vez em homem de 71 anos de idade que estava hospitalizado e apresentava pneumonia e desconforto respiratório.
O ano de 2012, foi marcado pela descoberta do coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio ou Médio Oriente (Mers-Cov ou HCoV-EMC/2012), a doença MERS (como ficou conhecida) resultou em 238 casos, dentre eles 92 mortes.
Chegando ao ano de 2019, foi a vez do Covid-19 manifestar-se, doença que todos acreditavam inicialmente ficar restrita à China. Embora os morcegos sejam apontados como vetores desta doença, estudos genéticos apontam que o novo vírus tenha divergido da versão que parasita morcegos.
Mas Se Os Morcegos Não São Os Vetores Do Covid-19, Quais Animais Seriam?
Na realidade, não há confirmações precisas a respeito, contudo os pesquisadores acreditam que o hospedeiro intermediário seja um animalzinho curioso chamado pangolim, mamífero coberto de escamas e encontrado nas porções tropicais da África e da Ásia, embora atualmente ameaçado de extinção justamente por causa da comercialização para consumo.
Uma equipe de pesquisadores chineses da Universidade Agrícola do Sul da China analisou a amostra de mais de mil animais selvagens. Todavia, uma comparação genômica, de acordo com uma publicação divulgada na revista Nature, descobriu que o vírus encontrado em humano compartilha 90,3% de semelhanças em relação ao vírus encontrado no pangolim. No entanto, para estabelecer um vínculo definitivo seria necessário um valor mínimo de 99,8%.
O estudo foi conduzido utilizando-se da célula congelada de pangolins traficados. Analises posteriores mostraram semelhanças maiores com percentual de até 92,4%.
Embora a grande suspeita seja em torno do pangolim, a hipótese dos morcegos como vetores não está totalmente descartada, já que o seu coronavírus possui grande similaridade genética com o coronavírus humano. No caso, essa similaridade é ainda maior do que a encontrada no pangolim, quantificando 60%. Porém, este possui diferenças em relação ao sítio de ligação com o ribossomo (RBD) dos vírus humanos.
O que os estudos sobre morcegos na verdade sugerem é que o coronavírus específico destes animais não causou infecção direta a seres humanos, mas foi transmitido às pessoas através de um hospedeiro intermediário ainda não totalmente identificado.
Doenças Transmitidas por Morcegos
Em relação aos coronavírus comprovadamente transmitidos através dos morcegos estão o coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS) e o coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS). Ambos podem resultar em morte para até 50% das pessoas infectadas. No entanto, geralmente os morcegos não transmitem a doença diretamente ao homem, uma vez que este pode contrair o quadro por meio de animais domésticos infectados.
Alguns fatores como os hábitos alimentares do morcego, proximidade de outros indivíduos dentro da colônia, rapidez na reprodução e temperatura corporal de aproximadamente 36°C (excelente para a manutenção de cargas virais) auxiliam na facilidade para a propagação de doenças.
A raiva é uma das doenças mais conhecidas cuja transmissão ocorre através de morcegos, cães e gatos. A mordedura ou arranhadura são a porta de entrada do vírus no organismo humano, o qual, após um período de 45 dias de incubação, manifesta sintomas considerados letais, como a confusão mental, paralisia, espasmos musculares e outros. Na Austrália, o vírus da raiva desenvolveu uma variação chamada de Lissavírus Australiano, a qual manifesta os mesmo sintomas, mas possui alcance restrito geograficamente.
O Ebola é uma doença comum em países do continente africano. A transmissão ocorre através do contato com secreções humanas ou consumo de carne de caça contaminada (geralmente morcego e macaco). Uma curiosidade sobre o vírus é que este costuma ficar impregnado nos utensílios que tiveram contato com a secreção, tais como roupas, lençóis, toalhas, copos e talheres. Mesmo um indivíduo morto ainda pode transmitir a doença através das secreções liberadas durante a decomposição; logo, o cadáver deve ser incinerado. Os sintomas incluem febre, diarreia, hemorragias e vômitos. Muitos casos resultam em óbitos por infecções bacterianas secundárias e choque hipovolêmico (perda considerável do volume de sangue).
O vírus de Marbug pertence à mesma família taxonômica do Ebola. A transmissão ocorre igualmente através do contato com sangue ou outros fluidos de morcegos e outros mamíferos que estejam contaminados. O nome da doença faz menção ao primeiro surto registrado na cidade alemã de Marbug, local no qual alguns cientistas analisavam amostras de macacos trazidos de Uganda. Esta doença possui letalidade entre 50 a 90%, possuindo grandes chances de evoluir para um quadro de doença hemorrágica febril sistêmica. Os sintomas incluem dores musculares, vômitos, inflamação nas pálpebras e febre alta. Ocorre com maior frequência na África Equatorial.
O vírus da infecção Nipah é capaz de gerar desde quadros respiratórios agudos até encefalites com desfecho fatal. O vírus foi descoberto pela primeira vez no ano de 1998, em um surto na Malásia que resultou em 105 mortes; contudo, nesta época, os suínos foram os hospedeiros intermediários. Em 2004, ocorreu um novo ‘surto’ infeccioso deste vírus após algumas pessoas tomarem suco fresco de tâmaras previamente contaminadas por morcegos frugívoros. Em 2019, cientistas descobriram que a potencialidade para hospedar o vírus depende da espécie do morcego em questão, no caso, seria quase que um mecanismo de inteligência artificial. O contágio ocorre através do contato com fluido corporal de morcegos ou de outros animais que estejam infectados, a transmissão também pode ocorrer de pessoa para pessoa. Possui uma grande predominância na Ásia e África.
A histoplasmose é causada pelo fungo Histoplasma capsulatum. A transmissão ocorre através da inalação de poeira formadas após a sedimentação das fezes de um morcego previamente contaminado. Fezes de aves também podem transmitir a doença, uma vez que detém considerada concentração de nitrato. Os sintomas incluem calafrios, dores de cabeça e febre. Entre as prováveis complicações estão a disseminação maciça pelos pulmões, sistema linfático e sistema nervoso, com consequências até mesmo fatais.
A leptospirose, doença infecciosa causada pela bactéria Leptospira, pode ser transmitida através da urina dos ratos, mas também através da urina dos morcegos. Períodos de muitas chuvas e alagamentos aumentam as chances de transmissão. Os sintomas incluem febre alta, dores musculares, icterícia, náuseas e vômitos. As prováveis complicações envolvem hemorragias, insuficiência renal aguda, e até mesmo delírios.
Outra infecção transmitida através do morcego é o Hendra vírus (HeV), o qual é considerado uma zoonose emergente rara. Os sintomas são graves e até mesmo fatais para humanos e cavalos. O transmissor e hospedeiro natural do vírus é um morcego do gênero taxonômico Pteropus. O primeiro surto foi registrado na Austrália, ano de 1994, contando com o quantitativo de 21 cavalos de corrida e 2 seres humanos infectados. No ano de 2016, 70 cavalos apresentaram o quadro, o qual também se manifestou em 7 pessoas, as quais teriam contraído a doença através do contato direto ou necropsia de cavalos doentes ou mortos.
Coronavírus: Transmissão
As principais modalidades de transmissão do Covid-19 incluem gotículas de saliva emanadas a partir de espirros, tosse ou simplesmente proximidade a indivíduos contaminados.
Especialistas dizem que este vírus pode resistir por até 3 horas na forma de aerossol, logo se um indivíduo espirra em um ambiente fechado, o ato poderá contaminar outra pessoa mesmo 3 horas depois.
Não existem dados precisos que apontam em termos quantitativos quantos indivíduos podem ser contaminados por alguém com o vírus SARS-CoV-2 (nome científico do novo coronavírus). Contudo estimativas apontam para um quantitativo de 2 a 3 novos contaminados. Em alguns estudos, é possível ainda encontrar o quantitativo de 6.
Mesmo com os dados alarmantes sobre o número de infectados, em termos de saúde pública, é importante ter em mente que esses números podem ser ainda maiores, uma vez que a subnotificação pode estar presente. A maioria dos infectados não apresenta sintomas ou poderá apresenta-los na sua forma leve.
Este vírus é bastante habilidoso em invadir o organismo humano, uma vez que possui grande afinidade com os receptores localizados em nossas células respiratórias. Tal coronavírus possui uma proteína chamada spike, a qual se conecta com um receptor celular de nome ACE-2.
Indivíduos que possuem a imunidade naturalmente comprometida (no caso, idosos e portadores de doenças crônicas) são mais propensos a adquirir a infecção e a manifestar os sintomas mais graves.
Coronavírus: Sintomas, Complicações e Manejo Clínico
O tempo entre a exposição ao vírus e a manifestação dos primeiros sintomas, ou seja, o período de incubação, varia entre 2 a 14 dias, sendo o prazo médio de 5 dias o mais frequente.
A presença do vírus não necessariamente implica no aparecimento de sintomas. Para os casos sintomáticos, é comum a manifestação de febre, tosse e dificuldade respiratória. Embora menos frequentes, para alguns casos também há espirros, corrimento nasal, diarreia e garganta inflamada.
Segundo estatísticas apresentadas pela OMS, 88% dos pacientes apresentam febre e 19% apresentam falta de ar. Em relação à tosse, em 68% dos casos vem ocorrendo tosse seca; ao passo que, 33% dos casos contam com tosse produtiva (ou seja, tosse com catarro espesso); em 1% dos casos, há tosse com sangue. As dores articulares ocorrem em 15% dos casos; a dor de cabeça, em 14%; e os arrepios, em 11%. Náuseas e vômitos ocorrem em 5%, e esta mesma estatística se repete no caso de nariz entupido. A diarreia ocorre em 4% dos casos, e os olhos inchados em 1%.
Para os casos mais leves ou assintomáticos, o indivíduo pode permanecer em repouso na sua residência (medida também adotada para diminuir o contágio) com administração de medicamentos para alívio da dor e febre, deslocando-se para o hospital apenas se necessário. Sinais de emergência incluem dor ou sensação de pressão persistente no peito, confusão, falta de ar ou dificuldade em respirar, além de coloração ligeiramente azulada na face ou lábios. A presença de um único sinal de emergência isoladamente já é indicativo para a procura de assistência hospitalar.
As complicações da doença incluem pneumonia grave a partir de um quadro avançado de insuficiência respiratória, sepse e insuficiência renal ou cardíaca (sendo que outros órgãos também podem ser afetados). A Organização Mundial de Saúde aponta que 14% dos casos manifestam quadros graves, com demanda para internação hospitalar e administração de oxigênio. Os casos críticos respondem por 5% e demandam ventilação assistida e internação em UTI.
As chances de mortalidade para indivíduos com menos de 50 anos é inferior a 0,5%; ao passo que, para indivíduos acima de 70 anos este percentual sobe para valores acima de 8%.
Coronavírus: Medidas Preventivas e o Isolamento Social
As medidas preventivas para esta pandemia estão sendo maciçamente descritas pela mídia. No entanto, é sempre bom reforça-las.
O isolamento social, a princípio visto como exagero, é na realidade uma recomendação da OMS para evitar a propagação do vírus. O ideal é sair de casa apenas quando necessário, dessa forma, evitando aglomerações. Muitas empresas dispensaram seus funcionários por período indeterminado. Contudo, essa não é uma realidade para outros trabalhadores, principalmente para os ligados aos serviços essenciais como saúde, transporte público, supermercados e coleta de lixo.
Diminuir a circulação de pessoas também é uma medida para reduzir o colapso do sistema de saúde, evitando procura exorbitante por leitos de internação e unidades de terapia intensiva.
Mesmo um indivíduos sem suspeita de Covid-19 deve cobrir o nariz e a boca com o antebraço ao espirrar. Em locais públicos, também recomenda-se evitar tocar os olhos, nariz e boca.
Ao sair de casa, recomenda-se o uso de máscaras, no caso, máscaras de pano, de modo que o estoque das máscaras cirúrgicas não seja prejudicado e haja carência de equipamentos para os profissionais de saúde.
Estas máscaras de pano são reutilizáveis e devem ser esterilizadas após chegar em casa. A recomendação é deixa-las submersas em uma solução de 50 ml de água sanitária para 1 litro de água durante 30 minutos.
A lavagem correta das mãos ainda é uma das principais ferramentas de prevenção. O álcool em gel pode ser utilizado quando o indivíduo estiver na rua e não possuir à sua disposição material para uma higienização mais reforçada, uma vez que a lavagem com água e sabão ainda é mais eficaz. O processo completo de lavagem das mãos deve durar em média 20 segundos, com a higienização das unhas, da superfície entre os dedos, do punho e da palma.
Objetos como o celular, chave de casa, carteira, óculos, relógios e outros devem ser higienizados com álcool em gel. Ao chegar em casa, recomenda-se não entrar de sapatos e evitar tocar em superfícies antes de um banho e higienização completa. As roupas devem ser separadas em sacola plástica e colocadas no cesto para lavagem.
As mulheres ao saírem de casa devem preferencialmente amarrar os cabelos e evitar a utilização de acessórios, tais como brincos e pulseiras.
Caso a pessoa tenha retornado de um supermercado, a sugestão é higienizar todas as sacolas plásticas e embalagens. Neste caso, para facilitar o processo, sugere-se acondicionar álcool líquido em um borrifador.
No caso de locais públicos como os supermercados, a Organização Mundial de Saúde recomenda que sejam realizadas limpezas regulares das superfícies. Neste caso, o hipoclorito de sódio e a água sanitária são importantes aliados. Caso a superfície já esteja suja, deverá ser limpa com sabão ou detergente comum, ser enxaguada com água e em seguida receber o hipoclorito de sódio ou água sanitária. Durante a limpeza, as mãos devem estar protegidas com luvas de borracha. É importante diluir a água sanitária (de acordo com as instruções da embalagem), de modo a evitar intoxicação.
Também é importante não compartilhar objetos de uso pessoal, talheres, pratos, copos e garrafas. Para indivíduos infectados, essa recomendação deve ser cumprida obrigatoriamente.
Coronavírus: Vacina e Tratamento- O que Podemos Esperar?
O fato da Covid-19 ser uma doença nova e ainda por cima viral (o que implica em poder de mutação) contribuem para que ainda não haja um medicamento específico para trata-la. Casos mais leves ainda são tratados com analgésicos e antitérmicos. Neste quesito, o uso da medicação Ibuprofeno não é recomendado, segundo declarou a OMS. Contudo, a ANVISA publicou uma nota que menciona não haver evidências científicas a respeito da influência da medicação no agravamento do quadro, sendo que, pacientes que já fazem uso continuado de Ibuprofeno e Cetoprofeno não devem suspender o tratamento sem recomendação médica. A OMS em si e a Agência Europeia de Medicamentos também estão monitorando melhor esta situação.
Em relação ao tratamento específico, mais de 200 medicamentos já utilizados para manejo de doenças virais vêm sendo testados. Alguns desses medicamentos são utilizados para tratamento de HIV, Malária e Ebola.
Neste contexto, os medicamentos que tem se mostrado mais promissores são a Cloroquina e Hidroxicloroquina.
A Cloroquina é utilizada no tratamento do lúpus, artrite reumatóide e malária. A grande questão em relação a este medicamento diz respeito à dosagem. Dosagens inapropriadas podem gerar efeitos colaterais como convulsões, cegueira, surdez e arritmias cardíacas. Em razão da mídia em torno do medicamento, no início da pandemia, muitas pessoas chegaram a ir até às farmácias para adquirir o medicamento sem receita, para toma-lo por conta própria, colocando em risco a própria saúde.
Apesar de parecer promissora, um estudo brasileiro com a Cloroquina foi interrompido recentemente em razão dos efeitos colaterais. O estudo envolveu 81 pacientes e contou com a colaboração de 26 cientistas de várias instituições. A OMS declara que ainda não há eficácia comprovada.
E em Relação à Vacina? Quanto Tempo Mais Teremos que Esperar?
A OMS calcula que existam pelo menos 20 imunizantes diferentes sendo estudados em várias partes do mundo. O Instituto Butantan, aqui no Brasil, também vem realizando uma pesquisa neste ramo.
Contudo, apesar de algumas notícias animadoras, especialistas garantem que não haverá uma vacina pronta para o uso em menos de 18 meses, considerando que as vacinas para seres humanos passam por um período longo e complexo até serem aprovadas. Esse processo envolve os estudos pré-clínicos (realizados em cobaias e em amostras de células) e as pesquisas clínicas (que são os testes em humanos). A etapa de pesquisa clínica se desdobra em 3 fases, aumentando o número de voluntários em cada um delas.
Coronavírus: Cuidado com as Fake News
Com uma pandemia destas em atividade, é de se esperar que sejamos bombardeados de informações a toda hora sobre o assunto. Tenha muito cuidado com as mensagens que você recebe do Whatsapp e só compartilhe aquelas que são de fontes confiáveis, como das páginas do Ministério da Saúde e da OMS, por exemplo.
Uma das Fake News mais famosas aqui no Brasil defende o uso de vinagre como antisséptico no lugar do álcool. A teoria começou após um vídeo de um homem intitulando-se “autodidata” em química. Convém lembrar que o álcool vem sendo utilizado durante décadas para desinfecção de equipamentos e superfícies hospitalares.
Receitas caseiras para o combate do Covid-19 também estão entre essas Fake News. Uma delas afirma que gargarejo com vinagre, água e sal seriam capazes de matar o vírus enquanto ele ainda está na garganta. A notícia é completamente falsa principalmente porque ainda não há NENHUM medicamento com eficácia comprovada para o tratamento da doença, nem mesmo a Cloroquina e Hidroxicloroquina, as quais ainda estão em fase de teste.
Outras Epidemias Respiratórias que Entraram para a História
Os vírus do ‘grupamento’ corona são e foram bastante impactantes, mas não é possível negligenciar o impacto que o vírus Influenza também trouxe para o mundo desde tempos antigos. No caso, desde o ano 492 a. C., Hipócrates descreveu epidemias que teriam sido causadas pelo patógeno. Estas epidemias se repetiram na Idade Média. No continente americano, a primeira descrição dos sintomas do Influenza data do ano 1552. Com o aumento das viagens a comércio, a primeira pandemia deste vírus ocorreu na Ásia no ano de 1580.
Desde o século XVIII, 22 epidemias por Influenza foram registradas, destas a gripe espanhola (entre os anos de 1918 a 1919) foi a de maior impacto, No ano de 1933, foi comprovada a etiologia viral da Influenza, contudo, as três cepas que mais infectavam os seres humanos foram descobertas apenas em 1950. O subtipo A é o mais conhecido e apresentou variações antigênicas de acordo com a localidade geográfica em que se manifestou. Sendo possível encontra-lo na forma de H1N1, H2N2, H3N2 e H5N1.
A gripe russa (H2N2) começou durante o ano de 1889 (terminando no ano seguinte) em uma das cidades da antiga União Soviética, e onde atualmente está a República de Uzbequistão. Apresentou uma disseminação rápida Europa, Ásia, África e América, dentro do período de apenas 3 meses. Ao todo, resultou em cerca de 1,5 milhões de mortos.
A gripe espanhola (H1N1) com certeza foi o episódio mais devastador. Em relação ao numero de mortos, não há valores precisos, apenas estimativas descritas na literatura, as quais apresentam o quantitativo entre 17 a 50 milhões. Em algumas literaturas, ainda é possível encontrar o valor de 100 milhões de mortos. Convém lembrar que se estabeleceu no final da Primeira Guerra Mundial, período no qual a enfermidade foi negligenciada e até mesmo ocultada por certo tempo. Não é de origem espanhola, mas recebeu o título como tal após a Espanha noticiar sobre a enfermidade.
A gripe asiática (H2N2) começou no Norte da China e avançou posteriormente também para outros países da Ásia, da África, da Oceania e até da América, chegando aos Estados Unidos. O agente etiológico foi detectado com rapidez e a vacina foi produzida, contudo não foi produzida em quantidade suficiente e 2 milhões de pessoas morreram. O episódio ocorreu entre os anos de 1957 a 1958.
A gripe de Hong Kong (H3N2) ocorreu entre os anos de 1968 a 1969 resultando em 34 mil casos e até 3 milhões de mortes. Os sintomas incluíam febre elevada, cansaço e dores articulares.
A gripe suína (H1N1) ocorreu entre os anos de 2009 a 2010. O vírus até então infectava apenas porcos, mas sofreu mutações que tornaram possível a infecção em humanos. O número total de mortos foi 17 mil.
A gripe aviária (H5N1) ocorreu entre os anos de 1997 a 2004 e percorreu o Sudeste Asiático, África e Europa. Com o intuito de diminuir sua proliferação, 1,5 milhões de aves chegaram a ser sacrificadas no ano de 1997. Esta epidemia contou com um número inferior de casos, em comparação aos outros surtos. Ao todo, foram 300 pessoas infectadas.
Doenças Classificadas como Prováveis Riscos Globais de Acordo com a OMS
A Organização Mundial de Saúde elabora uma listagem periódica citando todas as doenças classificadas como prioritárias e com risco global. Tais doenças não possuem vacinas específicas e carecem de medicação suficiente. A listagem citada a seguir é baseada no Plano de Ação (o qual trata de estratégias e plano de contingência) para 2018.
Dentro desta listagem, estão quadros já citados acima, como é o caso do vírus Nipah, vírus Hendra, vírus Ebola, vírus de Marburg, Síndrome Respiratória por coronavírus do Oriente Médio (MERS) e a SARS.
Outras doenças inclusas nesta listagem são a Febre Hemorrágica da Criméria-Congo, a qual resultou em grandes surtos de febre hemorrágica resultando em até 40% de mortalidade entre os infectados. O gado e o carrapato são os principais vetores para o homem. O contágio de pessoa para pessoa pode ocorrer através do sangue e outros líquidos corporais infectados. A doença possui incidência na Ásia, África, Oriente Médio e porção europeia dos Balcãs.
A febre de Lassa é classificada como doença hemorrágica aguda com incidência na África Ocidental. Sua taxa de mortalidade varia entre 1 a 15%. O vírus pode ser transmitido através do contato com objetos ou alimentos contaminados com dejetos de roedores.
O vírus causador da febre do Vale Rift foi identificado pela primeira vez no ano de 1931 no Vale do Rift (Quênia), Logo após a sua descoberta, vários surtos forma registrados na África Subsaariana, ou seja, porção do continente situada ao sul do deserto do Saara e que abrange 47 países, dos quais 33 são classificados como os mais pobres do planeta. A maioria dos casos apresentam sintomas leves, contudo para alguns poucos casos houve o desenvolvimento de grandes complicações, tais como febre hemorrágica, meningoencefalite e problemas oculares. O contágio não é frequente entre seres humanos, e sim através do sangue e órgãos de animais infectados. O comércio de gado infectado fez com que a doença se estendesse para outras países do continente, além da África Subsaariana; fator que gerou preocupação em relação à chegada da enfermidade na Ásia e Europa.
O vírus Zika é transmitido pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Os primeiros casos da doença em seres humanos forma registrados na Nigéria, no ano de 1954. Em 2007, o vírus chegou à Oceania. No Brasil, esta chegada ocorreu no ano de 2015, mais precisamente na Bahia e no Rio Grande do Norte. Nos dias atuais, o vírus já esteve presente em aproximadamente 70 países. Os sintomas incluem dores musculares e articulares, febre moderada, conjuntivite, erupções cutâneas (enxantema) e dores de cabeça.
Antes de ser encontrado em seres humanos, este vírus foi descoberto em macacos da floresta Zika, em Uganda, no ano de 1947. Muitas crianças que foram expostas ao vírus durante o seu período gestacional possuem chance de desenvolverem microcefalia congênita, assim como outros problemas neurológicos. Entre humans, o vírus Zika pode ser transmitido através das relações sexuais.
Assim como o vírus do Zika, o vírus da febre Chikungunya também é transmitido através da picada dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Embora esta doença não esteja particularmente inserida na listagem de 2018 da OMS, é tão impactante quanto as outras enfermidades citadas acima. Os sintomas são semelhantes aos encontrados nos quadros de Zika. Este vírus foi isolado pela primeira vez na Tanzânia, em 1950.
Apesar de não ser fatal, esta doença é considerada bastante limitante, as prováveis complicações neurológicas incluem encefalite e síndrome de Guillan-Barré. Não há chances de transmissão de pessoa para pessoa e nem durante a gravidez. A doença possui uma prevalência significativa entre os países da Ásia e África. Em relação ao Brasil, casos já foram notificados em um município do Rio de Janeiro.
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Agora que você já conhece um pouco mais sobre o Covid-19, outros coroanvírus e aspectos históricos de outras pandemias respiratórias; nosso convite é para que continue conosco e visite também outros artigos do site.
Nosso foco aqui é ecologia, então você encontrará muito material nas áreas de zoologia e botânica.
Sinta-se à vontade.
Até as próximas leituras.
REFERÊNCIAS
Agência Brasil EBC. Município do Rio registra 37.973 casos de chikungunya em 2019. Disponível em: < https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-12/municipio-do-rio-registra-37973-casos-de-chikungunya-em-2019>;
BBC News Brasil. As 10 doenças e uma hipótese de que são um risco global de saúde, segundo a OMS. Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/geral-43420470>;
BIERNATH, A. Saúde Abril. Coronavírus: quanto tempo deve demorar até a gente ter uma vacina? Disponível em: < https://saude.abril.com.br/medicina/coronavirus-quanto-tempo-vacina/>;
BIERNATH, A. Saúde Abril. Gripe: quais foram as maiores epidemias da história. Disponível em: <https://saude.abril.com.br/medicina/gripe-quais-foram-as-maiores-epidemias-da-historia/>;
BORIELO, G. R7. Conheça as doenças que podem ser transmitidas por morcego. Disponível em: < https://noticias.r7.com/saude/fotos/conheca-as-doencas-que-podem-ser-transmitidas-por-morcego-11062018#!/foto/10>;
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