É Possível Cuidar de Minhocuçu em Cativeiro?
Ensinar como cuidar de minhocuçu em cativeiro não é uma tarefa das mais fáceis, pelo simples fato de que estes são animais extremamente frágeis, e além disso exigem cuidados que são dispensados pelas minhocas comuns.
O seu nome científico é Rhinodrilus alatus, uma espécie de minhocas gigantes, capazes de atingir entre 40 e 60cm e uma largura de até 1,4cm.
Ela possui uma cor entre o preto e o ligeiramente avermelhado e são hábeis em produzir uma quantidade e qualidade de húmus incomparáveis, mesmo vivendo a não mais do que alguns centímetros abaixo da terra.
Como uma típica espécie epigeica, as minhocuçus só precisam mesmo é da matéria orgânica que elas obtêm no subsolo.
Esse material lhes possibilita uma reprodução considerável, e é o responsável pela sua capacidade de resistir às variações do terreno onde encontram-se. Por isso, não há como cuidar de uma minhocuçu em casa sem que consiga reproduzir, ao máximo, as condições do seu habitat natural.
A minhocuçu possui características bastante particulares. Elas, por exemplo, dedicam o mês de março ao recolhimento em uma espécie de hibernação em buracos com até 30cm no subsolo.
E é justamente nesse período que elas transformam-se em presas fáceis para quem quer que deseje obter iscas de qualidade; pois bastam apenas alguns golpes de pás ou enxadas, para que facilmente obtenham alguns desses imensos exemplares de anelídeos.
De acordo com os amantes de uma boa pesca, não há nada que se compare a uma minhocuçu como isca para as mais diversas espécies de peixes, como o pintado, o pirarara, surubim, dourado, pacu, traíra, entre outras variedades, que não resistem à sua presença, mesmo quando ela não passa de uma boa isca.
Já a partir do mês de setembro (quando termina o seu processo de hibernação), torna-se mais difícil a captura das minhocuçus, pois é também o período que elas escolhem para a reprodução (entre setembro e fevereiro).
Apesar de serem espécies hermafroditas, as minhocuçus, curiosamente, necessitam de um parceiro. E, após o acasalamento, costumam pôr casulos que deverão gerar até 3 filhotes; continuando, assim, a trajetória dessa espécie.
A Importância de Salvá-las da Extinção
Mesmo sabendo que há como cuidar e criar minhocuçus em cativeiro, é preciso atentar para o fato de que a comercialização desse tipo de espécie, sem autorização do IBAMA, é crime, de acordo com a lei nº9.605/98.
A minhocuçu é uma espécie típica da região sudeste do país, bastante apreciadora das regiões do cerrado brasileiro e de outras regiões com solo fértil e rico em matéria orgânica.
E é por isso mesmo que é comum ver pelas estradas de várias regiões de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo, aqui e ali, um grupo de vendedores oferecendo- as aos viajantes – totalmente alheios ao caráter irregular desse tipo de atividade.
Na verdade, o que se diz é que a prática de vender minhocuçus para pescadores de fim de semana é secular! E, inclusive, já existe um negócio relativamente rentável de exportação dessa espécie a partir de Minas Gerais para vários outros estados do Brasil.
Não demoraria, obviamente, para que essa prática chamasse a atenção das autoridades e de pesquisadores, especialmente do estado de Minas Gerais, onde elas correm os maiores riscos de extinção.
Por isso foi criado um curioso projeto apelidado (de forma bastante sugestiva) de “Projeto Minhocuçu”.
Uma realização da Universidade Federal de Minas Gerais que, desde 2004, sob o comando da professora adjunta do Departamento de Biologia Geral da universidade, Maria Auxiliadora Drumond, busca incentivar a utilização de forma inteligente e racional da minhocuçu, com vistas a garantir a sua sobrevivência para as gerações futuras.
De acordo com os organizadores do projeto, a ideia não é proibir a sua utilização (já que existem inúmeras famílias que dependem da sua captura, armazenagem e comercialização), e sim ensinar como cuidar, criar e comercializar a minhocuçu de forma inteligente e sustentável.
O projeto possui alguns pilares, como o incentivo à captura sem a invasão aleatória de propriedades; o respeito ao seu ciclo reprodutivo; além da aquisição de uma autorização do IBAMA para a captura, processamento, armazenagem e comercialização da espécie.
Mas também a conscientização de que os filhotes devem ser preservados e a importância de cuidar para que se evite o esgotamento de determinadas regiões, por meio de um rodízio para a captura dos animais em diferentes locais.
Algumas dessas medidas foram implantadas em conjunto com a comunidade durante os anos de atuação do projeto. Os “minhoqueiros”, por exemplo, foram regularizados. Com isso, garante-se a sua exploração sem o risco de que elas desapareçam da natureza em pouquíssimas décadas.
Os resultados obtidos pelo projeto, desde a sua fundação, foram positivos. Houve uma regularização em massa de trabalhadores desse segmento; e alguns até tornaram-se parceiros nessa luta – apesar de não contarem com o apoio de todos, como deveria.
No entanto, a semente do projeto foi plantada, e hoje já existe até uma ferramenta em curso capaz de analisar os riscos para a sobrevivência das minhocuçus e como as alterações climáticas podem contribuir para isso.
Como Cuidar Corretamente de Minhocuçu?
Como foi dito acima, cuidar de minhocuçus em cativeiro não é tarefa nada fácil! Fora do seu habitat natural, o que se consegue mesmo é mantê-las vivas por algumas semanas.
E isso se deve, entre outras coisas, às características da sua natureza, que é mais afeita a pouca ou nenhuma luminosidade e a bastante umidade – além da própria sensibilidade da sua estrutura física.
Como uma técnica que, digamos, pode ser utilizada na tentativa de cuidar corretamente de uma minhocuçu em casa, experimente abrigá-las em uma caixa de isopor ou de plástico com cerca de 9l.
O fundo desse recipiente deve ser forrado com jornais (a fim de que estes absorvam a umidade das minhocas) e as suas laterais perfuradas, para que haja alguma oxigenação no seu interior.
Após acomodar as minhocuçus, confortavelmente, e sem empilhá-las, feche a caixa. Essa técnica garante a sua sobrevivência por algumas horas.
Para tentar conservá-las por até 15 dias, repita a mesma operação acima, com a diferença de que a caixa deve conter pele menos uns 3cm de terra rica em matéria orgânica sobre o jornal, e mantida longe do sol ou do calor excessivo.
Como um excelente material orgânico a ser misturado com a terra, recomenda-se esterco de galinha, bovino ou ovino, combinado com folhas secas. Acima desse material poderá ser adicionada uma camada de palha seca, muito importante para que você possa, periodicamente, molhar levemente esse material dentro da caixa.
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