A ariranha atualmente ocupa pouco mais de 20% de todo o espaço que já ocupou na América. Embora ainda sobreviva em diversos países latino americanos, toda sua gama corre grande risco, e de modo sério. Falemos um pouco sobre a situação de distribuição e habitat dessa espécie gigante dos mustelídeos.
Distribuição Geográfica Da Ariranha
Segundo os registros estatísticos da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), há indícios de populações da ariranhas na Bolívia, no Brasil, nas Guianas, no Peru, no Paraguai, na Venezuela e no Suriname. Todavia, devido as extinções pontuais, a abrangência das ariranhas é imprecisa.
Uma totalidade precisa de ariranhas no mundo está longe de ser concludente. Um estudo já ultrapassado sugeriu entre 1000 e 5000 lontras, mas não há dados atualizados fidedignos. A Bolívia possuía uma grande população de ariranhas inicialmente, mas foi intensamente maculada ao permitir a caça furtiva descontrolada durante os períodos de 1940 e 1970. Hoje a Bolívia tem uma reserva natural do tamanho da Suíça, geograficamente falando, onde abriga a ariranha num habitat de água doce adequado.
A ariranha também sofre ameaça significativa em território brasileiro, a ponto de se extinguir no sul do país, mas ao menos nas regiões central noroeste, com a pressão sobre a caça e tentativas de recolonização da ariranha, ela conseguiu sobreviver com boas expectativas em número populacional.
Existe um grande destaque da importância do Suriname e das Guianas na salvaguarda das ariranhas por muitas entidades de preservação. As três Guianas continuam a ser consideradas a última fortaleza para as ariranhas na América do Sul, com um habitat perfeito para a ariranha em alguns rios e uma boa densidade delas. A sobrevivência de populações de ariranhas nas Guianas é essencial para a conservação desta espécie em extinção na América do Sul.
Outros países latino americanos empenham-se igualmente para preservar áreas em que possam acolher protegidas as ariranhas. No Peru, por exemplo, há o Parque Nacional Alto Purús, tão extensa quanto o país belga geograficamente, onde uma infinidade de espécies da fauna e flora podem sobreviver em paz, inclusive a ariranha.
Muitas das ariranhas tinham grande incidência em toda a região amazônica do Brasil, além das regiões fronteiriças. Hoje ainda é possível ver alguma população sobrevivente no Rio Araguaia, especialmente no Parque Estadual do Cantão, uma área repleta de lagos, florestas alagadas e pantanosas, habitat perfeito para a ariranha permanecer sã e salva.
Características De Habitat Da Ariranha
Pode-se dizer que ariranhas vivem na água e na terra. Isso porque ariranhas amam água doce e por isso vivem em rios, pântanos, lagos ou qualquer corpo d’água salobra inundando em regiões florestais tropicais e subtropicais, em especial se houver fundos de rochas ou areia. Mas também vivem na terra, onde estabelecem seus ninhos.
Locais pra dormir, latrinas, áreas de acampamento e pontos demarcados em terra, são posicionados estrategicamente pelas ariranhas, e podem ser bem extensos. A exigência é que seja sempre bem próximo, ou melhor, praticamente na beira de um corpo d’água onde encontra abundância de alimentos.
As ariranhas podem desbastar a vegetação em uma superfície grande o suficiente para construir seu acampamento. Um estudo demonstrou que poderia ser no máximo de 28 m de comprimento e 15 m de largura com a ariranha indicando a sua presença com secreções de várias glândulas, urina e fezes. Mas há observadores que encontraram um tamanho médio desses campos três vezes menor.
As latrinas comunais são adjacentes ao acampamento, e as tocas têm uma entrada geralmente localizada abaixo de raízes das árvores ou da própria árvore derrubada. Um estudo mostrou que pode haver entre 3 e 8 desses campos para um grupo de ariranhas, distribuídas na área de alimentação. Em áreas sazonalmente alagadas, a ariranha abandona os acampamentos durante a estação chuvosa, partindo para florestas inundadas em busca de fissuras de presas.
Os locais mais adequados para a toca geralmente fica onde o solo é profundo, e podem ser usados ano após ano. As tocas podem se estender por longas distâncias, e geralmente incluem uma rota de fuga para florestas ou pântanos, longe dos locais habitáveis, não são necessariamente marcados olfativamente todos os dias, mas pelo menos revisitados matinalmente por um casal de ariranhas.
Geralmente ocorrem estudos sobre a ariranha na estação seca, então, o conhecimento do uso do habitat desse animal continua a ser parcial. Um estudo no Equador mostrou que no total um grupo ocupou uma área entre 0,45 e 2,79 km² durante a estação seca. No entanto, a disponibilidade do habitat e suas restrições relacionadas são completamente diferentes durante a estação chuvosa.
Nas estações chuvosas estima-se que os territórios estejam entre 1,98 e 19,55 km². Outra pesquisa conclui que os territórios medem aproximadamente 7 km² e relatam uma forte correlação inversa entre as ligações sociais dos animais e o tamanho dos territórios; ou seja, a ariranha, muito sociável, tem uma área relativamente pequena para um animal de seu porte.
Ariranha Rio Grande Do Sul, Amazonas E No Mato Grosso Do Sul
Não há registros de ariranhas no estado do Rio Grande do Sul há pelo menos três décadas. Mas existe um projeto de conservação de espécies entre o mar e a floresta na ilha de Santa Catarina, no sul do Brasil. É entre a Lagoa do Peri, no sul da ilha de Santa Catarina, e a Serra do Tabuleiro, que se estende desde a costa continental até o planalto montanhoso, que esses momentos de encontro e troca entre ariranhas e humanos podem ser compartilhados.
O pantanal é um dos locais onde existem registros de recuperação de ariranhas e suas populações. Grupos podem ser observados no Mato Grosso do Sul em alguns locais diversos como no Rio Vermelho e também no Rio Miranda, entre outros berços de água doce da região. Ainda no Pantanal, locais antes conhecidos como santuários para ariranha como o rio negro e aquidauana também relatam surpreendentes e crescentes recuperações da espécie.
A região amazônica foi o principal local que ainda conseguiu abrigar sobreviventes no período mais crítico de ameaça. E não é à toa que hoje é onde se relata melhores índices de permanência da espécie, incluindo o Parque Estadual do Cantão, talvez o maior berçário de sobrevivência da espécie no Brasil atualmente.
O Cantão é um ecossistema de floresta tropical localizado no centro da Bacia do Araguaia, no extremo sudeste da Amazônia, no estado brasileiro de Tocantins. É uma das áreas mais ricas do leste da Amazônia no que diz respeito à biodiversidade, com mais de 700 espécies de aves, quase 300 espécies de peixes (mais do que em toda a Europa) e grandes populações de espécies ameaçadas, como a ariranha. Cerca de 90% desse ecossistema é protegido pelo Parque Estadual do Cantão.