Não imagino um momento mais perturbador e triste para uma família do que a morte de um ente querido, ou de um amigo querido. O cenário de um velório e de um enterro é dos mais deprimentes e agonizantes pelos quais passamos. Quem gosta dessa sensação? E se você soubesse que animais como o elefante também são passivos desses mesmos sentimentos aterradores quando um ente de seu círculo morre ou é assassinado? Lamentavelmente, muitos humanos não estão nem aí pra isso…
Fatores Mortais pra o Elefante
Um elefante vive em média 70 anos de idade, as vezes mais, as vezes menos. O índice de mortalidade infantil é alto, no entanto, atingindo alarmantes 30% dos nascituros. Surpreendentemente, um dos fatores que podem matar os pequeninos são as necessárias visitas a água para se saciarem ou se banharem. Esse corpo de água invariavelmente é envolto em muita lama, até por causa dos próprios elefantes com sua massa corpórea hiper pesada que criam esse lamaçal nas margens ao entrarem e saírem. Os pequeninos muitas vezes se arriscam e ficam presos nesse lamaçal das bordas e os adultos infelizmente são lentos e pesados demais para conseguir socorrê-los a tempo.
Outro fator de risco para a vida dos elefantes são seus predadores naturais. Animais carnívoros como tigres, leões, hienas, crocodilos e outros são animais que,apesar do menor porte, são uma ameaça para os elefantes, principalmente para os jovens, os órfãos, os feridos ou os doentes.
A doença contribui para essa mortandade dos elefantes, sendo o antraz uma das doenças que mais afetam e matam elefantes. O antraz é uma bactéria que se espalha talvez através da água ou do solo que podem ter sido contaminados. É capaz de causar altas febres, úlceras, inchaços e calafrios. Outras doenças, mesmo aquelas que são comumente humanas, também afetam os elefantes, como urticária, pneumonia, tuberculose, cólica intestinais, constipação e até um simples resfriado. Os sintomas e as consequências delas aos elefantes são bem similares as que sentimos e, diferente de nós, os próprios animais procuram se tratar instintivamente como podem para saná-las, através do consumo de alguma erva, casca de árvore ou mesmo usando o barro, terra alcalina para tratamento.
Não há dúvida, porém, que o maior destruidor de vidas, o maior causador de mortes de elefantes é a raça humana. O homem é a pior doença, o mais cruel predador que compromete a existência desses animais no planeta. E o homem faz isso de três formas principais:
A Fragmentação de seu Habitat
Elefantes requerem centenas ou até milhares de quilômetros quadrados de área para sobreviverem. Um elefante adulto come um mínimo de 150 quilos de alimentos para se saciar. Multiplique isso para todo um grupo de elefantes e irá deduzir o porque é necessário tanto espaço de terra.
O desenvolvimento humano com sua explosão demográfica desordenada faz com que se construa novas estrada, colonize e urbanize novos espaços de terra e esse rápido progresso acaba por desfragmentar muitos habitats naturais de elefantes, obrigando esses animais a tentarem sobreviver em áreas reduzidas, o que não é possível devido a suas grandes necessidades dietéticas. Com efeito, em regiões da Ásia e África onde homens e elefantes convivem com proximidade obrigatória os conflitos gerados vem se tornando um frequente problema.
As faixas de habitat natural dos elefantes tem se misturado mais e mais com assentamentos humanos obstruindo as rotas naturais de imigração dos grupos e, principalmente em áreas de lavouras, com homens desenvolvendo colheitas para fins comerciais, os atritos violentos sempre ocorrem. Esses cultivos fornecem grande e conveniente quantidade de comida que esses elefantes podem destruir em uma só noite, causando grandes prejuízos financeiros aos proprietários das terras. São homens atacando elefantes e elefantes atacando humanos e vidas sendo perdidas nesse conflito. Com o crescente número de elefantes órfãos se movimentando nessas regiões sem a devida orientação maternal de comportamento, esse problema se torna ainda mais sério e desafiador pois esses animais inexperientes não só se tornam mais suscetíveis aos predadores como podem desenvolver um comportamento anormal e bem mais agressivo.
A Caça Esportiva de Elefantes
Com a redução das áreas naturais por onde elefantes podem se movimentar, o ser humano tem obrigado os grupos a tentarem sobreviver cada vez mais em um espaço de terra pequeno demais para a população de elefantes. Isso traz outros problemas para a espécie como a contaminação de seus pontos de água dividido com muitos elefantes ao mesmo tempo e aumentando assim o risco de doenças parasitárias.
O ser humano, no entanto, se sentindo em maior direito que os animais, preferem resolver esses problemas se utilizando de recursos cruéis, legalizando períodos de caças como meio de gerenciar a superpopulação de elefantes em determinadas regiões. O período do abate legal pode reduzir populações inteiras em minutos mas justificam isso alegando que já haviam elefantes demais para um determinado ponto de habitat suportar, e para evitar que esses elefantes acabem indo longe demais à caça de comidas, invadindo assim zonas urbanas e pondo em risco as vidas humanas.
Vale ressaltar que a população de elefantes em geral está em caminho de extinção pois não se reproduzem com facilidade e legalizar o assassinato deles só piora as chances de sobrevivência da espécie. No entanto, uma deplorável margem de pessoas, especialmente homens abastados da sociedade européia e americana, exploram e corrompem os governos locais, pagando altas quantias para adquirirem o direito de caça desses troféus de elefantes, conseguindo autorizações para expedições sem nenhum controle sobre o desequilíbrio ecológico que esses assassinatos podem causar.
A Caça Furtiva ao Elefante
Não é de hoje que os assassinatos de elefantes ocorrem em função da busca pelo seu valioso marfim. Paga-se muito dinheiro por boas presas de elefantes que são usados na fabricação de esculturas, peças instrumentais, botões, bolas de bilhar e outras peças ornamentais. Não que só o marfim seja o item indispensável para a produção dessas coisas mas é considerado a matéria prima que oferece melhor qualidade funcional e, em função disso, dezenas ou até centenas de milhares de elefantes são mortos pelo homem para sustentar sua ganância pelo marfim. Nações receptadoras como Japão, China e Estados Unidos, além de vários países europeus alimentam esse tipo de tráfico. Mais de 80% das presas de elefantes que chegam a esses países são resultados de contrabando e caça ilegal do marfim.
Infelizmente, a casa dos elefantes também pode fornecer retiros para grupos armados de oposição em tempos de guerra e agitação política. Isso afeta negativamente as populações de elefantes e outros animais, reduzindo o número de áreas que podem habitar com segurança. O financiamento para algumas guerras civis é parcialmente obtido com a venda de marfim caçado.
Morte Natural de um Elefante
A predação da espécie e tão grande e descontrolada que encontrar hoje uma carcaça de elefante se decompondo na natureza com sua presa ainda intacta é até digno de surpresa e admiração para a mídia científica. Encontrar uma dessa é prova de que a morte ocorreu provavelmente por causas naturais, sem intervenção humana.
Mas independente da causa de morte de um elefante, saiba que isso causa uma profunda angústia, talvez não pra você, mas com certeza para todos os elefantes que conheceram aquele desafortunado. Pra quem ainda não sabe, elefantes são muito inteligentes e também muito sensitivos. Se assemelham muito ao ser humano na sua capacidade social consciente, ou seja, características de lealdade, amizade, fraternidade, amor, tristeza, melancolia são facilmente observadas em elefantes. E a morte de um elefante, portanto, significa para eles a perda irreparável de um indivíduo singular.
Elefantes possuem um senso familiar enorme, talvez maior até que os seres humanos. Uma fêmea elefante, por exemplo, pode vir a nascer e permanecer com sua mãe durante toda a sua vida, sem nunca sair do lado dela. A hierarquia de respeito a espécie mais antiga e experiente é percebida tanto ao lidar com as fêmeas como ao lidar com os machos. Os machos mais jovens raramente desafiam a autoridade dos machos mais velhos nos momentos de reprodução. As fêmeas costumam viver em grupos onde quase sempre uma mais antiga é a matriarca que lidera o grupo, sendo todas as outras submissas a ela.
Quando um elefante começa a envelhecer, a causa principal que deve matá-lo na velhice é a fome. Elefantes precisam de muita comida pra se alimentar e na velhice, a dentição do elefante já não é forte o suficiente ou não existe mais para o auxiliar na mastigação. Fracos e mal nutridos, já não serão capazes de acompanhar o grupo em suas migrações e sabem que terão de encarar o inevitável. Precisarão ficar pra trás! Lembra do desenho Rei Leão em que se menciona um cemitério de elefantes? Então, uma realidade não tão comum mais hoje mas descreve precisamente uma atitude comum entre os elefantes mais velhos. Desgastado por demais para seguir com o grupo e incapaz de se alimentar como precisa, a tendência deles é buscarem algum lugar próximo a uma fonte de água onde encerrar sua vida, tentando se manter hidratados pelo máximo que podem. Uma coleção de ossos de elefantes perto de alguma poça d’água era sim comum há tempos atrás.
Para os outros elefantes, porém, a perda desse elefante na velhice ou de qualquer outro morto por diferentes razões, é sentida profundamente. A atitude do elefante na velhice em deixar o bando já é em si um momento de profundo pesar. Todos no grupo ficam visivelmente perturbados com isso, e só se submetem por lealdade a decisão do mais velho. A morte é chorada pelos elefantes!
Há vários registros documentados da reação de tristeza, dor e profundo pesar dos elefantes quando perdem um indivíduo. Gestos como deitar ao lado da ossada e permanecer ali com o tronco acariciando ou debruçado sobre os ossos, se manter junto ao morto por dias à fio, fêmeas visivelmente tristes formando olheiras profundas e perdendo consistência física, orelhas caídas, um trombetear sonoramente agonizante, e outros gestos típicos de depressão são notáveis.
Não há uma espécie sequer de elefantes hoje nesse mundo que não esteja ameaçado de extinção. Afora as espécies que já deixaram de existir, as três sobreviventes já possuem sua colocação na lista de espécies ameaçadas e sua população convive na berlinda, com a tendência de continuar diminuindo. Mas não há nenhum trombetear de lamentação suficiente que pare essa barbárie contra sua espécie. Chorar não está adiantando!