Avicularia. A primeira impressão de interpretação que essa palavra nos causa é que tem haver com aves, não é mesmo? E não está tão incorreto pensar assim pois, segundo dicionários em língua portuguesa, aviculária é o mesmo que aviculário, pessoa responsável pelo manejo e criação de aves.
Note, porém, que o termo de nosso artigo é avicularia, sem acento. E é deste tipo que avicularia que queremos falar, e não aviculária, ou aviculário, com acento. Portanto, nosso assunto nesse artigo não terá nada haver com aves, mas sim com aranhas.
Avicularia o que é?
Avicularia é um gênero de aranhas migalomorfas (caranguejeiras) pertencentes a família theraphosidae. Espécies deste gênero ocorrem na América do Sul, Panamá e Trinidad e Tobago. Poucas avicularias são facilmente identificáveis: muitas espécies são semelhantes, além disso, as referências para identificá-las são frequentemente muito antigas e levam à confusão. É por isso que algumas espécies são chamadas avicularia sp. o que significa que a espécie não é conhecida.
O gênero avicularia foi erguido em 1818 por Jean-Baptiste Lamarck para espécies anteriormente colocadas em mygale latreille, o nome do gênero usado na época para a maioria das aranhas caranguejeiras. Uma das espécies que Lamarck incluiu em seu novo gênero foi avicularia canceridea, que incluiu aranea avicularia, descrita pela primeira vez por Carl Linnaeus em 1758.
Araneologistas continuaram a usar o nome migalomorfas, embora este tenha sido usado para um gênero de mamíferos em 1800, então não estava disponível para Latreille usar em aranhas. Ausserer em 1871 usou o termo avicularia, mas um grau de confusão persistiu até uma decisão da Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica, em 1928, estabeleceu a exatidão para o termo avicularia, sendo a espécie inicial de Lineaeus denominada definitivamente avicularia avicularia.
O avicularia de Linnaeus é derivado do latim avicula, que significa “passarinho”, e se refere a uma ilustração de 1705 de uma pintora famosa à época onde via-se uma caranguejeira comendo um pássaro. Uma grande revisão do gênero reduziu drasticamente o número de espécies reconhecidas, de mais de 50 para 12, a partir de março de 2017. Algumas espécies foram transferidas para outros gêneros, com outras reduzidas a sinonímia. Ainda mais nomes são considerados duvidosos em sua aplicação (nomina dúbia).
Quais são Seus Representantes?
Em março de 2017, o Catálogo Mundial de Aranhas aceitou as seguintes espécies:
Avicularia avicularia (Linnaeus, 1758), Avicularia caei (Fukushima & Bertani, 2017), Avicularia glauca (Simon, 1891), Avicularia hirschii (Bullmer, Thierer-Lutz & Schmidt, 2006), Avicularia juruensis (Mello-Leitão, 1923), Avicularia lynnae (Fukushima & Bertani, 2017), Avicularia merianae (Fukushima & Bertani, 2017), Avicularia minatrix (Pocock, 1903), Avicularia purpurea (Kirk, 1990), Avicularia rufa (Schiapelli & Gerschman, 1945), Avicularia taunayi (Mello-Leitão, 1920) e Avicularia variegata (F. O. Pickard-Cambridge, 1896).
Uma das características mais notáveis da espécie avicularia é seu estranho método de defesa. Quando ameaçados, sua primeira escolha é pular ou fugir o mais rápido possível – ocasionalmente, no entanto, eles lançam um jato de excremento na ameaça percebida. Os adultos são capazes de ter boa precisão e variam entre 0,5 e 1 m. Obtenhamos um pequeno resumo de algumas dessas espécies representantes:
Avicularia Avicularia
Pode-se considerar essa a precursora do gênero, pois foi através dela que Linnaeus deu origem ao gênero, embora alguns contestem, dizendo que ele referia-se a theraphosa blondi por conta da ilustração. Mas a ilustração só serviu como inspiração pra o taxonomista denominar a espécie, mas era esta a aranha que ele tinha sendo examinada.
A espécie avicularia avicularia é uma caranguejeira que ocorre na Venezuela, Trinidad e Tobago, Guiana, Suriname, Guiana, Brasil, Bolívia e Peru. É popularmente conhecida como tarântula de dedos rosa.
Avicularia Caei
Esta é uma espécie de caranguejeira só encontrada aparentemente no território brasileiro, medindo cerca de 10 a 13 centímetros. Não há muitos dados correspondentes.
Avicularia Glauca
Esta é uma espécie de caranguejeira que só é encontrada aparentemente em território panamenho. Não há muitos dados correspondentes. Em março de 2017, apenas um único espécime preservado feminino era conhecido.
Avicularia Hirschii
Esta é uma espécie também sem muitos dados correspondentes para documentar. Aparentemente, é uma espécie de caranguejeira que pode ser encontrado no Equador, no Peru e no Brasil.
Avicularia Juruensis
Também referem-se a esta espécie como avicularia urticans. Essa espécie é considerada como endêmica do Peru, mas atualmente é encontrada também em países como Colômbia, Brasil e Equador.
Avicularia Lynnae
Espécie cuja definição taxonômica é recente, sendo o lynnae uma referência homenageando a esposa de um taxonomista. A espécie é considerada nativa no Equador e no Peru.
Avicularia Merianae
Também uma espécie cuja definição taxonômica foi descrita recentemente, em 2017. É nativa apenas do Peru, aparentemente.
Avicularia Minatrix
Há quem diga que essa espécie é encontrada somente na Venezuela, mas há quem afirme que também pode ser encontrada no Brasil. É uma espécie com cerca de 3 a 5 cm, descrita pela primeira vez através de uma fêmea encontrada na capital de Crespo, na Venezuela.
Avicularia Purpurea
Há quem diga que essa espécie é encontrada apenas no Equador, mas há quem afirme que também pode ser encontrada no Peru. A característica marcante está no brilho púrpura que se reflete no corpo da caranguejeira à luz do dia.
Avicularia Rufa
Esta é uma caranguejeira considerada tipicamente brasileira e confundida invariavelmente com a avicularia juruensis. Mas diferenças morfológicas criaram a evidência necessária para classificá-la como uma espécie independente do gênero.
Avicularia Taunayi
Esta é uma espécie de caranguejeira só encontrada aparentemente em território brasileiro, mais precisamente na região centro-oeste. Mas ainda não há dados correspondentes documentados.
Avicularia Variegata
Também referem-se a essa espécie como avicularia bicegoi. Esta espécie é aparentemente encontrada apenas na Venezuela e no Brasil. Até 2017, era considerada uma sub-espécie de avicularia avicularia.
Como talvez tenha notado, muitas dessas aranhas caranguejeiras são nativas ou podem ser encontradas em território brasileiro. Isso é um fato e recorrente principalmente nas regiões onde predomina a mata atlântica. São aranhas que invariavelmente assustam e intimidam por seu tamanho e aparência peluda. O que fazer ao deparar-se com uma dessas?
Não há com o que se preocupar! Apenas deixe-a em paz e ela muito provavelmente se manterá inerte onde está, ou se afastará de você. Caranguejeiras dificilmente são agressivas e só se defenderão com mordidas, por exemplo, se forem importunadas ou se sentirem de algum modo ameaçadas. Caso seja mordido, o único efeito ruim disso será a dor que pode ser bem forte, mas nada mais grave como envenenamento ou necrose da área afetada. Não mate as aranhas!