As pulgas são insetos pequenos, que não voam e que possuem coloração escura. São considerados ectoparasitas pertencentes à ordem taxonômica Siphonaptera.
A maioria das espécies é conhecida por se alimentar do sangue de mamíferos, contudo, outras espécies podem ter preferência por aves.
No mundo todo, já foram descritas aproximadamente 3.000 espécies de pulgas. No caso do Brasil, em particular, a descrição é de 60. Essas 3.000 espécies estão agrupadas em 310 gêneros ou subgêneros e em 15 famílias. O curioso é que 8 dessas 15 famílias tem pelo menos 1 representante encontrado no Brasil.
Dentro da história da humanidade, as pulgas tiveram o seu impacto e participação devastadora no caso da peste bulbônica, a qual exterminou pelo menos 1/3 da população da Europa no século XVI. Existem no mundo a, aproximadamente 60 milhões de anos. O primeiro fóssil foi encontrado em âmbar e remete ao período terciário. A característica mais notável desses insetos sem dúvidas é o salto, o qual pode alcançar uma altura de até 18 centímetros, além de 33 centímetros em termos de distância horizontal. Uma curiosidade é que estes saltos não são gerados por força muscular, mas por ação de uma proteína presente nas patas traseira, a qual recebe o nome de resilina.
Como a maioria das pulgas é conhecida por parasitar mamíferos, a presença destas no ambiente doméstico pode ser uma realidade, uma vez que cães e gatos são alvos fáceis. Caso o Pet esteja se coçando muito, perdendo pêlps e apresentando feridas e inflamações, provavelmente estes insetos estão presentes no interior da casa, quintal ou arredores. Nestes casos, é importante adotar medidas de controle e até mesmo prevenção.
Neste artigo, você conhecerá outras informações referentes a estes animais, assim como dicas para eliminar a infestação destes no ambiente doméstico.
Continue conosco e boa leitura.
Pulgas Características Gerais
A média de comprimento corporal destes insetos está compreendida entre 2 4 milímetros. Possuem como divisão anatômica básica a categorização cabeça, tórax e abdômen. Este abdômen é considerado bastante desenvolvido. O corpo de modo geral, possui certa compressão lateral, fator que facilita a locomoção entre os pêlos do hospedeiro.
Não apresentam asas, porém contam com cerdas grossas e curtas, assim como com espinhos que se direcionam para trás e formam uma estrutura semelhante a um pente. Possuem duas antenas curtas alojadas na cabeça, em zonas de sulco. Os aparelhos bucais são sugadores e a presença ou ausência de olhos é observada de acordo com a espécie.
O tórax, assim como a ‘padronização’ observada nos demais insetos, é dividido em 3 segmentos. De cada segmento sai um par de apêndices, no caso as 6 patas da pulga. A porção anterior do tórax recebe o nome de protórax, a porção medial é chamada de mesotórax, ao passo que a porção diretamente ligada ao abdômen recebe o nome de metatórax. Esses mesmos segmentos recebem nomes diferenciados quando mencionados para a porção dorsal (no caso: pronoto, mesonoto e metanoto- respectivamente).
As pernas também recebem uma subdivisão, uma vez que há utilização de termos como coxa, trocanter, fêmur, tíbia e tarsos.
O abdômen possui 10 segmentos. Uma consideração importante é que o exoesqueleto quitinoso possui placas, e estas, quando presentes no abdômen são nomeadas. Quando estas placas estão localizadas dorsalmente, recebem o nome de tergitos; mas, quando a localização é ventral, o termo utilizado é de esternitos.
Em relação ao ciclo reprodutivo, as pulgas possuem metamorfose completa, logo passam por 4 estágios de desenvolvimento: ovo, larva, pupa e imago. Geralmente, as pulgas emergem da pupa sem estarem completamente maduras, desta forma, precisam se alimentar de sangue até que se tornem fertéis. A dissolução do plug testicular nos machos e a maturação dos óvulos na fêmea só ocorre após a primeira alimentação.
O período reprodutivo varia de acordo com a espécie, uma vez que há algumas que se reproduzem o ano todo, ao passo que há outros que sincronizam seu comportamento de acordo com fatores ambientais externos (tais como o clima). A quantidade de ovos também varia de acordo com a espécie, sendo que, durante uma vida completa, a fêmea pode chegar a por até milhares de ovos. O tempo de eclosão desses ovos varia entre dois dias a duas semanas.
Logo que as larvas emergem dos ovos, estas precisam se alimentar, dessa forma utilizam o que tiver disponível em termos de material orgânico (como fezes, ovos, matéria vegetal e até insetos mortos). Após 3 fases larvais, casulos de seda são confeccionados para o surgimento da fase de pupa. O estágio de pupa varia de acordo com condições ambientais externas, tais como alta concentração de dióxido de carbono, calor, vibrações e sons do ambiente; uma vez que esses fatores podem, de certa forma, indicar a presença de um hospedeiro.
Após a pupa, na fase adulta ou imago, o principal objetivo da pupa é encontrar sangue, tornar-se fértil e se reproduzir. Considerando condições ideais de umidade, temperatura e oferta de alimento, as pulgas podem sobreviver por até 1 ano e meio. Entretanto, tomando como comparação a quantidade de ovos que uma fêmea põe, pouquíssimas pulgas chegam até a idade adulta.
As fêmeas são, em sua maioria, maiores do que os machos. Estas apresentam a extremidade final do abdômen mais arredondada, uma vez que nessa região se alojam as espermatecas, estruturas as quais, curiosamente, são utilizadas para reconhecimento entre grupos de pulgas. Em nível didático, é importante compreender que as espermatecas são órgãos que atuam como reservatórios para os espermatozoides e se localizam na porção posterior do abdômen da fêmea.
Ordem Siphonaptera: Famílias Taxonômicas
As famílias pertencentes à ordem taxonômica das pulgas (Siphonaptera) são em número de 15: Pulicidae, Xiphiopsillydae, Tungidae, Stephanocircidae, Rhopalopsyllidae, Pygiopsyllidae, Malacopsyllidae, Ischnopsyllidae, Hypsophthalmidae, Ctenophthalmidae, Coptopsyllidae, Chaimaeropsyllidae, Ceratophyllidae e Ancistropsyllidae.
Entre essas 15 famílias, 8 delas já tiveram pelo menos 1 representante catalogado no Brasil. No caso da família Tungidae, há representantes nos gêneros Tunga, Rhynchopsyllus e Hectopsylla, com parasitismo para homens/roedores, morcegos e aves, respectivamente. Para o gênero Stephanocircidae, o representante é o gênero Craneopsylla, o qual parasita roedores silvestres e, por vezes, marsupiais. A família Rhopalopsyllidae possui o maior número de representantes brasileiros do que as demais famílias, no caso seu quantitativo equivale à metade das pulgas encontradas por aqui.
Continuando às famílias com representantes catalogados no Brasil, a família Pullicidae preenchem esse requisito através dos gêneros Ctenocephalides, Pulex e Xenopsylla, os quais parasitam predominantemente animais domésticos. No caso da família Leptopsyllidae, o gênero encontrado é o Leptosylla, o qual parasita roedores. Para a família Ischnopsylidae, são encontrados os gêneros Hormopsylla, Ptilopsylla, Rothschildopsylla, Myodopsila e Sternopsylla, os quais parasitam morcegos. Em relação à família Ctenophtalmidae, o gênero Adoratopsylla é o representante brasileiro. A família Ceratophyllidae está representada por aqui através do gênero Nosopsyllus.
Espécies de Pulgas de Importância Médica: Xenopsylla cheopis
Esta espécie é encontrada em regiões de clima tropical e subtropical, assim como em certas áreas de clima temperado. O rato é o seu principal hospedeiro.
A Xenopsylla cheopis é considerada uma espécie cosmopolita, porém dentro do seu mesmo gênero está a Xenopsylla brasiliensis, a qual, apesar do nome, é de origem africana, tendo posteriormente se disseminado para a América do Sul. Ambas as espécies tem uma longevidade média muito grande, em geral 100 anos, se alimentadas. A distinção entre essas duas espécies é observada através da presença de cerdas pré-oculares, assim como do formato das cerdas na borda posterior da cabeça.
A Xenopsylla cheopis é conhecida pela transmissão de duas doenças: a peste negra ou bulbônica (cujo agente etiológico é o bacilo gram-negativo Yersinia pestis); e o tifo murinho (cujo agente etiológico é o bacilo gram-negativo Rickettsia typhi).
A peste bulbônica chegou a matar de 75 a 200 milhões de pessoas na Eurásia, entre os anos de 1346 e 1353. Sua origem provável remete às planícies áridas da Ásia Central, de onde se espalhou através da rota da seda. A infecção era resultante da picada da pulga que parasitava o rato. Nesta época, era grande o quantitativo de roedores que habitavam as pradarias e galerias subterrâneas. A peste negra resultou em diversos impactos econômicos, sociais e até mesmo religiosos, de modo a interferir até mesmo no curso da história europeia.
Em relação à transmissão do tifo murinho, esta ocorre através das fezes das pulgas. Apesar de ser uma zoonose típica dos ratos, pode atingir os homens que trabalhem em locais infestados por ratos. Esse quadro clínico também pode ser transmitido por ácaros e piolhos igualmente contaminados com a bactéria Rickettsia typhi. Os sintomas incluem manchas avermelhadas pelo corpo; dor de cabeça e no corpo; febre alta e constante; confusão mental; náusea e vômito. Genericamente, são categorizadas como tifo doenças infectocontagiosas como o tifo murino, tifo scrub e tifo epidêmico.
Medidas de controle dessas duas infecções incluem, principalmente, o controle químico para as pulgas. No caso das estratégias de longo prazo, estas incluem evitar com que os roedores se proliferem, seja em residências, galpões ou áreas de depósitos. Ter atenção à população de roedores é uma medida fundamental de educação sanitária, a qual também pode evitar a transmissão de outras doenças.
Espécies de Pulgas de Importância Médica: Tunga penetrans
A espécie Tunga penetrans também é conhecida como bicho de pé, assim como outros termos a exemplo de dengoso, bitacaia, bicho de porco, esporão, jatecuba, bichô, batata baroa, matacanha, moranga, piolho de faraó, taçuru, tuçuru, pulga penetrante, tartané, zunga, xiquexique, vitacaia e uma infinidade de outros nomes.
É conhecida pela transmissão da tungíase, a qual pode originar também outros quadros secundários.
A origem desta espécie remonta às Antilhas, assim como às porções tropicais e subtropicais do continente americano. Os europeu a conheceram através da chegada de Colombo no ano de 1492. Os europeus também teriam contribuindo para a introdução da espécie na África a parir do século XVIII. Da África, a pulga migrou para a Ásia.
Em relação às características físicas, possui menos de 1 milímetro de comprimento. Assim como as demais espécies do seu gênero, não apresenta espinhos na face interna das suas coxas posteriores; também não há protuberância na base dos fêmures do terceiro par de patas.
No abdômen, o terceiro e segundo segmento não apresentam estigmas. Lembrando que os estigmas (também chamados de espiráculos) são pequenos orifícios laterais característicos dos insetos, e presentes em quase todos os segmentos abdominais. No macho, todos esses estigmas possuem o mesmo tamanho; ao passo que, nas fêmeas, os estigmas posteriores são bastante desenvolvidos, e os estigmas anteriores são diminutos. A justificativa evolutiva para essa distinção no tamanho dos estigmas reside no fato de que os estigmas posteriores ficam em contato com o ar, quando a fêmea penetra na pele do hospedeiro.
A coloração desta pulga é vermelho-amarronzada. Seus olhos são pequenos e sua fronte angulosa. Toda pulga desta espécie é segmentada, porém a fêmea após a fecundação aumenta de tamanho de modo que sua segmentação não fique mais aparente.
Possui um ciclo de vida bastante semelhante às outras pulgas. O macho e a fêmea (quando não fecundada) vive m como ectoparasitas na superfície da pele. Após a fecundação, a fêmea invade e perfura a pele do hospedeiro. Ao perfurar a pele do hospedeiro, a pulga secreta uma substância específica, a qual resulta na sensação de coceira.
Na incubação, a fêmea utiliza o sangue e líquido tissular tanto para a sua nutrição pessoal, quanto para propiciar o desenvolvimento dos ovos. Nesta fase, chega a inchar até 80 vezes mais do que o seu tamanho original, gerando dentro de 8 a 19 dias. Este aumento considerável de tamanho obviamente gera certa protuberância no hospedeiro, a qual, neste caso, é denominada neosoma.
Mesmo perfurando a pele, a fêmea mantém certa abertura para o exterior, de modo que possa respirar e expelir os ovos. Ao todo, em cada dia deste ciclo, são produzidos entre 100 a 200 ovos, os quais são expelidos com certa força e velocidade. Após o lançamento de um total de 3 mil ovos, o ciclo está finalizado. Com a finalização do ciclo, a fêmea sai do hospedeiro e morre em vida livre, ou então é destruída pelo próprio sistema imune do hospedeiro.
Com a eclosão dos ovos, as larvas começam a se desenvolver. As condições ideais para esse desenvolvimento incluem solo úmido e sombreado. Na forma de larva, existem apenas 2 estágios (diferentemente dos 3 estágios larvais da maioria das outras pulgas). Esta larva em sua forma L2, antes de virar pupa, procura a superfície do solo seco para confeccionar um casulo, a partir de materiais como poeira e outros detritos.
O período entre o ovo e a fase adulta possui duração de 4 a 6 semanas. Caso as condições externas sejam extremamente favoráveis, este período poderá encurtar para 3 semanas.
A infestação/ quadro clínico causado por esta espécie recebe o nome de tungíase, a qual por vezes pode resultar na formação de úlceras e/ou infecções secundárias. Nos seres humanos, as regiões mais atingidas são o calacanhar, a sola dos pés, a região entre os dedos, assim como as bordas e cantos das unhas; as mãos também estão inclusas como áreas preferenciais.
A Tunga penetrans é encontrada preferencialmente em terrenos secos e arenosos, no entanto, também ocorre bastante em áreas com lamaçais, a exemplo de currais, chiqueiros e até praia. A pele entre os dedos dos pés lidera o índice de ocorrência, uma vez que nesta área a pele é mais fina e tenra do que nas demais áreas preferenciais.
As áreas preferenciais para incidência da infestação são assim denominadas pela probabilidade que possuem para o contato e exposição ao ambiente externo, contudo a pulga também pode penetrar em locais considerados de certa forma atípicos, tais como as pálpebras, ânus e escroto. Existem casos mais graves e severos de tungíase que envolvem a infecção de todo o corpo.
Possíveis complicações de um caso de tungíase não tratado incluem dificuldades na postura e locomoção, necrose tendinosa e óssea. Os casos mais severos de complicação também podem implicar na perda dos dedos.
Além das complicações, a possibilidade de infecções secundárias também não deve ser negligenciada. Algumas dessas infecções incluem as blastomicoses (causadas pelo fungo Paracoccidioidomicose brasiliensis), a gangrena gasosa (causada pela bactéria Clostridium perfringens) e até mesmo tétano (agente etiológico Clostridium tetani). Algumas dicas para evitar tais infecções incluem remover a fêmea do interior da pele, pois mesmo que a fêmea morra após depositar os ovos, a permanência desta no hospedeiro pode ser uma porta de entrada para a manifestação de outros quadros.
Espécies de Pulgas de Importância Médica: Pulex irritans
Pulex irritans é uma das 6 espécies pertencentes ao gênero taxonômico Pulex. Sua origem provável remonta à América do Sul. Os primeiros hospedeiros da espécie teriam sido os pecari ou o porquinho da índia, contudo, na atualidade, esta pulga é conhecida por parasitar um grande diversidade de hospedeiros (desde mamíferos até aves), dentre os quais, os humanos e animais domésticos também estão presentes.
No quesito animais domésticos, estão inclusos os cães e gatos, principalmente. Animais criados em cativeiro também são frequentemente referidos como alvos desse parasitismo, a exemplo de macacos, galinhas e porcos. O mesmo raciocínio é válido para os animais selvagens, no caso, roedores, ratazanas, morcegos e felinos.
Os sintomas referentes à mordedura dessa pulga nos homens incluem vermelhidão, coceira e inflamação cutânea.
Áreas com pêlos são as mais suscetíveis, uma vez que as pulgas podem se mover com certa facilidade e rapidez entre sobrancelhas, regiões púbicas e outras. A depilação, assim como utilização de xampus e pentes específicos, faz parte do tratamento do quadro.
Espécies de Pulgas de Importância Médica: Ctenocephalides Canis e Ctenocephalides Felis
Essas espécies são ectoparasitas respectivamente de cães e gatos domésticos, no entanto, às vezes também podem morder seres humanos. Uma curiosidade bastante peculiar é que são capazes de despejar aproximadamente 4.000 ovos na pele do hospedeiro.
Entre as infecções que tais espécies podem transmitir para cães , gatos e homens destacam-se quadros de dermatite tópica, bartonelose e tifo murino. A bartonelose é transmitida pelo gênero de bactérias gram-negativas Bartonella. Acredita-se que estas bactérias infectem seres humanos a alguns milhares de anos. Gatos infectados pela Bartonella henselae podem transmitir a famosa doença do arranhão de gato para humanos, a qual é manifestada através de sintomas como inchaço ou bolha no local da lesão (sem presença de dor), linfonodos inchados e dolorosos, febre e dor de cabeça.
Em algumas circunstâncias, estas espécies de pulgas na forma imatura podem se tornar portadoras da Dipylidium caninum. Uma descoberta de certa forma interessante é que a pulga de gato (Ctenocephalides felis) é capaz de carregar a bactéria Borreria burgdorferi, no entanto possui apenas uma pequena chance de transmitir a doença.
Em relação às características físicas das duas espécies, machos e fêmeas adultos medem entre 1 a 2 milímetros de comprimento. A cor costuma ser marrom avermelhada. No caso de fêmeas grávidas, o aumento de volume dos mesmos traz a sensação de possuírem faixas em tom creme e marrom escuro. O corpo é comprimido lateralmente, característica que possibilita melhor deslize entre os pêlos.
Como são ectoparasitas, possuem peças bucais adaptadas para sugar o sangue e perfurar a pele.
A distinção entre a pulga de gato e a pulga do cachorro pode ser notada através da cabeça e das tíbias das patas traseiras. A cabeça da pulga do cachorro é mais arredondada, ao passo que a da pulga do gato é mais alongada. A pulga do cachorro possui 8 entalhes com cerdas nas tíbias de suas patas traseiras, enquanto que a pulga do gato possui 6 entalhes com cerdas. As pernas traseiras são mais longas e, dessa forma, adaptadas para o salto.
Estas duas espécies passam por 4 estágios no ciclo de sua vida, são estes o ovo, a larva, a pupa e o imago.
Acredita-se que uma fêmea adulta devidamente alimentada seja capaz de produzir entre 20 a 30 ovos por dia, os quais possuem dimensão microscópica (0,5 milímetros). No caso da pulga de gato, esses ovos são dispersos no ambiente e, dentro de 2 a 7 semanas, eclodem na forma de larvas. Para a pulga de cachorro, literaturas referem que o ciclo completo tem duração de 2 a 3 semanas.
A população de pulgas está distribuída dentro do percentual de aproximadamente 50% para ovos, 35% para larvas, 10% para pupas e 5% para adultos.
Cada larva tem aproximadamente 2 milímetros de comprimento. Estas frequentemente evitam a luz e se escondem no substrato ao seu redor. Condições ideais para o desenvolvimento destas larvas incluem umidade e calor. Neste estágio, podem alimentar-se de várias elementos orgânicos, mas principalmente farelos de sangue seco.
Antes de entrar no casulo e virarem pupa, as larvas passam por 4 estágios. Condições como temperatura e umidade influenciam ativamente na duração desta pupa.
Na forma adulta, as pulgas utilizam-se de fatores como luz, sombra, e até aumento de calor ou de emissão de CO2 para detectarem a presença de algum hospedeiro.
Em relação aos sinais e sintomas resultantes da picada dessas pulgas tanto em cães, gatos ou seres humanos, estes podem variar desde leves pruridos e desconfortos, até a casos mais severos de inflamação cutânea e infecções.
Nos seres humano, é habitual que apareçam erupções cutâneas com pequenos inchaços, os quais podem sangrar com facilidade. Estas erupções possuem preferência por áreas como cotovelo, joelho, tornozelo, axila, e demais áreas conhecidas como ‘dobra de articulação’.
Para os cães e gatos (especialmente no caso dos cães), o incomodo gerado pela presença dessas pulgas os estimula a coçarem, arranharem ou morderem áreas como a cabeça, pescoço e cauda (locais de preferência para picada das pulgas). O ato de morder e arranhar incessantemente esses locais faz com que a pele fique vermelha e inflamada. Quando o animal tem alergia à saliva da pulga, a inflamação e irritação da pele torna-se mais evidente, podendo apresentar inclusive mau cheiro.
Em circunstâncias extremas, a picada por pulgas pode resultar até mesmo em anemia.
Espécies de Pulgas de Importância Médica: Pulga de Rato do Norte
Esta espécie possui nome científico Nosopsyllus fasciatus. É parasita de ratos domésticos e camundongos, contudo é encontrada apenas nas regiões de clima temperado.
Esta espécie possui o corpo alongado, e comprimento entre 3 a 4 milímetros. Na frente da cabeça, possui um tubérculo proeminente. Na parte interna do fêmur traseiro, estão presentes de 3 a 4 cerdas.
Esta espécie é conhecida por parasitar principalmente o roedor chamado de rato da Noruega (nome científico Rattus novergicus), contudo também já foi observada alimentando-se de humanos e de roedores selvagens. Outra particularidade é que essa espécie é conhecida por servir como hospedeiro para a tênia de rato (nome científico Hymelopsis diminuta) em algumas zonas da Austrália, Europa e até mesmo América do Sul.
Pulgas em Animais de Estimação: Revisando Novamente os Sintomas
Entre os tópicos acima, os sintomas da pulga em pets são descritos dentro do eixo pulga de cão e gato, contudo, é sempre importante dar uma nova revsada por aqui.
A infestação crônica de pulgas em cães e gatos resulta principalmente em dermatite alérgica, coceira e intenso desconforto. O incomodo pode ser tão grande que faz com que os animais comecem até mesmo a se ferir, a partir de lambidas e arranhões intensos. A coceira é causada pela inoculação dos antígenos presentes nas glândulas salivares destas pulgas. Casos mais graves de infestação podem resultar até mesmo em anemia.
No caso da anemia em particular, esta é chamada de anemia parasítica e decorre de uma perda sanguínea significativa. Os sintomas incluem apatia, baixa temperatura corporal e gengivas esbranquiçadas.
Como Eliminar as Pulgas dos Animais de Estimação ? Medicação e Dicas de Higiene
Primeiramente, é importante que os cães ou gatos recebam um banho, o qual pode ser com um xampu leve ou solução com cheiro de frutas cítricas. Nesta primeira etapa, também pode ser utilizada uma loção anti-pulgas comercial.
Depois do banho, é hora de pentear o animal com um pente específico para remoção de pulgas, o qual deve ser utilizado durante muitos estágios do tratamento.
A consulta com o veterinário é sempre importante. O profissional pode receitar sprays e pós para serem aplicados diretamente na pele do animal, assim como medicamentos de ingestão oral. Você pode solicitar ao veterinário que apare ou tosse o pêlo do animal antes deste receber o tratamento, de modo que o medicamento tenha maior absorção. É importante lembrar que as pulgas vivem na pele do pet, não em seu pêlo.
Algumas medicações orais, tais como o Capstar, podem ser administradas junto com anti-pulgas tópicos, como é o caso do Frontline. Deve-se prestar bastante atenção à dosagem, de modo que ela seja sempre a apropriada e não haja riscos de overdose.
Medicamentos para pulgas são específicos para cães ou para gatos. Nunca um gato deve receber medicamento anti-pulgas destinado a um cachorro, principalmente porque o sistema nervoso felino é bem sensível e específico. Medicamentos à base de permetrina, por exemplo, podem causar convulsões e morte em gatos.
Uma recomendação super útil é que o medicamento anti-pulgas seja administrado/dado ao animal no mesmo dia em que as pulgas forem exterminadas da casa ou quintal.
Roupas de cama do animal, assim como qualquer tecido ou objeto com o qual o mesmo entrar em contato, também devem ser tratados e devidamente higienizados. A lavagem convencional na máquina ajuda a reduzir bastante o quantitativo de larvas e de ovos, contudo não os mata, apenas remove através da drenagem. Neste casos, recomenda-se o ciclo de lavagem seguido pelo ciclo seco normal durante 30 minutos, o qual vai exterminar as pulgas e ovos remanescentes.
Após a lavagem, os tecidos devem ser removidos da máquina de lavar e embrulhados em sacos de lixo ou lençóis, deixando-os neste estado durante 12 horas, até que toda a casa e os animais sejam desinfetados.
Após o tratamento, o ideal é que o animal seja mantido dentro de casa durante pelo menos 30 dias. De qualquer forma, é importante evitar grama alta, áreas arenosas ou com cascalho, assim como folhas caídas.
Como medida preventiva, também recomenda-se que os animais sejam mantidos dentro de casa durante os meses de inverno, principalmente no caso dos gatos.
Cães e gatos já devidamente tratados e curados devem receber um preventivo anti-pulgas a cada 30 dias. Caso o animal permaneça apenas em domicílio, este tratamento preventivo pode ser estendido para um prazo de 4 meses.
Como Acabar com as Pulgas de Vez no Ambiente Doméstico ?
As dicas mais importantes deste tópico são inevitavelmente relacionadas à higienização periódica do domicílio. O aspirador pode ser um grande aliado na limpeza de tapetes, estofamentos e carpetes, e para isso, recomenda-se colocar uma coleira anti-pulgas fatiada no saco do aspirador. Ao final, esse saco do aspirador deve ser descartado em uma lata de lixo externa, o aspirador de pó deve ser virado de cabeça para baixo e sobre o seu bico despejado uma solução anti-pulgas.
O piso deve ser sem dúvidas o principal alvo para a limpeza. Após aspirar tapetes, estofados e afins, é hora de dar a devida atenção às superfícies lisas. Nestes casos, recomenda-se passar um esfregão ou pano limpo embebido em pinho sol ou vinagre de maça. Estas soluções de certa forma incitam as pulgas a saírem dos buracos e rachaduras, tornando-as vulneráveis aos sprays e vapores que irão finalizar a dedetização.
Antes da utilização de sprays ou vaporizadores de controle de pulgas, deve-se ler as instruções de modo a se certificar que o produto mate ovos de pulga. O ideal é que estes produtos contenham pelo menos uma dessas substâncias: piriproxifeno, metopreno e fenoxicarbe.
As áreas nas quais o spray deve ser borrifada incluem tapetes, carpetes, mobílias, rodapés, paredes, assim como nas frestas da porta, rachaduras no piso, e até mesmo por baixo das mobílias e decorações (uma vez que as larvas se escondem em locais escuros, mesmo que os animais não caibam embaixo destes locais).
Objetos de uso pessoal também devem receber borrifadas, de modo a evitar a picada de pulgas. No caso, itens que requerem maior atenção são sapatos, meias e calças (com cuidado maior para os bolsos). Independentemente dos objetos, os calcanhares dos moradores também devem receber esses spray repelente, esta aplicação pode ser interrompida após 3 dias. Utilizar óleo de mentol nos calcanhares é outra medida considerada preventiva.
As áreas externas como o quintal também precisam limpas. Antes de aplicar o spray, a recomendação é remover detritos como pedaços de vidro, folhas ou outros itens orgânicos. A grama também deve ser aparada. Em relação á borrifação do spray, certifique-se que o mesmo está sendo aplicado em áreas consideradas críticas (tal como a casinha do cachorro), assim como em áreas sombreadas que podem ser esquecidas, tais como embaixo das árvores, embaixo de arbustos, embaixo de espreguiçadeiras ou outros objetos. O piso e parede da varanda também merecem atenção.
Assim como o tratamento para os cães deve ser repetido após 30 dias, a ‘dedetização’ da casa deverá ser repetida após 2 semanas. A necessidade reside no fato de que muitas pulgas provavelmente ainda estarão no casulo, ou em estágios de pupa (contribuindo para que não sejam alcançadas por muitos inseticidas). Logo, esta segunda aplicação teria como objetivo eliminar as pulgas que estavam encapsuladas antes.
Algumas dicas adicionais incluem a informação de que pulgas não sobrevivem em ambientes gelados, logo, sempre que possível recomenda-se manter o ar-condicionado ligado. Esta medida auxilia no processo, mas não é obrigatória, é apenas uma dica (uma vez que pode se tornar encarecer a conta de luz).
Após tratar a casa, recomenda-se revestir os móveis com capas.
Dicas de Soluções Caseiras para Pulgas em Ambientes e Animais
É sempre bom lembrar que as dicas caseiras não substituem um produto fabricado especificamente para esse fim, assim como não substituem uma consulta com um profissional. Mas, no caso dos animais de estimação, aplicar frutas cítricas em seus pêlos tem demonstrado aliviar o quadro. A vantagem do suco de laranja, limão, ou até mesmo dos óleos cítricos, é que o animal não vai se machucar ao lambê-los.
Adicionar vinagre de maça na tigela de água do cãozinho (na concentração de 1 colher de chá de vinagre de maça para 4 copos de água) torna o sangue deste com sabor desagradável para as pulgas. No entanto, o resultado não é imediato e só será manifestado após 2 ou 3 tigelas de água. Aumentar a concentração de vinagre de maça também não é recomendado.
Para o ambiente, utilizar o sal comum de mesa sobre os tapetes pode ajudar a matar as pulgas mais rapidamente. A dica é passar aspirador 3 dias depois. 3 semanas após o processo, aplicar novamente sal e aspirar 3 dias depois.
Uma dica sensacional para o quintal é utilizar predadores naturais, no caso, nematódeos encontrados em pet-shops, lojas de produtos orgânicos ou produtos de jardinagem. Esses nematódeos ingerem as larvas das pulgas, e, dessa forma, interrompem a proliferação.
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Até as próximas leituras.
REFERÊNCIAS
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