É curioso observar como os caranguejos se protegem na areia cavando buracos com as suas patas articuladas em forma de pinças.
Eles são animais invertebrados, da imensa e abundante classe dos crustáceos, e que além desses seus cinco pares de patas, possuem, como complemento do seu corpo, um abdômen e um cefalotórax onde ficam protegidos todos os seus órgãos internos.
Os caranguejos são mais facilmente encontrados nos mares e manguezais de praticamente todos os continentes, bem como em algumas lagoas, rios e lagos (como típicas espécies de água doce), ou onde quer que haja condições mínimas de sobrevivência, com material orgânico, fitoplânctons, restos vegetais, algas, entre outras iguarias semelhantes.
Nesse universo que cerca os caranguejos, existem espécies que se contentam bem com uma refeição frugal à base de folhas e pequenos frutos que caem das árvores que desenvolvem-se nos manguezais. São os casos do Sesarma reticulatum ou do Ucides cordatus, por exemplo.
Já outros, como o original Metacarcinus magister (o sapateira-do-pacífico), prefere mesmo é uma boa dieta à base de vermes, pequenos peixes, ou até mesmo estrelas-do-mar.
Mas há também os que não abrem mão de uma boa refeição composta por restos de comida, matéria decomposta, pequenos detritos, entre outras refeições típicas de animais onívoros. Especialmente em períodos de escassez, eles não abrem mão de nada, absolutamente nada, que possa entrar pela sua boca e garantir-lhes a sobrevivência.
Entre as espécies de caranguejos, existem também algumas com características, digamos, bastante originais, como a ágil e esperta Maria-farinha (ou Ocypode quadrata ).
Essa é uma espécie típica da Costa Atlântica, com cerca de 4cm de largura (da carapaça), semi-terrestre e bastante comum nas areias paradisíacas do litoral brasileiro, onde se protegem em tocas com mais de 1m de profundidade.
Elas são alguns dos exemplos mais curiosos de como um caranguejo pode utilizar a areia para se proteger de predadores, das ondas devastadoras do mar, ou mesmo da presença – nem um pouco bem vida – dos homens dispostos à caçá-las.
Mas existem outras técnicas utilizadas por estas espécies, como forma de utilizar um imenso areal com um verdadeiro refúgio contra inimigos! É é exatamente sobre isso que iremos tratar nesse artigo.
Como o Caranguejo se Protege na Areia?
De um modo geral, os caranguejos, como a Maria-farinha, são animais de hábitos noturnos.
Esse é o momento em que eles saem, em levas sucessivas, em busca de alimentos; ou, durante o período reprodutivo, à caça das fêmeas – em um dos eventos mais curiosos de ser ver dentro desse formidável universo da comunidade dos crustáceos.
Já o dia eles deixam para simplesmente não fazerem nada, em tocas com até 1m de profundidade, geralmente em formato de um “J”, escavadas bem próximas de onde o mar “quebra” na praia; ou, como preferem algumas espécies mais avantajadas, bem distantes da água – entre 40 e 60m do mar.
Assim como estes, existem outras espécies de caranguejos que beneficiam-se das suas aparências para se protegerem na areia – eles aproveitam-se da sua coloração, curiosamente com a mesma tonalidade das areias da praia.
Dessa forma, eles conseguem despistar um dos seus predadores mais vorazes: os homens!, e na maioria das vezes passam despercebidos por estes, em um verdadeiro exemplo de como a técnica do mimetismo pode ser crucial para a sobrevivência de inúmeras espécies na natureza.
Já outros, como o exótico e incomum caranguejo-eremita – membro da superfamília Paguroidea –, preferem lançar mão da estratégia, bastante original e oportuna, de simplesmente esconderem-se dentro de cochas vazias nas areias da praia.
É de se espantar o fato de um animal, com garras tão desproporcionais ao seu corpo, possa acomodar-se tão confortavelmente dentro de um material tão limitado, no entanto, o “eremita” aproveita-se da constituição do seu exoesqueleto, que é feito com uma material que o torna bastante macio e flexível, o suficiente para acomodá-los por até algumas horas – se necessário – dentro de uma concha com até metade do seu tamanho.
As conchas de caracóis são as suas preferidas! Eles as utilizam, uma após outra, durante todo o seu percurso, enquanto houver perigo à espreita.
Mas as técnicas de camuflagem também são utilizadas pelas espécies que vivem em manguezais. Os que nascem com a coloração semelhante à dos mangues são aqueles que conseguiram (e conseguem) sobreviver a essa implacável e inevitável seleção natural; e é dessa forma que eles conseguem perpetuar as suas espécies, em uma eterna luta vigorosa e brutal pela sobrevivência.
Da mesma maneira ocorre com algumas variedades não menos extravagantes, como o curioso Eriocheir sinensis (o caranguejo-peludo), que, nas profundezas dos mares e oceanos, por não poderem se proteger na areia, confundem-se completamente com o colorido dos recifes de corais.
É assim que eles conseguem escapar do assédio de alguns dos seus principais predadores (como o homem, por exemplo), em mais um exemplo de como a inter-relação entre os seres e o meio ambiente que os cerca pode produzir verdadeiros fenômenos naturais.
Mas há ainda um último recurso, caso tais estratégias e ferramentas por algum motivo falhem nessa tão desafiadora missão de salvar-lhes a vida: Correr! Correr o máximo que puderem! Desesperadamente! Utilizando-se da excelente ferramenta que são os seus 5 ou 6 pares de patas extremamente flexíveis e articulados!
Correr! Correr desesperadamente! Até que surja – como num verdadeiro milagre – algum abrigo, a fenda de uma rocha, um buraco já pronto, uma concha que apareça surpreendentemente bem à sua frente, a fim de que possam salvar as suas vidas, e garantir, com isso, a existência de uma das mais exóticas representantes dessa não menos exótica e incomum classe dos crustáceos.
Além de se Protegerem na Areia, os Caranguejos Apresentam Outras Singularidades!
Esse hábito noturno dos caranguejos, de se protegerem na areia, pode ser observado com maior clareza nos indivíduos mais velhos.
Os mais jovens podem ser encontrados até com uma certa facilidade durante o dia – talvez por culpa da inexperiência, que ainda não os ensinou os perigos que rondam os períodos de sol a pino.
E é justamente por isso que somente nos dias de fortes chuvas, geadas, entre outras intempéries mais violentas, que a sua presença dificilmente é notada durante o dia; apenas em alguns pontinhos, aqui e ali, assustados; e logo escondendo-se ao primeiro sinal do inimigo.
O curioso é que, entre si, essas espécies podem mostrar-se bastante agressivas, especialmente durante a fase de acasalamento; ou quando iniciam a sua fase adulta; pois agora terão que lutar pelas suas sobrevivências e por território.
Nessas épocas, é bastante comum ver alguns indivíduos em um combate ferrenho, estalando as suas patas, emitindo sons característicos ou criando redemoinhos em baixo d’água – tudo isso como forma de demonstrar supremacia em relação aos outros machos.
Para concluir, o que mais sabemos a respeito dessa espécie, é que eles costumam viver entre 3 e 5 anos, apresentam a conhecida característica de trocarem de carapaça periodicamente, possuem brânquias no interior de um cefalotórax (para um tipo de respiração aérea), podem passar longos períodos em baixo d’água, entre outras características típicas dessa espécie.
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