A águia… Se tem uma figura no reino animal que desperta tanto interesse, tantas citações, tantas conjecturas, a águia sem dúvida é uma delas. Seu nome é associado a força, coragem, sabedoria, perspicácia e outros adjetivos semelhantes. Ela é produto de crendices, lendas, filmes, livros, poesias, canções e muitas mais invencionices das quais o homem é capaz. Aliás, uma das minhas citações preferidas, apesar de falácia, escrita pelo poeta alemão Friedrich Rückert, também conhecido com o pseudônimo Freimund Reimar, é: “A águia voa sozinha, os corvos voam em bandos. O tolo necessita de companhia, o sábio necessita de solidão!”
A Águia na História
Creio, de fato, que essa ave de rapina merece mesmo todo esse crédito. Toda a sua soberania, beleza e imponência sempre foi mesmo fascinante ao longo dos séculos. Não é a toa que é conclamada “rainha dos céus” ou “rainha das aves”. Na mitologia grega, o mais poderoso dos deuses, Zeus, tem uma águia como símbolo. Os Celtas consideravam a águia como símbolo de aperfeiçoamento e emersão. No Egito antigo simbolizava a vida eterna. Nos tempos atuais, a figura da águia é vista usualmente em tatuagens, brasões, logotipos, uniformes esportivos, e em muitas outras situações, sempre para representar nobreza ou liderança ou algum outro atributo semelhante aos já citados.
Então, antes de responder a essa redundante pergunta de nosso título, vamos falar um pouco mais sobre elas?
Descrevendo Curiosidades das Águias
Águia é o nosso jeito comum e vulgar de referir-se a essas espécies aladas tão grandiosas. Elas pertencem à família das aves rapinantes e, sendo assim, possuem boa envergadura entre uma ponta da asa à outra, um bico forte e curvado e garras resistentes e afiadas, armas feitas para matar e capturar. São especialistas na caça de pequenos animais da terra ou das águas, ou mesmo do ar. Existem mais de 70 espécies de águias no mundo com ampla distribuição, habitando desde regiões áridas e desérticas, savanas, áreas íngremes e montanhosas ou mesmo florestas fechadas. No território brasileiro, são oito espécies de águias catalogadas.
As duas espécies mais populares mundialmente são a águia americana, mais conhecida como águia careca, comum geralmente na América do Norte, e a águia real ou águia dourada, recorrente por todo o hemisfério norte. São conhecidas porque em praticamente todos os filmes, comerciais ou documentários produzidos em que se pretende exibir ou apenas mencionar águias, são sempre uma dessas duas que são lembradas. Aqui no Brasil, a águia que mais se destaca chama-se harpia, também chamada de gavião real, sendo essa considerada por muitos ornitólogos a águia mais poderosa do mundo.
As águias brasileiras costumam ser classificadas em quatro subespécies: águias-buteoninas (habitantes de áreas montanhosas e campestres); águias-pescadoras (adaptadas para a pesca, com certa aspereza nas garras pra que possam pegar suas presas marítimas sem deixar escapar ou escorregar. Na verdade, essa águia pertence a uma espécie chamada pandionidae, única, que difere em diversos aspectos genéticos e morfológicos das outras); águias-açores (essas tem asas mais curtas e largas e cauda grande, ótimo pra melhor desempenho em voos de velocidade. São mais vistas em áreas florestais); águias-harpias (essas também são mais vistas em áreas florestais, porém são bem maiores que as açores. É a esse grupo que pertence o gavião real de quem já falamos acima e o uiraçu, também conhecido como gavião real falso ou uiraçu falso).
Infelizmente, devido ao tamanho impressionante das espécies e da ignorância latente do ser humano, muitas águias acabam perseguidas e abatidas, especialmente por fazendeiros, que temem ataques contra os animais de suas terras. Mas as águias, assim como outras aves de rapina, são extremamente importantes para o equilíbrio de nosso meio ambiente. As águias como predadoras exercem uma influência significativa nos ecossistemas, controlando a população de presas, auxiliando na manutenção de altos índices de diversidade. Algumas espécies, como a águia-cinzenta pra exemplificar, são exímias caçadoras de roedores e serpentes, mantendo a taxa populacional dessas espécies sob controle, o que é do interesse do homem. Outras espécies, como a harpia, possuem grande apelo popular, e poderiam e deveriam ser mais utilizadas em ações de educação ambiental ou como simbologia em ações conservacionistas.
A Lendária Águia dos 150 Dias
Existe um conto lendário que circula na internet, sendo compartilhado e repassado exaustivamente por muitas pessoas e até instituições que é realmente muito bonito e emocionante. Você mesmo talvez já recebeu ou já enviou como parte de alguma mensagem motivacional para seu círculo social. É um conto onde alguém afirma que a águia vive cerca de setenta anos. Mas para atingir essa idade, aos quarenta ela deve tomar uma difícil decisão: nascer de novo… Pois aos quarenta anos suas unhas ficam compridas e flexíveis, dificultando agarrar as presas com as quais se alimenta. O bico alongado e pontiagudo se curva demais. As asas, envelhecidas e pesadas, dobram-se sobre o peito, impedindo-a de empreender os voos ágeis e velozes que a identifica como majestosa. Então restam à águia duas alternativas: morrer ou passar por uma dura prova, ao longo de 150 dias. Esta prova consiste em voar para o cume de uma montanha e abrigar-se num ninho cravado na pedra. Ali, ela bate o bico contra a pedra, até quebrá-lo.
Espera, então, crescer o novo bico, para poder aparar as suas unhas. Agora com bico renovado e unhas aparadas, a águia puxa as velhas penas e, após cinco meses, crescidas as novas, ela atira-se renovada aos céus, retomando seus gloriosos ciclos de voo, pronta para viver mais trinta anos…
Tem quem até chore ao receber essa mensagem. E seria de fato sensacional… se fosse verdade! Mas não é! Não tem como ser! Não existe nenhuma comprovação científica que consiga corroborar essa história, ou atestar a veracidade dela. A média mundial de vida das águias soma cerca de quarenta anos. É verdade que existem registros de algumas que sobrevivem mais tempo que isso, mas nunca houve qualquer registro de alguma que tenha superado os 60 ou os 70 anos de vida. Também é verdade que, depois de certa idade, elas não mais conseguem segurar as presas nem voar com a mesma desenvoltura. Afinal a perda de força e resistência quando em estado avançado de idade é comum a qualquer ser vivo, aos menos aos vertebrados.
Quanto as afirmações do conto de que a águia quebra o bico, arranca unhas e penas e se mantém isolada, sem comer, por cinco longos meses em uma montanha, essa é, sem dúvidas, as passagens descritivas mais fantasiosas dessa história. A troca de penas das águias ocorre de forma gradual no decorrer de sua vida, geralmente uma vez por ano entre a primavera e o verão. Já o bico tem um desenvolvimento contínuo, desbastado também naturalmente à medida que a águia se alimenta. E seria impossível uma águia sobreviver tanto tempo, cinco meses, sem alimentação, assim como seria improvável que outras águias fossem alimentá-la pois essas criaturas não andam em bandos. São solitárias por natureza!
Já sobre a automutilação, animal nenhum no mundo faz isso! Não é de sua natureza! O único capaz de uma atrocidades dessas despropositadamente é o homem (vai entender!). Quebrar bicos, arrancar unhas ou penas, se acontecer com alguma ave, só se for por estar presa em cativeiro ou se estiver sendo vítima de alguma circunstância estressante. Como animal livre em seu habitat natural nunca se mutila, mesmo que fosse para se renovar.
E para concluir, vamos agora aos fatos pertinentes…
A Que Altura Uma Águia Pode Voar
Cientistas da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, fixaram um minúsculo gravador de voo, tipo “caixa-preta”, em uma águia criada em cativeiro, uma ave de rapina com quase 02 metros de envergadura. Colocado em uma mochila, o dispositivo deveria monitorar aceleração, velocidade, altitude, bem como o comportamento da águia diante das circunstâncias impostas pelo vento. Os dados demonstrativos catalogados durante dezenas de sessões diferentes, empolgaram o professor de Zoologia Graham Taylor e sua equipe. Nos últimos anos empreenderam novas pesquisas relacionadas ao voo das águias e seu comportamento, e é baseado nos dados documentados por essas pesquisas que as seguintes afirmações puderam ser feitas (informações generalizadas, que sofrem variações entre as espécies):
Águias chegam a atingir velocidades de 30 a 55 mph e mergulham a mais de 100 mph. Podem voar por horas em correntes de ar quente, o que economiza energia, especialmente durante longas migrações. Nessas viagens longas ou apenas circulando seu território, as águias geralmente voam entre 20 e 30 milhas por hora. Elas sobem na mesma direção que as correntes de ar para facilitar o voo. Buscam altitudes mais altas em ciclos migratórios e chegam a voar entre 10.000 a 15.000 pés de altura, numa velocidade média de 65 mph. Principalmente nesses momentos o uso das correntes ascendentes quentes de ar é imprescindível, auxiliando para que deslizem por horas sem descanso. Quando se movimentam para atacar, são capazes de descer a velocidades surpreendentes de 200 mph. Como tudo isso é possível?
Além do aproveitamento natural do vento certo na hora certa, o segredo também está na formação de sua estrutura corporal. O formato do corpo, das asas e da cauda das águias varia de acordo com o habitat e com o tipo de voo predominante. A queratina é a “matéria prima” das penas das águias, as quais são dividas em grupos que desempenham funções importantes. As penas de cobertura fazem com que as asas da frente sejam mais grossas. Assim, o ar flui com mais velocidade por cima e diminui a aderência da ave contra o vento. As penugens são penas macias, localizadas embaixo das penas de contorno e tem como função evitar a perda de calor e manter a ave aquecida. As penas de voo primárias ficam na ponta das asas, podendo se abrir ou fechar para aumentar ou diminuir a resistência. Já as penas secundárias se movem para baixo ou para cima para aumentar ou reduzir a resistência.
Com tudo isso, fica fácil compreender o fascínio que essa ave suprema é capaz de exercer na humanidade, não concorda?
Obrigado