A resposta rápida a essa pergunta seria: não. Utilizar o verbo correr seria um tanto errado, já que as cobras, diferentemente dos outros répteis, têm o hábito de rastejar pelo chão. A resposta mais elaborada seria que: assim como todos os animais tendem a se defender quando se sentem ameaçados, as cobras Urutu-cruzeiro, quando acuadas, costumam enrodilhar-se, ou seja, torce-se, vibram a cauda e desferem botes contra a possível “ameaça”. Por isso as pessoas costumam dizer que elas correm atrás das pessoas, quando na verdade é uma ação de defesa. E quem são essas cobras? Cientificamente elas são conhecidas como Bothrops alternatus. Pertencem ao gênero Bothrops, família Viperidae. É uma espécie de víbora peçonhenta e que pode ser encontrada no centro-oeste, sudeste e sul do Brasil.
Família Viperidae
A família Viperidae, em sua maioria, apresenta espécies de cobras com a cabeça triangular e fossetas loreais de temperatura (que são órgãos capazes de detectar variações mínimas de temperatura e ficam localizados entre as narinas e os olhos). O aparelho venenoso desta família é considerado o mais eficiente de todos os répteis. Produzem principalmente veneno hemotóxico, também conhecido como hemolítico, que é capaz de destruir as hemácias, causando falência renal e uma possível insuficiência respiratória. Além desse, a família pode produzir também veneno do tipo neurotóxico, que afeta o sistema nervoso causando inicialmente paralisia dos músculos faciais e em alguns casos nos músculos responsáveis pela deglutição e respiração, podendo assim, causar asfixia e consequente morte. Os dentes curvos, comuns na família, podem injetar veneno profundamente no corpo da presa. São sensíveis à radiação infravermelha, conseguindo detectar as presas devido ao fato dessas terem uma temperatura diferente do meio onde se encontram.
Gênero Bothrops
O gênero Bothrops apresenta espécies com grande variabilidade, principalmente nos padrões de coloração e tamanho, ação da peçonha (veneno), entre outras características. Popularmente, as espécies são denominadas como jararacas, cotiaras e urutus. São serpentes peçonhentas e, por isso, o contato com elas é considerado perigoso. Atualmente, 47 espécies são reconhecidas, mas devido a taxonomia e sistemática deste grupo estar mal resolvida, novas análises e descrições estão sendo feitas para tentar solucionar o problema.
Distribuição da Cobra Urutu-Cruzeiro e seus Diversos Nomes
Dentre as espécies do gênero citado anteriormente, encontra-se a Bothrops alternatus ou popularmente chamada de Urutu-cruzeiro. Esta é uma serpente venenosa vista no Brasil, Paraguai , Uruguai e Argentina, ocupando predominantemente áreas abertas. O nome específico , alternatus , vem do latim e significa “alternar”, sendo aparentemente uma referência às marcas escalonadas presentes no corpo do animal. Urutu vem do tupi e os nomes “Urutu-cruzeiro”, “cruzeiro” e “cruzeira” são referências à mancha cruciforme presentes na cabeça dos indivíduos da espécie. Na Argentina , ela é conhecida como víbora de la cruz e yarará grande. No Paraguai chama-se mbói-cuatiá, mbói-kwatiara (dialeto Gí) e yarará acácusú (dialeto guarani). No Uruguai é referida como crucera, víbora de la cruz e yarará. No Brasil recebe vários nomes: boicoatiara, boicotiara (dialeto tupi), coatiara , cotiara (sul do Brasil), cruzeira, cruzeiro, jararaca de agosto (região do Rio Grande do Sul, região da Lagoa dos Patos), jararaca rabo-de-porco e urutu.
Características Morfológicas da Cobra
É uma serpente venenosa, considerada de grande porte, podendo atingir 1.700 mm de comprimento total. Possui corpo bastante robusto e cauda relativamente curta. As fêmeas alcançam maior tamanho e possuem o corpo mais robusto que os machos. O padrão de cores é extremamente variável.
É classificada na série solenóglifa, quanto ao tipo de dentição, por ter as presas inoculadoras de veneno varadas por canais para a condução do veneno produzido em glândulas. Seu veneno é o mais tóxico dentre as jararacas, com a exceção da jararaca-ilhoa, três vezes mais peçonhenta.
O padrão de cores é extremamente variável. No corpo, há uma série de 22-28 marcas dorsolaterais que são de cor marrom chocolate a preto e delimitadas em creme ou branco. Ao longo da linha vertebral, essas marcas podem se opor ou alternar. Cada marcação é ampliada e invadida por baixo pela cor mais clara do solo, de modo que ela se pareça com uma cruz, envolve uma mancha mais escura ou divide a marcação em três partes. Na cauda, o padrão se funde para formar um padrão em ziguezague. Em alguns espécimes, o padrão é tão concentrado que não há diferença de cor entre as marcações e os interespaços. A superfície ventral inclui uma faixa marrom escura a preta que começa no pescoço e desce até a ponta da cauda.
Habitat e Comportamento
É uma cobra terrestre cuja a dieta é composta por pequenos mamíferos. É vivípara, tendo sido registradas ninhadas compostas por até 26 filhotes. Esta espécie, assim como as demais do gênero Bothrops, apresenta veneno de ação proteolítica, coagulante e hemorrágica e pode causar acidentes fatais, ou mutiladores se não forem corretamente tratados com soro antiofídico. No Brasil, e algumas áreas de ocorrência, destacando-se Rio Grande do Sul, possui importância médica, sendo responsável por acidentes em humanos.
Ocorre em florestas tropicais e semitropicais, bem como em florestas decíduas temperadas . Segundo alguns pesquisadores, elas prefere pântanos, pântanos baixos, zonas ribeirinhas e outros habitats úmidos. Também é dito que são comuns em plantações de cana de açúcar. São encontradas em uma variedade de habitats, dependendo da latitude, incluindo campos abertos e áreas rochosas na Sierra de Achiras em Córdoba e na Sierra de la Ventana em Buenos Aires na Argentina , áreas fluviais , pastagens e cerrado . No entanto, geralmente é ausente em ambientes secos.
Poder Peçonhento da Urutu-Cruzeiro
Popularmente ela é conhecida por causar graves acidentes em humanos, sendo comum o ditado: “A urutu quando não mata, aleija”. Inclusive até uma música existe que enfatiza esse poder peçonhento da cobra. A música é Urutu-Cruzeiro de Tião Carreiro e Pardinho. A música diz o seguinte:
“Nesse dia fui picado por uma cobra urutu/ Hoje eu sou um aleijado ando pro mundo jogado/ Veja o destino de um homem pedindo a um bom coração/ Um pedacinho de pão pra eu não morrer de fome/ Veja só o resultado daquele urutu malvado/ Poucos dias já me resta, com fé em São Bom Jesus/ Hoje eu carrego a cruz que o urutu leva na testa.”
Porém, contrariando as crenças populares, pesquisas recentes mostram que o veneno da urutu é pouco ativo quanto as atividades enzimáticas, não apresenta ação amidolítica e possui baixa atividade caseinolítica e fibriolítica. Além disso, atua moderadamente sobre o plasma total. As picadas raramente são fatais, mas frequentemente causam danos severos aos tecidos locais. Apesar de ter a fama de uma das cobras mais venenosas do Brasil , as estatísticas contam uma história diferente. Não há muitos relatos concretos de mortes ou graves danos teciduais envolvendo a cobra. O que pode ser por dois motivos: 1) a cobra não ter todo esse poder peçonhento que relatam ou 2) os casos não serem registrados pela medicina. Na dúvida, o melhor a se fazer é, caso seja atacado por essa cobra, procurar o hospital mais próximo para aplicação do soro antiofídico o mais rápido possível e evitar ao máximo estar em locais onde houve o registro recente da cobra. A prevenção é sempre a melhor opção.