Habitats Aquáticos X Habitats Terrestres
Considerando os animais vertebrados (e outros também, mas vamos focar nesse grupo) há uma grande diferença entre viver dentro da água e viver em uma porção terrestre, em todos os critérios biológicos.
A começar pela locomoção: pernas e pés não servem para o indivíduo correr dentro da água, já que tanto o empuxo como o atrito de um ambiente aquático não fazem o local ser eficiente para animais quadrupedes ou bípedes (já tentou correr dentro de uma piscina?).
E se o deslocamento fica difícil para aqueles que não tem barbatanas ou demais apêndices locomotores no formato de nadadeiras, realizar a respiração aeróbica é uma tarefa mais impossível ainda, já que os sistemas respiratórios dos animais aquáticos e terrestres tem bastante diferença: aquele que faz uso dos pulmões como os mamíferos e as aves não conseguem extrair o oxigênio dissolvido na água, tanto que muitos destes grupos aquáticos, apesar de terem excelentes fôlegos para mergulhos (como os golfinhos ou as gaivotas), sempre necessitam voltar a superfície para respirar.
O contrário também é valido, já que se retirarmos um peixe ou um girino (forma larval dos anfíbios) de seu habitat aquático, e que respira através de brânquias, e o colocarmos em terra firme, em alguns minutos ele estará agonizando por falta de oxigênio, já que as membranas de suas brânquias estarão colapsadas em contato com o ar atmosférico.
Não apenas os membros e apêndices responsáveis pelo deslocamento e o sistema respiratório diferem dentre os animais de vida aquática e terrestre: outros componentes e sistemas fisiológicos também são bastante distintos entre os grupos, como o sistema excretor, o sistema cardiorrespiratório, os órgãos do sentido (não espere ver bem embaixo da água), assim como outros processos biológicos envolvidos nos ciclos de vidas dos animais.
Claro que quando falamos em seres vivos, tem-se uma escala evolutiva a seguir, tendo assim alguns destes grupos saídos da água rumo a terra (e assim seus organismos estando adaptados a estes meios), e também tendo alguns destes terrestres fazendo o caminho inverso e voltando para a água (tendo que reconquistar algumas características que os permitiram viver no habitat aquático).
Sem Água não Há Vida
Apesar do nosso planeta chamar se Terra, caso uma grande maioria resolve-se mudar o nome para Água não seria algo tão ilógico, já que mais de 70% da superfície está submersa pelos oceanos e mares (a chamada água salgada), tendo ainda as bacias hidrográficas e seus componentes localizados nos continentes (a chamada água doce).
Por muito tempo a vida no planeta se deu dentro dos oceanos e grandes mares, pois já se sabe que a vida como conhecemos só foi possível ocorrer em um ambiente aquático: para toda a troca de matéria e energia envolvida no processo se fez necessário um solvente universal, como se fosse um grande laboratório cósmico com tentativas e erros de produzir entidades formadas por moléculas orgânicas, com capacidade de metabolização e autoreplicação.
E assim vieram os coacervados, que deram origem as primeiras bactérias (arqueobactérias), que deram origem as bactérias modernas, que deram origem aos protozoários, e estes irradiando-se da forma unicelular para a forma multicelular, dando início ao surgimento dos reinos dos vegetais, animais e dos fungos.
A necessidade do meio aquático pode ser observado nos paralelos que se encontram tanto nos grupo dos vegetais como dos animais vertebrados: é sabido que as briófitas, as primeiras plantas superiores conforme a escala evolutiva do reino vegetal, são muito mais dependente de ambientes úmidos do que outras divisões do reino, como as pteridófitas e as fanerógamas; de maneira semelhante nos vertebrados, os peixes são totalmente dependentes do ambiente aquático, enquanto os anfíbios já conquistaram o ambiente terrestre (apesar de ainda dependerem do clima úmido), e por fim com os répteis, as aves e os mamíferos menos dependente da água e de climas úmidos.
E como já dito, há o caminho inverso: os cetáceos (baleias, golfinhos, botos) são o grande exemplo de mamíferos que voltaram a viver no ambiente aquático que, apesar de terem seus membros com formato especifico de nadadeira, ainda possuem sistema pulmonar e são dependentes do ar atmosférico para a sua respiração.
Os Peixes: Primeiros Vertebrados
Peixe é a denominação ao grupo dos cordados (vertebrados) considerado o mais primitivo conforme a escala evolutiva estabelecida (seja por critérios morfológico e fisiológico, ou ainda genético e molecular).
Todas as espécies que compõem os peixes vivem obrigatoriamente em ambientes aquáticos, sendo classificados em duas grandes divisões: os peixes ósseos (Osteichthyes) e os peixes cartilaginosos (Chondrichthyes); há ainda os peixes sem mandíbulas (Agnatha), estes considerados os mais primitivos e antigos que os dois grupos citados.
É bastante famosa esta divisão entre peixes ósseos e cartilaginosos, sendo que muitos leigos conhecem algumas manhas para poder separa-los: sempre se lembra que o tubarão pertence ao grupo dos cartilaginosos, enquanto espécie menores configuram os ósseos.
Todavia a composição do esqueleto ser o principal critério para a respetiva categorização, para fazer um diagnóstico certeiro faz-se necessário levantar outras informações a respeito, como a disposição das brânquias no corpo, já que peixes cartilaginosos não possuem membrana protetiva nessa estrutura; assim como as escamas do cartilaginosos tem origem na derme e epiderme (nos ósseos as escamas têm origem apenas na derme).
Realmente fica difícil um diagnóstico sem uma análise anatômica ou histológica específica para um organismo em questão, por isso a convenção em chamar tubarões de cartilaginosos e os restantes de ósseos (mesmo que seja muito limitada para questão didática).
Também quanto ao habitat, peixes cartilaginosos tem em sua maioria representantes marinhos, enquanto os ósseos estão bem mais distribuídos em ambos ambientes aquáticos.
Arraia ou Raia: Qual é o Jeito Certo de se Pronunciar
O nome deste representante dos peixes cartilaginosos pode confundir, e apesar de ambos os termos serem usados para o mesmo animal, caso você pesquise em algum livro específico verás que o termo utilizado pelos especialistas é raia, apesar de ser usado também arraia por muitos profissionais da área.
O mais interessante desses animais é, apesar de não se assimilarem morfologicamente com seus parentes tubarões, eles também pertencem ao grupo dos cartilaginosos: tubarões possuem sua morfologia mais similar aos peixes ósseos, com divisão corporal, barbatanas e fendas branquiais dispostas lateralmente no corpo; já as raias apresentam fendas brânquias na parte inferior (ventral) de seus corpos, sendo mais achatada e com suas barbatanas se confundindo como expansão lateral (assumindo assim a conhecida forma de disco).
A região terminal do animal também difere dos tubarões, já que na raia o formato é uma cauda alongada, podendo ainda algumas espécies apresentarem ferrão peçonhento (com capacidade até de matar um humano adulto).
Raias não seguem a ecologia de seus primos tubarões: enquanto o último é exclusivamente encontrado em água salgada, há representantes de raias em água doce, como as espécies endêmicas na região do Rio Amazonas.
Também como fator de curiosidade, existem muitas espécies marítimas de raias que causam choques elétricos, tendo uma fisiologia semelhante às das enguias e outros peixes-elétricos: estes animais possuem tecidos celulares que conseguem gerar um elevado potencial elétrico (eletrócitos), fazendo assim o uso deste mecanismo como estratégia de defesa e de obtenção de alimentos.